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História Sete Finais - 106 - Sessão 4


Escrita por: caploom

Capítulo 107 - 106 - Sessão 4


Você voltou e descobriu que eu tinha ido embora
E aquele lugar está vazio
Como o buraco que foi deixado em mim
Como se não fôssemos nada
Não é o que você significava para mim
Pensei que estivéssemos destinados

- Let Me Go

Seul, Capital da Coréia do Sul

MANSÃO JEON EZON       

— Eu sei que pode parecer constrangedor... mas, Nayeon, preciso que conte com calma o que aconteceu.

Nayeon encarou Yajan com os olhos bem ligados, sentada na poltrona de frente para a mesa do escritório do homem. Dentro da sala estava também Jungkook, Go — sua progenitora —, e por fim, Hoo-Zee.

Hoo-Zee media cada pequeno movimento feito pela menina que parecia ainda mais encurralada. A senhora Jeon havia sido avisada da situação do filho assim que chegara em casa, e apenas graças à Yajan, deu o braço a torcer para que uma reunião acontecesse e as coisas fossem esclarecidas.

Nayeon analisou com calma o perfil de Jungkook que estava sentado ao seu lado, pensando em como lidar com a situação em que havia sido colocada. O menino nem mesmo a olhava naquele momento e talvez isso tenha a deixado mais irritada que antes.

— Eu posso contar como as coisas aconteceram naquela noite, senhor Jeon. — a menina disse, com a voz ligeiramente trêmula.

— Ah... você vai contar o que aconteceu naquela noite? — Jungkook perguntou em deboche. — Com todos os detalhes, Nayeon?

— Eu não tenho o que esconder, Jungkook.

Jungkook soltou um riso e olhou para o lado, encarando Hoo-Zee que fazia o mesmo. A mais velha ergueu uma sobrancelha em direção ao menino, mas ele apenas deu de ombros.

— Eu agradeço se puder mesmo fazer isso, Nayeon. Quero ajudar, mas preciso entender a situação. — Jungkook e Hoo-Zee quase fuzilaram Yajan ao ouvi-lo falar com Nayeon.

Hoo-Zee mal podia acreditar que tinha que fazer o filho passar pelo o que estava passando.

Nayeon encarou a mãe em busca de apoio e crispou os lábios olhando nervosa para as próprias mãos.

— Eu fui mesmo no quarto do Jungkook por conta própria naquela madrugada.

— Isso já é o suficiente para afirmar que meu filho não fez nada. — Hoo-Zee interrompeu a garota rudemente.

— Deixa ela falar, mãe. — Jungkook disse entredentes, raivoso. — Quero ouvi-la também.

A menina olhou para o nú  mero 7 engolindo lentamente a saliva densa.

— Antes, havia encontrado com ele na cozinha, fiquei preocupada porque já estava tarde. Ele me pediu um lanche e subiu. Eu fui ao quarto para deixar o lanche, mas não o vi. A porta do banheiro estava aberta e eu fui conferir, mas não imaginava que ele estivesse tomando banho. — começou falando baixo, olhando para as próprias pernas. — Eu me assustei e fiquei no meio do quarto porque mesmo que estivesse com vergonha, queria pedir desculpas pelo o que tinha acontecido. Jungkook saiu logo em seguida, ainda molhado. Eu me desculpei, como planejava, mas ele acabou debochando de mim. Me senti mal e acabei despejando nele como me sentia mal por gostar do que não posso ter. Me declarei, chorei e me senti fraca. — levantou a cabeça com os olhos ainda mais vermelhos e molhados pelas lágrimas. — Então veio a surpresa... Jungkook falou que não acreditaria que o amo sem provas. Falou que queria que eu provasse. E eu disse que faria qualquer coisa desde que ele prometesse que ficaria comigo depois disso.

— Ele pediu para que você...

— Sim, disse que só acreditaria em mim se eu me deitasse com ele. — Jungkook soltou o riso debochado que tanto queria, negando com a cabeça. — Por um lado me senti mal... por outro, pensei que seria bom porque estava entregando minha virgindade a quem tanto quis.

— Está magoada porque ele pediu isso como prova? — senhor Jeon questionou.

— Ele me machucou, senhor Jeon. Tudo parecia bom antes que ele... que ele entrasse dentro de mim porque doeu muito, mas ele não parou mais e fingiu não perceber que estava me machucando. Eu não conseguia falar, ficava em silencio torcendo para que aquilo tudo valesse algo para ele. Então quando o vejo me ignorando, tratando com carinho outras mulheres, me sinto um lixo e lembro de toda a dor que me submeti naquela noite. Mas dessa vez eu acabei... chegando ao meu limite. Eu não quero mais sentir dores, não quero...

Hoo-Zee revirou os olhos batendo o salto no carpete do escritório, enquanto senhora Go abraçava a filha de lado.

— Nayeon, sabe que a acusação que está fazendo é muito séria, não sabe? — Yajan olhou fixo para a jovem, que apenas balançou a cabeça.

— Eu já posso contar a verdade ou tenho que continuar ouvindo as acusações falsas? — Jungkook perguntou sarcástico, levantando a mão direita.

— Você pode contar a sua versão, Jungkook.

— Versão não, Yajan! — Hoo-Zee apontou levemente para o marido. — Tenho certeza que o único certo nessa história é nosso filho.

— Hoo-Zee, se controla. — o homem pediu. — Pode falar, Jungkook.

— Ela entrou no box enquanto eu tomava banho, completamente nua. Ela se declarou pra mim, mas não do jeito que ela acabou de contar. Se declarou de forma doentia! Eu disse que não podia retribuir os sentimentos dela, mas ela não aceitou e pediu para que ficássemos juntos. Deixei ela no box e saí, ela veio atrás de mim e continuou a pedir para que algo acontecesse. No final das contas, aconteceu. Em momento algum pediu para que eu parasse, e é claro que eu pararia e daria todo o apoio que ela precisasse caso tivesse a machucado.

— Jungkook-

— Mãe, pai! Eu não machuquei a Nayeon.

— Você não tem provas do que está dizendo! — Nayeon exclamou com a voz embargada.

— Você também não tem.

Nayeon cruzou os braços analisando as próprias mãos com a expressão ainda mais pesada que antes. A jovem controlou o choro limpando as lágrimas.

— Eu tenho.

O herdeiro Jeon levantou as duas sobrancelhas olhando incrédulo para a falsidade da menina.

— Você tem o quê?

— Eu tenho fotos daquele dia. Tenho fotos de como meus braços e meus ombros ficaram machucados pela forma rude a qual você me segurava.

— Então mostra! — Jungkook bateu com força na mesa, encarando a menina ainda mais raivoso. — Eu quero ver. Me mostra as fotos, Nayeon!

Nayeon se assustou com a agressividade e entreabriu os lábios ficando ofegante, a jovem voltou a encarar senhor Jeon com firmeza.

— Senhor Jeon, eu sei do estrago que eu posso causar na vida do Jungkook caso eu publique essas fotos e relate tudo o que aconteceu naquela noite. As pessoas gostariam de saber o completo insensível que o seu filho é. A mídia adoraria não deixá-lo em paz e as pessoas o odiariam!

— Eu vou acabar com você, garota! — Hoo-Zee avisou entredentes. — Com quem você acha que está falando, hein?

— Hoo-Zee! Não é hora. — Yajan pediu mais uma vez. — Nayeon, você vai me mostrar essas fotos?

— Não. Eu não quero. Só quero que saibam que por mais que eu não possa destruir a vida do Jungkook, posso causar um grande impacto. A dor que sinto por aquele dia nem se compara a isso.

— Nayeon, se acalma. — Yajan exigiu sério, a olhando. — Eu estou tentando ser compreensivo, mas não quero que tenha esse tipo de comportamento.

— Mas o seu filho pode ter o comportamento que quiser, não é? Me usando de forma suja, brincando com meu psicológico e me machucando.

— Diga o que você quer que façamos.

— Eu só quero mostrar ao Jungkook o quanto ele foi baixo. — Nayeon olhou séria para o herdeiro sem expressão ao seu lado. — E não quero que vocês prejudiquem a mim e minha mãe por eu ter dito que tenho provas contra o filho de vocês.

— Eu quero vocês fora daqui! — Hoo-Zee apontou para a porta. — Quero que saiam da minha frente! Eu quero que voc-

Yajan levantou segurando a mulher descontrolada e a encarando tentando mantê-la quieta.

— Hoo-Zee, paciência! — o homem falou baixo. — Jungkook não tem provas de que não fez nada.

— Não acredito que não está do lado dele! Não acredito que está do lado dessa menininha dissimulada.

— Eu acredito no Jungkook, mas ele não tem provas. O momento aqui é delicado, não podemos agir pela emoção.

— Mas eu não posso aceitar que essa insignificante faça tudo isso!

— Ela já fez. — o homem soltou o corpo da mulher, tentando controla-la com palavras. — O Jungkook tem um ensaio fotográfico daqui a alguns dias, não é?

— É a estreia dele.

