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História Olimpo - Sexto Desafio de Perseu


Escrita por: plutoniana

Notas do Autor


Boa leitura!

Capítulo 40 - Sexto Desafio de Perseu


Naruto

Tudo ficou confuso depois que Najimi se foi. Eu não entendia mais qual o sentido de estar vivo, e nem o que deveria fazer a partir dali. Era como se minha vida tivesse simplesmente parado. 

Meus pais acabaram ficando com medo de que eu me suicidasse, então acabei sendo levado ao Mosteiro de Dionísio para tratar da minha depressão, afinal, eles eram completamente o oposto da Basílica de Apolo. Eu estava morrendo de medo, porque tinha só 13 anos e tudo o que eu sabia sobre eles eram as coisas horríveis que as pessoas da minha tribo falavam. 

De fato, era uma tribo bem diferente. Eles moravam em casas normais, não em apartamentos idênticos como nós. As principais construções eram realmente… mosteiros. Imensas construções típicas de monges, mas a diferença era que as pessoas que circulavam e trabalhavam nelas tinham cabelos coloridos, corpos repletos de tatuagens e estavam sempre andando em bando e rindo de alguma coisa. 

Nos primeiros dias, eu ficava trancado no meu quarto num desses mosteiros, onde outras pessoas de outras tribos também estavam alojadas devido a problemas depressivos também. Na verdade, eu estava morrendo de medo de ser estuprado, devido às coisas que sempre escutei deles dos outros filhos de Apolo.  

Nenhum dos adultos responsáveis por cuidar do alojamento questionava nossas decisões de permanecer no quarto. No primeiro dia, uma mulher sorridente me ofereceu um panfleto com o mapa da tribo e as recomendações para curtir e aproveitar o lugar, mas decidi ficar lá.

Eu ficava sentado na janela, observando as pessoas circulando lá embaixo. Grupos de garotos da minha idade zoando uns aos outros enquanto carregavam materiais para fazer enfeites e decorações para festas na Metrópole, além de sempre escutar uma conversa ou outra sobre as últimas tatuagens que tinham feito. 

Ninguém nunca parecia chorar ou ficar triste lá, e o clima era tão leve que me fez quase criar coragem para sair do quarto depois, mesmo não tendo o feito por certa vergonha e medo do que fariam perto de um filho de Apolo. 

Mas o que eu mais lembro daquele lugar incrível não são as risadas, nem as conversas e nem nada disso. Eu lembro principalmente do cheiro dos incensos. Eles acendiam incensos o tempo todo, por toda parte, e a tribo inteira tinha o cheiro daquilo. 

No início, eu achava estranho, admito. Mas depois que retornei à Basílica de Apolo, comecei a sentir falta disso. 

#

Não havia como saber que horas eram durante a tarde. O céu havia acinzentado-se desde as três da tarde e permanecera no mesmo estado pelas horas adiante, enquanto o anoitecer se aproximava. Os galhos mais altos das árvores balançavam fortemente devido à forte ventania que levava consigo várias folhas e grãos de areia. 

Naquele fim de tarde, Karin já encontrava-se acordada, embora continuasse embolada em seu cobertor enquanto estava sentada no balanço de varanda em que dormira durante as últimas horas. 

Temari saiu pela porta da frente da casa principal, trazendo duas canecas com chocolate quente, e uma delas foi entregue à representante de Ártemis enquanto a loira se sentava novamente ali ao seu lado. 

— E então? Como foi a briga? — Karin questionou curiosa, querendo saber o que tinha acontecido durante sua sonequinha da tarde. 

— Bom, ao que parece não foram só gritos e xingamentos. — Temari explicou suspirando e puxando o cobertor de Karin para cobrir suas pernas também, protegendo-a da temperatura gelada em que o lado de fora se encontrava. — Estão todos um pra cada canto. Cada um fazendo alguma coisa diferente. 

— Tá um climão, então. — a ruiva concluiu, divertindo-se. 

— É. E deve ter tido algum auge durante a briga, porque tem uns cacos de porcelana na lixeira da cozinha. Devem ter quebrado um copo ou algo assim. — Temari achou melhor acrescentar esse detalhe, sabendo como Karin adorava saber desse tipo de coisa. 

— Que droga. Eu sempre durmo nos melhores momentos. — ela resmungou com certa frustração. — Mas por que exatamente estava brigando? 

Temari piscou e a encarou, tentando se lembrar exatamente de como a discussão se iniciara mais cedo. Ela começou a explicar devagar o que vira e ouvira, já que saíra assim que percebeu que as coisas estavam esquentando demais para alguém como ela, que tinha um gênio — e uma força — nada amigável, ficar no recinto sem causar ainda mais destruição. Então ela contou à amiga tudo que escutara em detalhes enquanto estava lá dentro, antes de sair e se juntar a ela na varanda, onde as duas tinham permanecido até o momento. 

Karin escutou tudo em silêncio e de forma atenta, fazendo suas familiares caretas de irritação e deboche quando Temari repetiu as coisas que ouvira Sasori dizendo para Suigetsu e Sakura. E só a parte que ela escutara já tinha sido ruim o suficiente. O que ele disse depois, quando a briga já estava bem acalorada, deveria ter sido bem pior. 

— Sabe o que eu acho engraçado? — Karin comentou depois de um minuto em silêncio, assimilando as coisas que Temari terminou de lhe contar. — Aquele merdinha só vem com essa pose todo em cima da Sakura, do Suigetsu, da Ino… Agora com o Naruto, o Sasuke, o Deidara, que são do tamanho dele, ele não tem tanto culhão pra ficar berrando desse jeito. 

— Como se fosse novidade que ele é um cuzão covarde. — Temari gracejou com bastante desdém. Só o caso com Hinata já fora o suficiente para saberem que ele não valia nenhuma semente que colhia nas Fazendas de Deméter. As brigas e o que ele dizia durante elas era o de menos. 

As duas ficaram tomando lentamente seu chocolate quente enquanto continuavam no aguardo pelo retorno de Naruto e Sasuke da Provação de Hércules. Já estava ficando escuro o suficiente para que eles não pudessem mais voltar da floresta. Pelo menos, não sem um braço ou perna faltando. 

Talvez algo ruim tivesse acontecido durante a prova a um deles. Ou aos dois. 

Dentro da casa, o silêncio pesado continuava após o fim daquela briga tão alterada. 

No entanto, perto das seis da tarde, quando já quase parecia noite, dois vultos surgiram da trilha da floresta, saindo dali e entrando na clareira de maneira ofegante. 

Os dois garotos estavam ofegantes. Sasuke se apoiou nos joelhos para não cair no chão enquanto tentava puxar ar para seus pulmões. Naruto já não quis nem saber e se jogou no chão de qualquer jeito mesmo, também ofegante e exausto da enorme corrida que tinham dado na última hora para chegarem ao acampamento antes que os animais noturnos da floresta acordassem e os seguissem. 

Karin e Temari levantaram-se de um pulo do balanço e berraram pelos outros, para saírem da casa e virem recebê-los. Suigetsu foi o primeiro a passar pela porta, abrindo com a velocidade um raio e pulando ali na varanda com os olhos arregalados. Ele respirou aliviado ao ver que Naruto parecia inteiro, mesmo que estivesse jogado no chão de terra ali perto. 

— Amém, louvado seja o senhor das festas! — ele murmurou baixinho enquanto caminhava até os dois junto com a maioria dos outros. 

— Vocês estão bem? Como foi? O que aconteceu? — Sakura já começou a enchê-los de perguntas preocupadas e curiosas, indo primeiro até Sasuke e mexendo nele para checar se realmente estava inteiro. Mexeu nas roupas dele, depois segurou sua cara, avaliando-o de forma rápida e aflita. 

— Ninguém se machucou. — Sasuke respondeu com a voz entrecortada pela respiração ainda fatigada. 

Mesmo assim, ela e Suigetsu também foram avaliar Naruto e constatar que realmente não tinha nenhum pedaço dele faltando. 

— Como foi a prova? — Shikamaru perguntou o que realmente queria saber, notando assim como os outros, que a Caixa de Pandora estava debaixo do braço de Naruto, e não de Sasuke, o que já deixava a vitória mais do que autoexplicativa a todo mundo. 

— Calma, deixa eles respirarem. — disse Hinata vendo o quanto os garotos estavam cansados. 

Na varanda ainda estavam Sai e Deidara, observando os outros ajudarem os dois garotos a se erguerem e começarem a vir para dentro. O representante de Hefesto se encolheu dentro do suéter que usava e fez questão de abrir a porta e ser o primeiro a entrar de volta para o interior quente, sendo seguido por todos os outros. 

Já lá dentro, eles ajudaram Naruto e Sasuke a sentarem e tentarem comer ou beber alguma coisa enquanto eles iam dando os detalhes da prova e sobre o que acontecera. 

— Ah, é verdade. Tem um pântano mais lá pra dentro. — Suigetsu comentou ao se recordar que realmente já vira uma prova se passar lá, numa temporada anterior de Olimpo.

— Nossa, deve ser longe pra caralho. — Karin comentou um pouco surpresa. Dali, ela era a pessoa que mais já estava habituada a circular pela floresta e nunca pareceu nem chegar perto desse tal pântano que eles tinham descrito. 

— É sim. — Naruto confirmou com certo desgosto e ressentimento. 

Ele contou melhor sobre a parte em que encontrou a Caixa de Pandora, e de como viu sua vida passar diante dos olhos. 

— Foi bom, pelo menos? — Deidara perguntou com sarcasmo. 

— Achei meio bosta. — Naruto retrucou no mesmo tom, conseguindo arrancar algumas risadas do pessoal, mesmo todos estando ainda meio assustados e tensos pelo que tinham escutado. 

— Pois pode escrever aí que vai ter aqueles crocodilos na próxima prova do Coliseu. — Shikamaru comentou. 

— Tem crocodilos no Coliseu? — Karin perguntou surpresa. 

— Claro que tem. — ele respondeu como se fosse óbvio, só em seguida se tocando do detalhe: — Ah, foi mal. Esqueci que você ainda não foi pra lá. Tem uma jaula de crocodilos na ala dos animais. Tenho certeza de que vai estar aberta na próxima prova. 

