Os professores pareciam estar conspirando contra mim.
Todas as aulas que tive com Jungkook, ele estava sentado ao meu lado. Quando eu questionava o porquê, ele simplesmente encolhia os ombros e dizia: "O professor mandou”. Como se isso fosse a explicação mais natural do mundo. E, claro, ele não perdia tempo em começar a me provocar.
A sala inteira nos observava quando conversávamos, ou melhor, quando ele conversava comigo. Eu tentava me concentrar nas aulas, mas Jungkook tinha um talento especial para chamar atenção, seja com seus comentários sarcásticos ou com aqueles olhares intensos que pareciam ver além do que eu estava disposta a mostrar.
E então tinha Sam.
Ele sentava no fundo da sala de biologia, e eu podia sentir seu olhar queimando na minha nuca. Jungkook, é claro, não deixou passar a oportunidade de cutucar a ferida.
– Seu namorado não para de nos olhar. – Inclinou-se na minha direção, sussurrando baixinho, com um sorriso divertido nos lábios.
Meu corpo inteiro se arrepiou, mas eu mantive a compostura. Mal percebi que meus dedos se fecharam ao redor da caneta como se ela fosse meu único apoio.
– Ex. – relembrei secamente, sem olhar para ele. – E pode, por favor, se afastar um pouco?
– Como desejar. – Ele riu, aquela risada baixa e rouca que já começava a me tirar do sério. – Princesa.
– Como é? – Eu o encarei, mas ele apenas ergueu as sobrancelhas, divertido.
Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, o professor interrompeu a sala com um grito quase histérico.
– Muito bem, alunos, prestem atenção! – Ele segurava uma lâmina na mão, e eu já sentia um frio na espinha. – Hoje, coletaremos uma amostra de sangue de cada um de vocês. Irei mostrar como identificar o seu tipo sanguíneo.
– Merda... – Murmurei, quase sem querer.
Jungkook virou para mim, com uma expressão confusa.
– O que foi? – Ele perguntou, mas eu mal conseguia responder.
O professor continuou, demonstrando o procedimento com um dos alunos. Ele pegou a lâmina, fez um pequeno furo no dedo do aluno e coletou uma gota de sangue.
– Cada um de vocês virá até mim, pegará uma lâmina e eu farei um pequeno furo em seus dedos. – Ele explicou, como se estivesse falando de algo tão simples quanto escrever no quadro. – O sangue que sair, vocês devem pingar na lâmina e depois, poderão ir para os microscópios.
Minha cabeça começou a girar. O som da sala parecia distante, e eu senti meu estômago embrulhar. A visão do sangue escorrendo pelo dedo do aluno foi o suficiente para fazer o mundo ao meu redor balançar. Eu me apoiei na mesa, tentando me segurar, mas as pernas pareciam ter virado gelatina.
Eu tinha pavor de sangue. Era incrível como eu não me importava quando minha mãe chegava com as roupas manchadas de sangue, mas fora isso eu tinha muito medo de ver alguém sangrando na minha frente.
Nunca vou me esquecer da primeira vez que minha mãe levou um tiro durante a perseguição de um suspeito.
– Ei, você tá bem? – A voz de Jungkook soou preocupada, mas eu mal conseguia focar nela.
Antes que eu pudesse responder, ele pulou da cadeira e suas mãos firmes seguraram meus ombros. O calor delas era reconhecível, como se eu já tivesse sentido aquela sensação antes. O problema era aquela ser a primeira vez que ele encostava em mim.
– Respira. – Ele ordenou, com uma voz calma, mas firme. – Você não vai desmaiar, entendeu?
Eu tentei obedecer, puxando o ar lentamente, mas o mundo ainda parecia estar girando e eu sentia minhas mãos tremerem.
– Eu… odeio sangue. – Eu consegui murmurar, sentindo meu rosto queimar de vergonha.
Jungkook riu baixinho, mas não de um jeito que me fizesse sentir ridícula. Era mais como se ele estivesse tentando me acalmar.