— Você finalmente conseguiu o que você tanto queria: que o Jungkook aceitasse posar. Você não acha que seria péssimo para o nosso filho uma acusação dessa? Ainda que seja falsa, a repercussão o prejudicaria muito.

— Eu ouvi, pai. — Jungkook segurou o ombro do pai com força e sorriu falso. — E daí?

Yajan revirou os olhos.

— Peça desculpas para a Nayeon e diga que não vamos prejudicá-las.

— Nem morto. — ditou sério. — Não vou pedir desculpas pelo o que não fiz.

— O seu pai está certo, Jungkook. — Hoo-Zee falou baixo, olhando para Nayeon por cima dos ombros do filho. — Ainda que as acusações sejam falsas, isso pode te prejudicar. O ensaio fotográfico e a estreia estão próximos.

— Você sabe que eu não estou nem aí pra esse lance de modelo! — o menino retrucou rude.

— Nem pela Soyoon? — Yajan perguntou. — É com ela que vai fazer as fotos, não é? Não acha que vai prejudica-la também?

Jungkook mudou a postura olhando ao redor incomodado e sem graça.

— Pai...

— Jungkook, eu nunca deixaria você ser acusado por algo que não fez, mas não temos tempo. — o mais velho o olhou. — Se quer ajudar a Soyoon com isso, precisa fazer esse sacrifício por um tempo. Eu prometo que depois que isso passar, vou resolver tudo do meu jeito.

Jungkook mordeu a pele interna da bochecha, soltando um riso nasal.

— Do seu jeito?

Senhor Jeon olhou para Nayeon junto da mãe com a expressão rancorosa.

— Você sabe o que significa o meu jeito.

Jungkook sabia bem o que seu pai queria dizer, e admitiu que não podia não confiar no homem ao saber que ele resolveria as coisas do próprio jeito.

Olhou para Nayeon ainda sentada e puxou ar suficiente para os pulmões.

— Nayeon, meus pais e eu não faremos nada contra você ou sua mãe. Não precisa usar suas provas contra mim. — o menino curvou levemente a cabeça e saiu rapidamente do escritório.

Sabia que aquele problema não o pertencia mais.

Soyoon era sua prioridade.

MANSÃO TORAGA

Hoseok prendeu o cabelo de Yeda entre os dedos, com força, sentindo o ar quente que saía de sua boca bater contra seu pescoço suado. O corpo ainda mais suado de Yeda deslizava diante do peito de Romero com maestria, enquanto ele segurava sua cintura com o outro braço.

Ele olhava extasiado os movimentos da garota sobre si enquanto gemia de prazer dizendo que adorava fazer aquilo. A boca entreaberta, os seios expostos sobre seu corpo, os movimentos repetitivos e bons.

Aquilo tudo era ótimo, mas não parecia o suficiente para Hoseok, que sentia prazer, mas não sentia mais nada além disso.

Ele segurava um lado da cintura da namorada, ouvindo-a gemer, com os olhos semicerrados. Romero fechou os olhos ainda sentindo o peso de Yeda sobre si e umedeceu ao lábios ouvindo seus gemidos em uma altura aceitável.

Voltou a abrir os olhos quando Yeda se inclinou mais uma vez beijando seu pescoço e suspirando, se movendo mais devagar, ciente do ponto fraco do garoto. Hoseok prendeu o lábio inferior entre os dentes segurando a coxa esquerda de Yeda com extrema força, soltando um gemido intenso em seu ouvido. Então forçou o quadril feminino um pouco mais para baixo sentindo cada vez mais prazer em senti-la, repetindo o mesmo movimento até seu corpo se arrepiar querendo lhe avisar que chegaria em seu limite em breve. A sensação melhorava cada vez mais enquanto ainda a ajudava com os movimentos que tanto estava gostando, com o suor cada vez mais presente e os suspiros ainda mais altos.

— Isso, Soyoon...

O gemido bem rente ao ouvido de Yeda a fez parar bruscamente, olhando séria para o rosto do namorado, que também a encarou sem entender.

Yeda levantou atordoada, com os lábios entreabertos, ofegando e confusa. Hoseok se sentou apoiando-se na cabeceira da cama, passando as mãos pelo cabelo úmido assistindo a namorada ficar de pé, caçando por algo que cobrisse o corpo.

— Eu não acredito nisso! — ela exclamou indignada.

— Yeda. — ele a chamou. — Yeda, o que foi?

— O que foi? Eu é que te pergunto, Hoseok! — ela o olhou com os olhos marejados. — Como pôde?

— O que foi que eu fiz?

— Gemeu um nome. E não! Não era o meu nome! — ela se cobriu com o primeiro roupão que achou. — Eu não estou acreditando que fez isso. Eu realmente não estou acreditando.

— Yeda... — ele a chamou baixo, vendo a mesma entrar na suíte do quarto batendo a porta com força.

Jogando a cabeça para trás, o herdeiro voltou a fechar os olhos. Ele sabia o que havia feito, mas tinha esperanças de que não tivesse feito de verdade, ou que não tivesse sido ouvido.

— Nós estamos planejando um casamento, Hoseok! — a menina voltou a abrir a porta, com os olhos vermelhos pelas lagrimas que já derramava. — Por que fez isso? Por que você está tão estranho?!

— Não é isso.

— Você não me ama mais, não é? Não quer casar comigo!

— Yeda, por favor. — ela fechou a porta mais uma vez.

Romero ficou parado, encarando o chão sem sentir absolutamente nada. Suspirou cansado e levantou vestindo a calça moletom que achou. Ele se aproximou da porta da suíte, apoiando o ombro direito enquanto olhava para o canto do quarto.

Ele não tinha o que falar, na verdade não queria nem mesmo abrir a boca, mas sabia que era preciso.

Era claro que nunca foi sua intenção fazer o que tinha feito, mas ele estava ciente que parecia cada vez menos dentro de si. Parecia não ter mais controle do que pensava e fazia.

Seu peito apertava e quando ele percebia, já havia agido feito um idiota. Soyoon não saía de sua cabeça. Ela não lhe dava um intervalo, ela não o deixava em paz para dormir e nem mesmo quando acordava.

Quando ele abraçava Yeda ou qualquer outra pessoa, era Soyoon quem ele queria estar abraçando. Quando ele fazia algo, era com Soyoon que queria estar fazendo. Ele tinha medo de sempre ver Soyoon em tudo o que fazia, tinha medo até mesmo de abrir a boca e dizer o nome dela sem nem mesmo perceber.

Ele queria tanto que Yeda se tornasse a Soyoon, que não conseguiu evitar, por mais que tivesse tentado. No fim, deu tudo errado, como imaginou que daria.

Ele levou a mão à maçaneta e a girou, tendo sorte pela porta estar aberta. Yeda estava sentada no canto do banheiro, olhando para o nada, extremamente chateada e calada.

— Você entendeu errado. — o jovem disse baixo, se sentando no chão ao lado da morena.

— Não tente me enganar.

— Eu não te enganaria. Você tem que confiar em mim.

— Mas eu... eu...

— Eu estou com você. Tudo o que eu posso fazer no momento é te pedir desculpa por não ser o namorado perfeito, mas eu preciso que confie em mim.

— Noivo perfeito, não namorado. — ela encolheu os olhos emburrada.

— Então você ainda vai casar comigo. — ele deduziu soltando um riso pelo nariz.

— Está admitindo que disse o nome de outra pessoa?

— Eu não fiz isso. — ele tentou não olha-la. — Você deve estar confusa por tudo o que está acontecendo. Eu não tiro o seu direito.

Yeda fungou juntando o corpo ao corpo do número 6, sentindo-o quente.

— Eu tenho medo de te perder.

Romero permaneceu olhando para a parede quando sentiu o corpo da menina se aconchegar cada vez mais em seu peito. Ele encostou a cabeça na parede e passou a palma da mão pelas costas femininas.

— Não quero estar com ninguém além de você, Yeda.

ATAKURA SEOUL      

Jimin traçou com cuidado a reta com a régua, olhando atento para cada pequeno detalhe do que fazia. Quando chegou no fim, colocou o objeto de ferro de lado e voltou a olhar para a lousa, analisando como o desenho geométrico deveria ser feito.

Estava ótimo.

Professora Ahra cruzou os braços ao lado da lousa, olhando atenta para cada um de seus alunos, parecendo tentar encontrar algo, mas por fim, apenas negou levemente com a cabeça.

— Namjoon, você já terminou? — a mais velha questionou.

Yog Namjoon apenas negou com a cabeça, voltando a olhar para o caderno, rabiscando a página sem a menor vontade. As pessoas da classe chegaram a murmurar surpresos com a resposta do herdeiro Kim, já que o mesmo era o garoto mais inteligente da escola e sempre o primeiro a terminar as atividades... mas daquela vez parecia nem mesmo ter começado.

— Alguém já resolveu a questão? — senhora Kim voltou a perguntar.

Jimin levantou o braço, deixando em evidência o fato de que tinha finalizado. Ahra assentiu com um sorriso ladino.

