1) Otto.
Ele tinha sido abandonado naquele campo. Ele não sabia quem tinha feito isso, mas ele tinha sido jogado ali com violência em um ato covarde, que acabou fazendo uma das suas pernas quebradas, agora levemente inchada. O ar estava saturado pelo cheiro da morte e da névoa sufocante que engolia tudo ao redor. O luar pálido mal conseguia atravessar a cortina espessa de bruma, tornando as sombras das árvores ao redor ainda mais distorcidas, como garras prestes a agarrá-lo.
Otto mancou desesperadamente pelo campo, cada passo uma agonia lancinante que rasgava sua perna quebrada com uma dor que ameaçava arrancar sua consciência. Um terror percorrendo-o. Pois não entendia, alguma coisa estava acontecendo; pois ele uma hora estava deitado na sua cama na Mansão, dormindo, descansando calmamente, e então acordou sendo empurrado e com sua perna quebrando no impacto quando caiu da carruagem — quando foi empurrado da carruagem, mesmo sem entender porque estava em uma.
Seu peito subia e descia em convulsões frenéticas, tentando sugar o ar rarefeito enquanto o suor frio escorria por sua testa.
O som.
O som maldito.
O uivo profundo e reverberante de um monstro gigantesco ecoava na noite, preenchendo o mundo com um terror primitivo.
Ele não podia vê-la, mas sabia.
Sentia. Ela estava ali.
A cada segundo, a sensação de estar sendo observado se intensificava. Os galhos rangiam como sussurros malignos, e a névoa se movia como se tivesse vida própria, tornando cada árvore uma ameaça indistinta.
Ele correu, ou ao menos tentou.
Seu pé afundou no solo úmido, fazendo-o tropeçar e cair de joelhos, um grito abafado escapando de seus lábios quando sua perna ferida protestou violentamente.
A dor era uma tempestade em sua mente, mas ele não podia parar. Não aqui. Não agora. Com mãos trêmulas, apoiou-se no chão enlameado e forçou-se a continuar, rastejando para frente como um animal ferido. O vento mudou de direção, e então ele sentiu. Um peso esmagador no ar, como se o próprio mundo estivesse prendendo a respiração. Ele ergueu a cabeça, os olhos arregalados de horror.
A névoa ao longe se dissipou por um instante, revelando a silhueta monstruosa da Baleia Branca pairando acima das árvores, seus olhos vazios e gélidos cravados nele como lanças espectrais.
O ar estalou ao redor da criatura, e, em um instante, a névoa voltou a envolvê-la como um véu sinistro, ocultando-a mais uma vez.
Mas Otto sabia.
Ela estava cada vez mais perto.
Seus músculos estavam travados em puro terror, e seu corpo gritava para desistir. Mas a promessa de um fim horrível o impulsionou para frente. Cada batida do coração era um tambor desesperado de sua própria execução iminente. Não importava o quanto corresse, não importava o quanto lutasse, a Baleia Branca o alcançaria.
E quando ela o fizesse, ninguém jamais se lembraria que Otto Suwen um dia existiu.
Ele forçou-se a ficar de pé, o peso em sua perna quebrada fazendo sua visão escurecer por um instante. Mas ele precisava continuar. O ar estava cada vez mais pesado, como se a própria realidade estivesse se dobrando sob a presença da Baleia Branca. Cada passo era uma luta contra o inevitável, cada respiração um ato de desafio contra a morte.
O chão tremeu com um impacto próximo, e Otto se virou por reflexo, apenas para ver uma sombra colossal cortando a névoa como uma lâmina afiada. A criatura estava ali. Perto demais. Sua boca se abriu em um vórtice de escuridão, e Otto sentiu o vento ser sugado para dentro, como se a própria existência estivesse sendo devorada.
Ele cambaleou para trás, suas pernas falhando, e caiu de costas. A dor explodiu por seu corpo, mas ele mal a registrou. Tudo o que conseguia fazer era olhar para o céu, para o terror alado que pairava sobre ele.
[Otto: Não... não assim... Por favor... alguém... E-E-Eu... não quero morrer...]
Sua voz saiu como um sussurro, quase inaudível.
Seus dedos cravaram-se na terra fria, buscando desesperadamente algo — qualquer coisa—que pudesse salvá-lo. Mas não havia nada. Apenas a névoa, a escuridão e a sombra crescente da criatura que apagaria sua existência.
Mas então a paisagem mudou.
Agora, Otto se via em uma vastidão branca e silenciosa.
A neve cobria tudo ao redor, um mar gélido que se estendia até onde seus olhos podiam alcançar. O frio era cruel, cortando sua pele como lâminas invisíveis, mas ele mal sentia. O horror da fuga anterior ainda queimava em sua mente, um fantasma que não o deixava descansar.
Ele respirou fundo, tentando manter a calma. O vento uivava suavemente, mas algo estava errado. O silêncio era pesado demais, sufocante. Então, ele ouviu.
Um farfalhar quase imperceptível.
Otto virou-se bruscamente, seu coração disparando. Nada. Apenas neve e sombras longas projetadas pela luz fraca do céu nublado. Mas ele sabia. Não estava sozinho.