– Relaxa, princesa. Eu cuido de você.
Eu queria revidar, dizer que não precisava que ele cuidasse de mim, mas no momento, eu mal conseguia me manter em pé. E, de alguma forma, a presença dele ali, com aquelas mãos firmes e aquela voz calma, me fez sentir um pouco mais segura.
Jungkook chamou a atenção do professor com um aceno rápido, sem tirar as mãos dos meus ombros.
– Professor, ela não está se sentindo bem. Vou levá-la para a enfermaria. – disse com uma autoridade que não deixava espaço para questionamentos.
O professor apenas acenou com a cabeça, distraído demais com os outros alunos para se importar. Antes que Jungkook pudesse me guiar para fora da sala, Sam se aproximou, com uma expressão preocupada.
– Eu levo ela. – Ele disse, estendendo a mão na minha direção.
Algo naquele gesto me fez recuar instintivamente para perto de Jungkook. Ele foi mais rápido e se posicionou entre Sam e eu, bloqueando o caminho com uma postura que era ao mesmo tempo relaxada e intimidante.
– Não precisa se preocupar, capitão. – Ele falou, com um tom sarcástico que fazia parecer que ele estava se divertindo. – Eu cuido dela.
Sam hesitou, claramente desconfortável com a situação, mas Jungkook não deu espaço para discussão. Ele colocou um braço em volta dos meus ombros e me guiou para fora da sala, deixando Sam para trás com uma expressão de frustração.
Enquanto caminhavámos pelo corredor, eu ainda me sentia tonta, mas o calor do braço de Jungkook ao meu redor me ajudava a me manter firme. Ele não falou muito, apenas me guiou com uma segurança que, de alguma forma, me deixou mais tranquila.
– Você não precisava fazer isso. – Eu murmurei, tentando me afastar um pouco, mas ele não cedeu.
– Fazer o quê? – Ele perguntou, com o sorriso de sempre. – Impedir que o ex-namorado incomodasse ou levasse você para a enfermaria?
– Os dois. – respondi, mas não havia muita convicção na minha voz.
Ele riu baixinho, e o som ecoou em meu ouvido, fazendo meu coração acelerar por um motivo que eu não queria admitir.
Quando chegamos à enfermaria, a enfermeira não estava por perto. Jungkook me ajudou a sentar em uma das camas e me olhou com uma expressão séria.
– Você vai sobreviver, princesa? – indagou com um tom de brincadeira, mas seus olhos estavam cheios de preocupação.
– Eu não sou uma princesa. – Eu revirei os olhos, mas não consegui evitar um leve sorriso.
– Discordo.
O sorriso que ele me lançou, fez meu rosto queimar e por um segundo senti meu coração bater mais forte. Levantei meus olhos e fui tomada por uma sensação de dejá vú ao encontrar os seus. Seus olhos eram hipnotizantes, escuros e penetrantes.
Eu me apoiei nas almofadas e fechei os olhos por um momento enquanto ele procurava a enfermeira. A cena do ponto de ônibus veio à minha mente, como um flashback que eu não conseguia controlar.
Aquela noite fria, a jaqueta que ele me deu, o olhar intenso que parecia ver além do que eu estava disposta a mostrar. Eu me lembrei de como ele havia aparecido do nada, como um anjo da guarda em um momento de desespero. E agora, aqui estava ele de novo, cuidando de mim como se fosse a coisa mais natural do mundo.
– Por que você fez isso? – A pergunta escapou dos meus lábios antes que eu pudesse pensar melhor.
Jungkook parou de procurar a enfermeira. Por um segundo, seus olhos escuros pareceram ficar ainda mais opacos, como se ele estivesse revivendo algo distante. Então, ele se virou para mim, e aquele sorriso habitual já não estava lá.
– Fiz o quê?
– Naquela noite, no ponto de ônibus. – Meu pulso latejou sob a pele, como se meu corpo lembrasse algo que minha mente não entendia. – Por que você me ajudou? Você nem me conhecia.
