História Quem Disse que A Vingança Nunca é Plena? - Chantagem Pode Funcionar

A água fez um caminho sinuoso pelo queixo do rapaz, caindo em gotas na superfície prateada enquanto ele ainda permanecia curvado. Os olhos verdes voltaram a se abrir bem a tempo de fitar a figura escondida no armário que observava atentamente algo no fim do corredor. Parando pra pensar, havia bastante tempo que ele não mantinha um contato pessoal com a loira, afinal com o inicio dos jogos escolares, sua vida estava ainda mais corrida naquele ano do que nos outros anos que deteve o posto de capitão do time. Ainda lembra o tamanho de sua surpresa quando, um dia depois daquela breve discução, contemplou Gray e Jellal cumprimentando a loira como se fossem nada menos que melhores amigos de infância, o que, mesmo não querendo admitir, deixou uma porção de raiva e ciúmes ocupar sua mente. Inicialmente achou que essa era a desculpa perfeita para conseguir se aproximar mais uma vez, porém, ao que parecia, a distancia entre eles havia aumentado ainda mais e, por vezes, o rapaz tinha a impressão que seus amigos estavam tentando mantê-lo o mais longe dela possível.

Natsu passou a manga pela boca, gastando um tempo encarando os cabelos loiros que escorriam por suas costas antes de dar o primeiro passo e rumar em sua direção. Ela parecia bastante distraída, já que nem percebeu que alguém se dirigia a ela e olha que Natsu não estava tentando ser silencioso.

- Que faz aqui, loi... – Começou enquanto tocava seu ombro, mas antes que percebesse, foi empurrado contra a parede com brutalidade e a boca coberta pela mão macia e delicada. Os olhos dela o encararam com reprovação e raiva, quase como se estivesse tentando matá-lo em pensamento.

- Cala boca, idiota! – Sussurrou enraivecida. – Quer foder com meu plano?

- Que merda você ta falando? – Sussurrou de volta, mas não houve resposta, pois agora a garota, que estava extremamente perto dele, parecia concentrada em outra coisa.

- Você também ouviu? – A voz fina soou. – Acho que veio dali. Vamos lá!

- Não deve ter sido nada, baixinha. – Gajeel disse um tanto nervoso.

- Sei... Mas mesmo assim vou lá ver! Você vem?

Natsu sentiu-se ser puxado mais uma vez, mal dando tempo de vê-la abrir a porta do depósito de limpeza e empurrá-lo, fechando-a com cuidado para não fazer mais barulho. Levy parou próxima ao armário desconfiada, checando atentamente o objeto que continuava silencioso e sem vida. Apoio uma mão no queixo e a outra descansou ao lado do corpo, segurando o livro de capa azul com firmeza. Gajeel olhava atentamente para suas costas, um pouco temeroso de que a garota acabasse sacando a idéia maluca que aquela loira havia lhe sugerido. Desde que Gray e Jellal narraram sobre o plano infalível da loira, o moreno fixou em sua mente que a ex-esquisita deveria ter um parafuso a menos e ver-se ali, no meio de uma daquelas loucuras o fazia cogitar que deveria estar muito drogado quando aceitou aquela sugestão. Levy suspirou e voltou-se para ele, passando a abraçar o livro com as duas mãos. Um sorriso meigo brincava em seus lábios e os olhos avelã pendiam totalmente os castanhos e ardentes.

- Bom, vou aceitar seu convite, mas não posso chegar muito tarde em casa, você sabe... As provas estão chegando e eu preciso estudar.

- Tudo bem, baixinha. – Sorriu de canto. – Também não posso chegar tarde, eu preciso de nota em literatura e se eu me der mal, estou fora do time e Natsu arranca minha cabeça.

- Ótimo. Amanhã ás sete, não é?

- É. Passo na sua casa pra te buscar.

A garota sorriu abertamente e girou nos calcanhares, seguindo pelo corredor enquanto o moreno soltou um longo suspiro, colocando as mãos no bolso e seguindo na direção oposta. Lucy pousou uma mão no peito, fechando os olhos e soltando todo o ar que havia ficado preso nos seus pulmões durante os últimos minutos, lançou um olhar carrancudo para o rapaz e estava pronta para sair quando ele parou sua mãos no meio do caminho até a maçaneta.

- Não vai sair até me explicar que droga foi essa.

- Não te devo explicações. – Rebateu irritada, tentando se afastar um pouco mais do rapaz, porém, definitivamente aquele lugar não havia sido construído para que houvesse uma grande distância entre pessoas, ainda mais que os objetos de limpeza que ali haviam não ajudavam muito a manter o lugar espaçoso.

- Você me enfiou nesse cubículo sem pedir minha opinião. – Rebateu em tom sério. – Acho que me deve explicações sim! E se não abrir a boca e começar a falar, vou procurar sua amiga agora mesmo e contar tudo.

- Babaca. – Soltou descontente. – Dá pra pelo menos a gente ir pra outro lugar? Não quero dividir meu precioso oxigênio com você...

