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História Sobre amizade, uma declaração e spoilers não pedidos - Spoiler é spoiler!


Escrita por: BabyStayZone e ceoseo

Notas do Autor


AVISOS:
1. A one está cheia de spoilers dos filmes "Vingadores: Guerra infinita" e "Vingadores: Ultimato", e também da obra magnífica chamada Modaozushi.
2. O nome do one era para ser "Sobre amizade, uma declaração constrangedora e spoilers não pedidos", mas não coube T.T

...

Por fim chegamos a última história do primeiro ciclo :(

Ai mano, eu tô sensível pq esse debut foi lindo demais. As histórias são todas maravilhosas, as capas impecáveis e tanto a staff quanto os seguidores são muito amorzinhos. ♡ Eu só tenho que agradecer pelo pessoal do BabyStay ser tão compreensível e adorável e peço perdão pelas falhas que cometi nesse início. Estou fazendo o meu melhor para consertar os erros desse ciclo de debut. ♡

Agradecimento mega especial vai pra Lua (@SEUNGSHINE) por essa capa maravilhosa (sério, tô muito boiolinha por ela :3) e ao Jarvis (@whateveritakes) por me ajudar com os spoilers dos filmes e a Izzie (@nerthus) por me ajudar a lembrar os spoilers mais cruéis de Modaozushi. Amo vcs, gays! ♡ Eu fiz a revisão da história, então já peço perdão pelos possíveis erros :')

Tema para relação poliamor = qualquer uma das opções listadas nos outros couples. Escolhi "relação de amor e ódio".
Limitação= flashback

Boa leitura! ♡

Capítulo 1 - Spoiler é spoiler!


Naquela tarde chuvosa de dezembro, Jisung tinha ao seu dispôr tudo que uma apaixonado por filmes e séries mais amava: um sofá-cama aconchegante, a coberta mais quentinha do mundo, uma TV grande bem localizada na sua sala escura, conta da Netflix em dia, pipoquinha quentinha para fazer uma boquinha e a companhia de seus melhores amigos, que gostavam tanto ou mais de diferentes universos fantásticos que o próprio Han. Contudo — e por incrível que pudesse parecer —, Chan e Changbin estavam sendo um incômodo para moreno de bochechas fartas desde que colocaram o primeiro episódio de The Untamed para assistirem.

Se eu soubesse que ia servir de vela pro casal melação, nem tinha os convidado — resmungou baixinho, olhando de rabo de olho para os dois ao seu lado: ambos confortavelmente deitados e cobertos até a altura do pescoço, conversando aos sussurros e trocando selinhos melosos, sem prestar um pingo de atenção no episódio que passava — já estavam no terceiro, e Jisung duvidava muito que tanto Chan quanto Changbin havia sequer prestado atenção na primeira meia hora de dorama.

“Ew! Como o Chan aguenta esse grude todo?”, pensou, fazendo uma cara enojada com toda aquela cena digna de um clichê adolescente. 

Todavia, embora o mais novo pegasse no pé dos amigos, a verdade era que cenas como aquela há muito já tinham se tornado comuns para si. Mas poxa, os dois tinham mesmo que fazer aquilo justamente naquela hora? Tinha hora para tudo, e aquela, definitivamente, não era hora de namorico, mas sim de ver dorama de chinês gay — por mais que a China não o classificasse como sendo um — com o amiguinho precioso que eles tinham em comum!

Episódios como aquele se repetiam desde seis meses atrás, quando os três tinham combinado maratonar os filmes da Marvel na casa do Bang e Jisung, sem querer querendo, pegou o exato instante que Changbin se confessava para o australiano que tinha entrado em suas vidas em um dia qualquer na metade do ensino médio. 

Inevitavelmente, enquanto assistia ao encerramento do episódio, a doce lembrança daquele dia veio com tudo à mente de Jisung, que, mesmo sem perceber, suavizou o olhar aos poucos conforme a sombra de um sorriso tomava os lábios cheinhos. 

 

[…]

 

"— Christopher — Changbin chamou baixinho, com o olhar vacilando entre o rapaz loiro e a enorme bacia de pipocas que tinha entre as pernas. Havia aproveitado que Jisung tinha ido ao banheiro e juntou toda a coragem que possuía em seu ser para chamar a atenção do amigo.