Ele ficou em silêncio por um momento, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado. Então, ele se aproximou da cama e se sentou ao meu lado, olhando para frente em vez de para mim.
– Eu não sei. – Ele finalmente respondeu, com um tom mais sério do que eu esperava. – Talvez eu só tenha sentido que você precisava de ajuda. – Ele fez uma pausa, como se estivesse hesitando e então olhou para mim. – Eu senti que precisava de mim naquele momento.
Eu olhei para ele, tentando entender o que estava querendo dizer, mas ele não me deu tempo para responder. Ele se levantou de repente, como se tivesse se arrependido de ter dito aquilo.
– A enfermeira deve estar em algum lugar por aqui. Vou procurar ela.
Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ele saiu da enfermaria, deixando-me sozinha com meus pensamentos.
Jungkook retornou alguns minutos depois, acompanhado da enfermeira, que carregava um kit básico de primeiros socorros. Ela me examinou rapidamente, verificou minha pressão e me deu um copo de água.
– Você deve ter tido uma queda de pressão. – Ela disse de forma prática. – Descanse um pouco e evite se levantar muito rápido. Se sentir tontura de novo, avise alguém.
Eu agradeci com um aceno, mas mal consegui prestar atenção nas palavras dela. Meu foco estava em Jungkook, que ficou parado no canto da enfermaria, observando tudo com uma expressão neutra.
Quando a enfermeira saiu, ele se aproximou novamente. Por algum motivo, fiquei aliviada em ver que ele tinha o sorriso ladino nos lábios novamente.
– Pronta para voltar, princesa?
– Vai me chamar de princesa por quanto tempo? – Eu revirei os olhos, mas não consegui evitar um leve sorriso.
– Tempo suficiente para você se acstumar. – Ele respondeu, estendendo a mão para me ajudar a levantar.
Eu hesitei por um momento, mas acabei aceitando a mão dele. Seu toque era firme e quente, e eu me senti estranhamente segura com ele ao meu lado. Enquanto caminhávamos de volta para o corredor, eu decidi puxar um assunto que estava na minha mente desde o teste de basquete.
– Parabéns por ter entrado no time, por sinal. – Eu disse, olhando para ele de relance. – Você jogou muito bem. Foi incrível a finta que você fez no último ponto.
Jungkook riu, um som baixo e rouco que fez meu coração acelerar.
– Ah, então você estava me observando? – perguntou de forma provocante.
– Todo mundo estava te observando. – Eu respondi, tentando parecer indiferente. – Você basicamente humilhou o capitão do time.
– Ele mereceu. – Ele encolheu os ombros, como se não fosse grande coisa. – E, falando nisso, você viu a cara dele quando eu trouxe você até aqui?
Eu ri, mas logo me senti culpada por me divertir com a situação. Sam podia ser um idiota, mas eu não queria ser do tipo que comemorava o sofrimento dos outros.
– Você não precisava ser tão… intenso com ele. – comentei, tentando parecer séria.
– Intenso? – Ele arqueou uma sobrancelha, divertido. – Eu só estava sendo educado. Se eu quisesse ser intenso, arrancaria a cabeça dele.
Sua resposta me pegou desprevenida e eu não tive tempo de responder.
Meu pé escorregou no chão liso do corredor. Eu me desequilibrei, mas antes que eu pudesse cair, Jungkook me segurou com firmeza, puxando-me para perto dele.
Naquela proximidade, pude sentir o calor emanar de seu corpo e meu corpo não deixou de ficar arrepiado. Quando coloquei minha mão contra seu peito, senti seus músculos estremesserem sob o meu toque e aquela reação pareceu ser tão nova para ele quanto para mim.
– Cuidado, princesa. – Ele disse, com um tom de voz que era ao mesmo tempo suave e provocante. – Se você quiser ficar mais perto de mim, é só pedir.
Meu rosto queimou de vergonha, e eu me afastei rapidamente, tentando disfarçar o constrangimento.
– Eu não quero ficar mais perto de você. – Eu menti, evitando o olhar dele.