De repente, algo se moveu. Pequenas silhuetas surgiram na neve, primeiro uma, depois dezenas, então centenas. Olhos vermelhos e famintos brilharam na escuridão, e então eles avançaram.
Coelhos brancos de olhos vermelhos e chifres no topo de suas cabeças.
O primeiro impacto foi nas pernas. Dentes afiados rasgaram sua carne, e um grito de agonia escapou de seus lábios. Ele caiu, a neve tingindo-se de vermelho ao seu redor. Mãos trêmulas tentaram afastá-los, mas era inútil. Pequenos corpos peludos se agarravam a ele como parasitas vorazes.
Suas mãos foram as próximas. Dentes cravaram-se em seus dedos, arrancando-os um a um. Ele gritou, mas o som perdeu-se no uivo do vento. A dor era avassaladora, mas o pior estava por vir.
Eles cavaram. Pelos buracos abertos em sua carne, entraram como uma maré insaciável. Ele sentiu. Sentiu os pequenos corpos se contorcendo dentro dele, rasgando músculos, perfurando órgãos. A dor era indescritível. Quando atingiram sua virilha, a mente de Otto quase quebrou. Eles dilaceraram, abrindo caminho para dentro, mordendo e engolindo cada pedaço que encontravam.
Seu sangue jorrava em torrentes quentes, misturando-se à neve fria. O cheiro metálico preencheu o ar. Ele tentou se mover, mas seu corpo não o obedecia mais. Sentiu seus pulmões sendo devorados, seu coração sendo rasgado em pedaços, seus ossos estalando como gravetos quebrados.
Eles subiram. Pela garganta, invadiram sua cabeça. Cada mordida era um inferno vivo. As cordas vocais foram arrancadas, deixando-o mudo. Sua língua desapareceu em bocas famintas. Seus olhos foram perfurados e devorados, mergulhando-o em uma escuridão aterradora. Ele ainda sentia. Os nervos queimavam enquanto eles roíam seu rosto, despedaçavam sua carne, arrancavam sua mandíbula.
O cérebro foi o último.
A consciência de Otto se manteve até o fim. Ele sentiu cada segundo, cada mordida, cada fragmento de si mesmo sendo apagado. A dor era tudo o que existia.
E então, nada.
Otto Suwen deixou de existir.
2) Ram.
Ram tinha corrido o mais rápido que pode para fugir daquilo, mas não conseguiu. Não importa o quanto ela tentou fugir. Mas ela continuava dentro daquela floresta infinita, continuava fugindo intensamente, continuava tendo que esquivar-se daqueles golpes. Sentindo um terror absoluto percorrendo seu corpo, a fazendo até chorar de medo.
Até que aconteceu.
Uma lâmina de vento, uma lâmina que imitava aquelas que ela lançava com sua magia. Uma de suas pernas foi arrancada naquele momento. Seu corpo caiu contra terra, de cara no chão, suas roupas sujando-se no processo com lama, sujeira e seu sangue. Não conseguindo se mover mesmo quando tentando se arrastar, ficando parada.
O ar estava denso com o cheiro metálico de sangue. Ram arfava, o corpo fraco e tremendo, enquanto o líquido escarlate manchava o chão de pedra fria. Sua perna ausente latejava como se ainda estivesse ali, uma dor fantasma que se somava ao tormento real.
Então, veio o golpe.
A arma com espinhos rasgou o ar, encontrando seu alvo com uma precisão cruel. Um estalo seco ecoou quando os espinhos se cravaram em sua pele pálida, forçando um grito agonizante de seus lábios. Seu corpo magro foi jogado para trás como uma boneca quebrada, os nervos queimando em desespero.
Os espinhos dilaceravam carne e músculo com cada impacto, deixando sulcos profundos que vertiam sangue sem piedade. Ram tossiu, gotas vermelhas manchando seu rosto. Seus olhos rosados, normalmente tão vivos, estavam embaçados de dor, mas não havia espaço para rendição. Ela tentou erguer o olhar, mas a sombra cruel acima dela ergueu a arma mais uma vez.
De novo.
E de novo.
Cada golpe era um trovão contra sua existência, quebrando costelas, rasgando pele e esmagando qualquer resquício de força que ela tentasse reunir. O chão sob ela tornou-se um lago carmesim, quente e pegajoso. A respiração curta e irregular denunciava seu limite, e seus pensamentos se perdiam no mar de dor.
Então, veio a cura.
Uma onda de calor percorreu seu corpo mutilado, fechando as feridas, restaurando ossos estilhaçados e tecendo carne como se o sofrimento nunca tivesse existido. Mas ele existia. Ele sempre existia. E ela sabia o que viria a seguir.
A arma subiu novamente.
Ela não teve tempo de implorar, nem mesmo de respirar.
O tormento recomeçou.
Dessa vez, os golpes vieram com mais força, mais brutalidade, mais ódio. A arma desceu contra seu rosto, rasgando sua bochecha até expor os dentes por baixo da carne destruída. Seu crânio vibrou com o impacto, e a dor percorreu sua espinha como eletricidade pura. Seus olhos se reviraram por um momento, mas a consciência não a abandonou.
