1. Spirit Fanfics >
  2. Sinceramente, Matt. >
  3. XXIII

História Sinceramente, Matt. - XXIII


Escrita por: missowl

Notas do Autor


Riverside - Agnes Obel
Dá pra perceber que sou louca por essa cantora, né?

Capítulo 23 - XXIII


   Tudo bem, eu não posso fazer nada quanto à decisão de Matthew White recusar ir para algum bar ou festa, mas tudo bem, Matt nunca me pareceu muito... sociável. Mas o.k., desde que William não estivesse por perto, e que eu me divertisse. Acho que não seria muito difícil - talvez a parte de William Stewart me desse certo trabalho, mas posso remediar isso. Encostei minha cabeça no ombro de Matt, encarando a TV desligada.

   - Quer que eu ligue a tevê...? - pergunto, reprimindo um bocejo no final. Matthew nega, sussurrando. O ambiente está calmo e os únicos sons são de pássaros e cães lá fora, já que a rua em que moro é calma. Beeeem diferente da Leo, mas preciso ressaltar isso de novo?

   Eu gosto da minha rua, porque ela é bem pacata e graciosa, como se fosse uma rua de bonequinhas. As casas são quase iguais, exceto por uma no fim da rua. Ela é enorme apesar de seu único pavimento. É cheia de teias de aranha na varanda, entre o teto e um dos pilares de madeira. Essas teias formam um cortinado meio assustador durante a noite, principalmente quando está iluminado pela luz amarela do poste. Apesar disso, se você for imaginar sua aparência de alguns anos atrás, percebe-se que foi uma moradia bem confortável e até bonita. Uma pena que seus anos de ouro já passaram, porque agora a pintura amarela está descascando e o jardim está cheio de mato. Sua única árvore está há anos sem podar, e se dá frutos ninguém tem coragem de ir ver. A moradora não deixa.

   Sim, tem gente que mora lá. Se chama Emelinne Swan, e é tão velha que quando minha tia se mudou para essa rua, ela tinha bem uns 50 anos e já tinha enterrado o marido. Hoje ela tem 80 e não sai de casa para nada. Sua única filha, Prudence Swan, não a visita desde que eu comecei a morar aqui com tia Clare, e talvez antes disso já tenha parado de vê-la. Ela tem netos, pelo menos um só que eu saiba. Quando o vi, parecia um garoto calmo e que amava brincar. Se Prudence ficou grávida de novo, não tenho ideia.

  Mas de uma coisa sei. Me enganei profundamente como nunca poderei fazer novamente ou vou me fuder. Esse menininho calmo e brincalhão não era nada disso. O nome de casada que Prudence adotou é Prudence Swan-Stewart. O nome do meu ex-namorado psicopata é William Swan-Stewart.

    Legal. Muito legal.

   Matthew se moveu um pouco no sofá e retirei minha cabeça de seu ombro.

   - O que foi? - pergunto.

   - Preciso ir agora, Arabella, assuntos pendentes - diz Matthew White, com um quê de frustração na voz. Franzo o nariz pra demonstrar que não estou satisfeita com a decisão dele de ir embora antes do almoço, então me jogo sobre seu colo para que ele não saia de sua posição. Matt me encara e tira as mechas que ficaram sobre minha cara. Meus olhos desiguais encontraram os seus perfeitamente verdes. Demos mais um beijo, e isso serviu para me distrair o suficiente para que ele se esquivasse de meu peso e fosse se despedir da minha tia.

   - Desculpa - diz ele, quando volta para a sala e vai em direção à porta. - Mas não está brava comigo à ponto de recusar um pouco de vinho, está? - sorri ele, como se tivesse dez anos de idade e desafiasse sua mãe ou pai. Reviro os olhos e mando um beijo para ele. Matthew White vai embora, e assim que ouço o portão de casa se fechar, minha tia aparece no portal da cozinha. Ela parece curiosa.

   - Por que ele não fica pro almoço? - pergunta.

   - Assuntos pendentes, foi o que ele disse - respondo, deitando novamente no sofá. Tia Clare sorri quando meu celular apita. Mensagem nova.