– Mentira. – comentou com um sorriso que deixava claro que ele não acreditava em uma palavra do que eu havia dito. – Mas tudo bem, eu entendo. Eu sou difícil de resistir.
Eu revirei os olhos, mas não consegui evitar um leve sorriso. Ele era insuportável, mas de um jeito que, de alguma forma, me fazia querer rir.
– Você é impossível. – Eu disse, sacudindo a cabeça.
– Impossivelmente incrível. – Ele corrigiu, com um sorriso ainda maior. – Agora, vamos. Antes que você caia de novo e eu tenha que te carregar.
Eu não respondi, mas segui ao lado dele, sentindo uma mistura de emoções que eu não conseguia decifrar. Jungkook era complicado, irritante e, de alguma forma, completamente cativante. E, por mais que eu tentasse negar, eu sabia que ele estava certo sobre uma coisa.
Ele era difícil de resistir.
***
O estúdio de dança era um lugar que eu adorava. As paredes eram revestidas de espelhos enormes, refletindo cada movimento que eu fazia, e o chão de madeira clara ecoava o som dos meus passos. A iluminação era suave, com luzes embutidas no teto que criavam um clima aconchegante, mas ao mesmo tempo energizante. No fundo da sala, um sistema de som potente tocava uma música animada, com batidas que pareciam vibrar no meu peito.
Eu estava sozinha no estúdio, aproveitando o tempo enquanto esperava Amanda chegar. A música alta me envolvia, e eu deixei meu corpo se mover livremente, sem pensar muito nos passos. Era como se a dança fosse uma extensão de mim mesma, uma maneira de expressar tudo o que eu não conseguia colocar em palavras.
Meus pés deslizavam pelo chão, e meus braços fluíam no ar, seguindo o ritmo da música. Eu me sentia viva, como se cada movimento fosse uma forma de libertação. A tensão dos últimos dias, a traição de Sam, a presença constante de Jungkook, os testes das líderes de torcida; tudo parecia desaparecer enquanto eu dançava. Era apenas eu, a música e o reflexo no espelho.
De repente, a porta do estúdio se abriu, e Amanda entrou, carregando uma mochila nas costas e um sorriso no rosto.
– Oi! Desculpe a demora, o trânsito estava um caos. – Ela disse, colocando a mochila no chão e tirando os tênis.
– Sem problemas. – Eu respondi, diminuindo o volume da música. – Eu estava aproveitando para ensaiar um pouco.
Amanda olhou para mim, com um brilho nos olhos.
– Eu vi. Você dança muito bem, sabia?
Eu me encolhi, um pouco envergonhada.
– Ah, obrigada. É só algo que eu gosto de fazer.
– Não seja modesta. – Ela riu, esticando os braços para se aquecer. – Vamos começar? Preciso de toda a ajuda que puder conseguir para os testes.
Eu concordei com a cabeça e aumentei o volume da música novamente. Dessa vez, não estava mais sozinha. Amanda se juntou a mim no centro do estúdio, e juntas, começamos a ensaiar.
Amanda tinha um dom natural para a dança. Cada movimento dela era fluido e preciso, como se ela tivesse nascido para isso. Eu mal conseguia acompanhar o ritmo dela, e não demorou muito para perceber que ela estava à frente de mim em termos de técnica e expressão.
– Você dança muito bem. – Eu comentei, parando por um momento para pegar uma garrafa de água. – Há quantos anos você dança?
Amanda parou de dançar e se virou para mim, com um sorriso suave nos lábios.
– Desde que me lembro. – Ela respondeu. O que me deixou surpresa foi que Amanda nem parecia ter suado durante a dança. – Minha mãe sempre dizia que eu comecei a dançar antes mesmo de aprender a andar direito.
Eu ri, imaginando uma pequena Amanda balançando ao som de uma música.
– Faz sentido. Você parece ter nascido para isso.
– Obrigada. – Ela sorriu, mas havia uma sombra de tristeza em seus olhos. – Era algo que eu e minha mãe fazíamos juntas. Dançar era… nossa coisa.
