Os dias voaram naquele mês, como se o tempo tivesse acelerado sem pedirmos. Amanda e eu nos tornamos inseparáveis desde o primeiro dia, compartilhando a maioria das aulas e criando uma amizade que parecia ter se consolidado em um piscar de olhos. Com ela por perto, o riso era garantido, e sua presença era como um respiro de ar fresco em meio ao caos que minha vida escolar havia se tornado.
Desde o episódio com Nicky, as coisas mudaram. Ela não só evitava falar conosco, mas parecia genuinamente apavorada sempre que cruzava o caminho de Amanda. Eu não reclamava a distância era bem-vinda. Nem Nicky nem Sam sequer olhavam mais na minha direção, como se finalmente tivessem entendido que eu não estava mais presa ao passado. Ainda assim, a traição deles ecoava em mim, um ressentimento silencioso que eu tentava ignorar.
Mas havia algo que ainda ocupava meus pensamentos e era o irmão de Amanda. Em um mês inteiro, ele não apareceu uma única vez. Amanda não falava muito sobre ele, mas quando o fazia, era com um misto de frustração e cuidado. "Ele é complicado", ela dizia, e eu começava a acreditar que ela estava sendo generosa na descrição.
— Pessoal. — A voz do professor cortou o silêncio da sala, trazendo-me de volta à realidade. — Vocês estão liberados para assistir aos testes para o time de basquete deste ano.
Amanda e eu trocamos um olhar rápido, antes de nos levantarmos. Fomos as primeiras a sair da sala, nossos passos acelerados ecoando pelo corredor. O riso fácil entre nós contrastava com a expectativa do que estava por vir.
Quando chegamos, as arquibancadas estavam lotadas, com torcedores animados e alunos curiosos para ver quem se destacaria nos testes. Todos sempre tinham expectativas muito grandes com os novos jogadores, todos esperavam que eles mantivessem o alto nível do time. O burburinho era alto, quase ensurdecedor, mas, por algum milagre, conseguimos encontrar dois lugares vazios no canto superior. Amanda me puxou pelo braço, apontando para os assentos, e nos esprememos entre a multidão. Dali, tínhamos uma visão privilegiada da quadra.
Os testes começaram com os jogadores fazendo exercícios de aquecimento e arremessos livres. A maioria dos novatos parecia nervosa, com movimentos hesitantes e passes imprecisos. Já os veteranos, como Sam e alguns outros, demonstravam confiança, dominando a quadra com facilidade. Era claro que o nível entre os novatos e os experientes era bem diferente, mas os treinadores pareciam estar atentos a qualquer sinal de talento bruto.
Quando chegou a hora do jogo de teste, os jogadores foram divididos em dois times, com os novatos espalhados entre os veteranos para equilibrar o nível. O apito soou, e a partida começou. No início, era evidente que os novatos estavam lutando para acompanhar o ritmo acelerado dos veteranos. Passes errados, dribles falhos e arremessos que nem chegavam perto da cesta eram comuns. A multidão torcia e vaiava.
No entanto, havia uma exceção. Um novato em particular chamou a atenção de todos. Ele era alto, com movimentos ágeis e precisos, e parecia estar sempre um passo à frente dos outros. Seu controle de bola era impressionante, e ele driblava com uma naturalidade que fazia parecer que a bola era uma extensão do seu corpo. Até mesmo os veteranos pareciam surpresos com sua habilidade.
Em um determinado momento, ele estava com a posse de bola, avançando em direção à cesta. Sam se aproximou para marcá-lo, determinado a impedir que o novato se destacasse ainda mais. Em um movimento rápido e quase hipnótico, o novato fez uma finta que deixou Sam completamente desequilibrado. Ele tropeçou nos próprios pés e caiu sentado no chão, olhando para cima com uma expressão de incredulidade. O novato pareceu sorrir e sem ninguém para pará-lo, fez um arremesso perfeito, garantindo o último ponto do jogo.