Chan estranhou a forma como o moreno parecia estar diferente ao seu lado, principalmente pelo fato de ter o chamado daquela forma, tão sério, pois, normalmente, eles não se dirigiam um ao outro assim. Todavia, ignorando totalmente a estranheza que tomou conta de si, apenas levou o sigilo ao outro, silenciosamente dando permissão para que este continuasse.

— Eu… — incerto, começou, logo sendo tomado pelo pânico ao se dar conta que todas as palavras bonitas e exaustivamente ensaiadas na frente do espelho durante todo aquele dia misteriosamente haviam sido apagadas de sua mente. Desviou o olhar dos olhos que o fitavam, em expectativa, tamanha era a sua frustração. 

— Aconteceu alguma coisa, Binnie? — ouvir a voz doce do australiano tão pertinho de si e sentir os dedos frios do mesmo tocar a sua mão quente fizera um arrepio gostoso subir pela espinha de Changbin e, ao novamente mirar aquelas orbes chocolate transbordando preocupação, o fez se sentir confiante novamente. 

"É agora ou nunca!"

O moreno deixou a bacia de pipocas de lado e enlaçou os dedos da mão gélida de Chan entre os seus, fixando seu olhar na imensidão escura que o fitava, confusa.

— Channie, eu vou ser direto porque eu não aguento mais, então lá vai: eu ‘tô com os quatro pneus arriados por você há um tempão, cara — começou, sem nunca desviar o olhar. Com o nervosismo o fazendo falar descontroladamente, continuou: — Sei que de longe esse não é o lugar ideal para te dizer isso e que essa não é a forma correta de expressar os meus sentimentos com relação a você, mas eu simplesmente não consigo mais me segurar. Até cheguei a ensaiar um discurso com palavras bonitas para convencê-lo de que estou sendo sincero em cada uma dessas palavras, acredite, mas, infelizmente, deu branco agora. Culpe a porra do meu nervosismo. — Sorriu amarelo, incerto se tinha feito certo em se declarar ao amigo, visto que este permanecia calado, sem mostrar qualquer reação. — Como estou sendo sincero contigo, gostaria que também fosse comigo, dizendo na lata, sem enrolação. E aí, amor da minha vida todinha, você aceita namorar com esse idiota que vos fala? De onde raios tirei “que vos fala”? Eu não falo assim. — Riu envergonhado. Ah, o amor faz coisas inacreditáveis com um homem... — Mas, voltando para o que mais interessa, anseio pela sua resposta e, para facilitar, te dou duas escolhas, baby: yes or yes? — finalizou, puxando o ar com força para os pulmões, numa tentativa de estabilizar a respiração e se acalmar.

Chan ainda o olhava atônito — e agora com as orbes arregaladas após assimilar o pedido do outro. E não era pra menos, afinal. Changbin, um de seus melhores amigos, havia se declarado para si? Aquilo não queria entrar na sua cabeça de jeito nenhum. 

A sua primeira reação após o ocorrido fui um sutil repuxar de lábios, que logo fora seguido de um um riso alto e nervoso. Changbin olhava para o outro com o coração na guela. O que diabos aquilo significava?

— Pare de brincadeiras, Binnie. O palhaço do grupo é o Hannie — ditou risonho, mesmo que uma parte de si estivesse vibrando com aquela falsa declaração. Chan não queria se iludir. Não quando Changbin podia ter qualquer um aos seus pés e na hora que ele bem quisesse enquanto que Chan… O australiano apenas dividia com Jisung o posto de melhor amigo do Seo.

Por outro lado, há semanas o moreno vinha remoendo a imagem de um homem alto e amigável entregar uma cartinha decorada com adesivos de ursinhos a Chan na saída da universidade. E mesmo que ele tivesse escondido a tal carta dos amigos, sem deixá-los ver o conteúdo da mesma, estava evidente que se tratava de uma declaração. Todo o campus não parava de falar sobre isso e as bochechas coradas do Bang denunciavam que os boatos eram, de fato, verdadeiros.

Como Seo Changbin, um pobre e fodido futuro administrador, poderia ao menos cogitar ganhar em uma competição contra Jinyoung, o gênio do curso de medicina? O baixinho não se via como vencedor do coraçãozinho puro de Chan.