— Parece empolgante. — a ruiva retrucou com ironia. 

— Vai ser mesmo. — Naruto bufou estressado, já sabendo que teria de encarar aquela espécie de animais de novo. Tudo na mesma semana, já que ele pretendia ir para a votação e arrastar Sasori junto. Isso, claro, se os planos deles não sofressem nenhuma modificação até a próxima votação interna. Não estava muito empolgado para a parte do Coliseu, mas fazer o quê? 

— Tá, mas e aí? — Temari perguntou de braços cruzados, voltando-se para Sasuke. — Quem você vai levar junto pro Chalé de Orfeu?

Todas as atenções voltaram para o representante de Hades, e ficaram aguardando em silêncio enquanto ele limpava a garganta pra anunciar. 

— Eu vou levar a Sakura e o Sai. 

— Oi? — a garota perguntou surpresa da cozinha, um pouco mais distante por estar ajudando Hinata a esquentar sopa pra eles. — Vamos pra onde?

— Olha só quem vai passar frio lá fora. — Suigetsu provocou a amiga. — Chegou tua hora de ir pro quartinho cinco estrelas de Olimpo, cunhadinha. 

Enquanto os outros estavam rindo da cara de Sakura ao saber que iria pro Chalé de Orfeu, justamente naquela semana tão fria, Naruto olhou confuso para Sasuke, sem entender o motivo dele ter chamado Sakura para aquela posição do jogo. Porém achou melhor não comentar nada no momento. Não na frente de Shikamaru e os outros. Eles poderiam debater isso depois. 

— Vai logo tomar teu último banho quente, filha de Atena. — Deidara aconselhou com certo sarcasmo também, se divertindo às custas das reações de Sakura. 

Depois daí, todos se dispersaram de novo, agora com o clima um pouco mais leve, já que os meninos tinham voltado bem e a briga daquela tarde tinha sido momentaneamente abafada, apesar de não esquecida. 

— Eu só quero ver quem vai ter culhão pra contar pro Deidara o que estavam falando dele e do tal noivo. — Shikamaru comentou baixinho para Temari quando ambos foram se sentar pra tomar a sopa quente que Hinata fizera. Ambos sabiam o caos que se instauraria de novo quando esse assunto ressurgisse, e o loiro provavelmente faria mais do que apenas quebrar uma xícara na cara de Sasori. 

Os amigos dele, da antiga equipe Quimera, provavelmente esperariam o momento certo — e mais calmo possível — para lhe contar o que foi dito e insinuado sobre ele e Suigetsu. Talvez o próprio Suigetsu estivesse preocupado com isso, sabendo que Deidara era muito mais explosivo — e consequentemente mais violento — que ele próprio. 

Mas no momento, o clima era mais de reorganização, já que Sai, Sakura e Sasuke tinham que arrumar suas coisas para levar para o Chalé. Eles foram para o quarto para fazer isso, seguidos de Deidara e Suigetsu. O primeiro estava voltando para sua posição de repouso na cama, porque mesmo que a febre já tivesse baixado, ele continuava se sentindo mal. 

— É muito ruim ficar esses dias lá? — Sakura perguntou aos amigos, temerosa, enquanto arrumava suas roupas de volta na bolsa, para que pudesse levar pra fora. 

— Horrível. Você fica escutando o som dos animais espreitando na floresta a noite toda. — Deidara respondeu tentando manter a voz e a cara sérias. 

— Sim, fora os sons do lago também. — Suigetsu complementou no mesmo tom. 

A garota empalideceu um pouco mais, pensando nisso. 

— Isso é bobagem. — Sasuke retrucou vendo que as mãos dela estavam começando a tremer. — Eles estão zoando com a sua cara. O máximo que escutamos são o som dos sapos no lago e os uivos dos lobos dentro da floresta, mas eles nunca entram na clareira. 

Os dois caíram na gargalhada, vendo que Sakura realmente tinha acreditado. Ela jogou um travesseiro em Suigetsu para demonstrar sua irritação com a brincadeira. 

— Babacas. — xingou baixinho. 

— O que realmente pega é o frio. — Sasuke continuou e fez um sinal para ela segui-lo até o armário, onde os dois começaram a separar cobertores bem pesados e grossos, que consequentemente seriam mais quentes. 

— Talvez o que pegue pra você seja a parte do frio e do banho mesmo. — Suigetsu comentou depois de parar de rir. 

— Banho? — Sakura perguntou confusa, voltando a prestar atenção nele também depois que Sasuke lhe entregou dois cobertores para que ela levasse para si. — Não tem chuveiro no Chalé de Orfeu?

— Não. — todos no quarto negaram ao mesmo tempo. 

— Mas então como tomamos banho se estivermos lá? — ela questionou. 

— Numa coisinha chamada lago. Não sei se você já viu, mas tem um aqui. — Deidara respondeu. — A gente tira a roupa e pula nele. 

Sakura parou e olhou incrédula pra eles de novo. 

— Como é que é? — ela questionou. — Não posso tomar banho no lago. 

— Tá preocupada que ele te veja sem roupa? — Suigetsu debochou apontando pra Sasuke. — Olha, isso vai acontecer uma hora ou outra na vida, sabia?

Sasuke o olhou feio, de forma irritada, mas não disse nada. 

— Acha que estou preocupada com que ele me veja sem roupa? — Sakura retrucou, quase desesperada. — A Grécia inteira vai me ver pelada! Sasuke é o último dos meus problemas. 

De novo, Suigetsu e Deidara voltaram a cair na gargalhada enquanto Sasuke revirava os olhos. 

Sai terminou de arrumar suas coisas e saiu primeiro do quarto, deixando os quatro a sós novamente enquanto já ia se adiantando para o Chalé. 

— Tá, agora explica o motivo de você ter levado a Sakura e o pateta lá. — Deidara disse baixinho, chamando a atenção de Sasuke. 

— Eu pensei naquela ideia do Naruto de querer ir com Sasori. — o moreno explicou baixinho também, já que não podiam ficar se dando ao luxo de ficar falando em estratégias em voz muito alta. Qualquer um podia escutar se entrasse no quarto, e certas pessoas pareciam estar mais dispostas a irem contra o fluxo ultimamente. — Puxei a Sakura para que ela não corresse o risco de ser a mais votada de nenhum jeito, e eu sei que o Naruto não vai puxá-la do Chalé. 

— Ah, saquei. — Suigetsu entendeu a lógica dele. — Mas por que o Sai?

— Ele não fede nem cheira. Acho que seria uma planta até mesmo numa eliminação. — Sasuke deu de ombros. — Naruto pode puxá-lo sem se preocupar com nada. 

Os outros assentiram, entendendo a sacada. 

— Fora que se tiver uma imunidade na Caixa, com certeza o Naruto te dá. — Deidara comentou para Sakura. — Ele não quer que nenhuma das meninas vá nessa próxima votação. 

Bom, ao que parecia, as chances de Sakura encarar o Coliseu naquela semana eram quase mínimas. E mesmo assim, ela sentia um certo aperto em seu estômago, como se fosse uma espécie de intuição ruim de alguma coisa futura. 

— Vamos? — Sasuke perguntou a ela, despertando-a de sua série de pensamentos e cálculos sobre o jogo daquela semana. Ela assentiu e ele a ajudou a levar suas coisas pro lado de fora, mesmo que ela não tivesse quase nada pra levar. 

Ao chegarem na porta do Chalé, colocaram os amuletos com formato de nuvem pescoço e entraram. Sai já tinha se instalado num canto e estava tentando arrumar o Chalé de uma maneira mais decente — e seca, já que a maior parte do ambiente estava molhado devido às chuvas dos últimos dias. 

Os dois foram levar suas coisas para o outro canto, perto da estrutura metálica que Deidara tinha feito para servir como base para a fogueira interna que eles sempre acendiam durante as noites no Chalé. Sakura colocou suas bolsas ao lado das de Sasuke, e ambos começaram a observar o chão, vendo onde poderiam se ajeitar para dormir. Tinha muito espaço no chão, isso era óbvio, mas estava tudo molhado ainda e já estava frio o bastante para Sakura perceber que não conseguiria dormir naquela noite. 

— Bom… — Sasuke disse pensativa para ela. — Vamos ver o que fazer pra se acomodar melhor. 

Ele já tinha se habituado à arte de dormir no chão, depois de tanto tempo sem cama em Olimpo. 

#

Meia hora mais tarde, após forrar o estômago com três pratos de sopa, Naruto finalmente tomou um banho quente para se lavar e tirar todas as impurezas que o pântano despejara sobre si.

Debaixo do chuveiro, usando roupas leves para tomar banho, ele olhou para seus braços ainda com queimaduras e machucados. Mais especificamente, olhou para seu pulso, onde tinha pequenas marquinhas de presas. 

Não tinha sentido nada estranho nas últimas duas horas, desde que fora mordido pela cobra-cipó, o que era no mínimo estranho, já que ele sabia que ela era venenosa. E devido ao pique alto de adrenalina que ele e Sasuke experimentaram, não só dentro mas fora do pântano também, enquanto corriam pela floresta em direção ao acampamento, era quase certo que o veneno já tinha se espalhado para o resto de seu corpo devido à circulação rápida de sangue.

A única coisa que ele sentia até o momento era uma dor na região de seu pulso, que poderia apenas ser interpretada como reação à mordida, e não ao veneno em si. Mesmo assim, ele iria se certificar de comer algumas uvas e tomates depois, já que eram ricos em rutina, que era uma substância boa contra venenos leves de cobra, só pra garantir. 

Ao sair do banho, ele foi até o quarto, onde estavam Deidara, Karin e Shikamaru. A ruiva estava arrumando sua cama e Shikamaru se encontrava deitado, tentando dormir com um travesseiro por cima da cabeça. Enquanto trocava de roupa, Naruto começou a conversar com Deidara, que continuava deitado, embora acordado depois de dormir quase o dia inteiro por conta da febre. 

— Então você vai mesmo querer ser o mais votado pra ir com Sasori? — o representante de Hefesto questionou. 

