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História Ruídos de Saturno - Espaço entre nós


Escrita por: souhamucek e Jeleninhaz

Notas do Autor


Hey, gente! Jéss aqui, mais uma vez.
Demoramos uns dias a mais, mas aqui está esse capítulo quentinho, recém tirado do forno 💜
Devo confessar que é um dos meus preferidos, e com certeza da Lali também.
Eu tava super bloqueada recentemente, então praticamente não ajudei com ele (chorando rios), vou super tentar compensar no próximo.
Tenham uma boa leitura ;)

Capítulo 8 - Espaço entre nós


Fanfic / Fanfiction Ruídos de Saturno - Espaço entre nós

Verbos irregulares. Por que a língua inglesa tem que complicar algo simples? Se tudo fosse regular, ou seja, padronizado, eu não estaria confuso agora. Não é que esta seja a coisa mais complexa do mundo, mas preciso decorá-la. Não é simplesmente ler e compreender; preciso reler e, depois, mais uma vez, às vezes, algumas a mais e nada. Parece que existem palavras que não entram na minha cabeça. Apenas. Já aceitei que viverei sem elas. Basta a minha mãe aceitar, no entanto.

Seus olhos vigiam a minha caneta sobre o papel. Minha respiração é vagarosa como um satélite a pousar na lua. Dá para perceber que estou confuso, quero dizer, eu perceberia. A tinta azul fica no mesmo lugar em que a coloquei. Não tremo nem borro. Minha mão se mantém intacta, enquanto o meu cérebro revira todas as palavras lidas há pouco. Elas estão ali, consigo achá-las, porém, por algum motivo, estão completamente embaçadas.

Se um pequeno ser habitasse a minha mente, ele estaria de pé, diante de uma paletada enorme, com um texto na mão totalmente distorcido. A testa franziria, o cenho se enrugaria. Empurrando o óculos para trás, tentaria ler. Todavia, mesmo com a tentativa, as palavras alinhadas estariam invisíveis. O medo do homem seria real: o papel estaria em branco.

Vazio.

Não há nada do que li guardado no interior de minha cabeça.

Involuntariamente, minha mão se despede da caneta e fisga o pingente prateado no pescoço, levando-o de um lado para o outro através da corrente. A mesma translação de Saturno ao redor do sol é a que sinto meus pensamentos fazerem entorno de meus medos.

— Shawn, onde você está? — as palavras de minha mãe fazem com que o rapaz suma, bem como as palavras imaginárias no papel fictício.

Embarco na minha nave espacial e retorno ao planeta de minha origem.

— Aqui, mamãe — consigo formular uma frase —, mas... lhe confesso que estava em Saturno.

— Você sempre está lá. — assinto, dando-me por vencido.

— Prometo... prometo durar aqui um pouco mais.

Minha mãe solta uma risada doce. O sorriso dela é, sem dúvidas, a coisa mais bonita desse mundo. Talvez, a minha parte preferida na Terra seja estar perto dos meus pais. E da Iris. Ela também me faz bem.

— Não precisa, acho legal ter um filho interessado no espaço. — desta vez, ela quem me arranca um sorriso.

— Mesmo? — concorda com a cabeça. — Que bom, porque gosto de ser... assim. Ma-mamãe, sobre o exercício, por que esses malditos verbos não podem ser iguais aos outros? É muito mais simples só acrescentar "ed" no final da palavra. Muito mais.

— Shawn, você é como um verbo irregular. — arregalo os meus olhos. — A maioria dos garotos da sua idade gosta de futebol, festas... você não, o que lhe fascina é olhar as estrelas. — acompanho seu raciocínio. — Você não é como o padrão, certo? — assinto. — Isso não lhe torna um "maldito", apenas diferente.

— Está certa. Certa.

Sua mão longa e fina bate contra o livro. Largo o colar de imediato. Minha atenção é completamente sugada para o que faz.

— Agora, anote os verbos especiais no caderno para que os memorize. — incentiva-me.

— Pelo menos... pelo menos, "bet" e "beat" são mais fáceis e não mudam no passado. — ela ri, contudo concorda. — Prometo me esforçar mais, mamãe. Prometo.

— Okay, mas mais tarde. Agora está na hora da sua consulta.

Estranho o horário. Estávamos nos encontrando às tardes. O céu está rosado, um crepúsculo digno de fotos incríveis. Tão logo, o sol sumirá sob às montanhas e as estrelas polvilharão a escuridão que substituirá o tom de azul. 

Fechamos o material e seguimos para o edifício comercial onde fica o consultório. Como de costume, minha mãe me deixou na portaria e subi sozinho.  Estranhei, por conta do horário, a luz não extravasar a fresta da porta, entretanto, insisti em bater. Rapidamente, a psicóloga a abriu e deu um largo sorriso. Olhei para o breu parcial na sala e, sem questionar, entrei.

— Boa noite, Shawn! — diz ela, ainda a sorrir. — Como pode ver, hoje teremos uma consulta diferenciada.

Esforço-me para aparentar receptivo.

Ao entrar ansiosamente, desconhecendo a razão, espio de maneira atenta o consultório sob a penumbra. Há algo peculiar. Dr.ª Patricia, por sua vez, esclarece o que, de cara, eu havia percebido: um dos quatros cujos enfeitam a parede, o maior por sinal, foi removido. Aparentemente, para ceder espaço a uma grande televisão.

Observando como está encaixada no lugar da tela de Monet, percebo que o divã foi substituído por um sofá largo e a mesa da psicóloga precisou ser afastada para trás. A sala nem sequer parece com o consultório no qual estou acostumado a frequentar. O espaço diferenciado é confortável, apesar das mudanças.