A quadra explodiu em aplausos e gritos de admiração. Até eu, que não costumo me impressionar facilmente, fiquei boquiaberta. Aquele novato não só havia se destacado entre os veteranos, mas humilhou o capitão do time com uma jogada que parecia saída de um filme. Olhei para Amanda, esperando ver o mesmo entusiasmo, mas ela estava com os braços cruzados e uma expressão fechada.
— Você viu isso? — perguntei, ainda tentando processar o que havia acontecido.
— Infelizmente. — Ela respondeu secamente, sem tirar os olhos da quadra.
— Infelizmente? Não está impressionada? Ele acabou de deixar Sam no chão!
Amanda suspirou, como se estivesse carregando um peso enorme.
— “Ele” é meu irmão. — Ela finalmente olhou para mim, e eu pude ver uma mistura de orgulho e frustração em seus olhos. — E ele adora chamar atenção, especialmente quando sabe que estou por perto.
Fiquei sem palavras por um momento, olhando para o novato, o irmão de Amanda, que agora recebia tapinhas nas costas dos outros jogadores. Ele sorria, mas havia algo naquele sorriso que parecia… desafiador. Como se ele soubesse exatamente o impacto que causara. Sem falar que ele nem parecia ter suado uma única gota de suor.
— Então esse é o famoso irmão complicado? — perguntei, tentando aliviar a tensão.
Amanda riu, mas não era um riso de alegria.
— Complicado é pouco. Ele sempre foi assim, desde que me lembro. Faz tudo para ser o centro das atenções, e quando consegue… — Ela fez uma pausa, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado. — Bem, você viu o que aconteceu.
Enquanto os jogadores se cumprimentavam e os treinadores anotavam suas observações, eu não conseguia tirar os olhos do irmão de Amanda. Ele era bom, sem dúvida, mas havia algo mais ali, algo que eu ainda não conseguia decifrar. E, pelo jeito de Amanda, ela sabia mais do que estava disposta a compartilhar.
Eu não conseguia tirar os olhos do irmão de Amanda. Mesmo de longe, ele era um colírio para os olhos. Alto, com uma postura confiante e um rosto que parecia esculpido para chamar atenção. Seus cabelos escuros estavam levemente desarrumados por causa do jogo, e ele sorria com uma facilidade que fazia parecer que a quadra era seu território. Havia algo nele que me prendia, algo que eu não conseguia explicar.
— Parece que alguém está interessada. — Amanda cutucou meu braço, com um sorriso provocante nos lábios.
— Não é isso. É só que… ele é bom. — Eu senti meu rosto esquentar e revirei os olhos, tentando disfarçar. — Muito bom.
— Ah, ele sabe disso. — Amanda riu, mas havia uma certa ironia em seu riso. — E adora que as pessoas percebam. — Enquanto os jogadores começavam a deixar a quadra e a multidão se dispersava, Amanda se levantou e ajeitou a mochila nos ombros. — Preciso falar com ele antes de ir. Vem comigo?
Assenti e a segui pelas arquibancadas abaixo, em direção à quadra. Quando chegamos ao nível do chão, Amanda seguiu direto para o irmão, que estava conversando com um dos treinadores. Eu fiquei para trás, hesitante, observando de longe.
Amanda chegou perto dele e puxou-o pelo braço, afastando-o da conversa. Eu não conseguia ouvir o que eles diziam, mas a expressão dela era séria, quase severa. Ela gesticulava com as mãos, enquanto ele ficava apenas com um sorriso descontraído que claramente a irritava. Havia uma tensão entre os dois, algo que ia além de uma simples discussão entre irmãos.
Eu estava prestes a me virar e ir embora, decidindo que aquela não era minha briga, quando ele olhou para mim. De repente, tudo parecia ter congelado.
Seus olhos encontraram os meus, e eu senti como se não pudesse desviar o olhar. Era um olhar profundo, quase penetrante, como se ele estivesse tentando ler algo em mim que eu mesma não sabia. Havia algo naquele olhar que parecia familiar, como se eu já tivesse sentido aquela conexão antes, mas não conseguia me lembrar onde ou quando.