— É, minha ideia ainda é a mesma. Espero que todo mundo siga. — Naruto respondeu secando o cabelo e sentando na beira da cama ao lado da de Deidara, depois de vestir uma calça limpa. — Por isso até que eu vou puxar o Sasuke do Chalé. 

— Como é? — Deidara perguntou surpreso ao escutá-lo. — Por que vai fazer isso?

— Ué, a ideia não é ir eu e o Sasori pra votação do público? — Naruto respondeu o óbvio. — Eu preciso puxar alguém que coloque aquele Coliseu abaixo mas que volte como Titã, pra isso acontecer. — ele explicou melhor. — Não vou puxar a Sakura pra não correr nenhum risco, e com certeza não vou puxar o Sai porque convenhamos… — ele fez uma careta. — Ele não ganha nem prova de sorte. 

— E você já decidiu isso com Sasuke? — Deidara perguntou erguendo as sobrancelhas, já tendo consciência de que os planos dos dois estavam divergindo bastante. 

— O que mais eu posso fazer? — o outro abriu os braços. — Eu não entendi porque ele puxou o Sai e a Sakura, então o melhor que dá pra gente fazer é isso. 

— Não é melhor esperar o resultado do Desafio de Perseu antes de decidir qualquer coisa? — Deidara sugeriu, já ficando preocupado porque estava prevendo uma possível discussão entre Sasuke e Naruto no futuro. 

— Você quer ver aquele filho da puta fora, não quer? — Naruto retrucou. 

— Claro, é o que todo mundo quer. — Deidara respondeu sem nem pensar duas vezes. 

— Então é isso que eu posso fazer. — Naruto falou num tom de que deixava claro que esse assunto estava encerrado. 

Deidara achou melhor nem discutir, já que esse assunto não lhe dizia respeito. E ele já tinha se metido em brigas até demais que não lhe envolviam naquele lugar. 

Enquanto se abaixava para procurar uma blusa dentro de suas bolsas, Naruto sentiu a primeira vertigem atingir sua cabeça. Ele levou uma mão à testa, segurando-a como se quisesse se firmar ali enquanto sua visão começava a embassar um pouco. 

— Ei, que foi? — Deidara perguntou vendo que Naruto de repente parecia ter ficado tonto. 

Ele não lhe respondeu, como se não tivesse escutado. Ou como se não tivesse entendido. 

Naruto se levantou de novo, ainda tonto enquanto olhava em volta e tentava estabilizar sua cabeça de novo. 

— Ei, cara! — Deidara se sentou na cama, preocupado, e aumentando o tom de voz, o que atraiu a atenção de Karin e Shikamaru. Ambos pararam para olhá-lo. 

— Naruto? — Karin o chamou confusa. 

E antes que qualquer um deles pudesse dizer ou fazer mais qualquer coisa, Naruto fechou os olhos e desabou no chão com um baque forte. 

— Ei, caralho! — Deidara pulou da cama alarmado e berrando. Shikamaru e Karin fizeram o mesmo, correndo para perto dele e tentando fazê-lo acordar. — Cara, o que foi? Acorda, porra!

Os berros atraíram atenção do resto da casa, e logo todos entraram no quarto, se alarmando e se assustando ainda mais ao ver que Naruto estava desmaiado no chão. 

— Ei, porra! O que está acontecendo? — Suigetsu saiu empurrando todo mundo para chegar até ele e segurar seu rosto. — Ei. Ei! — ele berrou como se isso fosse fazê-lo despertar. — O que houve? — ele perguntou aos berros para Deidara e os outros. 

— Não sei. Ele ficou tonto de repente e depois caiu. — Karin explicou de forma nervosa. 

Todos estavam amontoados em cima do rapaz, falando alto e rápido de maneira desesperada, já que ninguém sabia o que estava acontecendo. E nem o que deveriam fazer. 

Geralmente, naquele tipo de situação, era Naruto quem tomava a frente e cuidava da questão. Mas agora era ele quem estava mal. 

— T-talvez tenha sido o estresse. Ele está muito cansado. — Hinata sugeriu, tentando falar por cima de todas aquelas vozes estridentes e nervosas. 

— Alguém precisa fazer alguma coisa! — Suigetsu berrava em desespero, ainda agarrado no representante de Apolo desacordado. 

— Vamos tirá-lo do chão e colocá-lo na cama. — Shikamaru falou para os outros garotos. 

— Ele não desmaiaria do nada desse jeito! Alguma coisa deve ter acontecido! — Suigetsu gritava para os outros, se tremendo de nervosismo e com o rosto pálido pelo horror e medo que o assolava vendo Naruto inconsciente daquele jeito. Nunca pensou que veria algo assim acontecer a ele. 

Novamente, todos começaram a gritar e berrar um por cima do outro, tentando discutir e decidir o que fazer enquanto o representante de Apolo continuava pálido e desacordado em cima da cama, com todos ao seu redor desesperados e confusos. 

Mesmo no auge do nervosismo e do pânico, Suigetsu foi o único a conseguir pensar em fazer alguma coisa que não fosse discutir com os outros ali ao redor. Ele começou a procurar alguma coisa no rapaz desacordado que pudesse indicar o motivo dele estar naquele estado. Começou a mexer em suas roupas procurando por qualquer coisa que não fossem as queimaduras em seus braços, até que ele percebeu as marcas no pulso dele que, definitivamente, não existiam até aquele dia. 

Em poucos segundos, a ficha de Suigetsu começou a cair enquanto ele continuava cercado por aquele bando de gente escandalosa e confusa.

Todos se sobressaltaram confusos ao vê-lo largar Naruto e começar a correr para fora do quarto, em direção à saída da casa principal. Eles o seguiram também, principalmente quando ele correu pela clareira e praticamente arrombou a porta do Chalé de Orfeu, quase voando em cima de Sasuke e jogando-o contra a parede. 

— O que mais aconteceu naquele pântano? — ele perguntou aos berros, ainda extremamente alarmado. 

— O quê? — o moreno perguntou sem entender nada, de olhos arregalados pela forma tão amedrontadora em que Suigetsu estava. Ele parecia um louco, de olhos esbugalhados, tremendo como um cachorro assustado, e ainda assim, parecendo assustador. Ninguém nem se surpreenderia se o rapaz, do nada, pegasse uma das armas na parede e colocasse-a contra o pescoço de Sasuke, só pra ele lhe dar as informações que queria. 

— Naruto acabou de desmaiar lá dentro. — Suigetsu quase cuspiu isso na cara dele. 

— O quê? — Sakura ficou de pé alarmada. Já estava assustada e confusa por todos estarem invadindo o Chalé daquele jeito, e agora que sabia o motivo, estava ainda mais apavorada. 

— Eu quero saber o que aconteceu naquele pântano! — Suigetsu exigia de forma escandalosa. — Alguma coisa o mordeu e provavelmente era venenosa! O que foi que você viu lá?

Sasuke tentou se lembrar do que poderia ter acontecido. Pelo modo como Suigetsu falava, com certeza Naruto não fora mordido por um crocodilo, porque isso ficaria bem claro a todos, caso tivesse acontecido. Deveria ter sido uma cobra, então Sasuke tentou se lembrar de quando poderia ter acontecido quando se lembrou do momento em que Naruto caiu na água. 

— Eu não sei ao certo. — ele respondeu tentando pensar enquanto todos olhavam dele para Suigetsu. — Deve ter sido alguma cobra nas árvores. Cobra-cipó, eu acho. Elas deveriam estar camufladas nas árvores do pântano. 

Isso foi o suficiente para que Suigetsu esquecesse de sua existência e se voltasse para Sakura. Ele praticamente pulou em cima dela, segurando-a pelos ombros com força e nervosismo. 

— Me diz que elas não são venenosas, por favor. — ele implorou com a voz trêmula. 

— E-eu não sei… — Sakura gaguejou, tão nervosa quanto ele, e assustada pela forma como Suigetsu se encontrava. Ela jamais o tinha visto num estado tão atormentado como aquele. Ele estava quase para ter uma crise de choro, ou até desmaiar também. 

A representante de Atena tentou se lembrar de qualquer coisa que pudesse sobre cobras-cipó, mas nada muito relevante lhe vinha à mente. Os outros todos encontravam-se pálidos e assustados na porta do Chalé também, sem ter a menor ideia do que fazer naquela situação. Justamente o médico deles era quem se encontrava debilitado. 

Suigetsu continuava com as mãos trêmulas apertando os ombros de Sakura, querendo que ela ao menos pudesse lhe dar um rumo do que poderia fazer. 

— Se ele desmaiou só agora, então não é venenosa. Pelo menos não tanto. — Sakura tentou falar do modo mais convincente possível, já que ela própria estava tentando se convencer de que Naruto ficaria bem. — Não deve ser um veneno letal, capaz de matar. 

— Mas ele tá desmaiado. O que a gente faz? — Deidara que perguntou. 

— Tentem dar água pra ele ou algo assim. Talvez o veneno possa afetar os rins dele ou algo do tipo, mas não deve ser tão perigoso, como eu falei. Senão ele já estaria bem pior a essa altura. — Sakura falou devagar, tentando passar confiança e acalmar os nervos de Suigetsu e dos outros. — Deixem ele descansar um pouco e vamos esperar que ele fique consciente. Ele mesmo saberá o que fazer. 

— Mas e se ele não acordar? — Suigetsu choramingou em aflição. 

— Ele vai acordar. — Sakura o respondeu com uma firmeza ensaiada, olhando-o nos olhos para lhe demonstrar segurança. — Não se preocupe. 

Suigetsu continuava tremendo quando a soltou. E não esperou por mais nada antes de sair correndo de volta para dentro e ir para perto de Naruto. 

Os outros continuavam nervosos com a situação também. Sakura foi até Hinata antes que ela entrasse para tentar lhe dar mais instruções. 

— Vê se ele está com febre ou algo assim. — ela disse. 

— A gente precisa fazer um torniquete? — a morena perguntou, completamente perdida. 

— Não precisa mais. O veneno já se espalhou de qualquer forma. — Sakura replicou ainda nervosa e tremendo, apavorada que algo ruim acontecesse com Naruto. — Só checa como ele está e vê o que dá pra fazer pra melhorar o estado dele. 