Ela não tinha esse luxo.
A cada golpe, seus ossos cediam, fraturando e reconstruindo-se num ciclo interminável de tortura. Quando sua clavícula se partiu, ela sentiu a pele se rasgar com os próprios ossos expostos. Seu braço já não se movia, pendendo inerte ao lado de seu corpo. Mas a cura veio, restaurando tudo apenas para ser destruído novamente.
Seus gritos começaram a falhar. A voz se tornava um sussurro rouco, mas os golpes continuavam, impiedosos. Seu peito era um campo de hematomas, as costelas quebradas perfurando sua carne antes de serem magicamente restauradas. Seus dedos tentaram agarrar algo, qualquer coisa, mas até isso lhe foi negado quando a arma esmagou sua mão contra o chão, estourando os ossos finos como vidro quebrado.
E então, veio a cura.
O ciclo não tinha fim.
O tempo se tornava uma ilusão, e tudo que restava era a dor. Seu corpo não era mais dela; era apenas um brinquedo para ser quebrado e consertado, um espetáculo de sofrimento sem escapatória.
E quando pensava que o pior já havia acontecido, sentiu os espinhos cravando-se lentamente em seu estômago. Diferente dos golpes anteriores, este não foi imediato. Foi lento, doloroso, forçando-a a sentir cada centímetro de ferro rasgando seus órgãos. Suas entranhas foram perfuradas, e ela sentiu o calor úmido do próprio sangue preenchendo sua boca.
Seus olhos se arregalaram em puro desespero.
Então, veio a cura.
E a arma subiu mais uma vez.
Seus pulmões imploravam por ar, sua mente gritava para que aquilo acabasse, mas o tormento não cedia. A lâmina afiada brilhou na penumbra antes de deslizar contra sua garganta. Foi rápido, mas a dor foi absoluta. Um corte profundo, preciso, e então o sangue jorrou como uma fonte macabra.
Ela tentou respirar, mas tudo que encontrou foi o gosto ferroso se acumulando em sua boca. Cada tentativa de inspirar era engasgada por bolhas vermelhas que escapavam de seus lábios trêmulos. Seus dedos tentaram cobrir o ferimento, mas a força já a havia abandonado.
Seus olhos se tornaram vítreos, as pálpebras piscando lentamente enquanto sua visão se desfazia em sombras. Ela ouviu um som abafado, algo distante, como se o mundo estivesse se fechando ao seu redor. Então, veio a última frase, sussurrada com um toque de ironia cruel:
[Rem: Nee-Sama é realmente gentil.]
O último som que ouviu foi o impacto da arma descendo contra seu crânio.
E então, houve apenas o silêncio.
3) Roswaal.
A escuridão se dissipou apenas o suficiente para revelar o pesadelo. O ar estava denso, carregado com o cheiro de ferro e carne exposta. Roswaal sentiu o impacto antes mesmo de ver o golpe. Sua perna esquerda foi arrancada do corpo com um estalo nauseante, o osso quebrando como vidro sob pressão extrema. Um grito escapou de seus lábios, mas não houve tempo para processar a dor antes que sua outra perna fosse tomada, deixando apenas tocos ensanguentados onde antes estavam seus membros.
O horror não terminou ali. Mãos invisíveis seguraram seus braços, puxando-os com força implacável até que suas articulações cederam. O som de carne sendo rasgada encheu seus ouvidos, seguido pelo peso de seus membros caindo no chão de pedra fria. O choque o impediu de reagir por um breve momento, mas então a dor chegou como uma onda avassaladora.
Seu torso foi aberto em um único golpe, como se estivesse sendo esculpido por uma lâmina afiada. Suas entranhas deslizaram para fora de seu corpo, um espetáculo grotesco de cores e texturas que ele mal conseguia compreender. Mãos pálidas e sem rosto começaram a puxá-las, arrancando seus órgãos um por um, como se estivessem desmontando um boneco de pano. Seu estômago foi rasgado, seus pulmões esmagados, seu coração arrancado com uma precisão quase cirúrgica.
Roswaal arfou, seus olhos arregalados cheios de terror e agonia. Mas ainda não havia acabado. Algo afiado perfurou seus olhos, um de cada vez, mergulhando-o em uma escuridão profunda e ardente. Sua mente se debateu, gritando por alívio, por um fim. E então ele o encontrou. O vazio. A morte.
Mas a morte não era a liberdade. Não para ele.
Com um arfar, Roswaal abriu os olhos. Inteiro. Ileso. Mas ele sabia o que viria a seguir. A sombra se aproximava novamente, lâminas invisíveis prestes a recomeçar o processo. Ele tentou gritar, mas foi interrompido pelo som nauseante de sua perna sendo arrancada mais uma vez. O ciclo recomeçou.
E ele estava preso. Para sempre.
