1) Subaru.
Ele estava sentado. No canto de um lugar estranho, um quarto. Esse lugar para onde ele tinha sido arrastado quando foi resgatado da sua situação na Capital... uma situação em que tinha sido jogado sem ter a chance de se preparar... como em várias outras situações. Parte da vida de Subaru nesse mundo.
[Subaru: Por que...?]
Ainda derramando algumas lágrimas, ele ainda soltava alguns pequenos soluções de tristeza. Pensativo com tudo o que tinha acontecido em questão de... Horas? Dias? Semanas? Na sua percepção por causa do Retorno pela Morte, sua habilidade que ganhou ao ser trazido para esse novo mundo. Um poder que o permitia retornar no tempo toda vez que ele morria. E isso aconteceu com ele algumas vezes, sete vezes antes da Capital.
Mas então vinte vezes depois da sua chegada na Capital, depois de ser abandonado por Emilia. E agora ele sentia todas as dores de pouco tempo atrás. Pois mesmo depois de senti-las “dias atrás”, ele ainda sentia-as em seu corpo. Sentia cada uma delas.
O quarto estava mergulhado na escuridão.
Apenas a fraca luz da lua atravessava as frestas da janela, pintando sombras pálidas pelo chão de madeira. Subaru estava sentado no canto, as pernas dobradas contra o peito, os braços envolvendo o próprio corpo como se pudesse se proteger do frio que não existia ali.
Mas em sua mente, o frio era real.
Ele podia senti-lo.
Um vento gelado que rasgava sua pele como lâminas afiadas. O toque implacável da geada, subindo por suas pernas, envolvendo seu corpo, consumindo-o centímetro por centímetro. Sua pele endurecia, tornando-se quebradiça. As fissuras vinham logo depois, rachando sua carne como vidro trincado. O sangue, antes quente, agora era um rio imobilizado dentro dele, transformado em um cristal escarlate que se expandia, forçando seus vasos até que se rompessem. Seus ossos estalavam dentro do corpo, esmagados pela pressão do gelo crescente. Cada órgão, cada músculo, cada nervo, congelado em uma prisão de dor sem fim. Ele tentava gritar, mas o ar em seus pulmões também estava se tornando gelo.
Seus olhos, arregalados, testemunhavam a própria morte refletida na sombra imponente diante dele. Puck, o grande espírito, olhava sem emoção, sem hesitação. Subaru não sabia se foi o medo, a tristeza ou o desespero que congelou sua alma primeiro, mas ele lembrava. Ele lembrava de não morrer.
Não de imediato.
Seus sentidos permaneceram ativos, mesmo enquanto seu corpo se tornava uma estátua de gelo. Sua consciência se recusava a partir, mantendo-o preso no instante final por um tempo incalculável. Ele estava lá, ainda ali, incapaz de respirar, incapaz de se mover, incapaz de gritar. Apenas esperando.
Esperando pelo fim que nunca vinha rápido o suficiente.
Agora, no silêncio do quarto, seus dedos se cravavam em seus braços, tentando arrancar a sensação de seu próprio corpo. Mas o frio nunca desaparecia. Ele podia sentir o gelo ainda ali, em algum lugar dentro dele, como se sua alma tivesse sido marcada por aquela morte. A respiração de Subaru estava trêmula. Seus olhos estavam arregalados, fitando o nada, enquanto seu coração batia contra suas costelas, como se temesse que a qualquer instante Puck surgisse da escuridão para fazer tudo recomeçar.
Ele fechou os olhos e tentou convencer a si mesmo de que estava seguro.
Mas o frio nunca ia embora.
E então veio a fome.
Não sua, mas da Baleia Branca.
A Baleia que o devorou quando ele tentou confiar em Otto, quando Rem se sacrificou por ele. Não uma, mas três vezes. Todas as três vezes ele ainda pensou que a próxima seria diferente com aquele comerciante que ele acreditava ser uma boa pessoa — “Morra, Natsuki-San!” — e que o ajudaria, se estivessem em uma situação diferente. Se lembrava de como se arrastou desesperadamente, como lutou para sobreviver, só para a grande fera pegá-lo em sua boca, para devorá-lo.