Eu senti um aperto no peito ao perceber a emoção em sua voz. Não era difícil imaginar o quanto ela devia sentir falta da mãe.
– Ela deve ter sido incrível. – Eu disse, tentando ser gentil.
– Ela era. – Amanda concordou, com um sorriso nostálgico. – Mas vamos continuar? Ainda temos muito trabalho pela frente.
Concordei com a cabeça, e voltamos a dançar. Dessa vez, eu me esforcei para acompanhar o ritmo dela, tentando aprender com cada movimento que ela fazia. Juntas, criamos uma coreografia que misturava nossos estilos, algo que eu sabia que impressionaria a todos nos testes.
Depois de algumas horas, estávamos exaustas, mas satisfeitas com o resultado. Amanda se sentou no chão, respirando fundo, enquanto eu desligava o som.
– Acho que estamos prontas. – Ela disse, com um sorriso orgulhoso.
– Com certeza. – concordei, sentando ao lado dela. – Você vai arrasar nos testes.
– Nós vamos arrasar. – Ela corrigiu, com um olhar determinado. – Você também faz parte disso, lembra?
Eu sorri, sentindo uma onda de gratidão por ter Amanda como amiga. Ela era mais do que uma parceira de dança, era alguém com quem eu podia contar, e isso significava muito para mim.
– Vamos embora? – Amanda perguntou, levantando-se e estendendo a mão para me ajudar a levantar. – Preciso de um banho e de uma boa noite de sono.
– Eu também. – Eu ri, pegando minha mochila.
Quando saímos da sala que usamos, Amanda olhou para mim.
– Precisa de uma carona?
– Não, obrigada. – Eu respondi, sacudindo a cabeça. – Eu preciso esperar o dono para entregar as chaves.
– Tem certeza? – Ela perguntou, com uma expressão preocupada.
– Claro. – Eu sorri, tentando tranquilizá-la. – Além disso, preciso de um pouco de ar fresco para pensar em tudo o que ensaiamos hoje.
Amanda riu, acenando com a cabeça.
– Tudo bem. Se precisar de alguma coisa, é só me ligar.
– Pode deixar. – Eu respondi, acenando para ela enquanto ela subia em sua moto.
Assim que a moto de Amanda desapareceu na rua, eu me sentei em um banco próximo a entrada, com a música da coreografia ainda ecoando na minha mente.
Eu queria poder ficar mais um tempo no estúdio se não fosse pelo horário tarde. Assim que o dono apareceu, peguei minhas coisas e saí. O ar da noite estava fresco, e eu respirei fundo, sentindo o cansaço do dia começar a pesar. Peguei meu celular e comecei a discar o número de um táxi qualquer, até que um carro familiar estacionou na minha frente.
– O que você está fazendo aqui? – Desliguei a chamada assim que o vi sair do Porsche.
Jungkook fechou a porta do carro com um movimento suave e se aproximou de mim, com o mesmo sorriso de sempre.
– Vim te dar uma carona até em casa. – Ele disse, como se fosse a coisa mais natural do mundo. – Amanda me falou que você sairia mais tarde, então decidi vir te buscar. Me diga o endereço e eu te levo.
Eu cruzei os braços, tentando parecer firme, mas algo na maneira como ele me olhava fazia com que eu me sentisse um pouco vulnerável.
– Não precisa, vou chamar um táxi. – Respondi, levantando o celular novamente e começando a discar outro número.
– Qual é, _______. – Ele riu e o som fez meu coração acelerar. – Meu carro é mais cheiroso do que um táxi, e a viagem é de graça. O que é? Tem medo de andar comigo?
– Não é isso! – Falei rapidamente, sentindo meu rosto queimar. Jungkook sorriu, como se já soubesse que eu ia reagir assim. – Quero dizer... Eu não quero que você se sinta obrigado a fazer todas essas coisas. Eu não quero ter que retribuir cada vez mais, já basta ter me ajudado na enfermaria hoje.