O desespero crescia dentro dele a cada repetição. Ele tentou se mover, rastejar, usar qualquer feitiço que conhecia. Mas cada tentativa era interrompida pela dor lancinante e a sensação de ser puxado de volta ao ponto inicial. Se tentava fugir, seus músculos travavam e, em um instante, sua perna era arrancada novamente, arrastando-o de volta ao sofrimento.
Cada esforço para lutar contra o ciclo era punido com uma reinicialização cruel. Mesmo que tentasse segurar suas entranhas, seu corpo se reiniciava no exato momento em que deveria ser aberto. Se fechasse os olhos para evitar a dor, eles eram forçados a abrir segundos antes da agonia começar. Não havia escapatória. Não havia esperança. Apenas o tormento incessante, repetido infinitas vezes, como um pesadelo sem fim.
E sempre, no momento final, quando sua consciência se dissolvia no vácuo da morte, uma voz doce e fria sussurrava em seu ouvido.
[???: Dói...?]
Roswaal arregalava os olhos, a dor ainda vibrando em cada nervo de seu corpo destruído. A voz era melancólica, quase gentil, mas carregada de algo perverso. Antes que pudesse sequer refletir sobre o que estava ouvindo, o ciclo recomeçava.
Sua perna esquerda foi arrancada.
O mesmo estalo nauseante.
O mesmo grito engasgado.
A mesma dor insuportável.
O horror recomeçava e, no fim, quando sua consciência se apagava, a voz voltava.
[Elsa: Dói...?]
Ele gritava. Mas isso não mudava nada.
4) Emilia.
A escuridão era absoluta.
Emilia não sabia onde estava, não sabia o que havia acontecido. Apenas sabia que não podia se mover. Seu corpo recusava-se a obedecer sua vontade, como se houvesse se tornado algo distante, estranho, inacessível.
O frio veio logo depois.
No início, foi um incômodo, uma sensação conhecida e passageira, como a brisa gélida de uma manhã nevada. Mas aquilo não era apenas frio. Era algo que penetrava além da pele, além da carne, atingindo seus ossos, seu sangue, seus órgãos.
Ela tentou gritar, mas não havia som. O ar em seus pulmões congelou, estilhaçando-se em mil pedaços invisíveis. Seu coração deveria parar, deveria sucumbir ao gelo implacável que se espalhava por seu corpo, mas ele continuava batendo, insistente, num ritmo fraco e desesperado.
Sua pele se tornava cristalina, rachaduras surgindo conforme a umidade congelava de dentro para fora.
Pequenos estalos ecoavam em seus ouvidos, como vidro trincando sob pressão. A dor, no entanto, não vinha.
O frio era maior, mais intenso, sufocante, um abismo sem fim que a devorava por dentro.
Ela queria se mover. Queria fugir. Mas era incapaz. O gelo a prendia, tomava conta de sua forma, de sua existência. O tempo se alongava, cada segundo tornando-se uma eternidade de congelamento incessante, um sofrimento sem fim. E, então, veio o medo.O medo não da morte, pois a morte não vinha. Mas do que restaria dela quando tudo estivesse completamente congelado. Quando não houvesse mais nada para ser tomado pelo gelo.
O frio nunca parava. Nunca acabava.
E ela sabia que nunca acabaria.
[Emilia: Subaru...]
Seu nome ecoou fraco na sua mente, uma fagulha de calor em meio ao gelo eterno. Se Subaru estivesse ali, ele a salvaria. Ele sempre fazia isso. Sempre encontrava um jeito. Ela queria chamá-lo, queria dizer seu nome em voz alta, mas seus lábios não se moviam. Nenhuma palavra saía. Apenas o silêncio do frio sem fim.
Ela tentou se lembrar dele, de seu rosto, de seu sorriso irritante e determinado, da maneira como ele nunca desistia. Mas até mesmo seus pensamentos pareciam congelar. Suas memórias se tornavam opacas, frias, distantes.
Subaru... quem era Subaru?
O nome permanecia, mas a imagem se desfazia, rachando como vidro, como tudo o mais dentro dela.
E, então, seu corpo começou a se partir.
A rachadura em sua pele se aprofundou, espalhando-se em um emaranhado de linhas irregulares. Pequenos fragmentos de si mesma se desprenderam, caindo no vazio ao seu redor. Carne, ossos, sangue... tudo se quebrava, fragmentando-se como gelo fino sob pressão. Mas ela não morria. O frio a segurava, a mantinha ali, consciente, sentindo cada pedaço se estilhaçar. Seu braço quebrou-se em pedaços minúsculos, sua perna seguiu logo depois. Seu peito se abriu em fissuras, expondo o vazio gélido onde antes havia um coração pulsante.
E, mesmo assim, ela não morria.
[Emilia: Subaru... por favor...]
A última memória dele desapareceu.
Tudo se despedaçava, e Emilia continuava ali, congelada, quebrando-se infinitamente, sem fim, sem escapatória.
Então, uma voz surgiu, baixa e sussurrante, como o vento cortante de uma tempestade de neve.
[???: Agora durma... junto de minha filha...]
