1. Spirit Fanfics >
  2. Striptease (RPG do Cellbit "O segredo na floresta" >
  3. Lágrimas na neve

História Striptease (RPG do Cellbit "O segredo na floresta" - Lágrimas na neve


Escrita por: Sachii

Notas do Autor


Oioi gente!!
Esse capítulo e muito fofo e triste, mostra um pouco do relacionamento do Chris com o pai dele, eu amo muito o Youssef desde o momento que eu o criei para ser pai do Chris, então espero que vocês gostem dele também!!
Desculpa o atraso eu tô muito ferrada no serviço!
Bjs vejo vocês lá embaixo 😘✌🏽

Capítulo 205 - Lágrimas na neve


Fanfic / Fanfiction Striptease (RPG do Cellbit "O segredo na floresta" - Lágrimas na neve

Uma coisa Brulio sabia em relação a seu namorado, se ele não estava dirigindo era porque estava muito ansioso com algo.

Assim que viu que um motorista tinha ido pega-los no aeroporto sabia que Christopher não estava bem, mesmo fascinado com as luzes da cidade e também com o fato de estar em um país totalmente diferente do seu, não conseguia ignorar o que seu namorado estava estranhamente quieto! não só ele na verdade, César e Alex também pareciam muito quietos e isso vindo de Alex era um pouco assustador, em outros momentos o rapaz estaria falando sobre todos os detalhes daquela cidade, mas tinha um peso no ar, algo estranho e bastante melancólico.

Arthur também percebeu que tinha alguma coisa errada, o jeito com que eles olhavam para janela não era como a sensação de voltar para casa, desde que tinham descido do avião e entrado no carro nenhum dos três tinha se quer dado um sorriso ou emitido algum som, respondiam as perguntas que lhes eram feitas, mas não iniciavam nada, não falavam nada, nem sequer olhavam para fora, e também não mexiam o celular estavam ali parados, principalmente seu sogro o ar dentro do carro era pesado e triste.

Nova York! nunca em sua vida imaginou que estaria ali, mesmo quando estava tendo muita atenção pelas suas palestras no Brasil e recebendo convites para palestrar em outros países, não imaginou que realmente fosse sair do Brasil, mas agora saber que além disso ainda teria cidadania Americana! isso sim nunca passou pela sua mente.

Era estranho ter que comparar uma cidade tão grande iluminada a famosa Big Apple com São Paulo, mas era o mais próximo que conseguia... ainda assim era mágico estar ali, no entanto queria saber por que seu sogro, cunhado e seu marido estavam tão melancólicos e quietos, infelizmente a resposta para isso viria em algumas poucas horas.

Os enfeites de Natal nas fachadas dos prédios eram totalmente diferentes dos enfeites que tinham no Brasil, a Paulista no fim de de ano por exemplo é sempre muito colorida iluminada, tem palco, tem luzes, tem papais noéis gigantes na frente das lojas, ali tinham algumas luzes bem bonitas, Mas no geral faltava um gostinho que só os brasileiros sabiam colocar, mesmo que o Natal não fosse nem um pouco parecido nos dois países, o clima também estava muito mais frio do que eles imaginaram quando saíram do avião, levaram uma pancada de gelo tão forte que realmente acharam que iam adoecer ali naquele momento, agora entendia porque eles insistiram tanto em colocar tantas blusas de frio neles.

Chegaram à frente de um prédio muito bonito e elegante, o motorista desceu do carro e foi até a porta abrindo para que eles saíssem, na frente do prédio tinha um rapaz jovem, provavelmente o porteiro, assim que ele viu o Christopher pareceu instantaneamente apavorado, pegou o rádio e falou alguma coisa e a confusão que parecia estar acontecendo na recepção foi levemente alarmante, às vezes eu esqueciam quem Christopher era. 

- my songbird and Sweetheart bem-vindos a um dos meus apartamentos aqui nos Estados Unidos, eu espero que a estadia de vocês seja agradável, esse prédio em particular tem serviço de quarto e também um restaurante, vocês podem pedir qualquer coisa para qualquer um dos funcionários, antes de começarmos a nossa Road trip eu preciso passar no médico, e também a nossa psicóloga tem consultório aqui, costumamos acertar todas essas coisas da nossa saúde nesses últimos dias e começo do ano, espero que não se sintam lesados em perder alguns dias aqui na Big Apple.

- imagina meu sogro, a sua saúde é prioridade! e eu gostaria de conhecer essa psicóloga.

Christopher sorriu, ele sabia muito bem que o Arthur queria fazer com a pobre psicóloga, se sentia um pouco esquisito por achar essa ideia divertida.

- não se preocupe eu imaginei que você fosse queria conhecê-la, então reservei um horário com ela só para vocês conversarem. 

Arthur sorriu, e pela primeira vez Christopher pode ver um pouquinho de maldade naquele rostinho lindo e inocente, se divertia muito com seu genro! com certeza ele era seu favorito.

- meu rei Se você precisar de qualquer coisa pode pedir para mim, eu não sei como você se sente em falar em inglês com nativos, Então se precisar de ajuda é só pedir, isso também vale para o senhor seu Brulio.