   "Alexandra e eu. Cheguei em Ohio. Diz pra minha mãe que tô legal. Peço desculpas pela falta de notícias.", diz a mensagem. Logo em seguida recebo uma foto e vou até a cozinha, com a imagem preenchendo a tela do meu celular. Alexandra, a Bonitona (como eu e minha tia passamos a chamar a namorada de meu primo, apesar de eu preferir Alexandra, a Cega), portava um sorriso angelical como na primeira foto em que a vi. Mas agora meu primo estava ao seu lado. Estão sentados em um campo extenso e verde, de costas para um lago. Provavelmente, o lago Erie. Tanto faz. O que importa é que minha ossuda tia abriu um sorriso glorioso.

   - Logo eles estarão casados - afirmou ela, emocionada novamente. Assenti com a cabeça e esbocei um sorrisinho amarelado. Exceto que Alexandra fosse cega e surda, não aguentaria Curtis por muito tempo. Quando tia Clare decidiu voltar à seus afazeres, voltei para o sofá e chequei minhas outras mensagens. O grupo em que eu participo, com Rhody, Catherine, Wes, Kendall e mais recentemente Ally e sua irmã gêmea Cecily, estava cheio de mensagens não checadas. Eu, com tempo de sobra, pude checar todas e conversar com os meus amigos por quase toda a tarde e antes do almoço também.

   Às quatro e meia, o telefone tocou e tia Clare decidiu atender. Ela não desgruda do aparelho mesmo. Ouvi vários "ahams" e "uhums", até um riso acanhado, até que ela desligou. Quando o fez, veio pra sala e desabou na poltrona ao lado do sofá onde eu estava.

   - Nós vamos até a casa da velha Swan hoje - anuncia. Desvio minha atenção do celular e ergo os olhos para minha tia. - Ela está morrendo, Bella, e você já a ajudou muito, lembra? Fazendo suas compras, cuidando de sua coruja Iris - lembrou-me ela. Suspirei. Emmeline era uma coisinha resmungona e rabugenta, mas sempre foi generosa quanto aos pagamentos que fazia por meus serviços. Conseguia ser até amável, e sempre me deu presentes em meus aniversários. Fazia questão de comparecer, apesar de seu andar gingado e fraco. - E nisso, conheceremos o herdeiro da casa da velha - resmunga minha tia, brincando com as mãos. Opa. O herdeiro? No masculino? Ah, nãããão.

   - Tia - chamo - é realmente herdeiro? Não é herdeira? Ela tem uma filha mulher, afinal...

   - Não, é herdeirO - diz, colocando ênfase no "o".

   Ah, não. Não, não, não.

   - Podiam passar a casa para a menina da Prudence, Grace - continua minha tia. - Ela é mais nova que o irmão dela, mas um dia ela vai crescer. Acho que uma mulher consegue cuidar melhor de uma casa, apesar de que a velha Swan é uma exceção.

   - Qual é o nome desse herdeiro? - pergunto, tentando me acalmar. Minha voz não sai tremida, por sorte.

   - William - diz tia Clare. - De qualquer jeito, estamos indo para lá agora. Calce seus sapatos, querida, vamos visitar uma velha com o pé na cova.

   E fomos. Eu não queria, de jeito nenhum, mas poderia ser a última vez que eu veria Emmeline com vida, e ela é gentil apesar de seu jeito, como eu antes disse. Atravessamos a rua para ir à casa da velha Swan. Enfrentamos o mato que era seu quintal, as teias de aranha e a sala abarrotada de poeira e móveis muito antigos que davam a impressão que essa era uma casa que existe desde o século dezenove - e que sua última limpeza também fora nessa data.

   Quando chegamos ao quarto de Emmeline, ela estava deitada e agasalhada com três grossos cobertores que pareciam ásperos ao meu ver, porém a velha estava bem confortável, ou aparentou estar. Seus olhos azuis e pequenos como os de um porco não suportavam mais o peso das pálpebras, e ela parecia que cairia em seu sono (ou em sua morte) a qualquer momento. Sua filha, Prudence, estava sentada ao pé da cama, olhando para a janela. Will, como eu temia, também estava lá, encostado na parede e encarando o chão. A tal Grace, uma garota de feições delicadas e corpo frágil se encontrava sentada em uma cadeira junto à cama de casal onde sua avó moribunda estava deitada.