O som de carne rasgando, ossos quebrando, ecos de um grito sufocado dentro da monstruosa garganta da fera. Subaru lembrou-se da dor lancinante quando as presas afiadas o perfuraram, dilacerando músculos e nervos como papel frágil.
Ele não foi mastigado de uma vez.
Não.
A pressão esmagadora dos dentes o segurava enquanto ele sentia sua carne se despedaçar, pedaços de si próprio sendo arrancados e triturados.
Ele gritou — mas sua voz foi abafada pela enxurrada de saliva espessa que o envolvia, misturada ao próprio sangue. Seu peito arfava, tentando desesperadamente puxar ar, mas apenas se afogava ainda mais naquele líquido viscoso e quente. Seu corpo se debatia, lutando em meio ao aperto sufocante da língua da fera, que o arrastava mais para dentro, como se saboreasse sua miséria antes do fim.
Seus membros já não obedeciam.
Ele sentia os ossos esmagados, o torso dobrado em ângulos errados, a dor transbordando em cada nervo que ainda não havia sido arrancado. A escuridão o consumia, mas não rápido o suficiente. Ele queria que acabasse. Queria que a morte o levasse logo. Mas, assim como antes, sua consciência se recusava a partir.
No presente, Subaru ofegou, o gosto metálico do sangue ainda em sua boca, mesmo que ele soubesse que era só memória. Seu corpo inteiro tremia, como se sua carne ainda lembrasse da sensação de ser despedaçada e engolida.
Seus olhos se voltaram para as sombras do quarto.
O frio e a fome nunca iam embora.
E nem a rejeição.
Ele tentou pedir ajuda. Tentou confiar em outros.
Mas, em cada tentativa, encontrou apenas a lâmina, o fogo e a brutalidade.
A primeira foi Crusch.
Ele lembrava do olhar firme e inabalável dela, do som cortante de sua lâmina atravessando o ar antes de sentir a dor abrupta e quente no pescoço. O sangue jorrou de sua garganta aberta, o ar se esvaindo de seus pulmões enquanto caía de joelhos. Ele tentou falar, tentou protestar, mas apenas bolhas vermelhas escaparam de seus lábios. O mundo girou, a visão escureceu e o frio da morte o abraçou mais uma vez.
A segunda foi Priscilla.
Seu sorriso cruel, a dança elegante de sua lâmina. Subaru sentiu sua carne sendo cortada, a dor alastrando-se por seu corpo como fogo—e então veio o verdadeiro fogo. As chamas envolveram sua pele, consumindo-o vorazmente. Ele gritou, se contorceu, mas não havia escapatória. O cheiro de carne queimada encheu o ar, e sua visão foi tomada por um brilho alaranjado antes da escuridão final. O calor foi insuportável, mas a parte mais cruel era saber que, mesmo queimando vivo, ele ainda teve tempo para sentir cada nervo ser consumido, cada músculo ser reduzido a cinzas.
A terceira foi Mimi.
Ela não queria matá-lo. Mas a força de seu golpe foi demais. O impacto esmagador contra sua cabeça fez sua visão explodir em branco, e então ele foi lançado para trás, colidindo contra a parede com um estalo seco. A dor foi instantânea, mas a morte foi rápida. Um segundo de consciência antes da completa escuridão. Mas, naquele segundo, Subaru ainda sentiu o peso da rejeição. Ele não foi morto por ódio ou vingança. Apenas por descuido. Apenas por ser insignificante.
Agora, Subaru estava ali, vivo, mas não inteiro.
A cada piscada, ele sentia tudo de novo e de novo. O frio que matou-o lentamente e quebrando-o como vidro. Os dentes da enorme fera que esmagaram seus ossos e rasgaram sua carne. A lâmina de Crusch cintilava. O fogo de Priscilla ardia. O impacto do golpe de Mimi ecoava.
Ele agarrou sua própria cabeça, os dedos cravando-se nos cabelos, tentando arrancar as memórias, arrancar a si mesmo daquele tormento.
Mas as mortes nunca iam embora.
Elas sempre voltavam para ele, arrastando-se para dentro de sua mente como espectros famintos, sussurrando que, não importa quantas vezes ele tentasse, o fim sempre seria o mesmo.
Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição. Frio. Dor. Rejeição.
Calor.
Ele sentiu calor em seu corpo. Nas suas mãos, na sua cabeça. Uma sensação de calor intensa. Não um calor que o queimaria como com Priscilla ou da lâmina de Crusch ou os dentes da enorme Baleia que o mastigou três vezes.
Era um calor gentil. Um calor que começou afastou todas suas dores, mas elas ainda persistiam.
[???: Não se machuque, por favor.]
Uma voz angelical pediu com gentileza para o jovem de cabelos negros, e quando a dor fantasma de suas mortes sumiram, naquele momento ele sentiu uma pequena dor diferente. Suas mãos foram tiradas de sua cabeça, guiadas pelas pequenas mãos gentis daquela que falou agora pouco, fazendo-as baixar até entrarem no seu campo de visão — já que ele ainda olhava fixamente para baixo desde que se pôs naquele lugar. Viu um pouco de sangue. A dor que tinha sido causada por ele colocar força demais em seus dedos para se cravarem na pele de sua cabeça.
Tinham só algumas gotas de sangue nas pontas de seus dedos, que foram esfregados e limpos por aquelas mãos, que se mancharam por conta disso. Seus olhos se levantaram um pouco. Vendo-a por completo na sua frente.
Pandora. A mulher que tinha o levado até aquele lugar.
Quando estava naquele canto do quarto, ele não tinha percebido a chegada dela. Primeiro viu seus pés e pernas, então o pano que a cobria e então seu olhar subiu para encará-la olho no olho. Olhos negros encontrando-se com os azuis dela. Uma mulher de beleza descomunal, uma beleza que faria qualquer um confundi-la com uma espécie de deusa.
[Pandora: Você ainda sente dor, não é? Que terrível. Não deveria sofrer mais com isso.]
Sua voz era quase ou tão bela quanto sua aparência era para todas as pessoas que ouvissem-na, para completar a beleza que ela tinha. E as palavras também eram doces. Mas Subaru não era como os outros: Mesmo que a achasse bonita, ainda era claro sentir apreensão quanto a ela, e mesmo ao ouvir suas palavras, o conforto que elas trariam a qualquer outro não trouxeram o mesmo conforto para ele.
Um pequeno puxão em suas mãos vindas das mãos da mulher que possui a figura de uma divindade por sua beleza. Ele se levantou do canto desse quarto desconhecido.
Sendo guiado gentilmente do canto até perto do centro, ele sentou-se na cama do quarto. Tal quarto não era tão diferente daquele na Mansão Mathers. E só a sua percepção disso, o fez estremecer novamente. As memórias não só das mortes na Capital quanto no mês passado, em sua primeira semana, ele tinha sido morto. As dores se misturaram em sua cabeça.
Parecia que a cada novo instante naquele lugar, as dores de cada morte pareciam voltar e se misturar para gerar um novo nível de dor que ele não sentiu antes. Queimado em fogo, como queimado pelo frio intenso. Cortado, esmagado. Torturado e abandonado. Seu corpo sendo destruído intensamente várias vezes, sem parar. Uma dor fantasma percorrendo todo seu corpo em uma loop incessante.
Até que essas sensações sumiram.
As sensações de dores, as sensações das mortes, as sensações horríveis sumiram instantaneamente naquele único momento. Tudo sumindo para dar espaço a novas sensações. Sua primeira percepção foi algo pressionado contra seus lábios de maneira forte, mas casta, e o calor que veio de sua boca e começou a descer, instaurando-se em seu corpo com uma sensação de queimação poderosa que afastou as dores.
Estase. Uma sensação que só poderia ser descrita dessa forma. Estase, que anestesiou todas as dores que sentia anteriormente. Fazendo-as sumir.
Um beijo.
Aquela pequena figura de pele branca com uma aura divina estava beijando aquele jovem garoto de cabelos pretos. Ele estava sentado na cama, suas mãos depositadas no acolchoado e nos panos, apertando-os levemente pela intensidade da nova sensação que sentia. Enquanto a figura divina estava ajoelhada no colchão no ponto aberto entre as pernas dele, segurando seu rosto com ambas as mãos, seus lábios pressionados contra os deles com intensidade.