A sensação foi tão intensa que eu quase não percebi Amanda puxando o irmão pelo braço, afastando-o de mim e da quadra. Ela disse algo para ele em um tom baixo, mas firme, e ele finalmente desviou o olhar, seguindo-a com relutância.
Eu fiquei parada por um momento, tentando processar o que havia acontecido. Meu coração ainda batia mais rápido do que o normal, e aquela sensação de déjà vu não me deixava em paz. Finalmente, sacudi a cabeça e decidi voltar para a sala.
No caminho, minha mente não parava de voltar para aquele olhar. Quem era aquele garoto? E por que ele me fazia sentir algo que eu não conseguia explicar? Amanda claramente não estava feliz com ele, mas eu não podia negar que ele tinha algo… diferente.
Quando entrei na sala, sentei em minha cadeira e tentei me concentrar no que estava por vir.
***
— E então, nesse mesmo ano... — O professor foi interrompido por batidas firmes na porta. Todos os olhos se voltaram para a entrada enquanto ele caminhava para abri-la. — Olha só quem finalmente decidiu aparecer para as aulas.
— Desculpe, professor. — A voz era masculina, rouca e um pouco arrastada, como se ele não estivesse nem um pouco preocupado com a interrupção. — O treinador queria falar comigo.
O professor suspirou, claramente incomodado, mas fez um gesto para que o garoto entrasse.
—Sente-se ao lado da Srta. ________. Vocês formarão uma dupla hoje. — Ele olhou para o relógio e acrescentou. — E espero que seja a última vez que você chegue atrasado.
Quando o garoto entrou na sala, senti meu sangue ferver. Era ele. O irmão de Amanda. Ele olhou diretamente para mim, um sorriso de canto aparecendo em seus lábios, como se estivesse se divertindo com a situação.
— Acredito que não terei mais motivos para faltar, professor. — Ele falou com uma confiança que parecia natural, como se a sala inteira não estivesse observando cada movimento seu.
Caminhou até minha mesa e se sentou ao meu lado, acomodando-se com uma facilidade que me deixou ainda mais nervosa.
Encolhi-me no meu canto, tentando criar o máximo de distância possível entre nós. Minhas mãos começaram a brincar com a caneta, girando-a entre os dedos em um ritmo acelerado. Ele riu baixinho, um som que parecia ecoar diretamente em meus ouvidos, e colocou seus materiais na mesa, empurrando-os para perto dos meus, como se quisesse invadir meu espaço.
— Como eu estava dizendo... — O professor retomou a aula, mas eu mal conseguia prestar atenção.
O irmão de Amanda apoiou o cotovelo na mesa e descansou o rosto na mão, virando-se completamente para mim. Seus olhos escuros, quase negros, me encaravam com uma intensidade que me fez engolir em seco. Ele riu de novo, um som suave e provocante.
— Está vermelha, Srta. ________. – Sua voz era rouca, quase um sussurro, e cada palavra parecia arrancar um arrepio da minha espinha. Senti meu rosto queimar ainda mais. – Eu estou deixando você nervosa?
Olhei para ele rapidamente, tentando disfarçar o constrangimento. Ele sorria, um sorriso largo e descontraído, como se estivesse se divertindo com minha reação. Seu cabelo escuro estava perfeitamente alinhado, com alguns fios caindo levemente sobre a testa. Os olhos, profundos e curiosos, pareciam querer decifrar cada pensamento meu. A pele levemente bronzeada contrastava com as roupas escuras que vestia, e era impossível não notar os músculos definidos que se escondiam sob a camiseta.
– Não. – respondi, torcendo para que minha voz soasse firme e confiante. Mas, pelo jeito que ele arqueou uma sobrancelha, eu sabia que não tinha sido convincente.
– Já te disseram que você é uma péssima mentirosa? – Ele riu de novo, um som que parecia vibrar no ar entre nós.
Ele adivinhou.