— Concluímos que uma pequena alteração no ambiente seria o ideal para o que faremos hoje. — saindo de uma cozinha apertada, onde, por sempre vê-la fechada, julgava ser um banheiro, Iris explica, dando-me a oportunidade de observá-la pela primeira vez no dia.

Os cabelos loiros estão ondulados, ao contrário das outras vezes; ironicamente, eles me transmitem leveza. Suas pernas finas estão cobertas com uma calça preta justinha, e, ao invés de blusa, um enorme moletom cinza alcança a metade de suas coxas. Iris está confortável, muito mais plena do que das outras vezes. Acho que ela percebeu que, por mais que seja um trabalho, nossos encontros são amigáveis.

— Você já assistiu "O Menino do Pijama Listrado"? — indaga a psicóloga, e eu enrugo completamente a testa.

O que será isso?

— O ator deste filme é o mesmo do protagonista do qual assistiremos. — esboço compreensão. Ou quase. — Iris quem escolheu, chama-se "O Espaço Entre Nós".

— Gardner, a personagem, é a parte literal de você. Porém, enquanto você vivem em Saturno, ele é de Marte. — meus lábios surpresos se estendem em um sorriso.

— Gosto. Gosto de Marte.

Sentamo-nos lado a lado os três. A psicóloga na ponta, com sua fiel prancheta apoiada no braço do sofá; sua filha, em seguida, preencheu o meio; e eu me recostei no outro canto do acolchoado, flexionando as pernas e envolvendo-as com os braços. Acredito que a doutora se pôs distante de mim para que me transmitisse conforto ou ideia de que não estou sendo observado, mas, no fundo, sei que estou.

O filme é como Iris falou. Um garoto, nascido e criado em Marte, estuda elementos sobre a Terra e decide vir ao planeta. Exatamente como quero fazer com o protegido pelos anéis. No entanto, surpreendentemente, Gradner não se sente bem aqui, mesmo que ele tenha a presença de sua amiga Tulsa. Ele quer ficar, gosta do solo terráqueo, contudo, aqui não é o seu lugar.

Confuso.

Com todos os impasses, o marciano insiste em ficar aqui. Mas ele adoece! Isso não faz sentido, sua motivação em persistir na Terra é ficar perto de Tulsa. Eles têm uma conexão forte, acho que nunca tive algo assim com ninguém. Não me parece amizade, é além. Gradner deixa que esse vínculo desconhecido por mim lhe transborde, a permitir que eu veja um contato que nunca vi antes: o beijo, que estou acostumado a receber na testa, dado nos lábios.

Ao invés de dar ou receber a demonstração de carinho, simultaneamente os dois zelam um pelo outro. É sutil, curioso. Pode ser que tenha gosto; espero um dia descobrir o quão doce é uma conexão como esta. Talvez eu conheça. 

Analisando pelas semelhanças de minha vida e o filme, Iris se parece com Tulsa. Ela é minha parte sã. É provável que seja a melhor delas, se não for a única. Esta constatação me rouba um sorriso. Viro meu rosto para a estudante de astrofísica entretida com as imagens e observo quão imersa está na trama. Estou assim com ela.

Por algum motivo, encarar tão de perto os olhos azuis cristalinos de Iris me causa uma sensação estranha. É como se aquela cor me sugasse para dentro, com tamanha força ao ponto de eu não conseguir fugir. Parece magnetismo. A cada segundo, sinto-me mais próximo daquele olhar, mergulhado nas íris celestiais. Ela percebe meu fitar severo e migra os orbes para minha direção. Perco-me nas estrelas ali presentes, bem como nas frações de cor. Estamos a nos misturar. 

Castanho no azul. Azul no castanho. 

Sem que eu seja capaz de controlar os meus atos, permito que a precipitação me domine e elimino a pouca distância entre nossas bocas, encostando-as delicadamente, como Gradner fez no filme; e, de modo involuntário, elas grudam. Entre os meus pulmões, o coração pulsa desesperadamente. Não demoramos muito para nos separar, mas o toque breve é suficiente para que eu perceba a maciez de seus lábios e o gosto doce. 

Minhas mãos suam, e este é o momento em que percebo que, por todo esse tempo, eu não era só um cara fissurado pelas constelações; sou um cometa viajante por toda extensão do espaço. Os olhos de Iris não eram as estrelas, são os anéis de Saturno, o meu ponto de plenitude. Somos corpos celestes. 

Assim que nossas bocas se separaram, caí em mim. Minhas bochechas, comumente rosadas, pelo calor temporário, aparentam um tanto mais avermelhadas. Iris sorri, como se nada tivesse acontecido. O desespero do vexame me alcança, junto a culpa tamanha. É estranho, não sinto que cometi um erro no gesto inusitado, todavia, por nunca ter presenciado algo assim, considero que não seja bom. Mesmo que o sabor seja.

Se não fosse pela poeira da lua em meus lábios, eu jamais acreditaria que aquela viagem súbita à via láctea foi real.


Notas Finais


O que acharam? Rolou um beijinho! Selinho na verdade.
Não podemos esquecer que o Shawn é completamente novo em qualquer assunto que se encaixe em relacionamentos mais profundos, ele ainda está se descobrindo e é muito inocente. Logo, não teria sentido colocarmos um beijão logo de cara. Mas Lali e eu pensamos muito, e resolvemos dar uma aumentada na fic. Inicialmente ela teria 10 capítulos, agora serão 20, então teremos tempo para isso.
A relação deles será desenvolvida aos poucos, para vocês captarem bem a realidade autista.
Enfim, estamos muito ansiosas para saber a opinião de vocês, então por favor não se acanhem!
O que acham que acontece agora? Voltamos em alguns dias ;)
Com amor,
Lali e Jéss 👱


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