O meu armário da escola estava um caos vívido. Cadernos empilhados de qualquer jeito, canetas rolando pelo fundo, e a jaqueta de Jungkook, que ainda não consegui devolver, pendurada no gancho. Meus dedos roçaram acidentalmente o tecido da jaqueta dele, ainda com o cheiro distinto que pertencia somente a Jungkook.
Suspirei, tentando organizar tudo antes da próxima aula, enquanto o burburinho dos alunos ecoava pelo corredor. A luz fluorescente do teto refletia no metal dos armários, criando um brilho quase artificial no ambiente. Pelo canto do olho, via grupos de estudantes rindo, trocando livros e cochichando, mas eu estava focada em encontrar meu livro de química antes que o sinal tocasse.
Foi então que o barulho ao meu redor mudou.
Os murmúrios se transformaram em sussurros mais altos, risos contidos e até um ou dois suspiros. Alguém chamou a atenção de todos. Antes mesmo de me virar, senti um calafrio percorrer minha espinha.
Ele estava aqui.
Jungkook caminhava pelo corredor como se fosse dono do lugar, seus passos firmes e confiantes ecoando no chão. Ele usava uma camisa preta de manga curta justa, deixando seus músculos e as tatuagens do braço direito parcialmente à vista. Sua calça preta era tão justa quanto e tive que demorar meus olhos nas coxas torneadas antes de voltar para seu rosto. Seus cabelos escuros estavam desalinhados, como se tivesse acabado de sair da cama, e seus olhos escaneavam o corredor até pousarem em mim.
Um sorriso lento surgiu em seus lábios.
— Princesa. — cumprimentou, como se não houvesse mais ninguém ali.
Meu rosto esquentou instantaneamente. Várias pessoas pararam para olhar, algumas até mesmo se inclinando para frente, tentando ouvir nossa conversa. Duas garotas, inclusive, eram amigas de Nicky e não pude deixar de notar que uma delas pegou o celular e começou a digitar rapidamente, provavelmente mandando alguma mensagem para minha ex-melhor amiga.
— O que você está aprontando dessa vez? — perguntei, baixando a voz.
— Estava procurando você. — Encostou no armário ao lado do meu, cruzando os braços.
Eu podia sentir os olhares grudados em nós, como se fôssemos os protagonistas de um reality show. Algumas garotas mais adiante cochichavam entre si, e um dos jogadores do time de basquete de Sam parou para encarar, claramente intrigado.
— Você não pode simplesmente chegar e me chamar assim. — resmunguei, jogando meu livro na mochila com mais força do que o necessário.
— Por que não? — Ele arqueou uma sobrancelha, divertido.
— Por quê? — Gesticulei discretamente para os lados, onde pelo menos dez pessoas fingiam não prestar atenção. — Todo mundo fica olhando!
Jungkook riu, um som baixo que só eu consegui ouvir, e se inclinou um pouco para frente.
— E daí?
Eu revirei os olhos e, antes que ele pudesse causar mais fofocas, agarrei seu pulso e o puxei para longe dos armários, em direção à escada de emergência no final do corredor. A porta pesada rangeu quando a abri, e o espaço estreito e mal iluminado nos envolveu, isolando-nos do resto da escola. O cheiro de desinfetante queimava minhas narinas e isso misturado com o mofo das paredes antigas, formava uma dupla nada agradável.
Mas, por incrível que pareça, nada era capaz de apagar o marcante perfume amadeirado dele. Seu perfume e a proximidade me fazia esquecer de qualquer ponto negativo do lugar.
— Você gosta de chamar atenção, não é? — Soltei seu braço e cruzei os meus, apoiando as costas na parede de concreto gélido que contratavam com o calor de seu corpo.
Jungkook se apoiou no corrimão, os olhos brilhando mesmo na penumbra.
— Você me puxando até aqui com certeza passou despercebido. — Mesmo com a pouca iluminação, eu podia ver seu sorriso convencido, o que me fez bufar. — Não é minha culpa se as pessoas olham.
— Claro que é. — retruquei. — Você entra em qualquer lugar e todo mundo para pra te encarar. Você sabe exatamente o que faz.
— Eu adoro quando você finge que me odeia, princesa.
— Eu pareço estar fingindo?
Ele sorriu, mas não respondeu. Em vez disso, inclinou-se para frente, apoiando as mãos na parede de cada lado da minha cabeça, prendendo-me ali. Seu perfume amadeirado envolveu meus sentidos, e eu tive que me concentrar para não perder o foco da conversa.