Depois de uns segundos de aflição silenciosa, Hinata assentiu com a cabeça. Iria fazer o possível para tentar ajudar o rapaz, embora não soubesse nada sobre como poderia ajudá-lo realmente. 

Os outros todos entraram de volta para a casa principal, mas Sakura, Sasuke e Sai permaneceram de pé na clareira, esperando por mais notícias. Sasuke se encostou contra a porta do Chalé enquanto Sai ficou parado de pé ali perto. Sakura ficou andando de um lado para o outro, tentando controlar a respiração e o nervosismo para evitar um ataque de pânico. Mas os três estavam com os olhos fixos na casa principal, atentos a qualquer movimento lá dentro. 

Karin ficou servindo como a mensageira deles, já que não podiam colocar os pés nem mesmo nos degraus da varanda. Ela saía a cada cinco minutos para ficar lhes dando as informações de como as coisas estavam procedendo lá dentro. 

Naruto não estava mais totalmente desmaiado. Ele abriu os olhos em determinado momento. Já tinha resmungando umas palavras desconexas, dando um empurrão em Shikamaru com a perna, mas ainda assim, estava oscilando num estado ainda meio inconsciente. 

Estava com febre, parecia estar com a língua dormente, provavelmente com dor de cabeça e tontura, mas mesmo naquele estado meio desfalecido, eles tinham conseguido lhe dar dois copos de água e lhe empurrar mais um prato de sopa, para garantir que seu estômago continuaria trabalhando por mais um tempo, garantindo seu funcionamento. 

Não tinha tido ninguém que conseguisse tirar Suigetsu do pé da cama de Naruto. Ele ficou lá a todo momento, querendo saber tudo o que faziam e atento a qualquer movimento do rapaz semimorto na cama.

Mas duas horas depois, os ânimos finalmente sossegaram de novo. Naruto parecia ter entrado em estado de sono, como os outros queriam estar. Mesmo febril, sua respiração estava normal e ele realmente parecia estar apenas cochilando. Os outros todos relaxaram mais, sabendo que tinham feito de tudo que podiam, e agora só restava esperar que a manhã seguinte trouxesse notícia boa. 

Karin finalmente deu seu último recado e entrou para ir comer também e relaxar um pouco. Sai entrou no Chalé primeiro, e Sasuke ainda precisou de mais vinte minutos para convencer Sakura a entrar e tentar dormir também, mesmo naquelas condições péssimas e árticas. A clareira, aliás, se encontrava toda envolvida numa névoa branca e densa quando eles finalmente entraram. 

Na casa principal, todos também começaram a se recolher um a um, tentando dormir e relaxar. Hinata foi a última a ir se deitar, depois de fazer tudo o que podia por Naruto, ter voltado para limpar e guardar tudo na cozinha, e finalmente, depois de tomar um banho quente. 

Mas mesmo quando ela se deitou na outra cama, percebeu que Suigetsu continuava acordado. Tinha se deitado no chão ao lado da cama de Naruto, coberto as pernas com um lençol, ainda assim, seus olhos se encontravam abertos e observando a cama ali ao lado de forma preocupada. 

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Durante aquela madrugada, o nervosismo não deixou que alguns deles dormissem. Um dos exemplos disso foi Temari, que acordou no meio da noite para ir beber um copo d’água e percebeu que Shikamaru não estava em sua cama no canto. A cama que antes “pertencia” a Ino. 

A loira se levantou e foi até a cozinha beber sua água, mas depois de andar em silêncio pelos outros cômodos escuros da casa, ela percebeu que Shikamaru não estava em nenhum canto do interior. Então ela foi até a varanda, e assim que passou pela porta, o viu sentado no balanço de varanda em que ela e Karin tinham estado a tarde inteira. 

Temari fechou a porta devagar e se aproximou dele em silêncio, parando de pé a um metro de distância do rapaz, que lhe olhou meio surpreso por estar ali. 

— Com insônia também? — ele perguntou baixinho, temendo que suas vozes pudessem acordar outros participantes. Não só os da casa principal, mas os três do Chalé também. 

— Eu não faço a linha “nervosinha”, como vocês pra ter esse tipo de problema. — Temari respondeu o óbvio. Era mais do que claro que filhos de Ares não se deixavam levar pelo desespero como os outros. 

— Claro. Foi mal. — Shikamaru disse com um sorriso de canto antes de voltar a olhar para o nevoeiro que cobria a clareira. 

Temari se aproximou mais e se sentou do lado dele, tomando cuidado para não encostar nele. Ambos continuaram em silêncio depois que ela sentou, olhando fixamente para a frente e encarando o nevoeiro solitário e escutando o som das cigarras e sapos próximos. 

Ela notou que Shikamaru não tinha trazido um lençol ou algo do tipo para se cobrir e aquecer. Então lhe veio a ideia de que provavelmente ele estava um pouco mais acostumado que os outros com aquela temperatura baixa, afinal, morar na Costa de Poseidon devia lhe habituado a esse tipo de noite. As mãos dele nem mesmo estava tremendo. 

— Ficou abalado pela situação do Naruto? — Temari perguntou depois de vários minutos de silêncio profundo. 

— Acho que sim. — ele respondeu com sinceridade, deixando sua indecisão clara. De qualquer forma, dormir se tornou um pouco mais difícil nos últimos dias. O jogo está afunilando. 

Ou talvez porque ele estivesse um pouco mais abalado que o normal, já que Ino se fora. E eles viviam juntos pra cima e pra baixo o tempo todo. Na situação de competição em que se encontravam, era como perder metade de seu corpo. 

— Sente falta dela? — Temari perguntou sem nem citar nomes, já que não era necessário. 

— Claro que sim. — ele resmungou. — Desde o momento em que eu acordo, e até enquanto estou sonhando. — ele suspirou, como se estivesse exausto. — Eu sinto falta até dela reclamando de como nós parecíamos um bando de selvagem enquanto comíamos carne nas refeições.

Temari sorriu de canto. 

— Não se preocupe, o Suigetsu ainda está aqui. Reclamação sobre alimentação carnívora não vai faltar tão cedo. — a representante de Ares retrucou. 

Shikamaru sorriu de canto, porque estava esgotado demais emocionalmente para rir. E o horário não permitia também. 

Dali, eles não podiam ver com clareza o Chalé de Orfeu, mas sabiam exatamente onde estava porque a luz alaranjada da fogueira em seu interior estava passando pelas tábuas velhas e mal colocadas da parede, e era possível vê-la desfocada na névoa. 

— Você se sente inseguro por não tê-la mais aqui? — Temari perguntou com certa curiosidade. 

Shikamaru não respondeu de imediato, pensativo sobre o assunto. 

— Me sinto vulnerável. Como se estivesse mais exposto. Nós protegíamos muito um ao outro. — ele explicou seu ponto de vista. 

— É claro que sim. Acho que eu ficaria do mesmo jeito se Karin saísse.

Ele franziu o cenho e sorriu, olhando pra ele. 

— Uma filha do deus da guerra se sentindo insegura? — ele perguntou em tom irônico. — Seria a notícia do século. 

— Eu sou filha dele. Mas não sou ele. — Temari respondeu com certa rispidez, ainda observando a névoa da clareira, sem olhar para o rapaz ao seu lado. — Nem se quisessem muito, os filhos de Ares não conseguiriam seguir totalmente a conduta dele. 

Isso parecia mais uma alfinetada proposital do que um simples comentário jogado no ar. Então os olhos escuros de Shikamaru voltaram-se de novo pros braços de Temari. Para as marcas e cicatrizes de ferimentos feios que ela tivera em algum momento do passado. Eram marcas registradas dos filhos de Ares, afinal. 

Ele sempre as notou ali, mas nunca perguntou sobre. E provavelmente nunca perguntaria. Não ali dentro. 

— No fim, são o medo e a tristeza que nos tornam humanos. — Temari murmurou reflexiva e finalmente olhou pra ele, percebendo que ele fazia o mesmo. 

Nenhum dos dois disse nada, mas ainda permaneceram bastante tempo ali do lado de fora. Apenas sentados e observando a cortina de névoa que cobria o acampamento. 

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Karin foi a pessoa seguinte a acordar, principalmente após perceber que a cama ao seu lado estava vazia, o que significava que Temari também estava vagando pela casa escura durante a madrugada. 

A ruiva se levantou devagar, para não fazer barulho e despertar os outros. Ela deu alguns passos silenciosos para perto da cama de Naruto, só para conferir que Suigetsu também estava fora do quarto, já que o embolado de cobertores no chão estava vazio. 

Ela saiu do quarto e foi até a porta da frente, escutando as vozes baixas de Shikamaru e Temari passando por ali, mas nada que indicasse que Suigetsu estava com eles do lado de fora. Ela foi até a cozinha e a despensa, mas também eram cômodos vazios. A mesma coisa no banheiro.

Tendo a certeza de que Suigetsu não estaria no Chalé de Orfeu àquela altura da hora, ela soube que ele só poderia estar em mais um lugar da casa. Então abriu a porta do porão e desceu as escadas devagar, não querendo tropeçar no escuro e cair, porque sabia que isso iria acordar a casa inteira. 

Lá embaixo era o lugar mais escuro da casa. A pouca luz amarela sempre vinha da fornalha do aquecedor, que tinha acabado de ser reabastecido, aliás. Em compensação, também era o cômodo mais quente da casa. 

Para a surpresa de Karin, Suigetsu estava sentado no chão, exatamente na beira da abertura da parede onde encontrava-se a entrada para o Labirinto de Dédalo, recém-descoberto por eles. Ela tomou um susto ao ver a entrada aberta, ainda mais por estar tudo em silêncio, já que ao que parecia, o labirinto estava parado. Sem nenhum som metálico das paredes se movendo e formando novas passagens, como acontecera no ciclo anterior. 

O rapaz a olhou um pouco surpreso por ela estar ali embaixo àquela hora. Mas decidiu não comentar nada. 