— O que acha de fazer o exercício na lousa para a sala toda, Jimin?

Denni ouviu a sua direita uma leve risada, então olhou para o lado, fechando a expressão ao notar que quem soltava os risos era Seokjin.

— Desculpa, prefiro ficar na minha. — o número 1 respondeu a mais velha, ouvindo um respirar profundo da mesma.

Ahra negou ficou séria gravando os rostos de seus alunos, e sentou-se na cadeira, de braços cruzados.

— Ninguém virá fazer o exercício na lousa? — a mais velha questionou. — Se ninguém vier dar um exemplo de como o exercício deve ser feito, eu não colocarei aqui a resposta certa.

A sala continuou em silencio por mais alguns segundos, mas, por fim, uma menina antes sentada no fundo da sala se levantou com um leve sorriso no rosto.

Era Gyeon Wee San, e a mesma avisou que faria o exercício. Ahra agradeceu com um sorriso educado e ficou parada ao lado da menina que já se concentrava no painel branco em sua frente.

Taehyung grudou as costas na cadeira, analisando a jovem que parecia cada vez mais concentrada. Wee San vinha lhe chamando atenção nos últimos dias. Obviamente ele nunca havia realmente reparado na menina antes, mas estava passando a lhe dar atenção, sem que ela mesma percebesse.

Wee San fazia Taehyung lembrar-se de Soyoon, então para ele, olhar para ela era quase inevitável. Taehyung sentia falta de Soyoon e se sentia fraco por ter que olhar para outras pessoas por ela. Há algum tempo Taehyung não era mais o mesmo. Ele era alguém antes de Soyoon, ele mudou por ela durante um tempo, e agora, no momento atual... se tornava aos poucos alguém completamente diferente do que já foi.

Ele descobrira da pior forma que Yoon tinha um poder muito grande sob as pessoas que se envolviam com ela. O antes Soyoon, durante Soyoon e depois de Soyoon. Ela era quase uma catástrofe, sem querer, causava uma enorme bagunça.

A boca de Tae ficava seca sempre que era obrigado a olhar para Wee San ou qualquer outra coisa que lembrava a ex-bolsista. A preocupação maior era que quase tudo lembrava a morena de cabelos longos.

Cheiros, sorrisos, lugares e até as garotas com quem o herdeiro número 5 tentava se envolver, às vezes.

Ele lembrava de todas as vezes que esteve com ela, antes de descobrir que se apaixonaria. Lembrava do broche que lhe tomou, e que ainda guardava. Lembrava de quando implicou tanto com a menina que causaram uma grande bagunça na sala de química, indo os dois parar na diretoria. Naquele dia Soyoon seria expulsa, mas Makieno decidiu que não deixaria que isso acontecesse porque queria que a bolsista tivesse uma dívida com ele. Uma dívida que ele sabia que ela jamais conseguiria pagar.

Só que ele esqueceu, aos poucos esqueceu.

Ele esqueceu porque por algum tempo Yoon sorriu para ele... e foi ali, no dia em que ela finalmente sorriu, que ele percebeu que era perigoso ficar ao seu lado, era perigoso sentir seu cheiro, era perigoso ter consciência de como Yun Soyoon podia ser sua fraqueza.

Sempre quis ser tão forte, tão homem para ela porque queria mostrar que era ele quem mandava. Mas só ele sabia que era tudo para não deixar tão claro que era ela quem o deixava extremamente fraco.

Ela o feriu, sem que quisesse. E ela continuava sendo sua ferida aberta e dolorosa.

— Taehyung! Qual o seu problema, tá surto?!

Taehyung ergueu a cabeça sem entender o que acontecia, então umedeceu os lábios, olhando ao redor e percebendo que a sala estava se esvaziando, e quem lhe chamava era Namjoon.

Observando quem aos poucos sobrava no local, percebeu que Seokjin e Jimin observavam a cena de braços cruzados.

O número 5 levantou-se bufando.

Jimin não era de sua sala, mas estava tendo aulas extras de matemática, o que significava passar mais tempo com a professora Kim Makieno Ahra.

— Não estou surdo ainda. — respondeu amargurado, guardando os livros sem vontade alguma.

— Você vai demorar muito?

— Pra quê? — perguntou ignorante.

— Treino, seu imbecil! — sentiu um tapa em sua nuca e olhou para trás percebendo que Jungkook também estava no lugar, e já saía, impaciente.

Havia esquecido completamente. Bangpae tinha que treinar.

Péssimo momento para fazer parte do Bangpae.

— Podem ir na frente. — falou baixo e sem ânimo.

— Não. Da última vez que você disse isso, não apareceu no treino. — Jimin exigiu, ainda mais impaciente que Jeon, esse que não estava mais na classe. — Temos um jogo esse sábado, Makieno. Não podemos nos dar ao luxo de não treinar.

— Eu não estou dizendo que não vou pra merda do treino, estou dizendo que vocês podem ir na frente.

— Estamos te esperando. — Namjoon cruzou os braços olhando sugestivo para o primo mais velho.

— Vocês são mais que chatos quando querem. Fala sério.

— Você acha mesmo que eu queria estar aqui te esperando, bebezão? — Jimin se aproximou do Kim. — Pode ter certeza que é a última coisa que queria estar fazendo.

— Você parece mesmo muito incomodado, Park.

— E eu estou. Você não se compromete mais e eu tenho certeza que sábado, quando o Campeonato começar, o peso da sua falta de comprometimento vai ficar todo nas nossas costas.

— Então por que você não me tira do Bangpae, hein? Você não é o capitão do time? — Taehyung se irritou, jogando com força o caderno por cima das canetas. — Se você se sente tão incomodado em me ver no Bangpae só porque eu transei com a sua namorada que adorava te botar chifres, me tira do time então.

Jimin travou o maxilar olhando sério para o moreno a sua frente. Ele pensou em talvez retribuir o que havia sido dito, mas no fim percebeu que não valeria a pena. Ele não tinha o que responder para que aquilo não se transformasse em uma briga, então apenas assentiu rancoroso.

— Estaremos te esperando na quadra.

Makieno viu Namjoon e Jimin finalmente saírem da classe e soltou ar preso, sentando-se na beirada da carteira. Seokjin ainda o olhava sério, mas aquilo não o incomodava tanto.

— Não foi o Jimin que errou, Taehyung... você devia pensar sobre isso. — Jin falou, com o tom de voz compreensivo.

— Mas eu já pedi desculpas. Eu me senti mal, mas não posso ficar nessa a vida toda.

— Se você se sentiu mal, imagina como o Jimin se sentiu.

— Eu imagino. Mas-

— Taehyung, o Park é nosso amigo de infância. Ele sempre foi apaixonado pela Linn. Quando ele apareceu namorando com ela... você lembra de como ele ficou feliz? Era um dos maiores desejos dele namorar com a Linn! — Esme lembrou, com a noz nostálgica. — Todos nós sabíamos que ele queria um dia torná-la noiva dele. Você acha mesmo que foi mais difícil para você do que para ele?

— Eu lembro disso tudo, e eu já disse que reconheço que errei.

— Você está sendo egoísta pedindo para sair do time, quando o Jimin, mesmo com toda dor que está sentindo, se recusou a te tirar do Bangpae.

Taehyung apenas assentiu olhando para o primo mais novo, então fechou os olhos por alguns segundos e voltou a encará-lo em seguida.

— Vamos para a quadra.

MESMO DIA  

Soyoon prendeu com bastante força o lábio inferior entre os dentes, subindo e descendo a palma da mão rapidamente por uma parte da canela. Xingou baixinho olhando irritada para o pouco da cera que jogava no lixo.

Depilação sempre seria um dos seus pontos fracos. Depilação com cera para Soyoon era como Kryptonita para o super-homem. Diante disso, desistiu, revirando os olhos e analisando a pequena bagunça sobre a pia do banheiro.

— Soyoon! Dá pra sair logo daí? Eu quero fazer xixi! — Yoon ouviu Nesook chama-la irritada e se apressou em juntar todas as coisas que estava usando, para poder sair.

Esbarrou em algumas coisas do banheiro pequeno e abriu a porta, passando pela irmã mais nova rapidamente.

Passando os olhos com calma pelo lugar em que se encontrava, tentou ignorar o que vivia atualmente. Havia se passado alguns dias, e como tinha sido prometido... haviam conseguido um lugar para morar.

Era bem pequeno. Uma sala, um quarto, banheiro e cozinha. O suficiente para três garotas viverem. Tudo mobiliado com móveis baratos, mas não feios.

Yoon lembrava-se perfeitamente da conversa que sua mãe teve com Yajan um dia antes de se mudarem. Jeon havia dito para a mulher que não precisavam sair do apartamento porque ele já havia resolvido tudo, mas Yura não quis saber, deixando claro que era melhor as coisas acontecerem como tinham que acontecer.

Os dias que passaram talvez tenham sido os mais normais da vida de Soyoon dentre meses. Não se meteu onde não devia e tentou ao máximo não se estressar com mais nada até que encontrassem um lugar para alugar.