Ele ficou em silêncio por um momento, estudando meu rosto com um olhar que parecia ver além das minhas palavras. Então, ele deu um passo à frente, diminuindo a distância entre nós.
– Eu não faço nada por obrigação. – Ele disse, com uma voz mais suave do que eu esperava. – E você não precisa retribuir nada. Eu só quero te ajudar, mesmo que você insista em ser teimosa.
Eu olhei para ele, tentando encontrar uma resposta adequada, mas as palavras simplesmente não vieram. Havia algo na maneira como ele falava que me fazia sentir que ele estava sendo sincero, e isso era ao mesmo tempo reconfortante e assustador.
– Além disso, – Ele continuou, com um sorriso que fazia meu estômago embrulhar. – Se eu quisesse algo em troca, já teria pedido.
Eu revirei os olhos, tentando disfarçar o constrangimento.
– Você é difícil de entender, sabia?
– Por isso você me acha interessante. – Ele piscou, abrindo a porta do carro para mim. – Agora, entra. Antes que eu decida te carregar.
Eu hesitei por um momento, mas acabei cedendo. Entrei no carro, sentindo o cheiro suave do interior do Porsche, uma mistura de couro e algo que eu só podia descrever como "cheiro do Jungkook". Ele fechou a porta e entrou no lado do motorista, ligando o carro com um movimento suave.
– Então, para onde vamos? – Ele perguntou, olhando para mim com um sorriso que fazia meu coração acelerar.
Eu respirei fundo e dei o endereço, sentindo uma mistura de emoções que eu não conseguia decifrar. Jungkook era complicado, irritante e, de alguma forma, completamente cativante. E, por mais que eu tentasse negar, eu sabia que ele estava certo sobre uma coisa: ele era difícil de resistir.
O motor do Porsche roncou suavemente enquanto Jungkook dirigia pelas ruas iluminadas da cidade. O interior do carro era aconchegante, e a música baixa tocando no rádio criava um clima relaxante, apesar da tensão que eu ainda sentia ao lado dele.
– Então, – Jungkook quebrou o silêncio, com um tom casual que contrastava com a intensidade do olhar que ele lançou para mim. – Como foi o ensaio com Amanda?
– Foi bom. – Eu respondi, olhando pela janela. – Ela é incrível. Dança como se tivesse nascido para isso.
– Ela sempre foi assim. – Ele comentou, com um sorriso suave. – Desde que éramos crianças, ela sempre estava dançando por aí. Minha mãe dizia que ela tinha música na alma.
Eu olhei para ele, surpresa por ele ter mencionado a mãe. Era raro ele falar sobre o passado, e eu senti uma pontinha de curiosidade.
– E você? – Eu perguntei, tentando parecer descontraída. – Você também dança?
Ele riu, um pouco mais alto do que o comum e confesso que gostei mais do que deveria.
– Não como ela. – respondeu, com um tom de brincadeira. – Eu sou mais do tipo que fica na arquibancada, torcendo e tentando não fazer feio.
– Duvido. – Eu revirei os olhos, mas não consegui evitar um leve sorriso. – Você parece o tipo de pessoa que é bom em tudo o que faz.
– Ah, então você está me observando? – indagou com um sorriso maroto.
– Todo mundo te observa, Jungkook. – Tentei parecer indiferente. – Você é… difícil de ignorar.
Ele riu, mas dessa vez, havia uma sombra de algo mais sério em seu olhar.
– Nem sempre. – Ele disse, com um tom que me fez pensar que ele não estava brincando.
Ficamos em silêncio por um momento, e eu me perguntei o que ele quis dizer com aquilo. Antes que eu pudesse perguntar, ele mudou de assunto.
– E os testes das líderes de torcida? Você está pronta?
– Acho que sim. – Senti um pouco de ansiedade ao pensar nisso. – Amanda e eu criamos uma coreografia que acho que vai impressionar os jurados. Mas ainda estou nervosa.
– Você vai arrasar. – Ele disse, com uma convicção que me surpreendeu. – Eu já vi você dançando. Você tem talento.