– Já, muitas vezes. – Confessei, sem conseguir evitar. Voltei a olhar para frente, tentando me concentrar no professor, mas era impossível ignorar a presença dele ao meu lado. Os minutos pareciam arrastar-se, e eu não conseguia me acalmar enquanto ele continuava a me encarar com aquela intensidade perturbadora. – Pode, por favor, parar com isso?
Minha voz saiu mais fraca do que eu gostaria, e eu gaguejei no final.
– Parar com o quê? – Ele se fez de desentendido, mas o sorriso nos lábios deixava claro que ele sabia exatamente o que estava fazendo.
– Por que não presta atenção na aula? – Encarei-o, tentando parecer séria, mas ele apenas sorriu, como se minha tentativa de firmeza fosse engraçada.
– Porque tenho alguém muito mais interessante para prestar atenção. – Ele falou baixinho, e eu senti meu rosto queimar como nunca antes. – Está vermelha de novo. Costuma ficar envergonhada facilmente?
– Não. – Fui curta, mas ele continuou me encarando, como se esperasse uma resposta mais elaborada. – Costumo ter um bom controle sobre minhas emoções.
– Então estou atrapalhando esse seu controle... – Ele endireitou a postura, mas o olhar não saía de mim. – Interessante.
Ficamos em silêncio por um momento, e eu me concentrei no quadro, tentando ignorar a presença dele. Mas, de repente, ele quebrou o silêncio novamente.
– Você não me disse o seu nome. — falei.
Só então percebi o que havia dito.
– Não pensei que estivesse interessada em saber disso. – Ele continuou, com um tom indiferente, mas os olhos ainda brincalhões.
– Tem razão. – Encarei-o, tentando parecer firme. – Não estou.
– Mentiu de novo. – O canto da boca dele subiu, e eu senti um misto de frustração e vergonha.
– Eu sinceramente não te entendo! – Já estava quase sem paciência, mas ele apenas riu.
– Se eu fosse você, nem tentaria. – Ele respondeu, e eu me virei para frente, decidida a não olhar para ele novamente. Mas, antes que eu pudesse me concentrar na aula, ele falou baixinho. – Jungkook. Me chamo Jungkook.
Não respondi. Estava decidida a não trocar mais uma palavra com ele pelo resto do dia. Jungkook riu baixinho, um som suave que parecia ecoar no espaço entre nós, e balançou a cabeça, como se achasse minha determinação engraçada. Pelo canto do olho, percebi que ele finalmente parou de me encarar, e isso, de certa forma, me trouxe um alívio momentâneo.
Mesmo assim, sua presença ao meu lado era impossível de ignorar.
A aula seguiu, e nós dois não trocamos mais nenhuma palavra. No entanto, o sorriso de Jungkook nunca desapareceu de seu rosto. Era um sorriso leve, quase imperceptível, mas constante, como se ele estivesse sempre à beira de rir de uma piada interna que só ele entendia. E, por mais que eu tentasse me concentrar no professor, minha atenção era constantemente puxada de volta para ele.
O que mais me surpreendeu, no entanto, foi sua inteligência. Jungkook era incrivelmente perspicaz, e isso me pegou completamente desprevenida. Todas as perguntas que o professor fazia, ele respondia com uma confiança inabalável, como se tivesse vivido o momento há muito tempo. Suas respostas eram precisas, diretas e, às vezes, até mesmo corrigiam pequenos erros do professor com uma naturalidade que deixava a sala inteira boquiaberta.
Eu, particularmente, estava perplexa. Não conseguia tirar os olhos dele enquanto ele falava, sua voz calma e segura preenchendo o silêncio da sala. Era como se ele tivesse uma aura de autoridade, algo que fazia todos ao redor prestarem atenção. Por mais que eu tentasse me manter indiferente, não pude evitar sentir uma pontinha de admiração, e talvez até um pouco de inveja, pela facilidade com que ele dominava o assunto.
Quando o professor fez uma pergunta mais complexa, envolvendo um conceito que mal havíamos começado a discutir, Jungkook não hesitou. Ele levantou a mão, respondeu com uma clareza impressionante e ainda acrescentou uma observação que deixou até o professor pensativo por alguns segundos.