Yoon tinha que admitir que sua mãe estava de parabéns.

— Está conseguindo arrumar o resto? — Soyoon adentrou o quarto cautelosamente, vendo a progenitora sentada de frente para o guarda-roupa embutido, se virando com algumas roupas.

— Perfeitamente, não se preocupe. — a mulher soltou uma leve tosse, e olhou para a esquerda. — O seu bicho de estimação parece ter gostado daqui. Não para de fazer barulhos desde que chegamos.

Soyoon levantou as sobrancelhas olhando para o porquinho da índia Taeyoon, que mantinha-se deitado de forma relaxada em seu cercado.

— Temos pouca coisa, mas deu trabalho organizar tudo. — a morena comentou, pegando a escova de cabelo dentro de uma gaveta. — Pensei que não acabaríamos.

— Somo três, isso facilita muita coisa. — a mais velha respondeu, terminando de dobrar uma blusa rosa, também aliviada pela agilidade na mudança. — Eu sei que é um lugar bem pequeno, Soyoon... sinto muito por você e Nesook terem que passar por isso, mas no momento não temos muitas opções.

Soyoon respirou fundo balançando a cabeça.

— Eu juro... que não é isso o que me preocupa. — falou baixo. — Você fez bem. Nos protegeu. Pediu minha ajuda, mas foi capaz de achar sozinha um lugar para ficarmos, tudo em uma semana.

— Tínhamos que sair daquele apartamento uma hora ou outra, não é?

— Eu sei que o Yajan pediu para que ficássemos.

— Eu não podia aceitar, você sabe. — a mulher arfou, negando com a cabeça. — Depois da conversa conturbada que tive com a Hoo-Zee pensei muito sobre a situação em que estávamos. Não é justo com você e Nesook... não é justo com Hoo-Zee e com o filho dela.

Soyoon concordou em silêncio. Ela não sabia qual a opinião de Jungkook sobre a relação que Yura e Yajan tinham, mas se colocava no lugar do garoto, imaginando que não fosse algo confortável.

Yoon conversou bastante com Jungkook por mensagens durante os três dias que se passaram, chegando a conclusão de que ele era alguém que queria sempre por perto. Ele parecia se importar com cada decisão que a jovem vinha tomando nos últimos dias, porque de alguma forma podia sentir que quase tudo a atingia e qualquer passo errado podia ser crucial.

Jungkook a acalmava. Em um momento de caos da sua vida... calmaria era o que ela mais queria.

— Pode me dizer agora onde conseguiu o dinheiro para o deposito deste lugar? — a mais nova questionou baixo, tirando alguns fios de cabelo da escova.

Yura respirou fundo dobrando mais duas blusas, aproveitando a deixa de que Yoon voltara a pentear os cabelos. Sabia que tinha que usar as palavra certa para lidar com sua primogênita, já que não se encontravam em bons lençóis. A última coisa que Yura queria era piorar a situação... como se ela já não fosse péssima o suficiente.

— Embora os artesanatos não dessem tanto lucro, foram muitos anos trabalhando com isso. — Yura começou a explicar com a voz amena e firme, ainda dobrando as roupas. — Existe uma conta para onde o lucro dos artesanatos sempre foi. Esse dinheiro, mesmo não sendo muito, rendia porque não mexíamos nele. O banco fazia isso render. A conta é no nome da Nesook. Jisang e eu entramos em acordo na época. Dizíamos que todo o dinheiro dos artesanatos seria da Nesook, para o futuro dela. No meu caso, eu pensava em uma emergência. Ele não podia exigir tocar nesse dinheiro porque nosso "acordo" era outro. Mas eu posso agora, então vamos ter que contar com o que está guardado por algum tempo.

— Quando você diz "emergência", quer dizer que sempre soube que uma dia estaríamos na situação em que estamos hoje?

— Embora eu tenha optado por manter os fatos por baixo dos panos, meu relacionamento com Jisang não estava dando certo há algum tempo. Quando Nesook era um bebê abrimos essa conta, na época a minha intenção era usar esse dinheiro apenas para os estudos dela, mas com o tempo... percebi que essa mesmo conta poderia se tornar uma saída de emergência. Isso inclui o bem da Nesook.

Soyoon respirou fundo juntando bem os lábios e desviou o olhar.

— Consegui um trabalho... quero dizer, não é um trabalho fixo, mas acho que ganharei o suficiente para ficarmos tranquilas por um curtísimo período de tempo. — a jovem comentou olhando objetiva para a progenitoria. — Presumo que o dinheiro dessa poupança ajude, mas ele não vai durar por tanto tempo.

— Qual o trabalho?

— Eu aceitei... tirar algumas fotos. — abaixou a cabeça por alguns segundos.

Por alguns segundos, Yura cogitou a ideia de questiona-la sobre o que exatamente estava falando, mas preferiu se calar. Não queria continuar se metendo na vida de Soyoon. Não queria aborrecê-la mais.

— Fico feliz por você. — a mais velha murmurou, sem olhar para a filha.

Yoon mordeu o lábio inferior e ajeitou a postura, pegando a roupa que havia separado para vestir.

— Eu estou indo no Atakura. — falou Soyoon.

Yura sentiu o estômago revirar por alguns segundos e mexeu a cabeça incomodada.

— É? Resolveu tentar recuperar a bolsa, então...

— Na verdade, foi o Yajan. — Yura levantou uma sobrancelha, confusa, mas atenta à explicação. — Ele é Patrocinador, conseguiu impedir o cancelamento da minha bolsa. Sem ele eu não conseguiria recupera-la. Apenas fazendo uma nova prova no ano que vem.

— Você e Yajan se tornaram tão próximos assim? Eu pensei que você não quisesse mais voltar para o Atakura.

— Foi o Jungkook. Ele me convenceu de que seria melhor. Foi ele também que tomou a frente e pediu para o Yajan intervir por mim. — Soyoon crispou os lábios enquanto explicava. — Eu realmente não pretendia voltar, mas a situação em que nos encontramos me fez pensar sobre muitas coisas.

— Quais coisas?

— Eu me demiti agindo como uma inconsequente sem pensar nas minhas responsabilidades. Larguei a melhor escola do país. Qual futuro eu poderia ter assim? Então, decidi que me formando no Atakura, ao menos terei oportunidade de conseguir estágio em um bom lugar e entrar em uma boa universidade. — a morena de cabelos longos espalhou um creme suave pelas mãos, sem deixar de falar. — Quem se forma no Atakura tem uma parte da vida resolvida.

— ...quem se forma no Atakura tem uma parte da vida resolvida.

Yura e Soyoon se olharam ao dizerem juntas a mesma coisa. Manteram o olhar por alguns segundos, até a mais velha coçar a garganta e levantar-se do chão.

Yura se aproximou de Soyoon e analisou com calma o rosto da menina, sem dizer nada durante esse tempo.

— Eu errei. Eu sei que você sabe que eu errei. Eu sei que você sabe qual o meu maior defeito. Eu erro sem pensar nas consequências. Eu só penso no presente.

— Não precisa começar com isso agora...

— Eu errei lá atrás, quando decidi esconder coisas de você. Errei em não fazer nada ao te ver largando tudo o que mais queria... estar no Atakura e se formar. Eu errei porque eu quero te proteger. Eu errei quando menti, eu erro quando ainda faço isso, eu-

— Mentiu com o quê? — Yoon ditou baixo. — Me fala... me fala, mãe. Eu quero te ouvir. Me conta um segredo seu, e-e... eu te conto um meu.

— Você quer saber de algo que talvez não saia da minha boca, Soyoon.

— O que você quiser me dizer agora.

Yura mordeu o lábio inferior com força e amoleceu os braços, inclinando a cabeça sem deixar de analisar bem o rosto feminino mais novo a sua frente.

— Eu... nem sou diabética. — Soyoon franziu o cenho, entreabrindo a boca. — Eu não tenho doença alguma. Sou saudável. Eu inventei a diabete porque queria poder sair de casa com a desculpa de que estava indo às consultas. Era também uma forma de fugir daquela rotina que tinha, me livrar o Jisang.

Soyoon fechou rapidamente os olhos, desapontada, mexendo a cabeça devagar.

— E para onde você ia?

— Não se preocupe com isso. — a mulher afagou o topo da cabeça da menina e se calou.

Yoon percebeu que não conseguiria arrancar mais nada dela. Naquele momento, não soube se se sentia aliviada por saber que sua mãe era saudável, ou se se frustrava ainda mais por mais uma mentira.

— Tenho que ir ao Atakura. Fico te devendo um segredo.

~•~

Soyoon encarava com calma cada detalhe da grande escola com um sentimento de leve desconforto presente. Após descer do ônibus, tentou adiar sua chegada ao local, andando devagar, mas o ponto era mais perto do que se lembrava.

O grande colégio parecia ainda mais bem cuidado e luxuoso. Todas as pessoas que passavam em frente olhavam encantadas para o lugar.