E mesmo que ainda duvidasse que pudesse ter alguma chance, por menor que fosse, com o loiro e ainda não estivesse certo sobre os sentimentos do mesmo por si, Changbin destinou-se a fazer de tudo para que Chan o visse mais que um amigo. E fez daquela pequena reuniãozinha na casa do Bang para se confessar quando Jisung, amigo dos dois e peça importantíssima daquele trio, estivesse longe.

— Certo, você não está acreditando em mim — voltou a falar, dessa vez em tom desanimado. O que custava acreditar em si, poxa? — Mas o fato é que eu sou boiola por você, Channie!

— Binnie, olha só o que você está dizendo — voltou a rir, mas dessa vez por pouco tempo, pois tão logo voltou a duvidar do coreano, seu rosto foi tomado pelas mãos deste, que o mirou doce antes de fechar os olhos e juntar brevemente seus lábios aos dele. 

— E agora, acredita em mim? — questionou sério, ainda com o rosto próximo do outro.

— Se for uma brincadeira, eu-

— Não é uma brincadeira, Channie. Eu estou perdidamente apaixonado por você e quero uma resposta o quanto antes.

— Mas… — Sem saber o que dizer, se calou. Changbin estava mesmo apaixonado por si? Aquilo era real?

Ergueu ambas as mãos e segurou as do outro — que até então estavam firmes em suas bochechas —, abaixando-as à medida que também baixava o olhar, encarando-as.

— Eu não sei o que dizer, Binnie. De verdade, eu não sei. Eu… na verdade, eu sinto que sempre teve algo diferente entre nós, na nossa amizade, mas não sei se esse “algo diferente” se encaminha para isso. — Foi sincero em cada palavra que proferiu. Ergueu o olhar timidamente ao outro antes de questionar, em tom baixo e acanhado: — Acha que um romance entre a gente daria certo? 

— Claro que sim! — respondeu no mesmo instante. Seus olhinhos brilhando em esperança. — Basta tentarmos, Channie!

— Mas você pode ter qualquer um e eu ainda não sei se o que eu sinto vai além do sentimento de amizade. Nesses anos todos de amizade eu nunca descobri... — confessou.

— Mas eu não quero outros — fez careta ao dizê-lo. De repente uma ideia lhe veio para contornar a situação. Segurando o sorriso questionou: — Se o Jisung se confessasse para você do mesmo jeito que eu fiz agora, o que você faria?

— Minha Havaianas voaria naquele bochechudo no mesmo instante, afinal ele é meu neném precioso e não... — Foi deixando a frase morrer conforme se dava conta da resposta que dava ao outro. Changbin, por sua vez, não impediu que sua face se iluminasse com cada palavra dita pelo mais velho.

— Então já temos uma resposta — dito isso, se aproximou novamente do loiro, deixando um selar perigosamente perto de seus lábios. Chan sentiu a região das bochechas, orelhas e pescoço queimarem, e foi incapaz de impedir as malditas borboletas de fazerem uma bagunça em seu estômago. — E então, eyes or…?

Yes — deixou escapar absurdamente baixinho, sorrindo levemente ao mirar as irises do outro e notar elas cintilarem de mais pura felicidade.

Sorriram cúmplices, entorpecidos pelo sentimento novo — ou talvez nem tanto — que os cercavam. Mas a magia do momento não demorou mais que alguns poucos segundos. Da porta, Jisung encenava um vômito falso após presenciar a declaração atrapalhada de Changbin. 

— Han Jisung! — até com a raíz dos cabelos em chamas, o mais velho chamou a atenção do outro moreno. 

Changbin, por outro lado, abaixou o olhar, temeroso do que o outro fosse dizer. Talvez, apenas talvez, esconder de Han os seus sentimentos que nutria pelo Bang não tenha sido uma boa ideia. "E se ele se sentir excluído?", alarmado, questionou-se. Todavia, tal medo dissipou-se assim que sentiu o amigo acomodar-se entre si e o — agora — namorado, exatamente no lugar onde anteriormente estava.

— Agora que os bonitos enfim se acertaram (e, por favor, levem isso como mais puro sarcasmo, afinal de lindo nesse trio é só esse xuxuzinho aqui) e quase fizeram eu voltar tudo que comi durante o dia, que tal voltarmos para a nossa maratona? — ditou simples, alternando o sigilo entre os dois. Changbin, ao seu lado esquerdo, o olhou com as sobrancelhas franzidas, ainda desconfiado. "Enfim se acertaram? Então ele já sabia que eu sou apaixonado pelo Channie? Desde quando?"