Os olhos de Karin saíram dele e pararam na vela roxa acesa à frente dele, no chão. Mesmo sendo minúscula, a pouca luz adentrava o labirinto e formava sombras macabras lá dentro, que se moviam conforme o fogo da vela oscilava. 

Ambos se encararam por alguns segundos antes de Karin simplesmente se aproximar e sentar com ele ali na entrada, encostando-se na outra parte da abertura na parede, fazendo a vela ficar entre eles. 

— Pra que serve isso? — ela perguntou baixinho, com curiosidade. 

— Não acendem velas na sua tribo? — ele perguntou um pouco surpreso. 

— A única coisa que a gente acende são fogueiras.

— Serve pra fazer preces.

— Ah, as fogueiras também. — ela deu de ombros e ambos ficaram olhando a vela. — Estava fazendo uma prece para Naruto? — ele assentiu com a cabeça. — E você acha que Dionísio iria topar uma prece zelando por um filho de Apolo?

Ela conseguiu fazê-lo sorrir minimamente com a piada, o que já era um grande feito naquela noite, já que o rapaz ficou fora de si desde que viu Naruto cair naquele quarto. Suigetsu nem parecia mais o cara que sempre tinha um comentário engraçadinho na ponta da língua. 

— Não sei ao certo, mas acho que Dionísio é o cara que leva preces mais a sério do que qualquer outro lá de cima. — Suigetsu respondeu pensativo. — Pelo menos essa é a impressão que eu sempre tive, já que a minha tribo cuida mais de religião que qualquer outra. 

Karin assentiu com a cabeça, já que sempre teve a mesma impressão. 

— Acho que você devia tentar descansar. Naruto vai ficar puto quando souber que você ficou a noite toda acordado por causa dele. — ela opinou. 

— Isso se ele acordar, né? — ele retrucou com frustração. 

— Não seja ridículo. Ele vai acordar. — ela rebateu prontamente. — Foi só uma cobrinha áerea, Suigetsu. Sabe quantas vezes já fui picada por uma dessas? E estou aqui, não estou. 

— Já foi picada por uma da mesma espécie? — ele a encarou com seriedade. Os olhos violetas dele pareciam assustadores daquele jeito, ainda mais sob aquela pouca luz amarela do porão. 

— Não. — ela respondeu. — Mas se tem alguém aqui que entende de bichos silvestres, esse alguém sou eu. Pode confiar. 

Ele achou melhor não dizer nada, já que tinha visto que Karin fora uma das que ficara mais nervosa também quando viu Naruto despencar no chão. 

— Se nem o próprio Naruto se abalou por ter sido picado, nós também não deveríamos. — ela continuou tentando passar firmeza. — Senão, ele já teria chegado berrando que foi picado quando chegou no acampamento. 

— Ele gosta de fingir que está sempre no controle das coisas. — Suigetsu retrucou com certa irritação. — Não é à toa que sempre quer botar a cara à tapa pro jogo, como se dependesse só dele pra tudo dar certo. 

Ela franziu o cenho, confusa. Suigetsu voltou a encará-la, notando seu silêncio confuso antes de esclarecer as coisas. 

— Você já sabe sobre o plano dele de ir com Sasori pro Coliseu essa semana? — ele perguntou e a viu arregalar os olhos. — Claro que não. Shikamaru não deve ter dito nada ainda para Temari. 

— Por que ele quer fazer isso? 

— Ele acha que a Basílica de Apolo consegue tirar o Sasori. Já que a Ino não tirou, ele quer assumir a bronca. — Suigetsu respondeu com amargura e irritação. — Mas nessas condições, nem fodendo que eu vou deixar ele fazer isso. 

— Mas como ele pretende fazer isso? — Karin questionou, tentando encaixar as peças. — O único jeito é se todo mundo votar nele e… 

— E a Hinata mandar o Sasori. — Suigetsu complementou. — Mas isso não vai acontecer. Nessa situação, eu não vou deixar que ele encare aquele Coliseu essa semana. E de qualquer forma, a Hinata não vai mandar o Sasori. Ela tá morrendo de medo dele, depois que ele tirou a Ino. Todo mundo está. 

Karin ergueu as sobrancelhas com certa ironia. Era claro que Hinata estava morrendo de medo daquele paspalho. Quem não teria depois de ver o público ficar do lado dele depois do que fizera? A própria representante de Ártemis sabia que era loucura ir com ele pra uma votação agora, ainda mais depois de Ino sair. Estava mais do que claro que ele seria mandado de volta. Pela terceira vez, aliás. 

— Mas a única chance desse plano dar certo é se nenhuma de nós for essa semana. — Karin comentou, ainda pensando nessa ideia. 

— Era o que ele queria. — Suigetsu explicou. — Mas a gente nem sabe quem vai ficar em último lugar na prova de amanhã. E é como eu falei: nem fodendo que eu vou deixar ele ir pro Coliseu essa semana depois de ter sido envenenado. 

— Boa sorte pra você tentar impedi-lo. — ela gracejou, sabendo da teimosia de Naruto. — Do jeito que ele é, vai querer ir pro Coliseu nem que seja em cima de uma maca. 

Suigetsu balançou a cabeça levemente, como se estivesse irritado. E estava. Ele ficou olhando para o interior silencioso e macabro do labirinto enquanto continuava perdido nos próprios pensamentos. 

— Ele não vai. — ele falou de um jeito extremamente sério. Karin nunca o vira tão sério como naquele momento. Pelo visto, aquela era uma noite bem esquisita mesmo. — Eu não vou deixar.

Ela ficou quieta por uns minutos, respeitando o momento dele. Talvez ele estivesse querendo muito poder chorar, mas infelizmente o lugar não permitiria. Ela sabia que isso era proibido já entre os próprios filhos de Dionísio, e era pior ainda estar na frente de câmeras que permitiam que a Grécia inteira os assistisse. 

— Sabe qual a pior parte? — a ruiva comentou, reflexiva. — Se o Sasori não for pela Hinata, ele vai pela casa. E adivinha quem ele vai querer puxar do Chalé? 

Suigetsu voltou a olhá-la sério. E pelo brilho nos olhos dele, das lágrimas que não poderia jamais derramar, ela soube que ele já tinha pensado nisso também. 

Karin percebeu que aquilo doía muito nele, já que para poupar Naruto naquela semana, ele teria que ver Sakura ir para a linha de frente. 

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O teto do Chalé de Orfeu ficava bastante singular durante a noite, Sasuke já notara isso há tempos. A luz da fogueira criava sombras bem estranhas lá em cima, naquele amontoado de tábuas mal colocadas e velhas. Em algumas partes, era até possível ver o céu noturno lá fora, devido aos buracos e fendas. Mas naquela noite em específico, tudo o que ele conseguia ver era a neblina branca do lado de fora. O que também era possível ver pela parede aberta do Chalé. Uma cortina enorme e branca cobria toda a superfície do lago, impossibilitando até de enxergar a água e as montanhas lá do outro lado. 

Sasuke estava imóvel olhando para o teto, sem ousar mover um único músculo de seu corpo, já que Sakura se encontrava aconchegada quase em cima dele, embolada debaixo do cobertor com ele. 

Foi a única forma que ela encontrou de conseguir ao menos cochilar, já que estava morrendo de frio. Naquele momento em especial, ela já estava conseguindo cochilar há vinte minutos seguidos, o maior intervalo da noite. 

Sasuke conseguia sentir a respiração quente dela na curva de seu pescoço, já que era ali que o rosto dela se encontrava. Toda vez que ela expirava, ele sentia o próprio corpo se arrepiar e tinha que engolir em seco e continuar olhando firme pra cima. 

Mas era uma tarefa bem difícil, já que ele estava totalmente consciente sobre o resto do corpo dela. As pernas dela estavam enroladas nas dele também, por debaixo do cobertor. Fora que ela estava com metade da parte superior do corpo por cima do dele também. Ele até podia sentir as batidas do coração dela em seu braço, o que era quase um suplício. 

Quando Sasuke fez seu voto de castidade a Hades anos antes, jamais pensou que um dia passaria por momentos de provação tão agressivos assim. 

O pior de tudo era que Sakura nem fazia por mal. Só estava dormindo como costumavam fazer quando crianças no Santuário de Atena. O problema era que naquela época ele não tinha os hormônios adolescentes que tinha nos tempos atuais. 

E ela também não tinha as curvas que tinha hoje. Estava sendo um inferno sentir os seios dela em seu peito, mesmo por cima de tantos panos — lê-se os blusões de Gaara. 

Sasuke olhou para o outro lado da fogueira, vendo que Sai continuava dormindo e roncando baixinho debaixo de seus cobertores, mais habituado ao frio, assim como ele. Totalmente alheio à aflição silenciosa do representante de Hades.

As chamas da fogueira começaram a vacilar, já que a lenha já tinha sido quase toda consumida. Menos de cinco minutos depois, ele sentiu Sakura suspirando mais forte em seu pescoço e se mexer, acordando de novo, como reflexo do calor ter diminuído. 

— Já amanheceu? — ela perguntou com a voz cansada, se sentando devagar. 

— Não. — Sasuke respondeu e se levantou para ir pegar mais lenha e alimentar a fogueira. 

Ele notou com preocupação que a pilha de lenha do Chalé estava pequena até demais, o que significava que provavelmente não teria lenha o suficiente para a noite seguinte. E considerando os dias frios e chuvosos dos últimos dias, era quase certo que conseguir madeira seca na floresta seria uma missão impossível. 

Sasuke simplesmente não sabia o que fazer. 

Sakura o acompanhou com o olhar enquanto ele colocava mais lenha na base de ferro e depois voltava para perto dela. Os dois ajeitaram-se de novo pra deitar e Sasuke novamente se viu em sofrimento quando ela circulou seus braços ao redor dele e se deitou de novo naquela posição. 

— Você tá bem? — Sakura perguntou confusa, sentindo-o tenso, mas talvez fosse só por causa do frio. 

— Estou ótimo. — Sasuke respondeu daquele jeito sucinto de sempre. 

— Por que não tenta dormir um pouco? — ela sugeriu, mesmo que ela própria estivesse fazendo isso de um jeito nada exemplar. 