Reunindo coragem e vontade, Soyoon respirou fundo e atravessou a rua, olhando para a enorme entrada tão conhecida por seus olhos. O jardim de entrada ainda a deixava sem palavras, e ver os bancos bem decorados lhe trazia recordações intensas.

Havia sido ali que Seokjin tinha chantageado-a por conta das drogas, havia sido ali também que presenciou Wee San e Nya descontentes uma com a outra pela sua amizade.

Wee San...? Soyoon se perguntava onde estava a menina naquele momento, e se ao menos estava bem e menos obsessiva que antes.

Balançou a cabeça dispensando as perguntas que lhe enchiam e acelerou finalmente os passos, pronta para o que tinha que fazer. Enquanto andava pelo caminho livre entre as arvores de entrada , tirava o celular de dentro da bolsa, discando rapidamente o número de Jungkook, levando o aparelho até o ouvido. 

 

[— Ei, Soyoon!] — ele atendeu rapidamente, fazendo Soyoon soltar um riso.

[— Ei! Eu nem sabia se podia ligar, mas você disse que estava no treino, então...]

[— Não se preocupe. Tudo bem?]

[— Estou no Atakura. Vim resolver a questão da minha bolsa.]

[— Sério? Não imaginei que viria hoje.] — ele admitiu, pensativo.

[— Estou ligando só para saber o que devo dizer na secretaria... você sabe... o seu pai...]

[— Apenas entregue o documento assinado que te dei ontem. Você é Yun Soyoon. Todos da secretaria sabem que você está de volta.] — o menino falou mais baixo, fazendo com que Yoon soltasse mais um riso.

[— Obrigada, Jeon. Depois nos falamos. Estou no balcão da secretaria.

 

A menina desligou olhando levemente sem graça para a senhora que a encarava, por trás do balcão largo e de mármore.

Yoon coçou a garganta vendo que era a única a ser atendida e se apressou em caçar na bolsa o documento assinado por Yajan.

Analisou o papel certificando-se desamassa-lo e ficou mais colada ao balcão, colocando a folha sobre ele.

— Com licença, posso tratar disso com a senhora? — questionou educadamente.

A senhora de cabelo acastanhado ajeitou o óculos cor de pérolas no rosto e leu as letras miúdas do documento.

— Yun Soyoon, é? — a mulher murmurou.

— Isso mesmo.

— Você deve ter uma sorte grande. Quase perdeu uma bolsa invejável.

— Quase. Estou correndo atrás do prejuízo. — a jovem retrucou.

— Preciso dos seus documentos. — esticou a mão velha.

Soyoon puxou os documentos separados e a mais velha sumiu, indo para o fundo da secretaria.

Sentando-se no banco largo que havia no hall de espera, olhou ao redor tentando encaixar cada detalhe em suas lembranças. Mordeu discretamente o lábio inferior e encarou as pernas cobertas pela calça leve.

Até mesmo o cheiro do produto usado para deixar o chão brilhando lhe trazia lembranças.

— Aqui. — a senhora voltou, fazendo Yoon levantar-se e voltar ao balcão de mármore. — Eu tirei cópia dos documentos. Esses papéis ficam com você, são suas vias dos que nós temos aqui. Você pode voltar a frequentar as aulas à partir de segunda. Você já era nossa aluna, então não precisamos acertar mais nada. Eu só precisava do documento assinado pelo solicitante.

— Obrigada.

— Agora nós temos uma tolerância de faltas para bolsistas. Até duas vezes no mês. — a mulher avisou, grampeando alguns papéis. — Mas não abuse. Foi uma sorte você ter conseguido recuperar a bolsa.

— Eu já entendi. — Soyoon murmurou.

— Existem outras pessoas que fariam de tudo por uma vaga aqui. Valorize o que tem, mocinha. E agradeça muito ao patrocinador que interviu por você.

— Pode deixar.

— Logo o senhor Jeon Bozzi? Ele é casca dura. Nunca aceita recuperações de bolsas. Estou surpresa que ele mesmo tenha entrado com pedido para a recuperação da sua.

— Certo, senhora... — olhou o grampo prateado preso na roupa da mulher, lendo seu nome. — Senhora Ito. Eu entendi, e prometo não decepciona-los novamente.

A mulher respirou fundo e assentiu.

— Ah! Yun Soyoon, como você apenas parou de vir, nós continuamos a receber algumas correspondências para você. Esta chegou há alguns dias. Não parece ser uma correspondência relacionada aos seus estudos ou alguma universidade. Cuide para que não recebamos mais cartas pessoais.

Colocou a carta branca junto dos outros papéis e olhou sugestiva para a garota, sumindo novamente para o fundo da secretária.

Soyoon franziu o cenho intrigada e pegou todos os papéis, incluindo o envelope branco. Olhou ao redor analisando se os corredores ainda continuavam vazios e voltou a se sentar no banco se antes.

Prendeu o cabelo longo atrás da orelha e leu a traseira do envelope, enxergando um "Hiro Mayca". Entreabriu os lábios surpresa. Mayca havia lhe enviado uma carta!

De um jeito ligeiro, tratou de abrir para que pudesse finalmente ver do que se tratava. Havia apenas uma folha também branca, em formato retangular. Soyoon puxou o papel e leu. Era um endereço. O mesmo endereço que havia no bilhete que sua ex patroa havia lhe entregado, dizendo que Mayca tinha pedido para que fosse feito.

Na ponta inferior estava escrito um "abraços, e me desculpe."

Era estranho ter que lidar com esse tipo de situação quando relacionada a uma pessoa a qual não teve muita intimidade. Depois que Taehyung descobriu que Mayca não estava grávida de verdade, Soyoon não chegou a ver mais a mulher.

Ainda assim, valorizava o curto período em que estiveram juntas, decidindo que resolveria de uma vez toda e qualquer pendência que tinham.

Decidiu ir embora, apressando-se para descer a escadaria e finalmente se ver livre novamente para resolver suas outras pendências.

Ouviu um aumento de volume entre vozes um pouco mais a frente e desacelerou aos poucos os passos que daria, mordeu a própria língua reconhecendo as vozes que cruzavam com seu caminho. Eram vozes grossas e altas, a risada de Hoseok e Seokjin eram impossíveis de não serem reconhecidas.

Pensou em permanecer onde estava ou voltar para onde estava antes, mas balançou a cabeça com força e ergueu o queixo tentando não se deixar levar pela leve tremedeira que lhe tomou. Continuou andando na mesma direção desviando o olhar quando finalmente deparou-se com toda a Sete Elite energética, encolhendo-se na parede aproveitando a distração dos meninos que saíam do ginásio já vestidos com o uniforme formal da escola.

A primeira pessoa a vê-la foi Jimin, que parou de andar olhando fixamente para o rosto feminino. Soyoon não o olhou, encarando a própria camiseta rosa que vestia, grudando a bolsa e os papéis mais ao corpo. Deu uma corrida ainda pela parede, ignorando o olhar sarcástico que Park a lançava e quando se viu longe dos meninos que para sua sorte não havia lhe visto, soltou o ar preso.

Não queria ter que lidar com os sete meninos que tanto bagunçavam sua cabeça e sua vida.

O único que realmente queria ter visto e parado para falar ao menos um "oi" era Jungkook, mas vendo que o mesmo conversava animado e distraído com os outros 6, preferiu apenas lhe eniar uma mensagem dizendo que já não estava mais no Atakura.

Com alguns papéis presos aos braços cruzados, Yoon andava olhando para as folhas que tentava ajeitar para que não caíssem, planejando sair rapidamente do colégio, já na parte aberta do lugar, sentindo o aroma forte das plantas e flores bem cuidadas.

Já havia resolvido tudo o que tinha que resolver, e agradecia muito por isso, já que precisava se preparar mentalmente para outras situações. Uma das folhas que segurava acabou escapando, sobrevoando por sua cabeça e seguindo sozinha a frente o caminho.

Soyoon acelerou os passos correndo atrás do papel, e agradeceu por ele passar a se distanciar quase colado ao chão. Arregalou levemente os olhos quando seu pertence foi parado com uma pesada. O tênis azul e cinza sobre a folha a segurava com firmeza, mas logo dedos se apossaram do impresso e Yoon ergueu o olhar deparando-se com a fisionomia séria de Jimin.

— Oi. — o garoto falou, ainda segurando a folha.

— Obrigada. — ela respondeu, então pegou o que tanto queria, fazendo-o arfar e olhar ao redor. Como ele havia conseguido aparecer tão rápido?

Soyoon posicionou-se pronta para seguir o caminho, fazendo com que Park levantasse as duas sobrancelhas, analisando suas ações. O jovem revirou levemente os olhos e a acompanhou na mesma velocidade.

— Quando pretende conversar comigo?

— Sobre? — questionou ela, sem olhá-lo.

— Sobre o encontro mal sucedido.

— Não foi mal sucedido. Ele nem aconteceu. — ela deu de ombros.

— Eu pensei que quisesse falar sobre. — então ele quem deu de ombros, percebendo que os dois já se aproximavam da saída da escola, já que já haviam atravessado todo o jardim de entrada. 

— Eu não quero.