Eu olhei para ele, surpresa por ele ter mencionado aquilo.
– Você me viu dançando? Quando?
– No estúdio, outro dia. – Ele respondeu, com um sorriso que fez meu rosto queimar. – Eu passei por lá e resolvi dar uma olhada, achei que Amanda gostaria de um lugar propício para dançar. Foi aí que eu vi você em uma das salas. Estava tão concentrada que nem me viu.
– Você estava me espionando? – Eu perguntei, tentando parecer indignada, mas não consegui evitar um leve sorriso.
– Chame como quiser. – Ele riu, com um tom de brincadeira. – Mas eu não pude evitar. Você dança como se o mundo ao seu redor desaparecesse. É… impressionante.
Eu fiquei sem palavras por um momento, sentindo um calor no rosto que não tinha nada a ver com o aquecimento do carro. Jungkook tinha um jeito de me deixar sem chão, mesmo quando eu tentava me manter firme.
– Obrigada. – Eu finalmente murmurei, olhando para as mãos no colo.
– De nada, princesa. – Ele respondeu, com um sorriso que fez meu coração acelerar.
Ficamos em silêncio por um momento, mas dessa vez, o clima era diferente. Havia uma tensão no ar, algo que eu não conseguia ignorar. Era como se cada palavra, cada olhar, estivesse carregado de significado.
– Jungkook… – Eu comecei, mas não sabia exatamente o que dizer.
– Sim? – Ele perguntou, olhando para mim por um breve momento antes de voltar os olhos para a estrada.
– Nada. – Eu respondi, sentindo meu rosto queimar. – Só… obrigada. Por tudo.
Ele riu baixinho, e o som reverberou no carro, fazendo meu coração acelerar ainda mais.
– Sempre às suas ordens, princesa.
O silêncio no carro durou apenas alguns segundos antes que Jungkook quebrasse novamente, mas dessa vez, com um assunto que eu não esperava.
– E aí, o que você acha desses ataques que estão acontecendo na cidade? – Ele perguntou, com um tom casual, mas algo em sua voz me fez perceber que ele estava mais interessado do que parecia.
Eu olhei para ele, surpresa pela mudança de assunto.
– Os ataques de animais? – Eu perguntei, tentando entender por que ele estava trazendo isso à tona.
– Isso. – Ele confirmou, mantendo os olhos na estrada, mas eu podia sentir que ele estava prestando atenção em cada palavra que eu dizia. – Todo mundo fala sobre isso, mas ninguém parece saber o que realmente está acontecendo.
– Eu acho que não são animais. – Eu respondi, hesitante. – As feridas nas vítimas… não parecem ser de animais. Minha mãe está trabalhando no caso, e ela diz que há algo estranho.
Jungkook ficou em silêncio por um momento, e eu pude ver seus dedos apertarem levemente o volante. Ele parecia… tenso.
– Sua mãe está trabalhando no caso? – Ele perguntou, com um tom que eu não consegui decifrar.
– Sim. – Eu respondi, observando sua reação. – Ela é policial. Está investigando os ataques há semanas, mas até agora, não há muitas pistas.
– Interessante. – Ele murmurou, como se estivesse pensando em algo.
– Por que você perguntou? – Eu questionei, sentindo que havia algo mais por trás daquela pergunta.
– Só curiosidade. – Ele respondeu, com um tom leve, mas eu não estava convencida. – É difícil não pensar nisso, com tudo o que está acontecendo.
– Você parece muito interessado. – Eu comentei, tentando parecer casual, mas mantendo os olhos fixos nele.
– Não mais do que o normal. – Ele riu, mas o som pareceu um pouco forçado. – Só estou preocupado, como todo mundo.
Eu não respondi, mas algo na maneira como ele reagiu me deixou intrigada. Ele parecia genuinamente interessado, quase como se tivesse um motivo pessoal para querer saber mais sobre os ataques.
– Minha mãe diz que as vítimas têm marcas estranhas. – Eu continuei, observando sua reação. – Como se tivessem sido atacadas por algo… ou alguém… que não deixa rastros.
