Anais Hudson III.
Foi este o barco que Joseph houvera alugado por um dia inteiro, apenas para ele e Caesar – palavras dele, ao menos. Não era a primeira vez que os dois faziam aquele tipo de programa juntos, afinal de contas, desde que o conheceu, Caesar sempre percebeu que Joseph gostava muito de entender e desvendar as mecânicas da maioria dos veículos, e até sabia pilotar um avião monomotor.
Então, por um bom tempo, a única visão que Caesar teve pela manhã foi apenas as costas do Joestar, enquanto ele dirigia pelo timão. Vez ou outra, ele largava a roda do leme para checar alguma coisa nos fundos; nunca demorando mais que cinco minutos.
Caesar se deliciava com um pedaço de sanduíche de frango – cortesia de Joseph – enquanto se entretinha com a espuma branca que se formava ao redor do barco à medida que ele avançava.
Em dado momento, no entanto, do passeio, Joseph diminuiu a velocidade até que o barco parasse, e ele até mesmo chegou a não se mover, mesmo sem atracar. As ondas eram quase nulas, mas por precaução, ele ainda assim jogou a âncora ao mar.
– Nunca se sabe quando uma tempestade pode aparecer, certo? – Ele sorriu, puxando levemente a corda e dando um nó para prendê-la no corrimão.
– Dá para imaginar quando vem uma. – Caesar comentou, sem muita emoção, olhando para o céu. Mal tinha nuvens. – Várias nuvens se juntam, tudo fica cinzento, a brisa fica hostil... É escolha do navegador se proteger ou deixar para a sorte.
Joseph sentou-se em sua frente, apoiando os cotovelos nas coxas.
– O que você faria?
– Hm?
– Numa tempestade. O que faria? – O Joestar meneou o rosto para o lado, umedecendo suavemente os lábios, deixando o sorriso visível.
Caesar cruzou as pernas, devolvendo uma expressão à altura da de Joseph.
– Dormiria na proa.
A resposta, claramente, deixou Joseph confuso, mas o fez rir. No entanto, Caesar continuou.
– Eu dormiria na proa, porque saberia que a tempestade não seria hostil a ponto de me derrubar do barco. Eu confiaria nela, porque ela nunca me fez mal algum antes. – Ele deu um longo suspiro. – Mas aí, eu teria ficado surpreso caso ela viesse a gostar mais do céu do que a mim, e eu esqueci que tempestades também podem trazer tornados e trovões. – E levou os olhos a Joseph.
Ele captou a indireta.
– Pergunte. – Joseph disse, por fim. – Pergunte tudo o que quiser, e eu vou responder com a mais pura honestidade, como eu prometi que iria.
– Não espere que, mesmo sendo honesto comigo, eu vou automaticamente voltar para você. – Caesar deixou um pouco da sua voz evidenciar sua ira.
– Não espero. – O Joestar deu de ombros. – Mas eu quero ao menos que você me ouça. Não gostaria de ter que viver o resto dos meus dias com você magoado comigo. Eu me propus a ganhar seu perdão, Caesar. O que vier depois disso, se é que virá, é apenas lucro.
Caesar se manteve calado por alguns minutos, ponderando. Foi neste meio tempo que ele conseguiu formular algumas perguntas, enquanto Joseph esperava pacientemente por elas.
– A moça... Que veio me buscar. Quem é ela? – Caesar apontou para o cais, mas não havia muito o que ser visto se não um borrão no horizonte.
– É a Tomoko. – Joseph deixou um sorriso escapar. – Bonita, não?
– Muito. – O italiano abaixou os olhos. – Desde quando vocês se conhecem?
– Desde pirralhos, eu acho. – Joseph deitou-se na proa, pondo a mão direita sobre o peito. – Ficávamos brincando juntos durante o Ensino Elementar, apesar de ela ser minha veterana. Mas nos separamos quando ela foi para a faculdade, e nos reencontramos aqui.
– Aquele bebê... Ele é-
– Se é meu? – Joseph virou o rosto, assustado. – Não. Não mesmo, Ceasarino.
Caesar, supreendentemente, ficou pasmo.
– Quando eu e Tomoko nos reencontramos, ela já estava grávida de uns dois meses. Ela é casada e tal, vai fazer uns quinze anos. Tomoko é quase cinco anos mais velha que eu.
– Eu também sou mais velho que você, Joseph.
– Só dois anos. E eu sou mais alto que você e nem por isso saio anunciando, sabia? – Ele ergueu o corpo nos cotovelos, mas deu um sorriso tranquilo, continuando a sua história. – Quando ela saiu da cidade, eu e meus irmãos ainda estávamos no Ensino Médio. Então... – E a história foi se desenrolando sem mais nem menos, apenas a boa e calma voz de Joseph narrando sua relação (altamente amistosa) com Tomoko e vez ou outra ele citava algum outro personagem que não tinha tanta relevância naquele momento.
E Caesar ria ocasionalmente, gostando daquelas histórias que até então nunca tinha ouvido na vida. Mas o que mais se perguntava, e o motivo primordial para que ele tivesse ido até aquele Joestar ridículo, ainda não havia sido esclarecido.
– Jojo...? – Caesar murmurou depois de notar uma pausa relativamente mais longa na narrativa de Joseph. Nem se apercebeu que o chamou pelo apelido e aquilo muito agradou o gêmeo do meio.
– O que foi? – Joseph se apoiou no cotovelo, ficando integralmente de lado para Caesar.
– Se não tinha nada de tão grave para esconder de mim, por que omitiu por tanto tempo sua amizade com a Tomoko-san? – Caesar percebeu-se confuso, ainda que estivesse aliviado. Joseph, no entanto, ainda não tinha o surpreendido o suficiente.
– Porque eu te amo, Caesar.
– Mas que porra isso tem a ver com amor?
– Você continua super carinhoso, ainda bem.
Joseph levantou-se com uma calma surpreendente. Depois, segurou Caesar pelas mãos e o empurrou para trás com propósito, fazendo ambos caírem na parte vazia da proa.
Caesar ficou imediatamente vermelho.
– O que é isso? Você enlouqueceu? – O italiano tentou resistir, mas Joseph foi mais rápido, colocando o joelho entre suas pernas e segurando seus braços com mais força.
– O que é isso, você diz? – Joseph riu com certo escárnio. – A tempestade caindo no seu barquinho.
E ele acabou caindo bem em cima dos lábios de um loiro italiano.
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