Mas não só esse sentimento de estase estava percorrendo-o, não só um sentimento de calma estava afastando as memórias e sensações horríveis. Era outra sensação. Um calor intenso que percorreu-o da sua barriga para baixo, para sua cintura, então para sua virilha. A sensação que ele reconheceu levemente no passado; mas agora de forma diferente pelo estimulo que estava recebendo.
Excitação, uma forte excitação que misturada ao estase deixa-o cada vez mais perdido, inebriado. Bêbado pelo sentimento quente, pela força de tal chama começando a arder dentro de si. Ele começou a se perder. Pois não percebeu quando tinha retirado suas roupas e aquela que cobria a mulher, nem quando tinha deitado-a de costas contra a cama e ficou sobre ela, ainda encarando-a nos olhos.
Deitada contra o colchão, ela segurava as mãos do jovem que cobriam as suas.
Com movimentos fortes, ele fincava-se dentro dela, com força, uma protuberância na parte inferior dela por seu membro enfiado na entrada dela, acertando o interior dela várias vezes. Os olhos deles fixados um no outro sem perder o contato visual. Na face da Bruxa estava um sorriso, sua boca aberta e suspirando fortemente, as bochechas vermelhas intensamente, uma expressão feliz.
[Pandora: Dentro... por favor... meu amado.]
Ao pedido dele, ele novamente pareceu se desligar em sua excitação e estase pelas sensações que sentia naquele momento. Em um último acerto, ele explodiu dentro dela. Pintando o interior dela com um jato. Os dois se encararam por alguns instantes, ofegantes, ele encarando-a com uma face indiferente e neutra, enquanto ela encarava-a com um sorriso satisfeito e uma expressão feliz, complementada pelo vermelho de suas bochechas. E permaneceram assim durante alguns instantes, até eles se beijarem novamente e continuarem o ato.
Continuaram por horas. Às vezes ele a deixava deitada de costas, ou às vezes de quatro no colchão — algumas ela deixava as forças de seus braços sumirem e ela cair de cara com a bochecha espremida contra os panos. Outras ele agarrava-a e fazia ficar por cima, ajudando com os movimentos de subida e descida, no inicio, para ela acostumar-se com o tamanho do membro de seu amante que deixava uma protuberância em seu pequeno corpo. Todas as vezes ele terminava o ato soltando tudo dentro dela sem que a Bruxa tentasse evitar tal ato.
Quando ela precisasse de algum tempo, ela sairia de cima dele e o deixaria usar boca da forma que quisesse. De uma maneira violenta, ele continuava descarregando suas frustrações nela, descarregando suas energias em seus lábios, na sua boca, até que ela voltasse para posição de antes. Mas não importa o quão violenta ou desesperadamente ele a “atacasse”, ela não se feria, o fazendo agir mais e mais sem restrição.
Afundando-se mais na luxúria que queimava seus corações, como unia seus corpos em um.
E pouco a pouco as memórias e as dores que circulavam seu corpo desapareciam. Tudo o que fazia-o sofrer ainda começaram a desaparecer, dando espaço para aquela sensação de euforia. Uma sensação que parecia afundá-lo; afundá-lo em calor, carinho, intensidade, prazer e amor. Aquela sensação impossivelmente deliciosa que o fazia querer se afundar mais e mais, ao ponto de nunca mais querer sair.
Depois que terminaram, eles estavam deitados juntos na única cama daquele quarto...
O corpo da pequena mulher estava sobre o do homem, sua pele branca, perfeita, levemente vermelha e suada pelo esforço que tinha feito junto dele. E pelo corpo do homem estavam marcas de mordidas, arranhões; só que sem nenhum resquício de dor. Naquela hora ambos pareciam compartilhar um mesmo sentimento: alivio.
Uma sensação que os permitia descansar juntos naquele quarto.
Enquanto ela acaricia o peito dele, ela dizia.
[Pandora: Eu te amo...]