- Como queira, princesa. – A loira revirou os olhos, bufando em frustração e conseguindo, enfim, sair do depósito.

Ele limitou-se a segui-la em silencio, mantendo as mãos enterradas nos bolsos e um mínimo sorriso involuntário brincando na sua boca. A loira entrou na biblioteca, passando pelo balcão e cumprimentando a senhora que apenas respondeu com um abalar de mão, pois sua atenção estava 100% fixada nas páginas do antigo volume. O lugar estava completamente deserto, afinal era muito raro encontrar pessoas perambulando pela biblioteca durante o intervalo, quando o refeitório parecia inegavelmente mais atraente. Lucy só parou de caminhar quando alcançou as estantes no final do corredor, escorregando os dedos pelas capas enquanto tentava ignorar a pessoa que estava as suas costas. Natsu arrumou-se na parede, ainda sentindo as costas doloridas pelo impacto de não tanto tempo atrás, escorregou os olhos verdes por cada centímetro do corpo bem modelado e pigarreou para lembrá-la que ela ainda lhe devia explicações.

- Então...? – Lucy emitiu um ruído por entre os lábios, largando os dedos dos livros e voltando-se para ele com visível descontentamento. Cruzou os braços a frente dos seios e jogou o peso para uma das pernas.

- Estou tentando aproximar eles dois, beleza? – Disse impaciente. – Sugeri que ele a convidasse para sair, mas você sabe como seu amigo é enrolado pra essas coisas, então vou dar uma mãozinha e é só isso que você precisa saber.

- Se é só isso que preciso saber, vou ter um papinho com sua amiga agora... – Disse começando a se virar, mas a loira puxou-o com força, fazendo, mais uma vez, o rapaz bater as costas na parede com violência. – Ai, isso dói, sabia?

- Ele vai levar ela a um bar no centro. – Ignorou-o. – E eu vou seguir eles e dar uma ajudinha já que ele não conhece nada gostos dela e dar um empurrãozinho com outras coisas. Pronto, já sabe, agora bico fechado e vaza de perto de mim.

- Calma ai, loirinha, não tão rápido. Eu fico calado, mas com uma condição...

- Você disse que só queria saber qual era o plano... – Rosnou entre dentes.

- Sim, eu falei isso mesmo, mas não disse se ia ficar calado ou não. – Sorriu. – Eu detestaria que sua amiga e meu amigo não fossem a esse maravilhoso encontro só porque descobriu que era uma armação, sabe...

- Fala logo o que você quer! – Quase gritou. Natsu levantou as mãos em rendição, jogando a cabeça para o lado e em seguida voltando a encará-la.

- Quero que saia comigo... – Lucy riu debochada, balançando a cabeça enquanto piscava os olhos descrente.

- Pede outra coisa, eu não vou sair com você! Ou esqueceu a bela brincadeirinha que aprontou no fim das férias?

- Bom... – Disse com receio. – Eu já te pedi desculpas...

- Se fosse você no meu lugar, desculpas iam servir? – Perguntou com as sobrancelhas arqueadas. O rapaz desviou os olhos para o lado, gastando longos segundos pensando em alguma maneira de mudar o rumo desagradável daquela conversa.

- Vamos fazer assim, eu vou seguir eles com você, pode precisar de um piloto de fuga, e depois a gente pode só da uma volta pela cidade como... Amigos. – Completou olhando-a com expectativa. Lucy se mantinha séria, observando cada linha de seu rosto com os olhos diferentes e chamativos que ele tanto amava.

- Não sou sua amiga. – Soltou. – Não vai rolar.

- Tá, você que sabe. – Deu de ombros e quando fez menção de sair, ela o parou com o braço. – Já mudou de idéia?

- Mais uma piadinha e eu arrebento sua cara. – Murmurou encarando-o com amargura. – Só vou fazer isso pela minha amiga. A trégua começa no inicio do encontro e termina a meia noite. Se você tentar alguma gracinha, eu juro que eu esqueço toda essa história e te dou um passaporte para um país chamado pronto socorro. Entendeu?

- Perfeitamente, loirinha. – Sorriu vitorioso.

Ela lhe lançou um ultimo olhar carrancudo e rumou para fora do lugar, pisando tão forte no chão que quem a via poderia pensar que ela estava tentando provocar um terremoto. Com toda certeza, aquela não era a maneira que ele queria se aproximar e estava bastante ciente de que havia uma grande porcentagem de chances de aquilo terminar em um desastre total, mas naquele momento, ele só sabia que ou arriscava ou perdia, talvez, a única chance de mostrar pra ela que ele poderia ser diferente. O sorriso maroto alargou-se ainda mais em seus lábios, ele levou a mão até os fios rosados e bagunçou-os, seguindo caminho para fora.