Jungkook aproximou ainda mais seu corpo, deixando apenas poucos centímetros de distância entre nós. Eu engoli em seco e não desviei o olhar, suportando seus olhos intensos.
— Vou te levar para jantar. — declarou, como se fosse a conclusão óbvia de tudo.
— O quê? Não! — Acabei me encolhendo, tentando ignorar o quanto ele estava perto. — Você não pode simplesmente aparecer do nada e decidir isso.
— Eu falei que se quisesse alguma coisa de você, iria pedir. — Ele encostou a testa na minha, por um segundo que pareceu durar uma eternidade. Seu sopro misturava hortelã e algo mais amargo que eu não conseguia identificar, mas queria provar. — Eu mudei de ideia. Hoje a noite. Não discuta.
Antes que eu pudesse responder, o sinal tocou, ecoando mesmo através da porta pesada, cortando nossa conversa com uma adaga afiada. Jungkook se afastou com um último sorriso provocante e abriu a porta, deixando a luz do corredor invadir o espaço entre nós.
— M-mas…!
— Até mais, princesa.
— Jungkook!
E então ele se foi, deixando-me ali, com o coração batendo forte. Eu sabia que não tinha como escapar. E o pior?
Eu contava os minutos até a noite.
***
O som alto das arquibancadas ecoava pela quadra, onde os treinadores do time de basquete e das líderes de torcida se reuniam em uma mesa central, avaliando cada movimento com olhos atentos. O ambiente estava eletrizante. O cheiro de madeira encerada do piso, o suor misturado com perfume barato no ar, e o brilho dos refletores iluminando o centro da quadra como um palco.
Eu me encostei na parede, observando enquanto as novatas se alinhavam para serem chamadas para o teste. Amanda estava entre elas, com os cabelos presos em um rabo de cavalo alto e um top esportivo que destacaria cada movimento preciso de seu corpo. Ela respirava fundo, alisando a barra da sua saia, até me ver e sorrir.
— Nervosa? — perguntei ao me aproximar.
— Um pouco. — Ela admitiu, mas havia uma centelha de determinação em seus olhos. — Mas estou pronta.
— Você vai arrasar. — Apertei seu ombro rapidamente. — Lembra do que ensaiamos. Você dança como se ninguém estivesse olhando.
— Difícil fazer isso com o time inteiro assistindo. — Ela riu, aliviando a tensão.
Segui seu olhar para as arquibancadas, onde os jogadores de basquete estavam espalhados, alguns rindo, outros claramente torcendo por garotas específicas. Jungkook estava sentado na primeira fileira, pernas abertas e um dos braços relaxados sobre os assentos ao lado. Quando nossos olhares se encontraram, ele sorriu sem mostrar os dentes, como se dissesse "Estou de olho".
Revirei os olhos e dei de ombros para Amanda que sorria com a situação. Dei uma leve batidinha em seus ombros e voltei para junto das outras titulares.
A treinadora das líderes de torcida bateu palmas, chamando a atenção de todos e um silêncio se estabeleceu na quadra.
— Vamos começar com as novatas! — anunciou. — Depois, se houver competidoras, faremos a disputa pelo título de capitã.
Eu e as outras titulares fomos para a arquibancada oposta de onde o time estava, enquanto Amanda e as outras garotas se posicionavam no centro. Cada uma foi chamada para apresentar sua coreografia mas poucas apresentavam o talento necessário para entrar. Os treinadores pareciam entediados com todas as apresentações.
Tudo mudou quando foi a vez de Amanda. A música começou, um remix acelerado que batia no peito, e, em segundos, Amanda se transformou.
Era como se o nervosismo tivesse evaporado. Seus movimentos eram fluidos, precisos e poderosos. Cada giro, cada salto, cada batida de pé no chão era calculado para impressionar. Ela sorria, mas não daquele jeito forçado que algumas garotas fizeram, era genuíno, como se estivesse se divertindo.
O que mais chamou atenção foi o final. Enquanto as outras garotas terminaram com poses simples, Amanda deu um salto, girou no ar e caiu em uma abertura de perna perfeita, batendo as mãos no chão no último acorde da música.
A quadra inteira explodiu em aplausos. Até os jogadores de basquete, que antes pareciam desinteressados, estavam agora em pé, assobios e gritos ecoando.
— CARALHO! — ouvi alguém gritar.
Jungkook bateu palmas devagar, com um sorriso de "eu sabia" estampado no rosto. Ele podia ser um chato extremamente atraente, mas nada e nem ninguém podia duvidar do carinho e confiança que tinha por Amanda.