– Exato, Jungkook. – O professor finalmente disse, com um misto de surpresa e aprovação. – Você já estudou isso antes?
– Um pouco. – Ele respondeu com um dar de ombros casual, como se não fosse grande coisa, mas o sorriso nos lábios dele dizia o contrário, ele sabia que estava se destacando, e claramente gostava disso.
Eu me vi balançando a cabeça, quase sem perceber. Era difícil acreditar que alguém pudesse ser tão… tudo. Inteligente, confiante, e, claro, absurdamente bonito. Era como se ele tivesse sido projetado para ser o centro das atenções, e eu não conseguia decidir se isso me irritava ou me fascinava.
Quando o sinal finalmente tocou, anunciando o fim da aula, eu me levantei rapidamente, ansiosa para me afastar dele e processar tudo o que havia acontecido. Antes que eu pudesse pegar minha mochila e sair, Jungkook se virou para mim, aquele sorriso ainda estampado no rosto.
– Até a próxima, Srta. ________. – disse, com um tom de voz que parecia carregado de significado. – Espero que você não tenha ficado muito… distraída.
Eu o encarei por um momento, tentando encontrar uma resposta adequada, mas as palavras simplesmente não vieram. Em vez disso, virei as costas e saí da sala, sentindo seu olhar me seguir até a porta.
Na saída da sala, eu mal tinha dado dois passos quando dei de cara com Sam. Ele estava parado no corredor, com as mãos nos bolsos e uma expressão hesitante no rosto. Assim que me viu, ele se aproximou, claramente querendo falar algo.
– Ei, ________. – Ele começou, com uma voz mais suave do que eu estava acostumada. – Posso falar com você por um segundo?
Eu não parei de andar.
– Não tenho nada a dizer para você, Sam. – Minha voz saiu firme, mas ele insistiu, acompanhando meu ritmo.
– Olha, eu só queria me desculpar. – Ele tentou novamente, mas eu continuei caminhando, olhando para frente, determinada a não ceder. – Eu sei que fiz merda, mas acho que você pelo menos deveria me ouvir.
– Já ouvi o suficiente. – Respondi, sem olhar para ele. – Agora, se você não se importa, tenho coisas melhores para fazer.
Sam não desistiu. Ele continuou ao meu lado, tentando falar, mas antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, uma voz familiar interrompeu a cena.
– Problema aqui? – Jungkook apareceu do nada, posicionando-se ao meu lado com uma postura relaxada, mas que transmitia uma certa autoridade. Seus olhos escuros se fixaram em Sam, e o sorriso que ele tinha durante a aula agora era substituído por uma expressão mais séria.
Paramos de andar e Sam olhou para Jungkook, claramente incomodado com a interrupção.
– Isso não é da sua conta, novato.
– Ah, mas eu acho que é. – Jungkook respondeu, com um tom sarcástico que fazia parecer que ele estava se divertindo com a situação. Ele deu um passo à frente, diminuindo a distância entre ele e Sam. – Principalmente quando está incomodando alguém que não quer ter você falando com essa voz irritante do lado.
Sam franziu a testa, claramente irritado, mas algo no olhar de Jungkook o fez hesitar. Ele deu um passo para trás, quase involuntariamente, e cruzou os braços, tentando parecer mais confiante do que realmente estava.
– Olha, eu só queria conversar. – Sam disse, mas sua voz falhou um pouco, perdendo a firmeza inicial. – Isso é entre mim e a ____________.
Jungkook riu baixinho, um som que parecia mais uma ameaça do que uma expressão de diversão.
– Conversar, hein? – Ele inclinou a cabeça, como se estivesse analisando Sam. – Parecia mais que você estava insistindo onde não é bem-vindo. E eu não gosto disso.
Sam engoliu em seco, e eu pude ver o desconforto crescer em seu rosto. Ele olhou para mim, como se esperasse que eu interviesse, mas eu apenas cruzei os braços e mantive o olhar firme. Eu não ia salvá-lo dessa.