E como se estivesse lendo os pensamentos do amigo, Han continuou:

— Ih, rapaz, sei que essa amizade não ficaria só na amizade desde o primeiro dia, quando o Chan, todo perdidinho por se o aluno novo, veio fazer um trabalho surpresa com a gente.

— A inseparável dupla de três — Chan recordou, sorrindo nostálgico sem seguida com a lembrança de como o trio havia se formado.

— Exato — Jisung retribuiu rindo espalhafatosamente ao lembrar da cara que o professor Lee havia feito quando perguntou se o trabalho em dupla poderia ser feito pelos três.

"É um trabalho em dupla, Jisung", Lee Minho, o professor que havia dado o tal trabalho, respondeu, calmo e docemente, como era de se esperar do professor mais gente fina de todo o colégio — palavras de Han Jisung.

"Eu sei, senhor Lee. Mas assim, será que não rola fazer uma dupla de três? Só dessa vez, por favor". E quem tinha coragem de negar algo a Han Jisung quando ele fazia aquela carinha pidona? Ninguém, muito menos os seus professores, que cediam toda vez que o garoto de bochechas adoráveis pedia que a famosa dupla de três não fosse desfeita.

Embora quisesse muito surtar por — finalmente — estar namorando o amor de sua vida, Changbin, por fim, se pronunciou:

— Certo, certo, chega de conversa sobre o passado e vamos voltar à nossa maratona — Um sorriso leve e carregado de nostalgia enfeitava seu rosto corado.

Jisung vibrou, mas antes mesmo de dar play em “Vingadores: Guerra infinita”, foi parado pelo comentário do loiro ao seu lado:

— Espero que o Homem Aranha tenha muito destaque nesse filme. — O olhar esperançoso e a empolgação de Chan ao dizer aquilo fez Jisung ter dó do amigo. Han, como bom defensor da Marvel, já tinha visto todos os filmes que foram lançados e sabia muito bem o que aconteceria naquele. Contudo, tratou de não transparecer a sua pena:

— Pode ter certeza que ele vai ter muito destaque, Channie. — Sorriu. Levantou o indicador novamente para dar o tão sonhado play no filme, mas foi interrompido novamente, dessa vez pelo outro amigo.

— E o Loki, hein, ele vai aparecer? — questionou igualmente empolgado.

— Sim, vai. — respondeu com calma, e quando foi tentar pela terceira vez dar início ao filme, uma chuva de questionamentos veio por parte do moreno:

— Sério? Eu amo ele! Você sabe que Loki é o meu personagem favorito, né? Todo mundo sabe disso. Será que…

Na concepção de Jisung, o pior defeito de Changbin não era a insegurança que ele tanto dizia ter com relação ao seu status ou imagem, mas sim a sua enorme boca. Por isso, antes mesmo que o Seo continuasse seu monólogo de meia hora ou mais, o mais novo entre os três apenas deixou escapar um spoilerzinho de nada, apenas para calá-lo.

— Sim, Binnie, nós sabemos que você idolatra esse personagem e eu acho uma pena ele morrer nesse filme.

— Como?! — Changbin estava realmente surpreso com a revelação. Mas não era só ele, pois Chan estava da mesma forma: boca escancarada, olhos esbugalhados e com a estranha sensação de que nada mais fazia qualquer sentido naquele momento. 

—  Quando Thanos estiver prestes a matar o Thor, Loki se sacrifica para salvar o irmão — ditou simplista, dando de ombros e deixando um sorrisinho de lado estampar a face travessa.

— Você só pode estar de brincadeira! — Ainda surpreso pelo spoiler, Changbin acusou.

— Faz uma busca rápida no Google pra você ver — arqueou uma sobrancelha, completando o visual debochado.

— Alguém mais morre nesse ou no “Ultimato”? — Com a voz extremamente baixa, o mais velho dos três quis saber.

Jisung vacilou o olhar que direcionava ao amigo, sem saber se respondia ou não ao outro. Sabia que, se caso negasse, Chan ficaria extremamente triste consigo quando enfim assistisse aos filmes, por isso apenas confirmou com um breve menear positivo de cabeça.