Os treinadores se entreolharam, claramente impressionados.
— Bem… acho que já temos as candidatas selecionadas. — O treinador do time de basquete murmurou, fazendo anotações em sua prancheta. — Chamarei os nomes das novas líderes de torcida.
Amanda levantou, mas com os olhos brilhando. Seu nome foi o primeiro a ser chamado e quando olhou para mim, eu balancei a cabeça, orgulhosa.
Ela tinha arrasado.
Agora, só restava uma coisa: minha vez.
Enquanto as novatas se juntavam conosco, a conversa voltou a correr solta na quadra e eu podia ouvir sobre a disputa para capitã. Claro que Nicky iria participar, ela já tinha deixado isso bem claro.
Os treinadores ergueram as mãos, pedindo silêncio, e então me chamaram pelo nome.
— ________, pode se aproximar. — disse o treinador do time de basquete enquanto fazia suas anotações.
Minhas pernas pareciam de chumbo quando dei os primeiros passos em direção ao centro da quadra. O olhar de todos estava sobre mim, a pressão no ar era palpável.
— Como todos sabem, a cada ano fazemos a escolha de uma capitã para as líderes de torcida. — explicou a nossa treinadora. — ___________ foi a capitã nos últimos dois anos e se alguma titular tiver interesse em competir pela posição pode se aproximar.
Não demorou mais de cinco segundos para Nicky andar até onde eu estava e parar ao meu lado. Seu olhar era afiado e o sorriso falso acompanhava sua postura esnobe.
— Nada pessoal. — sussurrou para mim. — Apenas uma competição amigável entre amigas, não é?
Meu estômago embrulhou diante de suas palavras falsas.
— É claro. — Revirei os olhos e sorri sem mostrar os dentes. — Mas espero que não tenha vindo aqui para desperdiçar o tempo de todos.
— Pode apostar que não. — murmurou com a voz carregada de desprezo.
Ignorei-a, virando-me para os jurados. A treinadora limpou a garganta.
— Como só Nicky se prontificou para competir pelo título, vamos direto ao teste. Cada uma terá um minuto para mostrar que está no nível de ser a capitã.
Nicky não esperou ser chamada. Ela já se posicionou no centro, jogando os cabelos loiros para trás com uma arrogância que fez até os jogadores nas arquibancadas revirarem os olhos. Quando olhei para Sam, vi que ele não parecia nem um pouco interessado em sua nova namorada, já que tinha seus olhos fixos em mim.
A música pop começou com batidas marcantes e Nicky partiu para uma sequência coreografada com movimentos afiados, mas previsíveis. Ela sorria demais, como se estivesse tentando compensar a falta de naturalidade com exagero. Seu final foi um mortal simples, que ela quase não conseguiu terminar sem tropeçar, mas mesmo assim levantou os braços como se tivesse feito algo incrível.
Os jurados puxaram algumas palmas que tanto as líderes quanto os jogadores acompanharam por educação. Sam parecia ligeiramente envergonhado com tudo aquilo, como se soubesse que Nicky nunca seria capaz de me superar.
Quando chegou a minha vez, caminhei até onde Nicky estava, mas em momento algum olhei para ela. Estava de saco cheio de suas investidas falhas contra mim.
Respirei fundo, alongando alguns músculos enquanto esperava os jurados confirmarem que eu podia iniciar. Era como se eu pudesse sentir todos os olhares sobre mim, cheios de expectativas.
— Boa sorte, princesa. — A voz penetrante e familiar ecoou na quadra, atraindo meu olhar.
Jungkook estava inclinado para frente, cotovelos apoiados nos joelhos, com um meio-sorriso que só eu conseguia ver. Em seguida, as outras líderes de torcida gritaram meu nome, menos Nicky e suas amigas.
Algo dentro de mim se acendeu.
A música começou a batida suave de On The Flor e pude sentir meu corpo acompanhar livremente o ritmo. Eu estava disposta a mostrar para todos que Nicky só podia tirar de mim o que eu estava disposta a largar.
Cada movimento foi pensado para mostrar por que eu era a capitã. Giros precisos, passos sincronizados até o milímetro, e um salto final que terminou com meu pé batendo no chão exatamente no último acorde. Não sorri forçadamente, deixei a dança falar por si só.
O silêncio durou um segundo.
Depois, a quadra inteira veio abaixo. Até os treinadores do time de basquete, normalmente impassíveis, estavam batendo palmas. Jungkook assobiou, longo e alto, enquanto Amanda pulava no canto, gritando:
— ESSA! É! MINHA! CAPITÃ!