— Vai ficar brava e me ignorar porque não apareci no encontro?

Soyoon parou de andar e o olhou com firmeza, umedecendo o lábio inferior. Tentou pensar um pouco mais antes de abrir a boca, mas quando percebeu já havia a aberto.

— Não era bem um encontro, lembra? Era um castigo. Eu tinha que fingir ser completamente apaixonada por você. Combinamos que sairíamos juntos para que eu pudesse passar por essa humilhação, mas... você não apareceu. Não estava tão interessado em ver minha humilhação, Denni?

Jimin permaneceu em silêncio lembrando-se do real motivo. Linn havia aparecido e o mesmo perdeu o controle das coisas, então acabou deixando seu encontro com a morena de cabelos longos de lado. Não era para ele ter se preocupado um pouco mais e não ter deixado Soyoon plantada? Ou era para ele estar se preocupando menos, já que ela era apenas a boba da Yun Soyoon, e não merecia sua consideração?

Era apenas uma aposta que ela havia perdido, e era ela quem tinha que fingir estar apaixonada por ele, não o contrário.

— Então você não ficou brava por não termos passado aquela noite juntinhos como um casal apaixonado? — pronunciou em um tom debochado, dando conta de que de uma coisa ele não podia abrir mão: sua pose de superior.

Ele não estava atingido com a situação, afinal.

Estava?

— Você é besta. É claro que não. — ela voltou a cruzar os braços e olhar para frente.

— Uhum... então por qual motivo você não atendeu a nenhuma das minhas ligações depois disso? Nem viu minhas mensagens. Apenas sumiu.

Ela soltou um riso sarcástica.

— Falando assim quem parece bravinho é você.

— Não viaja. — disse ele, deixando de olhá-la com firmeza, como fazia antes.

— Eu não te atendi e nem respondi as suas mensagens porque eu não tenho obrigação alguma de fazer isso. Você ganhou a aposta, teve a oportunidade de me ver passar por um ridículo tendo que fingir ser completamente apaixonada por você, mas optou por não aparecer. Levando em conta o fato de que você jogou fora essa oportunidade, e que não temos mais que ensaiar porque a competição de dança já acabou... então não tenho mais motivos para falar com você. Tchau, Jimin.

Ele viu apenas os longos cabelos castanhos cobrirem as costas femininas quando ela voltou a andar finalmente saindo do colégio, sem querer ouvir a resposta que sairia do menino.

Ele odiava aquilo nela. Odiava quando ela não o deixava responder. Odiava principalmente quando tinha que admitir — para si mesmo já que nunca admitiria para qualquer outra pessoa — que ela estava certa.

O herdeiro soltou uma risada desacreditado e saiu também, a tempo de avistar a garota apoiada em uma parede arrumando o sapato que parecia machucá-la. Park negou com a cabeça, voltando a se aproximar, então esbarrou levemente no ombro da menina, se encostando na mesma parede que ela, a encarando novamente, de braços cruzados.

— Você tem certeza de que escapou do castigo? Foi uma aposta... você não cumpriu com o combinado ainda. — ele voltou a se pronunciar.

— Quem não cumpriu com o combinado foi você que não apareceu no restaurante.

— Eu apareci. — Park soltou sem pensar, arregalando levemente os olhos diante do blefe, fazendo com que Yoon semicerrasse um dos olhos.

— Oi?!

Park mordeu levemente os lábios analisando com calma a situação, pensando se conseguiria arcar com o que estava dizendo. Ele lembrava que havia ligado para Soyoon, mas que Jungkook havia atendido, e Jeon havia dito que Soyoon estava tomando banho. Tudo indicava que a garota havia esperado por pouco tempo no restaurante e que se encontrou com Jeon logo em seguida. Jimin podia dizer que apareceu no restaurante atrasado, mas que esteve lá apesar de tudo e não a viu.

— Eu confesso que me atrasei. Tive alguns problemas... — coçou o couro cabeludo, lembrando-se de Linn. — Mas eu fui. Estive no restaurante. E ainda no restaurante te liguei e te mandei mensagens, mas não tive resposta.

Ela não iria saber que se tratava de uma mentira. O que ela usaria como prova para dizer que Park não esteve mesmo no restaurante?

Não era brincadeira quando diziam que a Sete Elite mentia com extrema facilidade.

Jimin sabia que estava errado e talvez não tomasse a atitude que estava tomando naquele instante. Mas ao lembrar que foi atrás de Soyoon em "sua casa", para apenas depois disso descobrir que ela estava com Jungkook, sentia que podia se aproveitar ao menos um pouco da situação.

Sua relação com Yoon nunca seria de amor e paz. Estava certo disso. 

— Certo, é para eu acreditar nisso?

— Eu estou sendo sincero com você, garota. — ele revirou os olhos olhando para cima.

Soyoon soltou um riso pelo nariz. Sabia que a única coisa sincera naquele momento seria a risada que ela queria soltar o chamando de mentiroso.

A Sete Elite insistia em achar que eram ótimos em mentir, mas por que para Yoon parecia tão óbvio?

O único que ainda parecia um mistério para ela, era Yoongi.

— E o que você quer? Acha que eu tenho que pagar a aposta que perdi?

Jimin soltou um riso de lado, deitando a cabeça para a direita, analisando o levantar de sobrancelhas que saiu da menina.

— Eu tenho certeza. Eu ainda preciso sentir o gostinho da sua cara de derrotada tendo que fingir ser doidinha por mim. — ele encostou no queixo da morena ironicamente. — O que eu não duvido de que no fundo seja a realidade.

— Os seus fetiches são estranhos, Park.

Ela bateu na mão masculina pronta para xingá-lo, mas antes teve que segurar mais uma folha que quase voou para longe.

Ajeitando os documentos entre os braços, Soyoon viu rapidamente o endereço na ponta da folha, fazendo-a franzir o cenho e manter a expressão séria e pensativa. Fitou o rosto provocativo do mais alto a sua frente e pensou em como poder se aproveitar da situação do jeito certo.

— Certo, eu pago a aposta. Mas eu quero uma coisa em troca. — ela anunciou séria.

— Algo em troca? Não. Não vale. Eu não vou te dar nada e nem fazer nada. Foi você quem perdeu a aposta.

— Eu me lembro de que nada me dizia que eu era obrigada a fingir te amar no dia em que você quisesse. — ela cutucou o peito masculino sem paciência. — Se você quer mesmo que eu acredite que você esteve no restaurante, ok. Mas eu não tenho que ser crucificada por não ter ficado plantada te esperando.

— Quanto drama...

— Minha proposta já foi feita. Mas olha... me mostra que você é maduro e que me ver pagando um castigo besta não vai mudar nada na sua vida. Volta para o Atakura e esquece essa aposta, hum?

Jimin negou com a cabeça soltando uma risada pesada, com todo o sarcasmo que havia dentro de si.

— Eu não sou maduro quando se trata de você.

— É perceptível, criança. — ela crispou os lábios, impaciente. — Vai aceitar a proposta então.

— O que você quer?

Yoon mordeu o lábio puxando a folha e a esticando em direção o herdeiro.

— Decidi ir até esse endereço hoje. Ele não é muito perto de Seul. Você pode me dar uma carona.

— Nem a pau. — ele negou de primeira, devolvendo a folha escrita em caligrafia adorável.

— Então esquece a aposta idiota. Eu não vou aceitar um encontro falso de novo pra isso. — ela grunhiu irritada.

— Espera.. isso quer dizer que você quer pagar o castigo durante essa carona? Por isso pediu para que eu te leve?

— É, gênio. Estou juntando o inútil e o desagradável.

Denni deu risada.

— Certo. Nós vamos agora?

— Eu prefiro.

— Não pode voltar atrás. — ele apontou para a jovem, a fitando com os olhos semicerrados. — Fica aqui. Eu vou buscar o carro.

Sem que Yoon pudesse responder, o garoto acelerou os passos dando a volta pelo Atakura, para que pudesse chegar mais rápido ao estacionamento. Soyoon respirou fundo revirando levemente os olhos, levantou a cabeça para tentar sacar se era mesmo uma boa ideia inventar de ir aonde Mayca havia pedido para que ela fosse.

Queria se convencer de que não passava mesmo de uma ideia imbecil, mas ela queria saber o que Mayca também queria que ela soubesse, por isso seguiria firme em sua decisão.

Encostou-se em um poste bem cuidado de frente para o colégio e olhou ao redor se acolhendo diante do frio. O céu cinzento a irritava naquele instante e ela só sabia pensar em como poder se agasalhar melhor, já que a blusa que usava não era tão quente quanto achava que fosse.

Com os olhos quase fechados tentando lidar com a miopia que tanto a irritava, Soyoon levantou as sobrancelhas surpresa ao avistar um indivíduo de roupas pretas e boné sair de um local antes fechado, do outro lado da rua. A garota engoliu saliva sentindo um arrepio lhe atravessar, conectando a pessoa à quem havia lhe batido dentro do Atakura pouco tempo atrás.