— Acredite, estou tentando. — Sasuke respondeu voltando a fixar os olhos no teto. 

Sakura deixou pra lá e se aconchegou de novo nele antes de voltar a cochilar, alheia aos tormentos do garoto. 

Dia 36 | Sexto Desafio de Perseu

Uma hora antes do amanhecer, a chuva que ameaçou o dia anterior inteiro finalmente caiu. E embalados pelo som dos grossos pingos no telhado, os participantes dentro da casa principal continuaram dormindo, dessa vez mais pesado. Por isso, Naruto foi o primeiro a realmente acordar naquela manhã cinzenta e fria. 

Na verdade, ele imaginou que estivesse morto. Que tivesse ido parar nos Campos Elísios — o “paraíso” do Mundo Inferior.

Porque enquanto seu corpo ia voltando a ficar consciente aos poucos, o primeiro sentido dele a despertar foi o olfato. E ele sentiu o cheiro de incenso, típico do Mosteiro de Dionísio, o lugar onde ele sentiu paz após um longo período de depressão. 

Naruto abriu os olhos devagar, ainda sentindo aquele cheiro. Mas quando sua visão se acostumou, ele percebeu que não estava morto. Continuava dentro de Olimpo. Mas ainda assim, o cheiro o remetia ao relaxamento. À paz interior. 

E foi quando ele percebeu o motivo: o cobertor que o cobria era o de Suigetsu. Estava com o cheiro dele. Incenso de olíbano, para ser mais exato. O mesmo cheiro que Naruto já notara que o cabelo de Suigetsu tinha. 

O representante de Apolo se ergueu um pouco para sentar na cama, sentindo seu corpo inteiro doer com as fisgadas nos músculos e ossos, que tinham ficado pesados devido aos efeitos do veneno da cobra, mas fora isso, não tinha tanto risco à sua saúde. 

Ele olhou em volta e notou todos dormindo pesado no quarto, ainda mais com o som forte de chuva lá forte. Ao olhar pro lado esquerdo da cama, espiando pra baixo, Naruto notou Suigetsu dormindo no chão de mau jeito. 

Com certeza, ele ficou lhe velando a maior parte de seu tempo inconsciente. 

E de forma inconsciente, um pequeno sorriso surgiu no rosto dolorido de Naruto ao saber disso. Ele se abaixou e ergueu o braço, cutucando Suigetsu devagar. 

O rapaz no chão foi acordando aos poucos e seus olhos violetas logo se fixaram em Naruto. Como ele ainda estava cansado e ainda meio sonolento, sua reação não foi escandalosa nem nada do gênero. Ele ficou alguns segundos olhando Naruto inclinado ali ao lado e retribuiu o sorriso dele ao finalmente perceber que estava acordado. 

— Bom dia. — Naruto murmurou baixinho, num tom divertido. 

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— Parece que Perséfone voltou mais cedo pro Mundo Inferior. — Sai comentou irônico e de modo sôfrego enquanto dobrava seus cobertores e os colocava no canto. 

Sasuke teve que admitir que achou o comentário engraçado, embora não tenha rido de verdade. 

O outro se juntou a ele e Sakura para sentar-se na beira da fogueira ainda acesa enquanto comiam a ração de café da manhã ali no Chalé. 

A chuva continuava caindo fortemente, o que só parecia estar deixando a neblina pior. E as goteiras ali não paravam a nenhum momento, o que os fez mudar várias coisas de lugar para não molharem, principalmente os cobertores. A última coisa que precisariam era de mais uma noite congelante como a anterior. 

Sakura não disse nada porque estava morrendo de cansaço pela noite mal dormida, e não era nem necessário comentar sobre Sasuke, já que ele não dormira absolutamente nada. Fora que a garota estava odiando aquela porcaria de ração. 

— Temos que pedir lenha do pessoal. — Sasuke disse se referindo à pilha de lenha que ele mesmo tinha cortado e colocado no porão da casa principal dias antes. — Senão vamos congelar de verdade hoje à noite. E o dia inteiro, aliás. Mesmo que a gente quisesse, não iríamos conseguir lenha seca na floresta hoje. 

— Pelo menos não está mais tão frio. — Sakura murmurou com frustração, ainda enrolada num dos cobertores enquanto comia. 

O céu clareando devagar já os tinha feito perceber que alguns graus de temperatura tinham subido, o que já ajudava a não passar o dia batendo os dentes. 

Sakura, aliás, estava usando dois blusões e calças de Gaara, e mesmo com o cobertor sobre os ombros, ainda estava com frio. Naquele momento, ela só torcia para chover tudo o que tinha chover durante o dia, porque uma noite de tempestade e ventos fortes naquele Chalé com certeza os mataria. 

Eles ficaram surpresos quando viram Karin abrir a porta do Chalé e entrar, encharcada apenas pela pequena corrida que dera da casa principal até ali. 

— O Naruto acordou. — ela anunciou sorridente e animada para eles. 

— Ah, graças aos deuses. — Sakura suspirou aliviada, quase caindo pra trás com a tranquilidade que a atingiu. 

Ela contou a eles que já tinha se levantado e estava comendo, apesar de sentir “moído”. Mas ele disse a eles que não perderia um rim nem nada do gênero, apenas precisaria ficar de repouso o máximo possível. Ainda estava meio tonto e com dor de cabeça, apesar de fingir que não. 

— Faça-o ficar na cama. — Sakura ordenou. 

— Não preciso, Suigetsu já está fazendo isso. — Karin riu. — Ele tá praticamente dando comida na boca do Naruto agora lá na cozinha. 

Sasuke riu de canto, imaginando essa cena e o quanto Naruto provavelmente deveria estar irritado com alguém cuidando dele e o resto estando todos preocupados ao seu redor. Uma pena ele não poder entrar e tirar uma com a cara do filho de Apolo. Aquela era uma ótima oportunidade. 

Ela voltou correndo para a casa principal, pulando por cima das poças d’água na clareira antes de subir na varanda e entrar para se secar. 

— Que bom que eles estão bem. — Sakura respirou aliviada de novo antes de voltar para sentar e terminar de comer sua porção de ração com careta de desgosto. — Da próxima vez, não me chama pra cá não, Sasuke. Por favor. 

— Tá. — ele resmungou, comendo seu esplendoroso café da manhã também. 

Sai segurou um riso, achando-os engraçados. 

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— A gente tá bem, né? — Suigetsu comentou enquanto recuperava seu bom humor ao levar canecas com chá para Naruto e Deidara no quarto, ambos deitados em suas camas, ainda descansando. — Sempre estamos com o time 100% nas provas, ninguém nunca tá machucado nem nada. 

— Ô. — Deidara comentou com ironia, pegando a caneca que ele lhe deu. — O Gaara que o diga. 

— Sabe o que é pior? — Suigetsu perguntou se sentando na beira da cama de Naruto depois de dar a caneca dele. — Os outros realmente acham que a gente é o pessoal mais forte do jogo. O Shikamaru já tá lá na sala cochichando baixinho com a Temari umas estratégias, provavelmente. 

— Eu quero saber em qual semana que a gente realmente foi forte nesse lugar. — Deidara comentou rindo pra não chorar. — Eu acho que nunca teve uma semana aqui em que a gente não estivesse na merda. 

Suigetsu e Naruto concordaram rindo. 

— Mas acho que nessa semana a gente se superou. — Suigetsu disse. — Acho que só eu que tô mais melhorzinho. Até a Sakura se fodeu agora que tá lá fora. O Sasuke não espera nem até depois do casamento pra levar a sério o negócio do “na alegria e na tristeza”. 

Naruto se engasgou com o chá enquanto ria dessa última parte. 

— Ei, mas sério. — Deidara comentou depois que ele se recuperou. — Você deu o maior susto ontem em geral, cara. Esse daí quase teve um colapso. 

— Que mentira. — Suigetsu rebateu fazendo careta. 

— Ah, não. Eu que tive. — Deidara rebateu. — Você quase desmaiou também. 

Naruto ficou observando os dois discutindo. Se sentindo tonto e cansado o suficiente até para acompanhar o raciocínio da conversa, embora tentasse. 

Porém, naquele exato momento, eles foram interrompidos pelo sinal sonoro alto que ecoou por todo o acampamento. Não só eles mas todos fora do quarto se sobressaltaram assustados. 

Shikamaru se virou de costas no sofá e olhou pela janela, vendo Kakashi lá fora, de pé no meio da clareira segurando um grande guarda-chuva preto acima da cabeça, para protegê-lo da chuva forte. Tinha uma estrutura grande ao lado dele, mas era difícil enxergá-la direito lá de dentro. 

— Já é o Desafio de Perseu? — Hinata perguntou da cozinha, se aproximando junto com os outros para ver pela janela também. Todos ficaram surpresos ao ver Kakashi tão cedo ali, já que ainda não era nem horário do almoço. 

— Ei, Desafio de Perseu! — Temari foi chamar os três garotos no quarto. 

Todos saíram da casa principal, ficando de pé na varanda para observar o apresentador se aproximando devagar, segurando firme o guarda-chuva e bem agasalhado. 

Sai, Sasuke e Sakura estavam de pé na porta do Chalé de Orfeu, observando-o também. Como estavam mais próximos da estrutura, eles estavam olhando pra ela com atenção e curiosidade. 

Suigetsu ajudou Naruto a andar até o lado de fora, fazendo-o sentar no balanço da varanda enquanto os outros todos permaneciam de pé. 

— Bom dia, olimpianos. — Kakashi começou a falar assim que parou a três passos do primeiro degrau da varanda, ainda de pé na clareira. Era difícil escutá-lo por conta da chuva. — Bem-vindos ao sexto Desafio de Perseu. Hoje vamos ter uma provinha semelhante a algumas que já enfrentaram nessa temperatura. 

Todos olharam para a estrutura mais adiante, bem no meio da clareira. Parecia uma enorme caixa de metal preta e de altura baixa, mas mesmo à distância, eles perceberam que tinham algumas coisas lá dentro. 