— Quem? — voltou a questionar.

— Que tal vermos o filme logo, hum? Assim eu não solto mais nenhum spoiler e vocês sofrem da mesma forma que eu sofri quando o Homem Aranha… — silenciou-se após tardiamente se dar conta que falara demais.

— O que acontece com o Homem Aranha? — Um bico se formou nos lábios carnudos do Bang no instante que proferira a pergunta. Jisung sentiu-se o pior dos amigos naquele instante. — Hein, Hannie, o que acontece?

— Melhor você mesmo ver, Channie. Eu contar não tem graça.

— Mas você começou, então termina.

E se tinha alguém mais persuasivo que Han Jisung, esse alguém era Christopher Bang. Os olhinhos pidões, as sobrancelhas caídas e o bico extremamente fofo eram as armas mais poderosas que o australiano possuía e que Han não conseguia se defender contra.

Jisung fechou os olhos, suspirou longamente e deu-se por vencido, ditando baixinho em seguida:

— O Homem Aranha vira pó. 

— O Homem Aranha, ele… — com a voz chorosa, começou, mas foi interrompido pelo mais novo:

— Mas calma, Channie, ele volta à vida no “Ultimato”, junto com todas as pessoas que viraram pó junto com ele.

— E o Loki? — Changbin questionou esperançoso.

— Ah, ele continua mortinho da silva.

Um silêncio mórbido se instalou no quarto enquanto os mais velhos tentavam assimilar as novas informações dadas. 

— Ai, gente, não fiquem assim. Olha, se for animar vocês saibam que coisa pior acontece.

— O quê, por exemplo? — Changbin questionou automaticamente. 

— Bem, o Homem de Ferro e a Viúva Negra se sacrificam pra derrotar o Thanos. Vocês não sabe o tanto que eu sofri nessa parte, meus consagrados. Saí do cinema em prantos. 

E em prantos Jisung chegou em sua casa naquele dia após a coça muito bem dada pelo casal de amigos”. 


 

[…]

 

Mesmo que um pouquinho cruéis — suas costas que o diga —, as lembranças de um tempo não tão distante fizeram com que um sorriso enfeitasse o rostinho do mais novo. 

Embora o grupo de amigos fosse formado por um solteirão que não queria se amarrar a alguém tão cedo — na verdade isso era desculpa porque o irmão mais novo de Chan, Felix, não colaborava nem um pouquinho e sempre dispensava friamente o pobre garoto de bochechas fartas — e um casal pra lá de meloso, Jisung gostava do fato de não ser excluído pelos outros dois amigos. Eles saíam e tinham seus momentos românticos, como qualquer casal, mas jamais se esqueciam da amizade que os mantia unidos. Por isso mesmo, não era raridade Jisung acompanhar os amigos em alguns passeios ou até mesmo em jantares quando os três se dispunham de tempo. 

O amor fraterno que ligava aquelas três almas sempre esteve presente.

Com o coração quentinho, Jisung pausou a abertura do quarto episódio de "The Untamed" apenas para questionar aos amigos se eles queriam mais alguma coisa antes de continuarem com a maratona. Mas para o seu desespero assim que a sala mergulhou no mais completo silêncio, ouviu um gemido baixo vir do seu lado. 

Espantado, virou o rosto na direção que o som vinha e qual foi a sua surpresa quando deu de cara com Chan montado sobre Changbin, que tinha as mãos por baixo da camisa do australiano, enquanto se engoliam. Como aquilo foi acontecer?!

— Sem putaria na minha casa! — berrou, assustando os amantes.

Chan, que quase caiu do sofá-cama, mais que depressa se pôs a sentar-se entre o namorado e o amigo, com as bochechas em chamas e o coração acelerado. Changbin, por outro lado, continuou deitado, limitando-se a apenas cruzar os braços e transformar a sua face na maior cara de cu que os outros dois já viram.

— Não tem um único lugar ‘pra eu ficar em paz com o Channie — resmungou.

— Quer privacidade? Vão ‘pra um motel então porque a minha casa é um lugar de respeito! 

— Ai, me deixa aproveitar meu namorado em paz e vai procurar meu cunhadinho pra levar outro fora, vai — rebateu, debatendo os pés no estofado como a criança birrenta que ele sabia ser.