Nicky ficou possuída, o que me fez pensar em quão confiante ela estava em tomar o meu lugar ali.
Os jurados se reuniram por um momento, mas a decisão foi óbvia antes mesmo de ser anunciada. A treinadora ergueu a mão.
— O título de capitã permanece com ___________ por mais um ano.
Nicky bufou, virando-se para suas amigas que tentavam confortá-la. Eu só sorri, olhando para as arquibancadas. Jungkook me encarava, com um brilho nos olhos que dizia tudo. Ele sabia que eu tinha arrasado.
Enquanto os jogadores e seu treinador se organizavam do outro lado da quadra, o minha treinadora se aproximou de mim e me entregou as informações das novas integrantes do time.
— Você conhece o procedimento. — Ela sorriu e deu de ombros. — Informe a todas sobre a rotina de treinos e depois estão liberadas.
— Pode deixar, treinadora, obrigada. — Sorri de volta e reuni todas em um círculo. — Primeiramente gostaria de parabenizar as novas integrantes e ressaltar que estamos aqui para fazer o melhor pela nossa escola. — comecei e parei meu olhar em Nicky por alguns segundos. — Também gostaria de agradecer Nicole por competir para capitã, acho que vai dar o que falar por algum tempo.
Ao dizer aquilo, os olhos azuis de Nicky pareceram se transformar em um vermelho de puro ódio enquanto algumas meninas riram baixinho diante da minha declaração, incluindo Amanda. Tive que manter a postura firme para não acabar rindo na frente de todas.
— Como serão os horários dos treinos? — Uma das novatas perguntou.
— Se todas estiverem de acordo, seguiremos o cronograma do time de basquete, três vezes por semana logo após as aulas. — Assim que todas concordaram, coloquei os papéis ao meu lado no chão e bati duas palmas. — Muito bem, vamos fazer um alongamento e depois podem ir para casa.
Enquanto nos alongamos, notei que o time de basquete começou a se dispersar até somente nós ficarmos na quadra. Assim que terminamos nosso alongamento, liberei todas logo depois de avisar sobre o primeiro treino da semana.
Quando a última saiu, o silêncio pesado tomou conta do local, quebrado apenas pelas vozes de alguns alunos no corredor. Respirei fundo por finalmente ter algum tempo sozinha e me sentei em um banco para fazer algumas anotações sobre as novatas. Precisava deixar tudo organizado para que pudesse conseguir os uniformes o quanto antes.
Estava tão focada que mal percebi que alguém tinha entrado na quadra.
– Posso me sentar com você?
Era Sam.
Meu corpo inteiro ficou tenso, mas nem levantei os olhos do caderno.
– Não. – Continuei fazendo as minhas anotações.
Ele não se importou com a resposta. Seu corpo se abaixou na minha frente, bloqueando a luz dos refletores e projetando uma sombra sobre meus papéis, impedindo-me de continuar minhas anotações de forma clara.
– Por que não me deixa explicar? – perguntou novamente.
Fechei o caderno com um estalo e comecei a guardar minhas coisas na mochila, levantando-me rápido. Sam se ergueu também, os olhos implorando de um jeito que antes me derretia, mas que agora só me causava náuseas.
– _______, por favor! – implorou.
Em seguida, agarrou meu braço de tal forma que pude sentir seus dedos pressionarem minha pele com força suficiente para deixar marcas.
– Me solta, Sam. – Fui seca, mas ele não recuou.
– É por causa dele, não é? – Seu aperto aumentou, a raiva tornando sua voz áspera. – É por causa do Jungkook.
– Jungkook não tem nada a ver com isso! – Tentei puxar meu braço, mas ele não cedia. – Ele não estava aqui quando você me traiu com a Nicky.
Sam me puxou para mais perto, seu rosto a centímetros do meu. Seu hálito azedo a café barato invadiu meu espaço e meu estômago embrulhou ainda mais. Era como se todo o meu corpo gritasse que aquele não era o cheiro de Jungkook.
– Precisa se afastar dele, _________. – Seus olhos estavam escuros, quase selvagens. – Não gosto do jeito que ele olha para você.
– E como ele olha pra mim? – desafiei, tentando manter minha voz firme, mas meu coração batia forte no peito.
Ele hesitou, como se lutasse contra as próprias palavras.
– Como se estivesse prestes a te devorar… ou te machucar. – Seus dedos afundaram ainda mais na minha pele. – Tem que me ouvir. Você precisa!