E a dor, antes insuportável, multiplicou-se em dezenas de milhares de vezes. Cada fragmento de seu corpo quebrava-se e refazia-se apenas para ser partido outra vez. Seu sangue cristalizado se despedaçava em agulhas que perfuravam suas próprias veias. Seus ossos, antes congelados, eram esmagados, refeitos e estilhaçados de novo. Cada pedaço de si experimentava um sofrimento incompreensível, além de qualquer limite mortal.
E, no meio de tudo, a escuridão tornou-se um vácuo absoluto.
Seus pensamentos se dissiparam.
Seu nome se foi.
Sua existência se quebrou, espalhando-se como poeira no frio infinito.
E Emilia finalmente afundou na dor eterna.
5) Garfiel.
O rugido de Garfiel ecoava pelo campo de batalha, sua determinação queimando como um incêndio incontrolável. Ele avançava, seus músculos tensionados ao máximo, as garras afiadas rasgando o ar à sua frente. Mas não importava quantas ele cortasse, as mãos negras continuavam surgindo, infinitas, sombrias, implacáveis. Com um salto feroz, ele esmagou uma das mãos no chão, apenas para sentir dezenas surgirem ao seu redor, deslizando como serpentes famintas. Ele rugiu, girando sobre si mesmo em um ataque furioso, cortando, golpeando, destruindo.
Mas era inútil.
Elas eram infinitas.
Uma delas agarrou seu tornozelo, e então outra prendeu seu pulso. Garfiel tentou se libertar, rosnando como uma fera acuada, mas mais mãos surgiram, segurando-o por cada membro. Ele resistiu, os músculos tremendo com a força que aplicava para se soltar, mas a primeira torção veio como um estalo seco. Seu pé girou em um ângulo impossível, a dor explodindo como fogo em sua perna. Ele gritou, tentando forçar seu corpo para trás, mas era tarde demais.
Seu outro pé seguiu o mesmo destino. O tornozelo se virou, os ossos se quebrando em pedaços dentro da carne. Seus joelhos foram os próximos, torcidos em direções opostas, e ele soltou um urro bestial de pura agonia. As mãos não pararam. Elas continuavam, subindo, destroçando, retorcendo.
Os braços foram torcidos ao contrário, primeiro os pulsos, depois os cotovelos e então os ombros, deslocados e esmagados ao mesmo tempo. Seus músculos eram rasgados em fibras minúsculas, suas veias estouravam sob a pressão. O sangue manchava o chão, mas as mãos não tinham piedade.
O torso veio em seguida. A espinha de Garfiel se arqueou de um jeito cruel, vértebras deslocadas, costelas quebradas como vidro frágil. Ele sentia tudo, cada pedacinho de seu corpo sendo destruído de maneira meticulosa.
A respiração vinha curta, irregular, sua visão começando a escurecer.
E então, restava apenas a cabeça.
Os dedos gélidos se arrastaram por seu rosto, segurando sua mandíbula, pressionando suas têmporas. Garfiel não conseguia mais gritar, apenas respirar entrecortadamente, sua mente inundada pela dor insuportável. A torção começou devagar, como um aviso cruel, antes de um giro súbito quebrar seu pescoço com um estalo horrível.
O mundo se apagou.
E então, ele voltou.
Ofegante, suado, sentindo a dor fantasma ecoando em seus membros que, agora, estavam intactos. Ele caiu de joelhos, os olhos arregalados, os músculos tremendo. Mas antes que pudesse sequer se recuperar, as sombras se ergueram novamente.
As mãos negras vieram mais uma vez.
Garfiel rosnou, o medo misturado à fúria enquanto se forçava a se levantar. Cada fibra de seu ser dizia para correr, mas ele não era um covarde. Ele não podia ser. Rangendo os dentes, ele avançou mais uma vez, cortando as primeiras sombras que se aproximaram. Seu corpo estava intacto, mas a dor da última vez ainda queimava em sua mente. Dessa vez, ele tentou esquivar, saltando para trás, rodopiando no ar para evitar as mãos que surgiam abaixo dele. Ele deslizou pelo chão, desviando das que tentavam agarrar seus tornozelos, e investiu em meio à escuridão. Cada golpe desferido era rápido, feroz, porém sem resultado duradouro. As mãos voltavam a surgir, famintas.
Uma pegou sua perna. Ele gritou, girando o corpo no ar para tentar escapar, mas outra segurou seu braço. Ele tentou soltar-se antes que a dor começasse, mas já era tarde. A torção veio novamente, impiedosa. O pé foi primeiro, girando como uma chave em uma fechadura enferrujada.
Ele urrou. Tentou arrancar o braço livre, mas este também foi torcido em um ângulo impossível.
Dessa vez, as sombras pareciam se divertir, quebrando cada parte dele com mais lentidão. As mãos subiram, esmagando cada costela individualmente, transformando seu torso em uma ruína de carne e osso. Ele tremia, a dor indo além do suportável. Quando a espinha se partiu, ele mal conseguia sentir o resto do corpo.
Seus olhos estavam marejados. Não de medo, mas de raiva. Ele odiava isso. Odiava a sensação de impotência, odiava a maneira como era destruído, como se fosse um mero brinquedo nas garras dessas malditas sombras. O sangue subiu por sua garganta quando a torção chegou ao seu pescoço novamente.