Mesmo que ele não entendesse, aquilo fez aquele calor no seu coração expandir-se. Como se explodisse. Todas aqueles sentimentos, todas aquelas sensações, explodiram de uma forma intensa em seu coração. Como nas vezes que se encontrava com aquela figura ao morrer, com a mesma intensidade, com a mesa força.
Mas agora ele podia sentir isso diretamente em seu peito, em seu corpo de outra pessoa frente a si. Inebriado por aquela sensação, ele simplesmente abraçou-a, mas sem dizer nada.
Fechando os olhos, ele se permitiu dormir com aquela pequena figura sobre si.
2) Pandora.
Sua alma. Sua bela e radiante alma.
Na percepção dela, a pequena Bruxa conseguia ver tudo além de uma mera superfície como o rosto ou o corpo. Claro. Através dos olhos das pessoas ela era capaz de ver suas almas, ver o tipo de pessoas que elas eram em seu intimo. A Base, o alicerce, quem realmente eram no mais profundo de seus seres que moldavam na superfície. Mesmo os maus que tentavam esconder suas intenções da melhor maneira que podiam, não poderiam enganar seus próprios olhos que revelavam o que moldava sua existência pessoal.
Sujo. Nojento, corrompido. Horrível, terrível, enjoativo.
Seriam algumas das formas que ela descreveria a maioria, senão, todas as pessoas que ela conheceu durante quase toda sua vida desde que aprendeu a ler as pessoas, como também desde que começou a busca de concretizar seu objetivo. Tudo porque ela era incapaz de vê-los de uma maneira superficial e inferior como os outros seres desse mundo fazia. Pois ela é especial, por isso ela daria um tratamento especial, ao lê-los através de seus olhos, ver através do que realmente moldava cada pessoa.
E por esse motivo ela nunca sentiu nada por ninguém. Os vendo como seres inferiores sem importância para sua vida.
Porque ela era capaz de ver facilmente através de suas intenções o que realmente queriam. E todos eram animais que, na maioria, eram atraídos por ela, por sua beleza, por seu poder, entregando a ela tudo o que ela lhes pedia. Agindo simplesmente para atender aos seus desejos pessoais. E só aqueles que já possuíam a completude de seus seres pessoais, não agiam dessa forma. Como os dois na Floresta de Elior e a Santa da Espada, que ganharam um pouco de seu interesse, antes de descartá-los sem dar mais tanta importância para eles.
Mas só um no passado foi capaz de fazê-la sentir algo, seu amado.
Alguém cuja alma era sincera. Uma alma bela, honesta.
Seu amado tratava-a de maneira honesta, de maneira sincera. Sem se distrair por sua aparência como os outros sempre fizeram. Na frente dele, ela poderia ser honesta e ele não a trataria como se só ela tivesse a razão, pois se tivesse uma opinião, ele a trataria da maneira que bem quisesse. E sua alma era melhor do que a de todos que ela já tinha visto.
Mas... ele se foi.
Por culpa daquela que ela mais odiava. Por culpa daqueles que tiraram-no dela.
Por que?
Ela nunca encontrou uma resposta para tal pergunta, e com isso, aqueles reais sentimentos que brotaram no seu coração, diminuíram até se tornarem quase inexistentes. Quase sendo extintos. O que sobrava era somente seu desejo pessoal de concretizar aquilo que seu amado queria, pois se era o desejo dele, era o desejo dela, porque era o que ele queria e ela queria dar a ele tudo o que ele quisesse. Seu último desejo, o Selo.
Poderia não saber o que aconteceria, mas ela o abriria. E para isso usaria o Culto das Bruxas, o mesmo culto que seu amado fundou no passado.
Usando-os como as peças descartáveis que eram.
Eles não desejavam mais do que realizar seus desejos, usando aqueles ao redor para tal, então, por que ela não poderia fazer o mesmo, não é? Com essa linha de pensamento, ela reuniu aqueles que eram rejeitados pelo mundo. Aqueles que como seu amado não tinham mais nada além de si mesmos e os desejos pessoais que os guiavam. Os Arcebispos, seus Arcebispos, que poderiam fazer o que quiser se ainda permitissem ela realizar seus próprios objetivos, a missão de seu amado.
Assim foi-se até que...