- eu não vou nem me arriscar pia, as únicas palavras que eu sei foram as que o seu pai me ensinou, e elas não são muito úteis em situações de conversa normal.

Brulio não percebeu como aquela frase tinha saído, então não entendeu a cara de seu filho, do seu genro e de César, mas quando viu Christopher segurando a risada se arrependeu instantaneamente de ter aberto a boca, escolheu não falar nem tentar se defender achava que iria só piorar a situação.

Entraram pela porta giratória elegante e viram uma recepção muito bonita com detalhes Dourados com um ar bem clássico, por algum motivo o Arthur pensou que aquele estilo combinava bastante com seu sogro.

Christopher elegantemente caminhou até a recepção, realmente ele era um homem muito bonito, o sobretudo preto até o joelhos com uma blusa de cola também preta o cachecol acinzentado envolto no pescoço as luvas de couro junto daquele ar tão misterioso que ele tinha, ninguém conseguiria resistir aquele homem no seu dia mais tranquilo, imagina se ele estivesse realmente arrumado.

A pobre coitada da recepcionista estava quase tendo um troço, já Chris parecia bem tranquilo, o contraste de comportamento entre ele e as outras pessoas era sempre interessante de se assistir, ele não necessariamente colocava medo, mas sim respeito e isso o fazia parecer um tirano, quando na verdade ele só estava fazendo o que foi ensinado a fazer e diga-se de passagem ele era muito bom nisso.

- Mr. Cohen, the flowers you requested are already prepared.

Novamente Christopher ficou melancólico e quieto, agradeceu com um aceno e fez sinal para que todos fossem em direção ao elevador.

Sem novidade nenhuma o apartamento deles era na cobertura, na verdade era a cobertura inteira. Assim que a porta abriu viram uma das casas mais bonitas já tiradas do Pinterest, era muito elegante e aconchegante, conseguia ver uns toques aqui ali do estilo que tinha no apartamento de São Paulo, mas ainda era uma vibe estética bem diferente, haviam mais quadros na parede, esses qual nem conseguiam imaginar o valor, o tom das paredes e móveis era um pouco mais neutro e escuro, e sem nenhuma novidade havia uma academia particular só para Chris, ele nunca deixava de cuidar da própria saúde e tinha seus motivos para tal.

- vamos deixar nossas malas aqui e descer ainda aí dia 26 de dezembro e eu tenho um compromisso, mommy and Daddy sempre disseram que um cavalheiro não deve deixar uma dama esperando.

Alguns funcionários entraram com as malas e saíram em poucos segundos, não demorou para os Cohen Cevero descerem também, o motorista voltou para pega-los na frente do prédio, dessa vez junto deles um grande boque de lírios, crisântemos e copos de leite, e outro com margaridas, rosas brancas e rosa e lírios, o cheiro delas era gostoso.

Novamente o clima dentro do carro parecia pesado, Christopher em particular não parecia nada bem, ele olhava para as flores triste e cansado.

- Abba... anachnu ba’im lebeit hakvarot....

Aquilo era hebraico, o jeito que as palavras saiam da boca de Cesar sem dificuldade ou sotaque era impressionante, o fato dele estar falando em hebraico mostrava que era algo muito particular para Christopher o que iria acontecer, a intimidade que aquela língua trazia para os Cohen era bonita e reconfortante de se ver.

- Al teda’ag, aba, anachnu kan itach.

Christopher sorriu tristemente ouvindo Alex falar, fechou os olhos e encostou a cabeça no ombro do seu caçula, ele parecia cansado.

- todah, yeladim.

Não sabia o que aquelas palavras queriam dizer, mas sabia que elas tinham algum conforto para Christopher, ainda bem que ele tinha seus filhos.

O carro parou e novamente o motorista abriu para eles, as portas já estavam fechadas, mas um senhor estava do lado de fora parecendo que os esperando.

- chegamos...

Brulio e Arthur quiseram fazer o sinal da cruz por costume, mas a enorme estrela de Davi nas paredes do cemitério mostravam que ali a fé era outra.

O senhor que esperava abriu o portão sem trocar uma palavra com os 3 Cohens, no entanto ele pareceu confuso e até olhou pro carro como se esperasse mais alguém descer, Arthur deduziu que ela estivesse procurando por Mariana.

- She can't come this time.

Pelo visto sua suposição estava bem correta.

Christopher olhou para cima e um vento gelado atravessou o lugar, fechou os olhos e quando os abriu viu um floco de neve caindo, olhou para trás vendo Brulio e Arthur, ele tinha que ir logo, não queria prejudicar a saudade dos dois gaúchos, olhou para os filhos e cada um pegou um buquê, ele colocou seu keppa e depois colocou o de Cesar e o de Alex, respirou fundo e entrou no cemitério.

Era um cemitério normal com lápides e árvores, a neve caia de forma delicada agora, a caminhada até seja lá onde eles fossem estava sendo bem silenciosa.