Escuridão.
E então, ele voltou de novo... de novo... de novo... de novo.
6) Frederica.
O ar estava pesado, impregnado com o cheiro metálico de sangue e o ressoar dos golpes que ecoavam pelo espaço vazio. Frederica arfava, os pulmões em chamas, o corpo dolorido em cada fibra. Seus joelhos tremiam, mas ela se forçava a permanecer de pé. O chão frio e manchado de vermelho a chamava, implorava que cedesse, mas ela se recusava a cair.
Então, veio outro golpe.
Um soco invisível atingiu sua costela com a força de um aríete, um estalo ecoando pelo local. A dor explodiu em sua mente, mas antes que pudesse reagir, um chute se seguiu, pegando-a no estômago e lançando-a contra a parede de pedra áspera.
Seu corpo colidiu com o impacto seco de carne e osso, e um filete de sangue escorreu pelo canto de sua boca.
Figuras sem rosto, sem forma definida, pairavam ao seu redor como sombras vingativas. Braços que não existiam rasgavam o ar com brutalidade inumana, desferindo novos ataques implacáveis. Uma espada de madeira desceu impiedosa sobre sua clavícula, a dor lacerante enviando ondas de agonia por seu corpo já massacrado. Um grito engasgado escapou de sua garganta, mas logo foi silenciado pelo cabo de uma arma que se chocou contra sua mandíbula, rachando-a com um estalo.
Seus ossos cederam, sua pele inchou com hematomas roxos e negros.
Cada centímetro de seu corpo queimava, mas seus olhos dourados ainda brilhavam com uma centelha de desafio.
Mesmo quando seu corpo cedeu, caindo de joelhos sobre o chão áspero, ela se recusava a deixar sua vontade ser esmagada.
Os golpes continuaram, incessantes, brutais, cruéis.
Frederica, contudo, não gritou.
Ela não implorou.
Mesmo quando seu corpo já não respondia, quando a dor ameaçava consumir sua consciência, ela manteve os dentes cerrados, sufocando qualquer gemido de fraqueza. Seus dedos cravaram-se no chão, unhando a pedra, resistindo ao impulso de se entregar.
Outro golpe. Outro estalo. Mais dor.
Mas Frederica continuava lá, lutando, resistindo.
Se recusando a ser quebrada.
Mas o tempo passou. Os golpes não cessavam. Cada pancada acrescentava um novo tormento ao seu corpo fraturado. Seu peito arfava em espasmos, sua visão se turvava, e seu espírito, que antes parecia inquebrantável, começou a rachar.
A dor não parava.
A solidão a consumia.
As sombras não demonstravam piedade. Elas continuavam, implacáveis, esmagando qualquer resquício de resistência. Sua mente gritava para que aquilo terminasse, para que alguém a ouvisse, para que aquele sofrimento tivesse um fim.
Foi quando os soluços escaparam de seus lábios ensanguentados. Seu orgulho, antes tão sólido, cedeu sob o peso do desespero.
[Frederica: Garfiel... G-Garf...iel...]
Sua voz, antes firme, saiu como um sussurro quebrado.
Ela tentou chamá-lo mais uma vez, mas a dor sufocava suas palavras. Suas mãos tremiam ao se erguerem fracamente, como se pudessem alcançar algo inexistente, alguém que não estava ali.
[Frederica: Por favor... me ajude... Garfiel...]
As sombras não lhe deram resposta. Apenas continuaram. E, no meio de sua agonia, Frederica percebeu a verdade cruel: ninguém viria. Seus olhos marejados se fecharam, o gosto amargo da derrota queimando sua língua. E, então, ela gritou. Um grito de pura dor e desespero, ecoando pela escuridão infinita de seu tormento.
7) Meili.
A escuridão era densa, sufocante. O cheiro de ferro e podridão impregnava o ar úmido da masmorra. Meili, caída no chão de pedra fria, sentia o sangue escorrendo quente por sua boca e nariz, um fluxo incessante que transformava sua respiração em um gorgolejo sufocante. Cada tentativa de inspirar era um desafio cruel, como se algo estivesse puxando o ar para fora de seus pulmões, negando-lhe até mesmo a dignidade de um último fôlego tranquilo.
Ela tentou se erguer, os braços fracos tremendo sob seu próprio peso, mas seus joelhos cederam e seu corpo despencou de volta ao chão. Um som molhado ecoou quando seu rosto encontrou o piso sujo, o sangue se espalhando ao redor dela como uma poça carmesim grotesca.
O gosto amargo e ferroso enchia sua boca, tornando cada tentativa de engolir um martírio agonizante.
Sua língua estava dormente, seus dentes rangiam entre si enquanto seu corpo era assolado por espasmos incontroláveis.
A dor aumentava, lancinante e cruel. Seu estômago revirou, contrações violentas rasgando seu interior como se mãos invisíveis estivessem arrancando suas entranhas. O vômito veio com violência, uma enxurrada vermelha jorrando de sua garganta. As contrações eram brutais, e cada nova golfada trazia consigo um pedaço de sua própria carne, dentes arrancados pela força brutal do que escapava de dentro dela. Sentia a pele de seus lábios se rasgando, sua boca transformada em uma ferida aberta, sua mandíbula doendo a ponto de quase se deslocar.