Quando ela o encontrou novamente. Ela o encontrou novamente, e esse foi o momento de sua maior felicidade depois de tantas décadas e séculos. Pois enfim sentiu novamente aqueles sentimentos quase mortos reascenderem como uma enorme fogueira perigosa que queimaria tudo ao seu redor. Porque ela tinha reencontrado seu amado que há quatro séculos atrás tinha desaparecido por culpa daquela que ela mais odiava, a primeiro meio-elfo que ficou entre ela e seu amado.
E ela atenderia aos seus desejos, mas só aqueles que lhe fossem óbvios. E ele queria ser um herói para meio-elfo Emilia, quem ela lembrava bem.
Por isso deixou seu Arcebispo realizar seu ataque. Pois se ele queria salvá-la, queria se tornar seu herói, descartar a peça da Preguiça não seria problema para ela. Era por seu amado! E esperava que ele fosse realizar tal coisa. Mas... aconteceu. Uma a uma, morte a morte, ele estava tentando concretizar aquilo o que queria, mas ninguém ao seu redor ajudava-o, ou ofereciam-no realmente uma forma de superar seu desafio.
Sua alma pura começando a cair no desespero.
Doeu em seu coração vê-lo triste, vê-lo caindo, vê-lo se machucar, vê-lo sangrar e vê-lo morrer. Mas ela sabia que deveria realizar e dar aquilo o que ele queria. Só que ela também tinha seus desejos; o desejo de ser vista por ele, ser aquela que o salvaria, ser quem o ajudou a realizar tudo aquilo o que desejava e ter o que queria.
Por isso ela quebrou seu plano original. Aparecendo na frente dele, oferecendo sua mão para seu amado.
E ele aceitou-a.
Foi outro de seus momentos de maior felicidade, pois seu amado tinha aceitado-a e ela poderia agir da maneira direta que ele queria que ela agisse. Oferecendo seu coração. E ele pediu para que ela salvasse aquelas pessoas, aquela meio-elfa que lembrava a quem mais a Bruxa odiava. E ela o realizou por ser o desejo verdadeiro dele. Mas em troca o tomou. Como seu Arcebispo, o Arcebispo da Vanglória que serviria em seu culto.
Um desejo pessoal que ela ficou feliz de ser realizado, pois isso o reivindicaria como seu. Somente, SEU. Algo que ela estaria disposta a retribuir, sendo somente dele. Como sempre quis e como sempre deveria ter sido — na sua percepção.
Ela e seu amado estavam juntos.
Ela não se importava com mais nada depois disso.
Obviamente, decepcionou-a ao perceber que seu amado não lembrava dela ou dos acontecimentos. Guiando-se apenas por seus próprios instintos até o momento. E apesar da decepção de não preservar-se nenhuma lembrança que compartilharam antes, ela ficaria mais do que feliz em refazer e criar novas lembranças com ele. Lembranças deles! E para começar, ela precisou mostrar para ele como confiava nele.
Emprestando-lhe seu poder para agir da maneira que quisesse.
Pareceu surpreendê-lo que ela estava oferecendo tal poder, tal chance para mostrar-se. O que a levou a sentir-se irritada. Não com ele, obviamente. Nunca que ela se irritaria com ele. Mas sua irritação seria pelo mundo, ou as pessoas que o faziam duvidar de suas intenções boas para com seu amado — mostrando o quanto era difícil para ele confiar nos outros.
Uma das partes mais difíceis foi-lhe explicar sobre o Culto das Bruxas, como fazê-lo lidar com os seus Arcebispos. Mas ele o fez por ela. E isso a deixou feliz, com seu amado disposto a atender seus desejos caso ela lhe pedisse alguma coisa, mesmo que difícil. Por isso que ela deixou-os a mercê deles.
[Pandora: Eu não ligo para eles. São peças para concretizar um objetivo antigo, um objetivo que não ligo mais desde que encontrei você. Quer os descartar? Descarte-os. Quer os manter para os usar? Os use. São peça, brinquedos, minhas, e se minhas peças eles são, são suas também para que sinta-se livre para usar. Meu amado.]