— Não precisam se preocupar, não é nada mirabolante. — Kakashi disse, vendo as caras medrosas de todos, que pareciam pior pelo fato de estarem se encolhendo de frio. Ele tirou uma bolinha branca do bolso, parecida com as de pingue-pongue, e ergueu para mostrar a eles. — A tarefa é entrar ali na caixa e procurar por uma dessas. Quem achar a bolinha dourada está imune, e quem achar a bolinha prata vai estar no próximo Coliseu. Alguma pergunta?

Todos continuavam olhando para a caixa no meio da clareira, sabendo que provavelmente havia mais do que bolinhas lá dentro. 

— Quem gostaria de ir primeiro? — o apresentador perguntou num tom divertido. 

Ninguém se adiantou ou fez nada. 

Na porta do Chalé, os três participantes estavam olhando na direção deles, sem entender o que se passava, já estavam longe demais para escutar a explicação de Kakashi. 

— Eu posso ir, acho. — Shikamaru falou depois de quatro minutos de silêncio absoluto, sabendo que quanto mais esperassem, pior seria. 

Kakashi assentiu com a cabeça e fez um sinal de que ele prosseguisse. 

Todos ficaram observando enquanto Shikamaru respirava fundo várias vezes, ajeitando seu agasalho sobre os braços e se preparando para correr até a estrutura debaixo daquela chuva forte. Quando ele o fez, todos estavam vidrados nele enquanto corria pela clareira até lá. 

Mas ao chegar na beira da estrutura, ele parou, temeroso de entrar ao perceber que a estrutura mais parecia uma piscina de tamanho médio. As paredes dela batiam na altura da cintura do rapaz, e estava cheia de galhos e folhas escuras, que estavam molhadas por conta da chuva, com certeza pegajosas. Ele não conseguia ver nada do fundo escuro, porque eram muitos galhos e folhas, então precisou respirar fundo várias vezes antes de finalmente apoiar as mãos na beira da estrutura e forçar o corpo a pular para entrar. 

Todos o observaram de maneira apreensiva quando ele aterrissou lá dentro e fez uma careta de desgosto ao sentir os tornozelos afundarem em água — provavelmente da chuva, mas não menos agonizante. Os galhos e folhas machucavam suas pernas, cutucando  de forma agonizante, principalmente por ele não estar vendo-os. 

— O que é pra fazer? — Sai perguntou a Sasuke e Sakura, mas eles também não estavam entendendo o que os outros precisavam exatamente tirar daquela prova. 

Shikamaru tentou ignorar a agonia e se moveu lá. Deu mais um passo para dentro e mergulhou seus braços naquela piscina de folhas e galhos escuros, procurando por qualquer coisa que parecesse uma bolinha. A chuva continuava caindo forte, encharcando-o. Toda vez que ele respirava forte, voava água para longe de seu rosto. 

Seus sapatos estavam pesados por estarem debaixo d’água, dificultando ainda mais a locomoção ali dentro, somado àquelas folhas e galhos pesados. 

De repente, ele escutou um barulho estranho e assustador. Parecia o sibilo de uma cobra, mas era diferente. Mais grave, longo e mais baixo. E antes que pudesse se mexer para dar um pulo pra fora, ele sentiu alguma coisa com garras se agarrar em seu braço esquerdo, fixando-se em seu casaco e apertando. 

Mesmo sem escutar nada ou ver, os outros perceberam quando ele paralisou e logo ficaram alarmados, embora ninguém tenha dito nada. Todos os olhos estavam voltados para ele. 

O representante de Poseidon ficou parado por um minuto, sem mover um músculo, embora tremesse de frio e medo. Reunindo coragem e movido à curiosidade, ele lentamente começou a levantar seu braço, querendo saber o que tinha lhe agarrado. 

Seu braço lentamente começou a voltar para a “superfície”. As folhas e caules foram se afastando para o lado conforme ele ia se erguendo. E de repente, ele foi o primeiro a ver a cabeça esverdeada do enorme lagarto que tinha fincado-se nele. 

O garoto paralisou de novo, prendendo a respiração em pânico ao perceber que o bicho devia ter quase um metro de comprimento, considerando o tamanho da cauda dura que ele sentia roçando em suas costelas. Fora que seu braço estava doendo pelo peso da criatura. 

Sakura arregalou os olhos e empalideceu com os outros dois garotos no Chalé, já que eles estavam mais perto para ver o bicho agarrado no braço de Shikamaru. Na varanda da casa principal, os outros ficavam na ponta dos pés e estavam forçando a vista desesperadamente para tentar ver direito. 

Shikamaru arfou quando a pupila escura dos olhos amarelos do bicho diminuiu e ele emitiu aquele som estranho de novo. 

O garoto estava prestes a gritar quando o bicho largou seu braço e mergulhou de novo naquele mar de folhas, desaparecendo. Shikamaru ainda assim conseguiu sentir a cauda do bicho batendo em suas pernas enquanto ele se esgueirava ali dentro. 

Rapidamente ele endireitou-se de pé, ofegante e com o coração acelerado pelo medo daquela criatura desconhecida que estivera tão perto. O som do troço recomeçou, vindo de uma direção diferente da que o bicho pulara, o que o fez perceber que tinha mais de um. 

Shikamaru virou-se assustado para a casa principal, vendo os outros o olharam do mesmo jeito. Ele olhou de novo para a piscina de folhas, apavorado e desesperado. 

Precisou respirar fundo várias vezes novamente antes de começar a procurar em completa agonia qualquer coisa que lembrasse uma bolinha. 

Todos o assistiam em pânico também enquanto ele ia empurrando os galhos e qualquer coisa, escutando os sons dos lagartos ali dentro, que estavam irritados pela movimentação. 

Até que ele finalmente sentiu algo redondo encostar em seu braço. Rapidamente moveu as mãos ali até agarrar uma bolinha e erguê-la, vendo que era verde. 

Pouco se importando com a cor, ele deu um pulo desesperado para fora da estrutura e voltou correndo o mais rápido possível de volta para a segurança da varanda. 

— Qual a cor, Shikamaru? — Kakashi questionou quando o garoto se jogou de joelhos ali na varanda, ofegando. 

Ele não respondeu, só abriu a mão e mostrou de um ângulo que o apresentador podia ver. 

— Certo. — Kakashi disse ao constatar a cor. — Quem é o próximo? — ele indagou aos demais. 

Todo mundo se entreolhou assustado. 

— Tem umas iguanas enormes lá dentro. — Shikamaru disse aos outros, pra que pelo menos soubessem o que esperar quando entrassem. 

— Iguanas? — Hinata ficou ainda mais horrorizadas. — São venenosas? 

— Eu acho que depende da espécie. — Karin opinou ao saber, também pálida e assustada. 

Todos olharam para Kakashi, esperando uma resposta, mas era óbvio que ele não diria nada a respeito. Apenas continuou olhando pra eles em aguardo. 

— Quem é o próximo? — repetiu a pergunta. 

Todos se olharam, morrendo de medo. 

— Eu posso ir me secar? — Shikamaru perguntou, ainda ofegante e trêmulo, querendo entrar para tirar as roupas e sapatos molhados. 

— À vontade. — Kakashi fez um gesto com a mão antes de olhar para os outros. — Vamos lá, ainda têm umas bolinhas dourada e prateada esperando por vocês. 

Novamente, mais alguns minutos de receio e desespero silencioso antes de alguém se adiantar para fora da varanda. E esse alguém foi Temari. 

Para ela, era uma simples questão de proporção. Suas chances de pegar aquela bolinha prateada e ir direto ao Coliseu só aumentaria ainda mais conforme mais pessoas fossem na frente dela. Então era melhor ir logo e correr menos risco do que ficar esperando. 

Exatamente como Shikamaru, ela correu o mais rápido possível pela clareira, tentando não ficar debaixo de chuva por muito tempo. Mas diferente dele, ela não ficou hesitante de pular de uma vez só dentro daquela piscina verdejante e escura. 

Mesmo amedrontada pelo som daqueles répteis assustadores, alarmados com sua presença, ela saiu empurrando os galhos com força enquanto suas mãos tateavam por todo canto, atrás de qualquer coisa que se parecesse uma bolinha. 

Um dos lagartos passou entre seus tornozelos submersos e ela sentiu quando as escamas pegajosas cortaram sua pele, porém ela suprimiu qualquer som de dor e continuou concentrada na tarefa. Estava apenas com a cabeça pra fora daqueles galhos fazendo isso. 

— Eu vou logo lá. — Deidara murmurou aos amigos enquanto todos observavam Temari. 

— O quê? Mas você vai ficar com febre de novo nessa chuva. — Suigetsu retrucou com um argumento válido. Em parte porque estava tão apavorado que não queria nem que os amigos fossem até lá também. 

Tonto, Naruto ainda não tinha cabeça o suficiente nem para argumentar. 

— É melhor irmos logo, cara. — Deidara o replicou com seriedade, embora pudessem ver na sua cara que também estava assombrado com a prova. 

Todos se sobressaltaram ao ver Temari pular para fora da estrutura e correr de volta para a varanda com uma das mãos fechadas. E ao subir os degraus, ela abriu e mostrou uma bolinha verde como a de Shikamaru. 

Enquanto o processo se repetia e Karin corria debaixo da chuva pela clareira, os três na porta do Chalé estavam discutindo sobre a prova, já que eles não tinham nada que servisse de guarda-chuva para poder ir lá e perguntar o que estava acontecendo. 

Todos estavam observando com ansiedade e nervosismo enquanto Karin repetia o processo, só que ao invés de pular pela frente da estrutura como Temari e Shikamaru tinham feito, ela entrou pela lateral direita, procurando melhor por ali, para ter mais chances de achar logo uma bolinha e sair o mais rápido possível, antes que um daqueles bichos a machucasse como fizera como Temari. 

A loira tinha entrado dentro de casa já tirando os sapatos e a meia manchada de vermelho, já que o lagarto que passara entre os tornozelos dela realmente lhe arranhara com as escamas. Tinha um corte feio na lateral do tornozelo direito dela, que estava sangrando. Ela correu até o banheiro da casa principal para ir lavar, torcendo pra que não tivesse nenhuma substância nas escamas do bicho que a fizesse mal ou algo do tipo. 