Soyoon sentiu muito medo, mas não pôde se mexer, apenas permaneceu parada, olhando para os movimentos feitos pela pessoa que olhava para os lados de maneira investigativa. As mãos da garota suavam e sua respiração se tornou intensa.

— É sério que não está ouvindo eu te chamar? — seu ombro foi tocado com força, fazendo a jovem Yun dar de cara com Park, que a olhava questionador e levemente irritadiço. — Tive que sair do carro pra te chamar. Fala sério...

— Desculpa. — ela se mexeu, olhando para o chão levemente confusa. — Podemos ir?

Jimin ficou um tempo olhando-a desconfiado, perguntando-se o porquê da distração estranha da menina, mas por fim, se afastou um pouco ainda sem deixar de encara-la.

— Já que você está mesmo disposta a pagar o castigo em troca da carona, eu tenho minhas exigências.

A jovem revirou os olhos.

— Era o que me faltava... tá, fala.

Ele deu risada sem poder se segurar, expressou uma careta sarcástica e irritante.

— Assim que entrarmos no carro você deixa de ser a Soyoon rancorosa que quer me agredir na maior parte do tempo.

— Tá. Quando a gente entrar no carro você vira o amor da minha vida.

— Por 24 horas. — ele concluiu.

— 24 horas não, Denni!

— O trato era esse!

— Não quero. — cruzou os braços emburrada. — Eu não consigo ser falsa por tanto tempo.

Jimin travou o maxilar remoído por dentro.

— Se você não vai pagar o castigo direito, eu também não vou te ajudar do jeito certo. Vou fazer as coisas pela metade.

— O que é que você quer dizer?

— Eu só vou te levar nesse lugar e venho embora. Você se vira para voltar.

Soyoon grunhiu assistindo o herdeiro andar para entrar no carro que havia deixado estacionado a poucos passos.

— Park, você é tão insuportável... — ela falou alto, já o alcançando.

Ela o olhou do outro lado para entrar no lado do motorista.

— Você não pode sair do personagem. Se você sair uma só vez... vai ter que sobreviver a mais um castigo. — ele avisou apontando-lhe o dedo indicador.

Ela lhe lançou um olhar fulminante e passou o dedo do meio no próprio pescoço, deixando claro que o mataria.

Ele apenas piscou e entrou.

Respirando bem fundo enquanto fechava os olhos, Yoon balançou a cabeça para si mesma preparando-se para aturar a situação. Mas tinha que acabar logo com tudo, sabia que Park nunca a deixaria em paz. Tinha pena de quem devesse dinheiro ou qualquer outra coisa para o herdeiro número 1 mimado.

Puxou a trava da porta e entrou de uma vez, acomodando-se no banco do passageiro. Umedeceu os lábios e encarou o perfil do garoto de cabelos escuros.

— O endereço? — ele questionou sem olha-la.

Ela aproveitou para analisar todo o corpo de Denni, percebendo que o mesmo não usava mais o uniforme do Atakura, se perguntando como o mesmo havia conseguido se trocar tão rapidamente.

— Avenida Munhwa, 347.

Ele deu partida após adicionar o destino ao GPS, que indicou 30 minutos de viagem.

— Meia hora de viagem é sacanagem, Soyoon... — ele comentou, prendendo o cinto, enquanto ainda dirigia.

Ela segurou a língua, engolindo seco.

— Sinto muito, oppa. Não queria ter que te fazer perder tempo.

Ele a olhou de supetão e segurou a risada maldosa que queria dar.

— O que você está indo fazer lá?

— Uma colega sumiu. Parece que ela viajou, na verdade eu não sei bem... — umedeceu um pouco os lábios. — Ela deixou um bilhete para mim com esse endereço. Eu não dei muita atenção, mas hoje, a direção do Atakura me entregou uma carta dizendo que foi deixada para mim há alguns dias. A carta era dela, e ela pede novamente que eu visite esse lugar. Então eu decidi fazer logo isso para que não sinta a consciência pesada.

— Desencargo de consciência então. — ele falou baixo.

A menina olhou para as próprias mãos que seguravam a bolsa marrom.

— Me sinto segura porque você está me levando até lá. — ela sorriu fechado e o olhou. — Obrigada.

Ele a olhou também e balançou a cabeça. Não soube de imediato como reagir.

Não sabia que a atuação de Soyoon seria capaz de deixa-lo confuso.

— É bom ser da Sete Elite, pois pode chegar atrasado e sair da escola quando quiser? — a menina voltou a falar.

— Depois do treino de hoje com o Bangpae, eu só tinha aulas no clube de inglês. Nada de importante.

Soyoon sorriu e olhou para o colo novamente.

— Vir atrás de mim era mais importante, oppa?

— O quê? Não. Claro que não. — arregalou os olhos incrédulo enquanto Soyoon fingia tristeza em meio à indiferença.

— Entendo. — ela murmurou baixo, balançando os olhos. — E como tirou o uniforme tão rápido? 

— Troquei de roupa no carro antes de tira-lo do estacionamento. Tenho minhas técnicas.

Yoon prendeu uma mecha do cabelo sem força no dedo indicador e sorriu para o moreno que parava no sinal vermelho.

— Você é bom em muitas coisas. — a garota tocou o braço de Park com a mão esquerda, abrindo um pouco mais o sorriso. Então soltou um riso nasal. — Estou te elogiando por ter trocado a roupa rapidamente. — deu uma gargalhada. — Desculpa, acho que foi estranho.

Jimin negou levemente com a cabeça.

— Tudo bem. — falou baixo.

— Como foi o seu dia? O meu estava bem sem graça, eu confesso. — a menina falou de forma tagarela, enquanto mexia a cabeça pensativa olhando para frente. — Mas me animei depois que te vi treinando. Eu gosto de te ver treinar. Basquete te faz sorrir bastante, e eu gosto do seu sorriso.

— Não seja uma stalker. — ele revidou, crispando os lábios enquanto revirava os olhos.

Soyoon soltou uma careta. Jimin levantou as duas sobrancelhas analisando a morena por rabo de olho, pensando no que havia acabado de ser dito.

— É sério? — perguntou ele, sem olhá-la.

— O quê? — ela retrucou confusa.

— Me ver treinando te fazia bem?

Ouvir Jimin fazer a pergunta usando o passado incomodou até o último fio de cabelo de Soyoon, que ficou calada sendo cercada pelo olhar julgador do herdeiro número 1. Ela sabia que ele não estava perguntando aquilo para o personagem que ela estava interpretando naquele momento, ele claramente estava perguntando sobre situações do passado.

Estava perguntando sobre os sentimentos de Soyoon no passado.

— Sim. — ela murmurou tão baixo, virando o rosto para a janela, que Jimin teve sorte de poder ouvi-la.

Ele percebeu que talvez nem ele quisesse falar mais, então deixou que o assunto e a forte e incômoda interpretação fossem dominados pelo silêncio que se instalou no carro. O silêncio fora quebrado apenas pela música que passou a tocar, quando Park lembrou que dificilmente dirigia sem som.

Se divertir com a cara de boba de Soyoon se fingindo de apaixonada o distraiu. Só de lembrar da expressão da garota, teve que se segurar para não gargalhar alto. Por mais que ele quisesse voltar a ter sua diversão, Yun continuava com o rosto virado para a janela, e ele decidiu deixar como estava.

O resto do caminho em completo silêncio pareceu ter dado leveza ao momento. Park analisou com calma o lugar onde se aproximava, então aproveitou ao ver que a entrada do local tinha espaço o suficiente para estacionar o carro. Ele desligou o automóvel e suspirou olhando para o lado.

Franziu o cenho vendo Soyoon com a cabeça jogada para trás cochilando de boca aberta e expressão calma. Ele segurou a risada e puxou rapidamente o celular do bolso, tirando uma foto da garota. Segurando a risada novamente , respirou fundo, tocando no ombro feminino e a balançando, vendo-a acordar assustada.

— Chegamos? — perguntou levemente assustada.

— É aqui. — ele apontou para a construção a frente.

— Obrigada. — ela disse, tirando o cinto de segurança e arrumando o cabelo para sair.

— Soyoon, eu vou com você.

Soyoon travou e lentamente olhou para trás, encarando o herdeiro sem reação.

— Mas por quê? — questionou inquieta. — Disse que me deixaria aqui e iria embora em seguida.

— Não vi ponto de ônibus, estação de trem ou ponto de táxis aqui perto. Não quero ser investigado como suspeita caso aconteça algo com você.

Soyoon respirou fundo pronta para xingá-lo, mas antes engoliu seco fechando os olhos e dando um sorriso forçado. Por alguns segundos esqueceu da maldita aposta, e por pouco não teve que cumprir mais um castigo.

Ela tinha certeza que ele só queria passar mais tempo com ela para poder ter o prazer de vê-la atuando por mais tempo. Ele sabia mesmo como irritá-la.

— Obrigada por se preocupar, oppa. — ela respondeu e saiu do carro, fechando a expressão assim que fechou a porta atrás de si.