Lágrimas quentes se misturavam ao sangue que escorria de seus olhos, cegando-a com o líquido viscoso que pulsava como uma maldição.
A dor em seus globos oculares era insuportável, como se estivessem sendo perfurados por milhares de agulhas incandescentes.
O sangue pingava das órbitas, deslizando por suas bochechas e caindo em pequenas gotas na poça escarlate que se formava ao seu redor.
Suas orelhas zuniam, e um som abafado e ensurdecedor tomava conta de sua mente, acompanhando o líquido quente que escorria por dentro delas.
[Meili: Alguém... me ajude...]
Sua voz saiu como um sussurro engasgado, misturada com sangue e desespero.
Mas a única resposta foi o eco fraco de sua própria voz morrendo na escuridão.
Ela se arrastou pelo chão, as unhas quebradas tentando agarrar algo, qualquer coisa que a salvasse dessa dor insuportável.
Mas não havia ninguém ali.
Seu peito subia e descia em arquejos sufocados, o pulmão queimando como se estivesse prestes a se liquefazer junto com o resto de seu corpo. O sangue não parava, escorrendo em fluxos contínuos por cada abertura possível. Sentia-se afogando, mas não havia água. Apenas o peso de sua própria vida se esvaindo contra sua vontade.
Seus dedos, outrora ágeis e firmes, agora estavam fracos, trêmulos, incapazes de segurar qualquer esperança de fuga. Suas unhas quebradas estavam cobertas de sangue, e cada movimento de seus membros parecia exigir um esforço impossível. As dores nas articulações a faziam querer gritar, mas sua garganta já estava destruída pelo vômito incessante.
Ela não sabia quanto tempo havia passado.
Segundos? Minutos? Horas?
O torpor tomou conta de seus membros, e a dor se tornou uma entidade distante, como se já não pertencesse a ela. Seu corpo ainda tremia com espasmos involuntários, mas sua mente começava a se entregar à escuridão que a envolvia. A morte parecia uma promessa, um alívio cruel que se aproximava lentamente, brincando com sua agonia antes de finalmente reivindicá-la.
Mas o tormento ainda não havia terminado.
Seu estômago se contraiu novamente, mais forte do que antes. O espasmo brutal a fez arquejar, e um rugido gorgolejante escapou de seus lábios. Seu corpo inteiro se arqueou, cada músculo se contorcendo em uma tentativa inútil de expulsar algo maior, algo mais profundo. O sangue jorrou como uma cascata de sua boca, respingando pelas pedras frias, e então veio algo mais. Uma massa pulsante emergiu de sua garganta, se esticando dolorosamente por seus lábios partidos. Sua visão turva captou um borrão avermelhado pendendo de sua boca, preso apenas por um fio de carne retorcido.
Era seu próprio coração, ainda batendo fracamente, os últimos vestígios de sua vida oscilando entre a existência e o fim absoluto.
A dor era insuportável. Uma agonia além da compreensão humana. Meili tentou respirar, mas não havia mais pulmões para expandir. Seus olhos vidraram, suas mãos tremeram uma última vez. O coração pendurado em sua boca deu um último e fraco pulsar antes de finalmente parar.
Então, finalmente, o silêncio.
Mas não foi o fim.
Meili abriu os olhos.
A pedra fria sob seu corpo, o cheiro de ferro impregnado no ar. O gosto amargo do sangue já estava presente em sua boca antes mesmo que ela se movesse. O terror tomou conta de sua mente quando ela percebeu onde estava. No mesmo lugar. No mesmo inferno. Ela tentou engolir o grito que subia por sua garganta, mas não teve tempo. O espasmo retornou, seu estômago revirando de maneira violenta. O sangue voltou a jorrar, seus pulmões arderam, e a tortura recomeçou.
As mesmas dores, as mesmas contrações brutais, o mesmo sofrimento sem fim.
Meili estava presa.
Condenada a morrer.
Para sempre.
8) Petra.
Petra não entendia o que estava acontecendo. Ela tinha acordado alguns minutos atrás para tentar ir se hidratar, mas então começou a ouvir gemidos de dor vindos do quarto de Frederica quando estava saindo. E a pequena empregada entrou para ver sua mentora contorcendo-se em dor. Sem entender nada ela correu.
Em busca da primeira pessoa que pensou que poderia ajudá-la, Emilia. Cujo quarto ficava mais próximo na mansão. Só que ao entrar, ela viu-a quase no mesmo estado, contorcendo-se, babando, chorando, sem conseguir se mover.
Ram. Roswaal. Otto e Garfiel. E ela teorizou que Meili também, por algum instinto.
Todos eles estavam da mesma forma. Contorcendo-se, babando, chorando, alguns, como o ex-comerciante, vomitando com o que parecia ser uma dor excruciante desconhecida. Algo estava acontecendo naquele momento, algo muito sombrio.