– Tá bom, tá bom. – Sam levantou as mãos em sinal de rendição, mas ainda parecia relutante. – Só estava tentando conversar. Não precisa ficar nervoso.
– Nervoso? – Jungkook deu mais um passo à frente, e dessa vez Sam recuou claramente, quase esbarrando na parede do corredor. – Eu não estou nervoso, capitão. Só estou deixando claro como as coisas funcionam vão funcionar enquanto eu estiver aqui. – falou baixinho, quase um sussurro, mas cada palavra parecia carregada de significado. – E se você continuar incomodando ela, serei mais… direto.
Sam olhou para Jungkook, e pela primeira vez eu pude ver um lampejo de medo em seus olhos. Ele abriu a boca para dizer algo, mas não saiu nenhum som. Em vez disso, ele apenas balançou a cabeça e deu um passo para o lado, criando distância entre ele e Jungkook.
– Tudo bem. – Sam finalmente disse, com uma voz que tentava parecer firme, mas falhava miseravelmente. – Eu vou embora.
– Boa escolha. – Jungkook respondeu, com um sorriso que não chegava aos olhos. – E, capitão? – Ele chamou, fazendo Sam parar no meio do caminho. – Melhor não esquecer o que eu disse.
Sam não respondeu. Ele apenas virou as costas e foi embora, com passos rápidos e desajeitados, como se quisesse sair dali o mais rápido possível.
Assim que Sam sumiu no corredor, eu virei para Jungkook.
– Eu tinha tudo sob controle, sabia?
Ele riu, um som baixo e rouco.
– Claro que tinha. – Ele disse, com um sorriso maroto. – Mas onde está a graça nisso? – Eu revirei os olhos, mas não pude evitar um leve sorriso. Ele tinha um jeito de fazer até as situações mais tensas parecerem… divertidas. – Então, por que ele estava tão interessado em você?
Eu hesitei por um momento, mas algo na maneira como ele me olhava fez com que eu sentisse que podia confiar nele. Era estranho, mas eu me sentia tão à vontade com Jungkook quanto me sentia com Amanda. Então, enquanto caminhávamos para fora da escola, comecei a contar.
– Ele é meu ex. – Falei, tentando manter a voz neutra. – Terminamos no final do ano passado, mas não foi exatamente… amigável. Ele me traiu com uma das minhas melhores amigas na época, Nicky. Desde então, ele tenta se desculpar, como se isso fosse mudar alguma coisa. Achei que ele nem teria mais coragem de aparecer na minha frente, para ser sincera. – Jungkook ouviu em silêncio, sem interromper, e eu continuei falando, surpresa por como as palavras saíam tão facilmente. – Eu não quero ouvir desculpas. Ele fez sua escolha, e agora tem que lidar com as consequências.
Enquanto eu falava, percebi que Jungkook estava prestando atenção em cada palavra, como se nada mais importasse naquele momento. Seu olhar era intenso, mas ao mesmo tempo reconfortante, e eu me peguei sorrindo ao ver como ele se importava em ouvir. Era raro alguém prestar tanta atenção assim.
No entanto, também notei que estávamos atraindo olhares. Alguns alunos paravam para nos observar, cochichando entre si enquanto passávamos. Jungkook parecia completamente indiferente, mas eu me senti um pouco exposta, não estava mais acostumada com a atenção. Ainda assim, continuei caminhando ao lado dele, como se sua presença fosse um escudo contra os olhares curiosos.
Depois de um momento de silêncio, Jungkook finalmente falou.
– Relacionamentos são complicados, não é? – Ele disse, com um tom mais sério do que eu esperava. – Eu também não tenho muita sorte com eles.
Eu olhei para ele, surpresa.
– Difícil de acreditar. – comentei, com um sorriso meio irônico. – Você parece o tipo de pessoa que não teria problemas para conseguir alguém.
Jungkook riu, mas havia uma sombra de amargura em seu sorriso.
