[Rom: Que diabos?!]
Os olhos do homem mais velho se arregalaram com aquela visão aterrorizante.
Quando ele estava tomando uma bebida em sua casa de saques, sentado, aproveitando algum tempo sozinho, ele esperava que sua noite fosse tranqüila.
Até que algo o surpreendeu.
A porta de sua casa foi subitamente aberta. Espantando-o. Ele deu um salto, quase caindo da sua cadeira para o chão, mas se recompôs e pegou seu bastão, buscando pelo o que ou quem havia aberto a porta de sua casa e nada encontrou ao ir para fora. Nenhuma alma viva. E isso o fez pensar que era uma pegadinha de algum idiota, de alguma criança ou alguém querendo provocá-lo.
[Rom: Idiotas...]
Foi o que ele pensou ao bater a porta quando entrou, mas paralisou-se ao ter a nova visão de dentro da sua casa de saques.
Dois corpos.
Um corpo perto da entrada, deitado com as costas para cima, estendido, um dos braços estendidos com a mão fechada sobre algo invisível. E o outro corpo estava perto do balcão, deitado, com uma grande quantidade de sangue e até mesmo seus intestinos puxados para fora.
Dois corpos mortos. Se não bastasse eles subitamente terem aparecido, ele reconheceu depois de alguns segundos de quem eram aqueles corpos.
Natsuki Subaru.
Ele dificilmente esqueceria o rosto do rapaz que salvou sua neta e ele de Elsa, como tornou-se uma figura tão reconhecida por todo país. Por isso; quando percebeu, instintivamente, começou a se aproximar para checar o cadáver mais próximo — que segurava algo invisível — enquanto se mantinha com a guarda alta para ser algum tipo de armadilha perigosa.
Ao ficar bem perto, ele encostou no pulso do corpo. E sentiu frio.
Rom já tinha se acostumado no passado com esse tipo de coisa. Cadáveres, o sangue, seu cheiro. Como o frio de seus corpos quando ele encostava em um que já tinha morrido há bastante tempo. Então ele não deveria se surpreender, mas ainda o fez ao sentir o frio.
Aquele frio era diferente do que ele jamais sentiu em um cadáver comum.
Como também o cheiro. O cheiro pútrido não parecia de um cadáver comum, mas de uma cova cheia até a borda com centenas deles. E isso fez seu nariz se contorcer um pouco ao senti-lo de perto e o fez se levantar e andar alguns passos para trás.
[Rom: Isso está estranho e bizarro demais...]
Percebeu. Ele então olhou para o outro corpo, sentindo que se tocasse sentiria o mesmo frio e ele conseguia sentir o mesmo cheiro pútrido horrível que emanava do primeiro corpo.
Outro de seus pensamentos seria de como iria explicar para todos.
Ele, um gigante, estava com dois cadáveres confirmados do conhecido herói de Lugunica. O jovem que salvou a ele e sua preciosa neta.
Como explicar isso? O que aconteceria com ele? E como isso afetaria Felt?
Rom suspirou com tristeza, como também desespero. Imaginando o pior caso possível.
Até que ele notou...
Um espasmo. Um espasmo que deveria estar segurando algo, do cadáver ao lado de seus pés. Isso o fez estreitar os olhos.
De repente então, o cadáver começou a se levantar. Os dois cadáveres começaram a se levantar. E isso o fez andar para trás até bater suas costas na porta de entrada do seu lugar de negocio.
Os cadáveres se levantaram.
Suas cabeças viraram de uma maneira diferente na direção dele. Seus pescoços pareciam quebrados, pois soltaram um salto nauseante quando moveram e ele viu os ossos deles saindo para fora da pele. Como também sangue caindo dos cortes e os órgãos caindo deles para o chão na piscina sangue que se forma dos seus corpos. As suas bocas abertas de maneira desumana, como uma cobra abriria para devorar algo, com parte de suas bochechas rasgadas para isso.
Rom viu-os encarando-o com aqueles olhos assustadores vazios de vida.
[####: AAAAAAHHHHHHHHH?!!!]
Um grito poderoso saíram de seu corpo.
Um grito aterrorizante, gutural. Horripilante. O corpo de Rom tremeu em medo primordial e seus cabelos se arrepiaram, como começou a suar em pânico enquanto sentia seu coração batendo mais e mais forte, ao ponto de que estava ao ponto de explodir para fora de seu corpo e então em milhares de pedaços sangrentos.
Ele jogou sua arma contra o cadáver mais próximo de si.
A arma atingiu-o com força, quebrando seu corpo de maneira anormal. O torço contorceu-se e caiu para trás enquanto as pernas permaneciam retas e de pé. Instantes, ele voltou ao normal, imperturbável pelo ataque que recebeu do velho gigante.
Eles deram um passo, enquanto a quantidade de sangue começava a aumentar dentro e vazando pelas fretas da porta atrás do gigante. Mas Rom sabia que era uma quantidade impossível para um cadáver humano daqueles produzir. Pois se não tivesse saída para o sangue, aquela casa teria sido inundada até o topo.
Rom rangeu os dentes em raiva instintivamente, quebrando a porta atrás de si, saiu para fugir daqueles monstros.
Fora ele se pós a correr.
Suando, suspirando, desesperado. Tentando ir para o mais longe possível daquele lugar.
Conforme se pôs a correr pela Favela, ele viu. Vários cadáveres. Dezenas de cadáveres, centenas de cadáveres. Tantos cadáveres que ele não conseguia contar a quantidade de cadáveres de Subaru que estavam espalhados e atacando as pessoas.