Jungkook ficou em silêncio por um momento, e eu pude ver seus olhos se estreitarem levemente, como se ele estivesse processando aquela informação.
– Alguém, hein? – Ele finalmente disse, com um tom que eu não consegui decifrar. – Isso é… assustador.
– É. – Eu concordei, sentindo um frio na espinha. – Mas minha mãe está fazendo o possível para descobrir o que está acontecendo. Ela não desiste fácil.
– Boa sorte para ela, então. – Ele respondeu, com um tom que parecia mais sério do que o normal.
Ficamos em silêncio por um momento, e eu me perguntei o que ele estava pensando. Havia algo na maneira como ele reagiu que me fez sentir que ele sabia mais do que estava disposto a compartilhar.
– Jungkook… – Eu comecei, mas ele interrompeu antes que eu pudesse continuar.
– Estamos quase chegando. – Ele disse, apontando para a frente. – É ali, não é?
Eu olhei pela janela e vi que estávamos de fato perto da minha casa. A conversa sobre os ataques parecia ter sido encerrada, mas eu não conseguia tirar a sensação de que havia algo mais por trás daquela curiosidade súbita de Jungkook.
O carro desacelerou suavemente enquanto Jungkook estacionava em frente à minha casa. A rua estava quieta, com apenas o som distante de um cachorro latindo em algum lugar. Ele desligou o motor, mas não fez nenhum movimento para sair do carro. Em vez disso, ele se virou para mim, com um olhar que parecia carregado de significado.
– Então, é aqui. – Ele disse, com um tom que era ao mesmo tempo casual e intrigante.
– Sim. – Eu respondi, sentindo um frio na espinha ao perceber que ele não estava com pressa de me deixar ir. – Obrigada pela carona.
– De nada, princesa. – Ele respondeu, com um sorriso que fez meu coração acelerar. – Mas você não vai me convidar para entrar?
Eu ri, tentando disfarçar o constrangimento.
– Acho que não. – Respondi, abrindo a porta do carro. – Minha mãe está em casa, e ela não gosta muito de visitas inesperadas.
– Justo. – Ele encolheu os ombros, mas o sorriso não desapareceu do rosto dele. – Outra hora, então.
– Talvez. – Eu respondi, tentando parecer indiferente, mas sabendo que ele provavelmente percebia o quanto eu estava nervosa.
Antes que eu pudesse sair do carro, ele estendeu a mão e segurou levemente no meu braço. O toque foi rápido, mas suficiente para me fazer parar e olhar para ele.
– Cuidado, _______. – Ele disse, com um tom mais sério do que eu esperava. – Esses ataques… não são brincadeira. Fique atenta, ok?
Eu olhei para ele, tentando entender o que ele queria dizer. Havia algo na maneira como ele falava que me fez sentir que ele estava genuinamente preocupado, mas ao mesmo tempo, parecia que ele sabia mais do que estava dizendo.
– Eu vou. – Eu respondi, com um tom mais suave do que o normal. – E você também. Não vá se meter em confusão por aí.
Ele riu, mas o som pareceu um pouco forçado.
– Eu sempre me meto em confusão, princesa. Faz parte do meu charme.
– Charme, hein? – Eu revirei os olhos, mas não consegui evitar um leve sorriso. – Boa noite, Jungkook.
– Boa noite, _______. – Ele respondeu, com um sorriso que fez meu coração acelerar mais uma vez.
Eu saí do carro e fechei a porta, sentindo o olhar dele me seguir enquanto eu caminhava em direção à casa. Quando cheguei à porta, olhei para trás e vi que ele ainda estava lá, observando. Ele acenou com a cabeça, e eu acenei de volta, sentindo um frio na espinha que não tinha nada a ver com o vento da noite.
Assim que entrei em casa, fechei a porta e me apoiei nela, respirando fundo. Jungkook era… complicado. E, por mais que eu tentasse negar, eu sabia que ele estava certo sobre uma coisa: ele era difícil de resistir.
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