— Eu nunca levei um fora dele! Amo a minha liberdade e vou gozar dela até o fim! — Jisung começava a colorir suas bochechas proeminentes de rosa tamanha era a sua raiva naquele momento.

— Gozar é a última coisa que você vai fazer em vida se caso continuar com as cantadas baratas pra cima do Lix.

— Chan hyung! — disse choroso.

— Perdão Hannie, mas é a verdade.

— Vocês são muito maus! — Se pôs de pé e apontou o dedo indicador em direção aos amigos, alternando entre um e outro, por fim parando no mais velho. — Eu os chamo para a minha humilde residência na maior boa vontade para podermos ter um tempo agradável entre amigos e ver The Untamed juntos já que tá difícil esse sururu que você chama de namorado conseguir um dia de folga e vocês tentam profanar o meu sofá-cama na minha ilustre presença!

— Ei!

— Calado, sururu! — Deu a língua para o Seo, que reproduziu a atitude infantil.

— Da amostra grátis eu esperava tudo, mas não de você, Channie — finalizou com tom decepcionado, abaixando o dedo que até então estava erguido.

Chan comprimiu os lábios, segurando bravamente a sonora gargalhada que queria sair do fundo de sua garganta, e Changbin olhou torto para Jisung. 

Momentos como aquele, onde o mais novo perdia a noção do que dizia e zuava o amigo por causa da sua baixa estatura, eram tão comuns quanto o fogo no cu que o casal tinha e queriam apagá-lo em qualquer lugar — coisa que o pobre Jisung era obrigado a suportar. Contudo, por mais engraçada que toda aquela situação fosse, Chan sabia que, caso eles não se distraíssem com outra coisa logo, mais cedo ou mais tarde lhe traria dor de cabeça. E por já prever a merda toda que viria que o mais velho interviu:

— Hey, Hannie — chamou, e o citado o olhou. Sorrindo, continuou: — Prometo que nunca mais tentarei “profanar seu sofá-cama”. E então, você nos perdoa por esse vacilo? — E levantou o mindinho para que o amigo acreditasse em si e aceitasse as suas desculpas. 

— Assim não vale. — Han fez bico e inflou as bochechas, enlaçando o mindinho alheio com o seu, aceitando o pedido de desculpas.

— O que não vale, hein, meu pitico? — disse com voz fofa e imitou as ações do mais novo. 

— Porque não tem como ficar bravo com você, sendo que você é o ser mais abençoado da face da Terra. — Foi sincero. Poxa, ele amava demais seu hyung australiano. — E eu digo isso mesmo após a drástica mudança que o sururu fez em você quando começaram a namorar oficialmente. — Pontuou, mirando os fios negros, tão diferente do loiro que ele amava usar, o corte de cabelo moderno e o corte cheio de glitter na sobrancelha do amigo. Com todo respeito, Jisung achava o amigo um homão da porra, mas ainda assim sentia falta do cabelinho loiro encaracolado dele. 

— Você sabe que eu tive que parar com a tintura por um tempo porque meu cabelo começou a cair demais, Hannie. Não comece a implicar com o Binnie de novo, por favor. — Sorriu dócil.

— E sururu é o teu cu! — Changbin se fez presente, atrapalhando o momento dos dois — Eu também mudei meu visual e você não falou nada… — sussurrou, olhando para o lado oposto ao qual o namorado e o amigo estavam.  

Jisung deu uma boa olhada no Seo e, para ser sincero, já tinha notado os fios claros deste, bem como as suas bochechas pareciam mais cheinhas que antigamente. Changbin também mudou seu humor, parecendo mais sorridente e disposto mesmo com o trabalho estressante. Todas as mudanças eram para melhor.

— Pra mim continua a mesma merda de sempre — desdenhou. 

Claro que Jisung preferia morrer a reconhecer e — principalmente — elogiar qualquer mudança positiva no Seo. Sua alma criançona berrava em seu interior para que continuasse com aquela fachada, que, no final das contas, sempre resultaria em alguns tapas trocados aqui e acolá com o baixinho. 

O motivo pelo qual os dois amigos serem como cão e gato podia ser explicado facilmente — e Jisung tinha confiança que ele não estava errado em agir de tal forma com o outro. O mais novo culpava um faminto Seo Changbin que, após passar na loja de conveniência onde o Han trabalhava meio período, há cerca de dois dias atrás,  pediu apenas um golinho do Yakult havia acabado de comprar e tirar o lacre, acabando por cometer o pecado de tomá-lo todo de uma vez. Aquele era o último Yakult da prateleira… 

— Que tal pararmos de brigas e voltarmos a assistir o dorama, hum? — Chan educadamente pediu.