– SAM, SOLTA! – Gritei, sentindo os dedos dele esmagando meus músculos. – Está me machucando!
Foi então que o mundo explodiu em movimento.
– ELA MANDOU SOLTAR!
Um vulto preto surgiu do nada, Jungkook estava ali. Seu rosto sempre calmo parecia usar uma máscara de fúria quando seu punho atingiu o queixo de Sam com um impacto seco. O soco fez Sam cair de costas no chão e o deixou ligeiramente desorientado.
Jungkook não deu tempo para reação. Ele se colocou entre nós, ficando de costas para mim e a atenção totalmente voltada para Sam. Seu corpo estava tenso, os músculos rígidos como nunca antes, dando a impressão que estava pronto para atacar se fosse necessário.
– Jungkook… – murmurei, sentindo minha voz levemente embargada.
– Toque nela de novo… – Sua voz era um sussurro mortal para Sam. – E eu arranco esse braço inútil pela articulação.
Sam engoliu em seco, levando a mão ao queixo já avermelhado. Seus olhos pularam entre Jungkook e eu, como um animal encurralado.
– Você não sabe com quem está se metendo. – Sam cuspiu, tentando se levantar. – Ele não é normal, _______. Você vai se arrepender.
Jungkook riu de tal forma que eu pude sentir um calafrio percorrer meu corpo.
– Vai, pode continuar. – Ele deu um passo à frente. – Mais uma palavra e eu mostro o quão "anormal" eu posso ser.
Sam recuou, finalmente entendendo o perigo. Com um último olhar para mim, um misto de medo e possessividade, ele se virou e saiu cambaleando, deixando a porta do ginásio rangir atrás dele.
O silêncio que seguiu foi cortante. Eu ainda tremia enquanto meus dedos pressionavam as marcas vermelhas no meu braço.
Jungkook se virou para mim e eu pude ver a fúria ir embora tão rápido quanto surgira. Seus olhos escanearam meu rosto, depois meu braço, e sua expressão endureceu.
– Deixa eu ver. – ordenou com a voz suave agora, mas ainda carregada de algo imprevisível.
Antes que eu pudesse responder, ele pegou meu braço com cuidado, seus polegares traçando os contornos das marcas dos dedos de Sam. Seu toque era quente, mas sua respiração estava irregular, como se estivesse segurando algo instável sob a pele.
– Ele vai pagar por isso. – murmurou, mais para si mesmo.
Eu puxei meu braço, não por medo, mas eu sentia que precisava acalmá-lo antes que fizesse verdade das suas palavras.
– Por que você está aqui, Jungkook? – perguntei, com a voz um pouco mais controlada agora.
Ele olhou para mim, e por uma fração de segundo, vi algo na escuridão de seus olhos que me fez estremecer. Pela primeira vez, eu não sabia se era seguro ficar no mesmo ambiente que ele.
– Porque eu sabia que ele viria atrás de você. – respondeu com desgosto.
Antes que eu falasse algo, Jungkook se aproximou o suficiente para envolver meu corpo em seus braços fortes e me apertar levemente contra ele. Pude sentir minhas pernas ficarem bambas ao tê-lo tão perto assim. O cheiro de Jungkook invadiu meus sentidos e o calor de seu corpo fez com que eu instintivamente me acalmasse. Suspirei aliviada e me permiti desfrutar ao máximo daquela sensação.
Por um momento, era como se todos meus problemas tivessem desaparecido.
O abraço de Jungkook era firme, quase como se ele temesse que eu desaparecesse se soltasse um pouco. Seu coração batia rápido contra o meu rosto e pela primeira vez, percebi que ele não era tão controlado quanto parecia.
– Você está tremendo – murmurou, sua voz rouca perto do meu ouvido.
Eu não respondi. Não precisava. Ele já sabia que não era só por causa de Sam. Era por ele também. Por aquela fúria que surgira tão rápido, por aquelas mãos que podiam ser tão gentis e tão violentas ao mesmo tempo.
Jungkook afastou-se o suficiente para olhar no meu rosto, seus polegares traçando levemente meus ombros, como se procurasse por mais motivos para ir atrás de Sam.
– Você devia ter me dado um soco antes. – brinquei, tentando aliviar a tensão.
Ele não sorriu. Seus olhos estavam sérios, quase angustiados.
– Eu não brinco com isso, princesa. Se ele encostar em você de novo…
– Você arranca o braço dele, eu sei. – interrompi, revirando os olhos, mas meu peito apertou. Ele falou como se fosse capaz de fazer aquilo.