Rugidos, gritos.
Sons de rasgo, de ossos quebrando.
Um campo de batalha sangrenta. O sangue escorria por todo lugar, até as paredes que ele via estavam manchadas de vermelho.
E mesmo assim ele não parava.
Talvez fosse um desejo egoísta de sobreviver mais um pouco, pelo menos até encontrar sua neta. Se ele pudesse ver sua neta uma última vez, ele sentia que poderia partir satisfeito no fim de tudo aquilo. E ele não queria mais nada do que isso.
Até que ele chegou na entrada da Favela e paralisou.
Lá estavam centenas de cadáveres que se aproximavam, vindos da cidade principal. Da área nobre.
Olhando para trás onde estava.
Outra centena de cadáveres vinha de trás dele. Caminhando lentamente de maneira erráticas, como andar fosse algo impossível para cadáveres tão destruídos e retorcidos.
Rom compreendeu bem isso!
Ele estava cercado. Mesmo que confiante de sua força contra o garoto, ele sentia que seria impossível para ele vencer aquelas coisas que cercavam-no como um exercito imortal. Olhando de um lado para o outro, ele buscava uma forma de sair daquela situação.
[####: AAAAAAAAAAHHHHHHHHH?!!!!]
Um grito maior do que ele já ouviu antes soou bem alto naquele momento.
Rom paralisou novamente, seu corpo perdendo toda força, mas também se recusando a cair no chão. Ele olhou para cima, para o topo do Céu.
Não havia Lua no Céu, mas algo que tinha tomado seu lugar.
Um rosto.
O rosto de Natsuki Subaru.
Sem olhos, observando-os. Uma boca aberta sem dentes ou língua, mas que soltou aquele rugido gigantesco. Um nariz retorcido, deformado.
Mas abaixo daquele rosto morto estava uma espécie de boca.
Carne retorcida e deformada. Ossos saltados para fora. Dentes afiados.
E de dentro daquela boca, estavam centenas de milhares de cadáveres que caiam em direção a Terra. Centenas de milhares de cadáveres que tomariam todo planeta dentro do tempo de um minuto ou menos.
Rom sentiu todas suas esperanças morrerem ao ver aquilo.
De seus olhos começaram a vazar lagrimas de sangue pela visão da besta que via naquele momento. Vendo ali o fim de sua vida, cercado dos mortos que se aproximavam para consumi-lo. Pensando o quão pequeno se sentia perante aquela criatura.
Pois aquele velho gigante sabia que o mundo acabaria naquele dia, naquela noite.
—[X]—
Sua existência era morte.
Foi isso que aquela criatura tão desesperada conseguiu entender, mesmo que não tivesse a capacidade de entender as coisas.
Nascer para morrer. Viver para morrer. E morrer para renascer.
Era o seu ciclo natural desde que “nasceu” neste mundo.
Seu primeiro nascimento foi naquela Casa de Saques há anos atrás.
Ele nasceu sendo rasgado por trás.
No seu ponto de vista, aquela que o matou seria sua mãe ou pelo menos sua primeira mãe. Elsa. Que lhe deu um irmão no instante seguinte. Antes de muitos outros presentearem-no com irmãos, irmãos, irmãos.
Centenas de irmãos de dezenas de pais e mães do mundo.
Pois ele era [ELE], pois ele era [ELES], pois ele era [TODOS].
Como uma criatura formada pela morte de todos.
Ele tinha ganhado um novo irmão.
Sendo seu novo irmão, ele se juntou a [ELE, ELES, TODOS]. E como no passado, [ELE, ELES, TODOS] tinham que seguir em frente para nova casa.
Mas primeiro tiveram que fazer o que sempre faziam...
Tomaram o espaço da Lua.
Abrindo sua boca [ELE] soltou [ELES, TODOS] no planeta para recolherem — exterminarem — os brinquedos dessa antiga casa.
Após terminarem tal serviço, com as mãos [ELE, ELES, TODOS] seguraria as bordas do mundo com suas garras e o esmagaria. Aquele mundo plano sendo esmagado entre suas palmas gigantescas até se tornar uma bola de pedra, água, restos do que sobrou de sua recolhida. E ele levou-o para dentro de sua grande boca, dando-o para seus irmãos consumirem o resto.
Assim aquele mundo tinha chegado ao fim de seu ciclo.
Se “levantando” no vazio do espaço na frente da Lua, ele ficou de “pé” na imensidão fria. Seus pés apoiados no espaço. Movendo suas mãos para frente, ele “alcançou” o espaço e em um mover simples de seus dedos, ele o abriu como uma fenda.
Uma fenda pequena, mas o bastante para ele.
Forçando seu corpo por aquela fenda, ele se comprimiu, seu corpo espremendo-se por aquele pequeno espaço até sua mão pousar no solo de neve fofa. Gusteko. Minutos antes dele encontrar-se com um homem, Hecton, que saia de um bar.
Um novo loop, uma nova oportunidade.
Se ele ganharia um novo irmão?
[ELE, ELES, TODOS] esperariam para saber. Até lá, devorariam tudo.
Sem entender porque devoravam, sem saber porque consumiam, sem saber porque “comiam”.
[ELE, ELES, TODOS] andariam pelas terras em busca de tudo o que estivesse ao alcance de suas garras. [ELE, ELES, TODOS] existiria em cada mundo para colher cada alma. [ELE, ELES, TODOS] continuariam a “viver” para morrerem.
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