— Não quero! Vi o anime e já sei tudo que acontece — Changbin fez bico. — Channie, vamos embora? — suplicou ao namorado, que negou com a cabeça. — Mas amor, você já leu a novel e também sabe o que acontece, tanto que ficamos duas semanas inteirinhas surtando e comentando as diferenças da obra original para a adaptação do anime. Que tal seguir o conselho do Esquilo e aproveitar o meu dia de folga juntinhos, hein? Vamos ‘pro meu apartamento, lá podemos fazer o que quisermos sem a interferência dessa peste que eu chamo de amigo — pediu esperançoso.

— Nada disso, viemos ver The Untamed com o Hannie e The Untamed com o Hannie iremos ver.

Seo fechou a cara ainda mais.

— Certo… — concordou a contragosto, armando novamente um bico maior que o anterior logo em seguida — Mas é só desgraça nessa porra.

— Changbin, não! — Chan alarmou-se, não acreditando que ele viveria aquela situação novamente.

— “Não” o quê? Pra mim, esse início, de todo mundo junto no Recanto das Nuvens, é o melhor arco da história porque de resto é só desgraceira e morte, e eu não ‘tô afim de sofrer com tudo de novo — falou sério. Todavia, seu rosto se iluminou imediatamente logo em seguida, e mirando o amigo diretamente com um sorriso discreto nos lábios, continuou: — Aliás, Esquilo, lamento profundamente que, por culpa do Wuxian, que é o seu personagem favorito, o Clã Wen mata boa parte do Clã Jiang e que, infelizmente, os pais do Cheng e da Yanli estão no meio dos defuntos. 

— Por causa do Wuxian? — Jisung não entendia como o seu bebezinho poderia se tornar uma pessoa ruim de uma hora para outra e ser culpado por tantas mortes. Por isso, encarou Changbin desconfiado antes de voltar a questioná-lo: — E como isso vai acontecer?

— Wuxian não tem controle da própria língua, uma característica bem comum e presente em certas pessoas ao meu redor, e sempre bate de frente com o Wen Chao e todo o Clã Wen e, bem, numa dessas eles se vingaram. Aí só sobra o Jiang Cheng para liderar o Clã Jiang.

— Espera! Como assim só sobra o Jiang Cheng? Você acabou de dizer que a Yanli também sobrevive! Sabia que era mentira! — Sorriu vitorioso por ter pego o amigo na mentira — Bem que falam que a mentira tem perna curta…

— Só sobra ele porque a Yanli morre mais ‘pra frente, pouco tempo depois do marido dela bater as botas por causa do Wen Ning, que naquele momento estava sendo controlado pelo Wuxian.

— A Yanli… Aquele anjinho precioso morre mesmo? E a culpa é do XianXian? — questionou olhando diretamente para Chan, que estava bem à sua frente, ainda sem acreditar no loiro.

— Eu ainda tô chocado que quase todas as vezes que a Yanli aparecia era ‘pra fazer sopa. Era uma espécie de cozinheira particular dos irmãos, só pode.

Chan apenas fuzilou o namorado, que se encolheu sob o seu olhar ameaçador, ainda que secretamente estivesse amando dar o troco no mais novo pelos spoilers de seis meses atrás. O mais velho envolveu uma das mãos do pobre garoto que ainda estava de pé e olhava para o nada com o olhar perdido, fazendo-o sentar-se novamente ao seu lado, com a única diferença que agora estava entre o casal de namorados.

— Não faça essa carinha, Hannie. Esses spoilerszinhos não são nada, há bem mais para se encantar na história do dorama — Sorriu doce ao outro, passando segurança nas suas palavras. Jisung também sorriu, afinal era impossível não se sentir bem com qualquer coisa que o Bang dissesse.