Jungkook estudou minha expressão, como se lesse cada pensamento. Então, finalmente, seu corpo relaxou um pouco.
– Vamos embora daqui. – disse, pegando minha mochila do chão antes que eu pudesse protestar.
– Eu ainda tenho que entregar essas anotações à treinadora.
– Amanhã. – Ele não pediu. Ordenou.
Eu abri a boca para discutir, mas um barulho vindo do corredor fez ambos virarmos a cabeça. Passos rápidos, vozes abafadas. Nicky e suas amigas? O treinador? Sam?
Jungkook agiu antes que eu pudesse reagir. Puxou minha mão e me levou para a saída dos fundos, onde uma porta de emergência levava para os campos externos.
– Jungkook, o que você está…?
– Você realmente quer explicar por que Sam está com o queixo quebrado e você com marcas no braço? – perguntou, arqueando uma sobrancelha.
Ele tinha um ponto.
Corremos pelo gramado, a luz do sol criando sombras longas no chão. Seus dedos permaneceram entrelaçados nos meus, como se eu fosse escorregar se ele soltasse.
Quando chegamos ao estacionamento praticamente vazio, ele finalmente parou, mas não me soltou. Seu Porsche estava lá, preto e silencioso como um animal à espreita.
Tirei um momento para analisar nossos dedos entrelaçados. A sensação era boa até demais. Nossas mãos tinham o encaixe perfeito, como se tivessem sido feitas uma para a outra.
– Você vai me explicar o que Sam quis dizer? – perguntei, encarando-o. "Ele não é normal."
Jungkook travou. Por um segundo, achei que ele não responderia. Então, ele abriu a porta do carro para mim.
– Não hoje.
– Jungkook…
– Não hoje. – repetiu, mais suave, mas ainda final. Seus olhos imploravam para que eu confiasse nele.
Eu engoli seco. Sabia que devia pressionar, mas a maneira que ele me olhava me fez empurrar esse pensamento para o fundo da mente. Então, apenas entrei no carro.
Ele fechou a porta e contornou o veículo, seus passos firmes no asfalto. Antes de entrar, olhou para trás, em direção ao ginásio. Seus ombros ficaram tensos novamente. Sam ainda estava lá em algum lugar.
E Jungkook parecia pronto para matá-lo se fosse preciso.
Quando entrou no carro e ligou o motor, ele dirigiu para fora do campus lentamente. O ronco suave do Porsche me fez pensar que o pior já tinha passado. Mas ao olhar para Jungkook e ver o quão forte seus dedos apertavam o volante, eu me lembrava que teria que ver todos no dia seguinte novamente.
Eu tinha que falar alguma coisa, qualquer coisa. Queria fazer Jungkook deixar tudo aquilo de lado, pelo menos por algum tempo. Não só por ele, mas por mim também.
— Você… — comecei receosa. — Ainda quer jantar essa noite?
O aperto no volante diminuiu levemente e Jungkook olhou para mim por um breve segundo antes de voltar seu foco para a estrada.
– Acho que seria mais aconselhável se ficasse em casa hoje. – falou após algum tempo.
Arregalei os olhos e logo vi que já estávamos na frente da minha casa.
– Está voltando atrás? – indaguei, agora com a voz mais firme.
– Não é isso. – suspirou. – Estou preocupado com você e não quero forçá-la.
– Se eu não quisesse ir, você saberia.
– Está finalmente admitindo de que quer sair comigo. – Sorriu maroto assim que estacionou o carro.
– Estou, mas não se acostume. Vai ser só um jantar, nada mais.
Jungkook saiu, dando a volta no carro e abrindo a porta para mim.
– E se eu não quiser que esse seja o último? – Apoiou o braço na porta.
Senti meu rosto queimar e sorri enquanto saía do carro e ficava frente a frente com ele, com apenas alguns centímetros nos separando.
– Aí você vai ter que me dar um bom motivo para sairmos novamente. – Provoquei, sorrindo e ele riu.
Jungkook pegou minha mão , entrelaçando nossos dedos, e a levantou até a altura dos lábios, onde pousou um beijo demorado sem tirar os olhos de mim. Seus lábios faziam minha pele pegar fogo, e eu me peguei imaginando como seria tê-los em outros lugares.
— Princesa… — sussurrou contra meus dedos. — Você é o motivo.
Havia algo em seus olhos que me fez esquecer como respirar. Não era paixão. Não era amor.
Era posse.
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