Tentou ignorar o estresse e olhou para o lugar a frente, analisando com calma cada detalhe. Não era um lugar feio, pelo contrário, parecia aconchegante. Havia uma pequena escada de aço que dava acesso à uma porta cinza. Toda a estrutura era alaranjada, e na parte de cima um telhado bem cuidado, mas parecia antigo.

Se aproximou aos poucos para poder ver com clareza o lugar, mas percebeu que o mesmo não tinha nem mesmo nome, apenas a numeração. Pela primeira vez pareceu aliviada por não estar sozinha.

— Sabe o que é isso? — Jimin perguntou avançando os passos para que ele e Soyoon subissem juntos a escada que levava à entrada.

— Não. — respondeu.

Jimin deu de ombros e abriu espaço para que a menina abrisse a porta cinza. Yun molhou os lábios e empurrou a porta, olhando para dentro do lugar e franzindo levemente o cenho. Ela entrou aos poucos e olhou ao redor.

Viu um balcão logo de entrada, o chão todo revestido por um carpete vermelho, um teto decorado por gesso e quadros de paisagens por quase toda parede preenchida por um papel de parede bege.

Park entrou logo depois, fazendo o mesmo e olhando tudo ao redor. Soyoon ajeitou a bolsa no ombro e se aproximou devagar do balcão, olhando meio incerta para a moça de óculos e sorriso doce.

— Boa tarde, os senhores têm visita agendada para hoje? — ela perguntou sem tirar o sorriso dos lábios. — Para quem?

— Desculpa, eu... eu não tenho visita alguma agendada. Na verdade, pediram para que eu viesse.

— Pediram? — a moça franziu a testa. — Quem pediu?

— Uma colega. Hiro Mayca.

— Acredito que eu seja a única que possa te ajudar. — Jimin e Soyoon olharam para trás avistando uma senhora se aproximar, com as mãos juntas à saia branca e longa que usava. — Meu nome é Uhn Sonya. Sou a diretora da Aejeong.

— Aejeong? — questionou Soyoon, curiosa.

— Sim. Você disse que veio a pedido da Mayca, não é? — Soyoon assentiu dando um passo para trás e esbarrando levemente em Park. — Deixe-me ajuda-la. — a mais velha sorriu e olhou para a moça do balcão. — Eu conversarei com eles, fique despreocupada.

— Sim, senhora. — curvou levemente a cabeça ainda sorrindo educada.

— Eu, na verdade, não sei bem o motivo pelo qual Mayca pediu para que eu viesse. — Yoon voltou a falar.

— Ela não adiantou nada do assunto então? — Sonya arrumou o óculos de armação branca. — Certo, eu explicarei. Podem me acompanhar?

Soyoon analisou as costas da mulher andando na frente e prendeu os lábios a acompanhando ainda sem deixar de olhar ao redor. Jimin ao seu lado permanecia calado o tempo todo, sem deixar explicito o que pensava.

Andavam pelo corredor longo e largo, passando por algumas portas de madeira, essas que camuflavam algumas conversas altas. Virando a direita, era possível ouvir as risadas do lado de fora do lugar, através das janelas largas de vidro. Por fora o lugar não parecia tão grande.

Distraindo-se com as pessoas do lado de fora, Yun desacelerou os passos tentando enxergar algo. Dando conta de que havia ficado para trás, acelerou os passos e quase grudou o corpo ao de Denni, roçando suas mãos e segurando com firmeza as pontas dos dedos masculinos.

Jimin olhou surpreso para o lado, sentindo a mão gelada de Soyoon tocar a sua inesperadamente. O menino olhou para o rosto da morena de cabelos longos, mas a mesma continuava olhando para cada detalhe do lugar, ainda segurando seus dedos como uma forma de apoio.

— Aqui é um lugar mais arejado. — Sonya parou de andar, parando em uma sala de espera bem iluminada pelas janelas. A senhora revezou o olhar entre o rosto de Soyoon e o de Jimin, descendo então e encarando a mão feminina prendendo os dedos masculinos em um enlaço intimo.

— A senhora pode me explicar agora?

Sonya levantou levemente uma das sobrancelhas ainda olhando para as mãos jovens por alguns segundos, então lhes deu um sorriso.

— Me sinto um pouco mais aliviada diante disso. — ela apontou discretamente para a forma como Yun segurava firmemente a figura masculina, fazendo com que a menina percebesse e suavizasse o toque se afastando um pouco.

— O que quer dizer, afinal? — foi a vez de Denni falar, sem entender o que a mulher queria insinuar, e se sentindo sem graça com a situação.

Jimin estava confuso.

Segurar sua mão fazia parte da atuação de Soyoon? Ou ela queria mesmo fazer aquilo?

— Bem, como eu havia dito antes, sou a diretora da Aejeong, e-

— Mas o que é a Aejeong? — Yun a cortou, sem entender do que se tratava, analisando a mulher sentar, então fez o mesmo.

— Aejeong é um colégio católico, interno para meninas. Cuidamos de nossas meninas durante o ano letivo inteiro. Temos aulas extras para que possam encarar o mundo ao se formarem, temos dormitórios divididos por duplas e priorizamos a religião e a importância de cuidarmos umas das outras.

Assim que Jimin sentou-se ao seu lado, Soyoon segurou levemente seu pulso, o usando mais uma vez como um apoio. Jimin não a olhou daquela vez, deixando para analisar a senhora arrumar os óculos novamente.

— Mas por qual motivo estou aqui? — Yun perguntou, sentindo um frio na barriga sem entender o porquê de não se sentir mais tão bem.

Tinha um mal pressentimento, e pensou que não continuaria a agradecer por não estar sozinha.

Sonya levantou indo à entrada da grande sala e puxando as duas portas pesadas para fecha-las. Ela voltou para se juntar do casal e coçou a garganta ficando séria.

— Yun Soyoon, não é? — a mais nova assentiu. — Eu não sei qual o seu nível de proximidade com a Hiro Mayca, mas ela mostrou confiar bastante em você.

Por reflexo, Yun encarou Jimin, vendo-o realizar o mesmo gesto.

Ela nunca foi realmente tão próxima de Mayca, ela a ajudava com o que podia, mas naquele momento, não entendia o porquê do rumo que a conversa tomava.

— Por que diz isso?

— Se incomodam se eu contar uma historia? Talvez seja melhor para que entendam.

— Você quer que eu fique? — Park perguntou para Soyoon, baixo e desconfortável.

— Sim. — respondeu. — E a senhora pode dizer tudo o que precisa. Eu quero entender porque Mayca quis tanto que eu viesse aqui.

— Certo. — assentiu concentrada. — Soyoon, em nosso colégio temos um tipo de matrícula um pouco mais rigorosa e tradicional. Aceitamos algumas meninas ainda crianças, mas elas não passam apenas o ano letivo aqui. Elas passam anos seguidos aqui, e sem intervalos até que se formem.

— Sem intervalos? Você quer dizer sem ver a família? Durante anos?

— Sim.

— Isso me parece a função de um orfanato. — Jimin murmurou levemente sarcástico.

— Essas alunas têm visitas da família e amigos com muita frequência e direito a ligações quando quiserem. — Sonya concluiu.

— Por que é importante que eu saiba sobre isso? — perguntou Yun.

— Hiro Mayca era uma dessas alunas. Ela entrou na Aejeong aos onze anos, quando chegou em Seul.

— E então?

— Ela partiu um pouco antes do esperado, quando soube que a família havia se mudado para longe e a deixado para trás. Simplesmente deixaram de pagar a escola e de entrar em contato com ela. Mayca ficou muito chateada. — Sonya olhou para baixo parecendo chateada. — Eu ofereci que ela ficasse conosco pois sempre foi uma aluna muito querida e inteligente, mas ela estava tão magoada naquela época que simplesmente juntou as coisas e foi embora em uma madrugada, sem que ninguém a visse e insistisse para que não fosse.

— Mayca foi abandonada aqui pela família quando já era quase uma adulta? — Soyoon se curvou, apoiando os cotovelos nos próprios joelhos.

— Sim. Eu a encontrei algum tempo depois, mas ela preferiu se esconder por vergonha. Estava se prostituindo. Mas eu não a juguei, mesmo que ela tenha sido criada aqui, em um lugar cristão.

— O seu carinho por ela foi maior. — Yoon murmurou.

— Recentemente Mayca apareceu aqui, acompanhada.

— Antes de desaparecer. — a morena concluiu, olhando para o chão.

— Ela me falou sobre você e disse que faria de tudo para que você viesse aqui conversar comigo.

Soyoon respirou fundo impaciente, olhando para cima levemente irritada.

— Mas por quê? Por que ela me fez vir aqui?!

Sonya levantou de onde estava e sentou-se um pouco mais perto de Soyoon, para que pudesse olha-la com mais firmeza.

— Mayca deixou comigo uma carta com um carimbo judicial onde declara que na ausência dela, você é responsável pelas decisões que envolvem o filho que ela trouxe ao mundo. Em outras palavras, ela decidiu que você é a única pessoa apta a responder legalmente pelo filho dela.



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