   Assim que a velha percebeu a movimentação em seu quarto - não sei como - ela grasnou para sua neta pedindo seus óculos de armação vermelha-sangue. Ao me avistar, pediu para que eu me aproximasse e a desse um abraço.

   - Pra aquecer essa pilha velha de ossos que sou - justificou ela, com emoção na voz. A abracei, e logo após minha tia também foi aquecer a velha pilha de ossos que é Emmeline Swan. Quando ela se solta do abraço frouxo, tia Clare tem lágrimas que logo cairão. Me encosto na parede e espero. Eu não sei o que espero exatamente, mas algo me diz - diz a todos os presentes - que Emmeline morrerá em pouquíssimo tempo, em questão de minutos.

   E isso aconteceu. Em seus últimos momentos, a velha permanecera calma e com uma cara rabugenta, como sempre fora. Segundos antes de sua morte, porém, ela suavizou sua expressão, fechou seus olhinhos e suspirou pesadamente.

   Por fim, morreu. Às quatro e cinquenta e cinco daquele dia. Grace foi a primeira a perceber e a primeira a chorar. Prudence tinha o rosto como se envelhecesse 30 anos em poucos segundos. Will continuava impassível, apesar de ser o herdeiro de sua avó. Tia Clare estava como Prudence, e chegou a ponto de abraçá-la. Nunca vi um ato de simpatia vindo da mãe de William para minha tia, mas acho que a morte faz coisas estranhas com pessoas vivas.

   Voltamos para casa um tempo depois. Will me encarava quando atravessamos a porta que nos conduziria à rua. Dei graças que ele não me provocou. No momento em que coloquei meus pés na sala de casa, Nico pulou em minhas pernas fazendo uma festinha animada. Fiz carinho atrás de suas orelhas e pulei pro sofá, abatida. Meu celular apitou - de novo - mas dessa vez era Matthew White.

   "Rua Leo, cinquenta e sete.", era o que dizia a mensagem. Segundos depois, outra. "Por favor". Suspirei, cansada. Mostrei as mensagens à minha tia e o que ela falou? Que era melhor que eu fosse. Assim minha cabeça ficaria mais tranquila e esqueceria logo a morte da velha Emmeline Swan. A neve começara a cair e logo as ruas estariam brancas. Busquei um cachecol, botas pretas e um gorro, além de um casaco mais pesado. Eram cinco e meia.

   Então fui até a Leo, cinquenta e sete. Não era um café, definitivamente não, mas sim um prédio. Não estava nada mal conservado e tinha uma aparência austera e acolhedora. Fui até o porteiro, uma menina pouco mais velha que eu, com cabelos cor de rosa longos e cheios de cachos e um rosto redondo e pardo. Ela me parece hostil à primeira vista.

   - Qual o apartamento de Matthew White? - pergunto. A garota levanta o olhar para mim, suas íris escuras e brilhantes. Ela sorri.

   - Primeiro andar, 101. - diz. Agradeço e começo a me afastar.

   - Ei, menina - me chama a garota de cabelos rosas. Me viro para fitá-la novamente. - Belos olhos - diz, virando-se para seu balcão de novo. Não havia ironia alguma em sua voz. Subo as escadas até o 101, mas não sem antes conhecer o morador do 102, trombando com ele. Se chama Guy e tem um ótimo senso de humor, além de ser duro como uma parede e ter uma filha adorável chamada Tya.

   (N.A.: coloquem a música, não que esteja em suas obrigações, mas ainda assim)

   A porta do 101 está aberta. Entro e vejo que onde Matthew White mora é um estúdio de paredes brancas e poucos - porém bonitos - móveis. Tem um piano no centro da sala/quarto, e Matt está tocando uma música nele. A reconheço, Riverside, e começo a cantar junto com a melodia do piano. Me sento no banquinho, ao lado de meu namorado talentoso (e, ressaltando, normal), e acompanho-o durante todas as músicas que vieram após essa, até que eu acabasse por dormir.

 

Sinceramente, Matt, enquanto estávamos juntos, o tempo parecia parar. Que horas eram quando adormeci ao seu lado?



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...