O resto do dia pareceu se arrastar, principalmente por causa dos três últimos horários que foram destinados a matemática. Não que fosse uma matéria que a garota possuísse extrema dificuldade, mas após aquele intervalo o seu humor estava ainda mais desagradável que o de Gray, embora que nos últimos tempos, ele houvesse se mostrado bem mais manso e tranqüilo. Ela buscou os fones de ouvidos na mochila e os escondeu colocando-os por baixo da blusa e jogando os fios amarelados para frente, ajustou o volume para caso o professor chamasse sua atenção, o que era algo que com toda certeza não aconteceria, já que eles sempre direcionavam perguntas para alunos que não possuíssem notas tão boas. A garota puxou o lápis e começou a rabiscar qualquer coisa enquanto apreciava o som explosivo de “Hail to the king” escapando até seus ouvidos, balançando a cabeça singelamente para não chamar muita atenção.

- E é isso. – O professor falou voltando-se para a classe. – Agora vou reunir vocês em duplas, quero que façam as questões da página 123 pra me entregar no fim da aula, caso não terminem a tempo, as quero amanhã. Vou sortear as duplas... Lissana e Lucy... Jellal e Cana... Sting e Natsu...

- Ainda bem que minha dupla é você. – A albina sorriu. – É sério, me ajuda que você sabe que números não são minha praia!

- Eu já resolvi todas essas questões ontem. – Disse abrindo o caderno e deslizando-o para a amiga. – Vamos só passar a limpo pra ele não achar que estamos jogando conversa fora. Se quiser, posso de dar uma força nesse fim de semana.

- Você é um anjo! – Disse e puxou o caderno para si. – A gente pode pegar essa página que você escrever as respostas de 7 a 12. Eu passo a limpo as de 1 a 6, assim ele não desconfiar.

- Boa idéia. – Lissana pôs-se a passar a limpo todas as questões enquanto ambas mantinham uma conversa divertida em voz baixa. Quando terminou a albina voltou a entregar o caderno para a cunhada, olhou brevemente para o lado percebendo que Natsu olhava para a garota distraída.

- Lucy, tem alguém te encarando. – Falou enquanto voltava os olhos azuis para a loira. Lucy escorregou sua atenção para o lado, fixando os olhos no rosto do rapaz e em seguida lhe mostrando o dedo do meio. Lissana riu enquanto a garota voltava sua atenção para ela. – Você não existe!

- Cara idiota. – Disse. – Fala sério, quero saber quando essa besta rosa vai largar do meu pé.

- Ele está apaixonado, não pode evitar. – Lucy olhou-a com as sobrancelhas arqueadas e riu enquanto balançava a cabeça para os lados.

Sting estava pronto para fazer uma observação sobre a questão 9 quando percebeu o rapaz com a atenção grudada na irmã. A raiva ferveu em seu interior, levando-o a agarrar o estojo e dar uma forte pancada em sua cabeça. Natsu encarou-o com raiva, massageando a região da pancada enquanto tentava não socar o Heartfilia. O loiro ainda não havia desviando a atenção dele, deixando que um clima pesado e tenso caísse sobre ambos.

- Quer para de secar minha irmã? – Rosnou em tom baixo. – Eu te disse naquele dia, não quero que chegue perto dela de novo.

- Quem você pensa que é pra me dar ordens, Heartfilia? – Murmurou encolerizado.

- O irmão dela e pelo que eu sei, naquele dia você deixou bem claro que não queria mais proximidade com ela. – Acusou fazendo com que o rosado se calasse. – Fala sério, Dragneel, você já cumpriu a porra daquela aposta, por que não deixa ela em paz? Se fosse sua irmã...

- Não me venha com lição de moral. – Cortou. – Sim eu faria o mesmo que você. Eu errei, beleza? E estou pagando um preço bastante alto por isso...

- Deve ser muito ruim se apaixonar pela garota que usou como brinquedinho. – Falou seriamente. – Você merece coisa muito pior que isso...

- Eu só não calo sua boca com um bom soco, porque mais uma advertência e eu fico suspenso do time. – Falou enquanto voltava sua atenção para o caderno. – Mas eu vou te dizer uma coisa, Mané, eu ainda não desisti dela...

- Não acha que ta meio tarde pra bancar o Romeu? – Debochou. – Ela não te quer se ainda não ficou claro.

- Ela pode mudar de opinião. – Natsu soltou o lápis na mesa, recostando-se na cadeira de maneira despojada e lançando ao outro um olhar destemido. – Eu vou fazê-la mudar a idéia que tem mim e então, você não vai poder fazer nada.

- Se for decisão dela, eu só posso aceitar. – Confessou ainda em tom sério. – Mas eu sinceramente não gosto de como isso soa e não acho que papai vá levar isso numa boa. Já houve uma época que eu daria tudo para que você fosse o namorado dela, mas esse Natsu de hoje é completamente diferente daquele cara que era meu melhor amigo no pré e no fundamental. Pode tentar se quiser, mas vou te dar uma aviso, se eu vê-la mal por sua causa outra vez... Eu acabo com a sua raça, Dragneel.

- Eu nunca cometo o mesmo erro duas vezes, Heartfilia!