E justamente enquanto estava lavando se tornozelo, a representante de Ares escutou o pessoal fazendo sons de surpresa lá fora. Na verdade, ela escutou Suigetsu xingando em voz alta, e sua ficha caiu de que a amiga provavelmente tinha acabado de achar a bolinha prateada. 

— Merda! — Temari xingou e deu um soco irritado no box de vidro do banheiro, fazendo-o tremer. 

— Fodeu. — Sakura xingou baixinho na porta do Chalé ao perceber que realmente os ânimos na varanda do outro lado tinham baixado bastante, e todo mundo parecia aflito por Karin. 

— Ela tá no Coliseu? — Sai perguntou confuso olhando pros dois, pra saber se els tinham entendido a mesma coisa que ele. 

— Acho que sim. — Sasuke respondeu olhando pra lá, tentando ter certeza. 

— Então agora só resta saber quem tá imune. — Sakura murmurou em agonia, ainda mais vendo Sasori ser o próximo a correr pra estrutura. — É só o que falta agora. Esse cara ficar imune. 

Sasuke estava torcendo em pensamento pra um dos lagartos pular na cara dele, só por diversão. 

— Não acredito nisso. — Naruto estava com uma das mãos sobre o rosto, mais desolado do que a própria Karin por ela estar indo direto pro Coliseu. 

A ruiva se encontrava sentada no chão da varanda enquanto tirava seus sapatos e meias encharcados, estando mais calma do que os outros, aliás, com sua situação. 

— Porra, Karin. E agora? — Suigetsu perguntou nervoso para ela. 

Ela o encarou com o cenho franzido enquanto ficava de pé de novo. 

— Agora fala pro seu namorado fazer outro plano genial. — ela respondeu com ironia. — Porque senão a gente vai se despedir daqui três dias. 

Suigetsu engoliu em seco enquanto ela entrava para ir trocar as roupas molhadas por algumas secas. Ele olhou para o meio da clareira, vendo aquele maldito ruivo procurando por uma bolinha também. A última coisa que faltava era ele ficar imune. 

Ele seguiu o olhar para Sakura, percebendo que ela estava abraçada a Sasuke enquanto eles permaneciam o olhar fixo e desconfiado no representante de Deméter, tão aflitos quanto o resto para saber se ele ficaria imune ou não. 

— Se ele não pegar a bolinha dourada agora, um de nós três tá imune. — Deidara murmurou para ele e Naruto, enquanto também observava Sasori de forma atenta. 

Cada segundo parecia uma eternidade, já que o medo de Sasori ficar imune estava deixando todo mundo ainda mais tenso agora. E por faltar apenas quatro bolinhas naquele espaço relativamente grande, estava ficando cada vez mais difícil encontrá-las. Fora que a chuva parecia estar ficando cada vez mais forte, então tornava tudo mais difícil pelas roupas molhadas pesarem em seus corpos. 

De repente, o ruivo fez careta ao pegar uma bolinha e ver que não era da cor que esperava. 

— Deixa eu ir logo. Melhor vocês dois não correrem o risco de pegar essa chuva e ficarem com febre de novo. — Suigetsu disse se colocando na frente de Deidara enquanto Suigetsu voltava correndo na direção deles. 

— Se nós formos os últimos, vai ser pior. — Deidara rebateu com irritação por Suigetsu ainda estar tentando segurá-lo ali. — Vamos demorar ainda mais pra achar as últimas bolinhas. Eu vou logo nesse caralho. 

E ele não quis mais discutir isso. Calçou os sapatos e foi correndo pela chuva até aquele lugar. 

— Um deles tá imune já. — Sasuke comentou observando o loiro dar a volta na estrutura e pular pela parte de trás para dentro. 

— Que alívio. — Sakura suspirou. Ela não sabia se estava feliz por um dos amigos estar imune ou porque Sasori não estava. 

Naruto continuava sentado no balanço, agora calçando sapatos, já se preparando para ir assim que Deidara voltasse, caso ele não achasse a bolinha dourada agora. 

— Puta que pariu, a Karin tá no Coliseu. — Suigetsu continuava choramingando esse fato, inconformado.

— Calma, a gente ainda pode pensar em alguma coisa pra seguir a tática de antes. — Naruto resmungou. — Quem sabe eu possa trocá-la com alguém. A gente nem sabe o que tem na Caixa de Pandora. 

Suigetsu não estava tão confiante quanto ele. 

Deidara tossiu enquanto continuava sua busca frenética dentro daquela piscina grudenta e agonizante. Não estava acostumado com aquelas condições tão molhadas, então acabou engolindo um pouco de água por ficar debaixo de chuva.

Ele deu um berro de dor ao sentir um dos répteis escondidos naquela estrutura lhe atingir fortemente com o rabo, em forma de defesa pela movimentação do rapaz ali dentro. Foi certeiro em sua coxa, e ele sabia que ficaria um hematoma feio na região, no mínimo. Sua vontade era de procurar pelo bicho só para arremessá-lo longe, tamanha a raiva que sentiu. Mas decidiu voltar a se concentrar na tarefa de achar uma das bolinhas. 

Ele demorou quase o dobro dos outros para finalmente achar a bolinha, o que significava o quanto as coisas já estavam difíceis àquela altura da prova. Só para ter uma noção, a água já tinha se acumulado dentro da estrutura o suficiente para não bater mais nos tornozelos deles, e sim em seus joelhos. Era difícil dar até um simples passo lá dentro. Fora que os bichos já estavam extremamente irritados com aquele entra e sai dos participantes ali dentro. Já estavam sendo agressivos com eles sem o menor medo. 

E foi quando Deidara finalmente conseguiu agarrar algo circular em suas mãos. Ele o levantou para fora daquela muvuca de folhas e deu um berro alto ao ver que era uma bolinha dourada. 

— Ah, graças a Apolo. — Naruto murmurou aliviado ao perceber que o amigo estava imune. 

Suigetsu bateu palmas feliz também, embora sua empolgação se devesse mais ao fato de que ele e Naruto não precisariam mais ir tomar banho naquele troço, e muito menos interagir com aqueles bichos. 

— Que bom. — Sakura disse animada ao ver o amigo voltar correndo de volta para a casa principal e Kakashi voltar a falar com eles, anunciando o fim de prova. 

— Então o Deidara está imune e a Karin está no Coliseu? — Sai perguntou para ter certeza de que tinha entendido direito. 

— É, acho que sim. — Sasuke respondeu antes de voltar para dentro do Chalé, indo acender a fogueira novamente para irem se aquecer. 

Sakura e Sai permaneceram ali na porta, observando-os à distância enquanto eles entravam junto para os outros e Kakashi começava a andar pela clareira para ir embora. 

— Bom, acho que isso muda todo o jogo. — Sai murmurou reflexivo. — Temos outra mulher ameaçando ser eliminada essa semana. 

Karin 

Uma das coisas mais assustadoras sobre ex-participantes de Olimpo é que eles enlouquecem depois que saem do jogo. O maior exemplo que tenho disso é Kurenai, uma das professoras de arco e flecha que as Florestas de Ártemis possui. 

Dez anos atrás, ela saiu de Olimpo durante a última eliminação, e a primeira coisa que fez ao pisar na tribo de novo foi pegar a filha bebê e se mudar para uma casa nas entranhas mais profundas das nossas florestas. Numa área que nem os mais corajosos vão porque é extremamente isolada e afastada, além de ser muito frequentada pelos piores predadores da floresta. 

Ela só aparecia na tribo para as aulas e ocasiões especiais — onde a presença de todos era solicitada. A filha dela socializava mais, mas ela mesmo só falava o necessário com as pessoas. 

A única vez que eu a vi falar com alguém — olhando nos olhos da pessoa — foi quando Kakashi foi passar alguns dias nas Florestas de Ártemis depois de uma tentativa de suicídio, dois anos após ter ganhado sua edição. 

Foi justamente na época em que eu tinha acabado de perder minha mãe. Estava sentada no telhado de casa no meio da noite. Minha tia e minhas primas estavam dormindo, assim como toda a tribo. Estava muito escuro, e a pouca luz vinha das fogueiras que ainda estavam acesas. 

Foi quando eu os vi.

Kakashi tinha saído da hospedaria em que estava passando seus dias ali na tribo. Ele se esgueirou pelas trilhas escuras até encontrar ela, que parecia estar lhe esperando numa das entradas para a floresta. Os dois ficaram alguns minutos lá, parecendo discutir. Mesmo que eu estivesse longe demais para escutá-los, podia ver seus vultos agitados, então provavelmente deviam estar discutindo alguma coisa bem baixinho. 

Por fim, Kurenai pareceu concordar com alguma coisa que ele disse. E então os dois entraram na floresta e sumiram mata adentro. 

Na manhã seguinte, tudo correu como sempre. Kakashi andando pela tribo educadamente e cumprimentando algumas pessoas, e Kurenai isolada em sua casa nas profundezas da região.  

Nunca contei isso pra ninguém. Até porque acho que não havia necessidade. 

Acho que é normal as pessoas malucas fazerem coisas sem sentido mesmo. 


Notas Finais


Acho que pela primeira vez em 40 capítulos, taí uma prova que eu não faria nem que a minha vida dependesse disso. Tenho p-a-v-o-r de lagartos e iguanas, não sei o motivo. Cobra e jacaré de boas, lagarto simplesmente não, kkkk. Não me perguntem, é aqueles medos que nem a gente entende, kkkk.

Bom, desculpem demorar a trazer esse capítulo. Eu estava em final de período na faculdade, depois fiquei atolada no trabalho e em seguida tirei três semaninhas de férias para agora voltar e trazer atualizações de tudo. Mas como prometido, todos os capítulos desse ciclo terão mais dez mil palavras, e aqui está. Espero que tenham gostado <3

Playlist da fic: https://open.spotify.com/playlist/5GHgPG9ZkBwObsc2pRpmeA?si=_puriNGqRcedjZBE_anzhw

Instagram: writer.plutoniana

Cronograma de atualizações: https://docs.google.com/spreadsheets/d/1t5DKJYcCh_KA6E9p385Eqy_cw1MLKYhjYMR1-lrFvi0/edit#gid=0


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