— Verdade — novamente, Changbin interferiu. — Também tem o Wuxian dando o núcleo dourado dele pro Jiang Cheng e ficando sem poder usar a sua espada. Sem núcleo dourado, sem poderzinho; sem poderzinho, Wuxian se torna um inútil no mundo da cultivação. Ele esconde isso de não ter mais o núcleo dourado de todo mundo, até mesmo do Cheng e da Yanli, e acaba ele se metendo com energia ressentida, o que é proibido. Por isso e dentre outras cagadas que ele vai faz ao longo da história, como libertar um grupo de pessoas do Clã Wen e ir com elas pra Colina Sepultura ‘pra plantar batatas e criancinhas fofas, o Wuxian vai de amigo zueiro e amado por todo mundo ‘pra inimigo número um de todas as seitas — desatou a falar e não dava sinal que pararia tão cedo — Ah, mano, tem o caso complicadíssimo envolvendo Xiao XingChen, Song Lan e o Xue Yang e que até agora eu não entendi direito. Só sei que, no final, o Xiao XingChen perde a visão, mata o melhor amigo por engano e por influência do Xue Yang e…

— Changbin? — Jisung interrompeu, e o citado o encarou, curioso. — Você sabe que apesar de todas as nossas implicâncias eu te amo, mas… — Changbin não percebeu, mas seu namorado notou como Jisung sorrateiramente pegou a almofada pesada que estava atrás de si.

— Hannie, que tal a gente aproveitar o domingo e voltar a ver The Untamed? — Chan interviu, já prevendo as intenções do garoto — Garanto que o que o Binnie acabou de contar não vai ser sequer lembrado quando as tretas começa-

O moreno sequer chegou a terminar ou teve chance de convencer o amigo a não partir para violência, pois no instante seguinte ele só viu um esquilo raivoso avançar para cima de seu namorado com sangue nos olhos. 

— Quantas vezes já disse que eu não gosto de spoiler?! — A cada palavra, uma almofadada era desferida na cabeça do menor, que se defendia como podia com os braços. 

Chan bem que tentou separá-los, mas tão logo retirou a grande almofada das mãos de Jisung, Changbin correu para fora da sala e os dois começaram a dar voltas pela casa. O australiano não estava com a mínima disposição para correr atrás de dois homens adultos, então se limitou apenas a observar da janela o Han jogar tudo que vinha à sua frente em Changbin enquanto reclamava aos berros sobre os spoilers dados.

— Isso é pelo spoiler da morte do Clã Jiang!

Chan riu ao ver a pantufa vermelha do amigo acertar em cheio as nádegas de seu namorado, mas não parou por aí. Quando deram a volta na pequena mesa da área de lazer, a outra pantufa acertou o meio da cara de Changbin, e junto da nova agressão mais uma reclamação veio do moreno: 

— Isso é por ter contado sobre o Wuxian ficar sem o seu núcleo dourado!

Chan desabou em uma sonora gargalhada enquanto acompanhava toda a cena protagonizada pelos amigos. 

Desarmado e ainda com sede de vingança nos olhos, Jisung se armou com a vassoura que estava de pé bem ao seu lado e, novamente, voltaram a correr. E mesmo que fosse extremamente engraçado acompanhar o desenrolar da briga, Chan preferiu fechar a janela, puxar as cortinas e retornar para o seu lugar no sofá-cama. Cobriu-se até a altura do pescoço antes de voltar para o primeiro episódio de The Untamed — Jisung tinha razão sobre o casal de amigos não terem prestado atenção no dorama.

— E isso é pelo spoiler do ceguinho! — O som de algo — ou alguém — sendo atingido foi ouvido, atrapalhando a música de abertura. 

— Você nem sabe quem é esse! — Changbin gritou, desesperado, sentindo o lombo arder com a vassourada que o mais novo lhe acertou de raspão.

— Não interessa! Spoiler é spoiler, porra!

Passos apressados, xingamentos e pedidos de perdão eram ouvidos por Chan mesmo ele estando dentro da casa, portanto, para não atrapalhar a incrível experiência de assistir The Untamed na enorme TV de Jisung, apenas tratou de aumentar o volume e aguardar que as duas crianças parassem de brigar para que se juntassem a ele debaixo do edredom novamente. 

Porque, embora vivessem de implicâncias e quase matarem uns aos outros por qualquer coisinha, Chan sabia que a  amizade dos três é muito mais forte que qualquer spoiler não pedido.


Notas Finais


Muito obrigada por chegar até aqui! Surtos, elogios e reclamações são muito bem vindos nos comentários. ♡

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