Por isso seu pensamento correu para outras duas figuras: Subaru e Beatrice. Os únicos dois que ela não tinha visto até o momento, por preocupação pelos outros.
Agora ela corria desesperadamente pelo corredor.
Se fosse algum tipo de ataque mental que estivesse acontecendo contra todos do Acampamento, menos ela, talvez fosse um ataque contra figuras conhecidas anteriormente a sua entrada no grupo. Faria sentido. Mas também era estranho para Petra não ter visto Clind ou Annerose naquela noite, como se tivessem sumido. Só que seu foco estava na dupla de cavaleiro e espírito. Caso não tivessem sido afetados, eles poderiam ajudar a cuidar e salvar os outros que estavam sendo atacados naquele momento.
Quando ela chegou na porta do quarto, ela abriu-a rapidamente.
[Petra: Suba—— UURGH!!!]
Sem ter tempo para terminar de chamar o nome do cavaleio de cabelos negros, ela caiu no chão vomitando. Vomitando uma quantidade gigantesca de bile. Caindo instantaneamente no chão, contorcendo-se, passando seus braços em sua barriga enquanto ela sentia tudo o que estava dentro de si sendo expelido para fora.
O cheiro. Um cheiro horrível de lama, sangue. Aquele cheiro de morte, aquele cheiro parecendo vir de uma existência pútrida, aquele cheiro que infiltrava-se no seu nariz e ia diretamente até seu cérebro e coração para apertá-los como mãos com garras. Fazendo-a vomitar de nojo. Mas não só bile, como aquilo o que comeu, como sangue junto, e a fazendo chorar de dor, desespero,medo, ao mesmo tempo que sua bexiga se soltava.
Deitada no chão, a pequena empregada poderia ser vista contorcendo-se, tentando formar algum pensamento coerente. Deitada sobre seu próprio vomito, baba, sangue, lágrimas e urina. Deitada sentindo uma dor gigantesca somente pelo cheiro que entrava em sua narina, sobrepondo o cheiro de todos os líquidos que ela mesmo estava expelindo.
Só que sua atenção voltou quando ouviu sons de passos. Passos que se aproximavam pouco a pouco, enquanto ela viu um par de pés na sua frente.
[#####: Que interrupção... patética...]
Olhando para cima com o resto de suas forças, ela pode ver a figura. Não era Beatrice. Foi isso que sua mente percebeu instantaneamente, porque ela não aceitaria mesmo que alguém proclamasse ser. Mesmo tendo sua aparência, era diferente; Pequena, sua pele branca agora parecia levemente acinzentada, seus cabelos estavam soltos e tinham a cor de loiro com prata, seus olhos estava escuros com sua borboletas de cor ametista, usando agora sobre seu corpo um pano escuro semi-transparente que dava para ver parte de seu corpo.
[#####: Interromper o tempo com nosso amado... irritante...]
Nem sua voz era a mesma, parecia uma mistura de duas vozes para formar uma nova.
Dor. Além da dor que sentia além daquela que já estava sentindo ao entrar no quarto. Eram dores causadas por golpes, pois ela podia imaginar o que estava acontecendo consigo naquele momento. Dores de chutes.
Aquela figura estava chutando-a.
Chutes na barriga, chute no peito, chutes no rosto. Aquela figura golpeava-a sem pudor, golpeava-a sem parar suas intenções de acertá-la até que estivesse satisfeita. E aquela figura, apesar de pequena, era forte. Cada chute que ela dava quebrava seus ossos, ossos que rasgavam sua carne e perfuravam seus órgãos, fazendo-a vomitar e engasgar ainda mais com seu sangue.
Ela ainda estava consciente no fim.
[Petra: Pai... Mãe... socorro... Subaru-Sama... socorro... Frederica... nee-sama... socorro...]
Seus pensamentos enquanto fechava lentamente seus olhos, soltando seus suspiros finais. Petra implorava para que alguém salvasse-a daquele terror, daquela dor. Mas não adiantava. Ninguém chegava, ninguém apareceria, nem mesmo a figura do rapaz de cabelos negros deitado na cama se levantava.
Ela desesperadamente tentava se agarrar na sua vida.
Mas não adiantava. Inevitavelmente seus olhos fechava-se, até ela fechá-los por completo.
Escuridão.
Petra abriu seus olhos e se sentou em sua cama, relaxada. Por algum motivo quando acordou; ela sentiu-se calma, relaxada, como se tivesse acabado de despertar de um pesadelo horrível para uma bela realidade. Fugindo do desespero para segurança. E isso a fez suspirar, abrindo um pequeno sorriso.
Mesmo que não se lembrasse do que tinha visto enquanto dormia, ela sabia que era um pesadelo. Um pesadelo terrível que ela não queria vivenciar novamente mesmo que não soubesse que pesadelo tinha sido aquele.
E o mais estranho... era que a pequena empregada agora sentia nojo quando ficava perto do Grande Espírito Beatrice, sentindo náuseas. Mas ela não sabia explicar.
Como ela não sabia explicar porque todos estavam cansados... e com medo.
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