– Ah, é o que todo mundo pensa. – Ele respondeu, olhando para frente enquanto caminhávamos. – Mas nem tudo é como parece. Sempre termina por culpa minha.
Fiquei em silêncio por um momento, refletindo sobre o que ele havia dito. Havia algo na maneira como ele falava que me fez pensar que ele estava se abrindo mais do que pretendia. Era como se, por um breve momento, ele tivesse deixado a máscara cair.
– Bem, pelo menos você não foi traído por alguém que achava que podia confiar. – brinquei, tentando aliviar o clima.
Jungkook olhou para mim, analisando-me por alguns segundos antes de continuar.
– Verdade. – Algo na sua voz me fez pensar que ele não estava sendo sincero. – Mas acho que todo mundo tem suas próprias batalhas, não é?
Concordei com a cabeça, e por um momento caminhamos em silêncio, cada um perdido em seus próprios pensamentos. Apesar de tudo, eu me sentia estranhamente leve, como se tivesse tirado um peso das costas ao falar com ele.
Quando finalmente chegamos ao estacionamento, eu percebi que estávamos parados ao lado de um carro preto reluzente, com linhas elegantes que gritavam "caro". Jungkook se inclinou levemente contra o carro, com um sorriso maroto nos lábios.
– Precisa de uma carona? – Ele perguntou, com um tom que fazia parecer que já sabia a resposta.
Eu balancei a cabeça, tentando não parecer muito surpresa com o carro ou com a oferta.
– Não, obrigada. Eu moro perto, posso ir andando.
– Tudo bem. Mas se mudar de ideia, é só dizer. – Ele encolheu os ombros, como se já esperasse isso.
Foi nesse momento que Amanda apareceu, caminhando em nossa direção com um olhar curioso.
– O que vocês dois estão aprontando? – Ela perguntou, com um sorriso brincalhão.
– Nada demais. – Jungkook respondeu, com um sorriso igualmente descontraído. – Só garantindo que sua amiga aqui não seja perturbada por um ex babaca. – Amanda olhou para ele com uma expressão que eu não consegui decifrar, mas antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, Jungkook se virou para mim. – Até depois, Srta. ________. – Ele disse, com uma piscadela que me fez sentir um calor no rosto novamente.
– Jungkook… – murmurou Amanda.
– Até depois, irmãzinha. – Ele falou, com um tom que parecia carregado de significado, apesar de um pouco sarcástico.
– Vai embora logo, Jungkook. – Amanda revirou os olhos, mas havia um sorriso nos lábios dela. – E dirige com cuidado.
Ele riu, um som baixo e rouco, e entrou no carro. O motor roncou suavemente, e ele acelerou para fora do estacionamento, deixando Amanda e eu sozinhas.
– Ele é… intenso. – Eu finalmente disse, olhando para Amanda.
Ela riu, com um tom que parecia misturar orgulho e preocupação.
– Intenso é pouco. Mas ele é um bom irmão, no fundo.
Eu sorri, sentindo que havia muito mais por trás daquela afirmação do que Amanda estava disposta a compartilhar.
– Ele parece se importar com você.
– Ele se importa. – Ela concordou, com um sorriso suave. – Mas às vezes ele exagera demais em suas preocupações. Agora, falando em exageros… – Ela mudou de assunto, com um brilho nos olhos. – Os testes das líderes de torcida são na próxima semana. Você ainda está a fim de ensaiar?
– Claro! – Eu respondi, animada com o assunto. – Eu conheço um lugar no centro da cidade. Tem espelhos grandes, um bom som e espaço suficiente para criarmos uma coreografia incrível.
– Perfeito. – Amanda sorriu, claramente entusiasmada. – Vamos combinar de ir amanhã, então. Preciso de toda a ajuda que puder conseguir.
– Combinado. – Eu concordei, sentindo uma empolgação crescente. Talvez, com a ajuda de Amanda, eu pudesse finalmente colocar e Jungkook fora da minha mente, pelo menos por um tempo.
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