Suas palavras naquele momento, ditas naquele tom doce inebriante que afundou-o em uma felicidade estranhamente reconfortante. Ele aceitou. Ainda os manteria, ainda os usaria, pois não descartaria o trabalho que a Bruxa teve em adquiri-los como em usá-los. E tal consideração encheu-a novamente de felicidade.
Em tão pouco tempo, ele já tinha compensado aqueles dias perdidos.
Na percepção da Bruxa pálida, seu amado com ela, atendendo aos seus desejos e preocupando-se com ela, era um motivo de felicidade que ela não saberia explicar. Mas mesmo sem conseguir explicar, ela expressou-se para ele quando seu amado perguntou o porque ela o tratava com tanto carinho:
[Pandora: Eu te amo.]
E só essas palavras eram capazes de aquecer seu coração, como acalmá-lo.
Só que certa vez, com coragem, alguém questionou-a sobre o que ela sentia por ele. Regulus foi quem fez tal pergunta, que irradiou-a de um sentimento de animação para demonstrar o que sentia por seu amado... como raiva pela audácia do Arcebispo da Ganância em questioná-la sobre algo pessoal.
Tais palavras foram proferidas em um tom doce doentio.
[Pandora: Os olhos... Aqueles que são incapazes de vê, o acham assustadores... Mas os olhos são a janela da alma! E eu pude contemplar a dele. Uma alma que enfrentou o mundo, que enfrentou o desespero, que enfrentou o fim. Mas que conhece o amor. O amor de todas as formas. Tal amor que desejo para mim... Desejo ser consumida pro aquele olhar. Desejo que ele me observe, mais do que como observa os outros, observe-me como se fosse o único ser deste mundo, assim como o vejo desta mesma forma. Quero ser consumia e o consumir para que nossas existências se tornem um. Duas vidas, duas almas, duas existências. Juntas. Desejo somente ele, pois desejar algo mais não é necessário para mim.]
Os olhos brilhando intensamente, um sorriso radiante, complementando sua aparência quase divinamente impossível. Com o vento daquele momento deixando-a em uma cena bela, que poderia fazer os outros verem-na como uma figura venerável.
Mas tal expressão só faria pessoas normais vomitarem, enojadas.
Faria as pessoas desviarem o olhar daquela expressão tão enjoativamente doce e inocente, colocarem as mãos sobre suas orelhas para não ouvirem o tom daquela voz como as palavras.
Regulus ouviu aquilo. Mesmo com sua Autoridade ativa, ele juraria que suou, como também sentiu enjôo e medo daquela mulher que poderia facilmente naquele momento matá-lo, se assim desejasse, mas que não o fazia em nome de seu amado.
E quando ela sumiu, ele ficou aliviado.
Pois nenhum deles queria se enfrentar. Regulus por não querer desviar-se de seu caminho satisfeito, e Pandora por não vê-lo como valendo a pena ser exterminado sem seu amado concordar com tal ato.
Mas ficou compreensível...
Pandora amava Subaru incondicionalmente, ainda mais depois que ele desistiu de dedicar-se a meio-elfo, para dedicar-se a ela. Pois ele escolheu ser dela, então ela seria dele — coisa que ela sempre foi antes mesmo dele ter noção para tal.
Se ele escolhesse queimar o reino? Ela daria a faísca para tal.
Se ele escolhesse matar todos os que estivessem em seu caminho? Ela daria as armas para tal.
Se ele escolhesse viver uma vida simples e comum? Ela o seguiria e garantiria que nenhum problema.
Se ele escolhesse destruir sua alma? Ela a reconstruiria e amaria até recuperá-la até sua pureza original depois que ele terminasse o que queria.
Se ele escolhesse exterminar o mundo inteiro para saciar sua própria vontade? Ela o seguiria, destruiria, esmagaria, aniquilaria, queimaria, congelaria, exterminaria tudo aquilo que estivesse no caminho de seu amado até não existir mais nada.
Pois ela tinha encontrado sua felicidade ao ser a única coisa que importa para seu amado. Pois ela tinha conquistado o coração de seu amado para si e tinha o feito ver o quão melhor ele era em comparação a todos os vermes e insetos na Terra.
Ela o abraçou e ambos juntos se afundariam nela.
Na vaidade, na bazófia... na Vanglória.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.