Os passos de Christopher pareciam se arrastar pela rua de ladrilhos do cemitério, a iluminação era fraca, mas não impedia visão, a neve caindo suavemente deixava as pegadas dos sapatos marcadas em um branco lastimoso, Brulio olhava as pequenas pontas brancas caindo a sua frente, mas seus olhos focavam apenas nas costas de Christopher, sentia que ela estava carregando um fardo invisível.

Estavam a alguns passos atrás dos Cohen, mas o que realmente queriam fazer no momento era estar ao lado.

A capela era totalmente diferente de uma em um cemitério católico, dava pra ver duas lápides bem cuidadas dentro, uma árvore cobria o teto de forma elegante, em outro contexto, seria um local bonito.

Cesar e Alex foram até às lápides e colocaram os buquês, Christopher ficou parado no lugar por alguns segundos.

- Hi grandma and grandpa, happy wedding anniversary, and happy birthday grandma.

- We brought flowers for you! 

Alex se virou e esticou a mão na direção de Arthur, ele o olhava com carinho e amor, mesmo que a situação atual fosse triste.

Timidamente Arthur segurou a mão de seu marido e foi trazido mais para próximo das lápides, olhando agora de perto parecia que às lápides estavam embaixo de um coreto, parecia na realidade uma encenação de que as pedras estavam a se casar, para o casal enterrado ali, não poderiam estar sepultados de forma melhor e mais romântica.

- Grandfather, Grandmother, This is my husband!

Arthur ficou meio sem jeito mas o olhar apaixonado de Arthur pareceu o acalmar um pouco, se voltou para as lápides e limpou a garganta.

- It's a pleasure to meet you both.

Alex sorriu muito orgulhoso.

- Seu inglês está muito bom.

- Eu tive o melhor professor.

Sentiu um beijinho na testa, e o rosto automaticamente ficou vermelho e quente, nunca imaginou que vermelho e neve combinavam tanto.

Christopher engoliu a saliva se virando e vindo até Brulio segurando sua mão com a mão de carne.

- Está na hora de conhecer meus pais.

Respirou fundo juntando coragem, mesmo eles não estando mais entre os vivos Brulio queria causar uma boa impressão (?)

Os três mais novos se afastaram um pouco deixando os idosos na frente das lápides, Brulio arrumou o cabelo e a barba levemente, Christopher sorriu pela primeira vez desde que tinham saído do prédio.

- Mommy, Daddy, this is my last boyfriend, he's the one I'm going to spend the rest of my life with, He is sweet, kind and caring, he also helped me a lot with my loneliness regarding Claudia's death, He is not afraid of my condition, I'm completely in love with him, I can barely take my eyes off him, I think this is really the last time I'll fall in love with someone.

- É um prazer conhecer os senhores.

Brulio percebeu que Chris estava mais ansioso que o normal, os olhos dele nem se mexiam de tão fixiados que estavam nas lápides dos pais.

- Lady Apple, eu gostaria muito que a senhora tivesse conhecido minha mãe, a senhora era o maior exemplo dela e ela era sua maior fã, eu gostaria de acreditar que as senhoras fariam muitos doces juntas.

A voz dele era grossa e gentil, carregava ternura e muito cuidado, Christopher ficou genuinamente feliz ouvindo ele conversando com sua mãe, porém não estava conseguindo mais se segurar.

- Sweetheart, Songbird, vocês se importariam de ficar esperando naquele banquinho ali por um tempo? Eu quero ficar um pouco sozinho com os meus pais.

Brulio olhou para trás onde realmente tinha um banquinho daqueles de praça.

- Claro querido, leve o tempo que precisar.

Chris ficou olhando as lápides por muito tempo em silêncio, sentia o sangue correndo na suas veias, o ar não parecia ser processado pelo seus pulmões, o coração batia acelerado e tinha um zumbido no seu ouvido o deixando tonto e enjoado.

"Daddy..."

Alex estava do lado esquerdo e Cesar do lado direito, eles também olhavam as lápides, a neve estava começando a engrossar fazendo Cesar se abraçar em ansiedade, mas por seu pai ele tinha que aguentar.

- I miss you Daddy....

Christopher puxou o ar e segurou a blusa do lado do coração sentindo lágrimas escorre do rosto e a visão ficando embaçado.

- Mommy....My heat Hurts....

As lágrimas dele cairam quentes na neve gelada congelando, eram muitos sentimentos para ele entender sozinho, e ele não tinha absolutamente ninguém para ajudá-lo a os entender.

Cesar fechou os olhos sentindo o coração disparado, ele queria ajudar mas não sabia como, Alex então estava mais perdido apartava as mãos e olhava para o pai apavorado, olhou para o irmão e ele também parecia tão perdido e assustado quanto ele.

Christopher estava tendo uma crise de pânico e ansiedade.

Os dentes batiam mas não era de frio, olhou para a neve no chão e sentiu uma vontade incontrolável de cavar e tirar seu pai de lá, faziam 47 anos que não via seu pai, sentia falta dele, não era justo ele não ter seu pai ali, olhou pro lado e viu o nome de sua mãe e entrou em desespero, por que ele tinha que lidar com tudo aquilo sozinho? 

Caiu de joelhos, a neve gelada queimou seus joelhos, olhou para as lápides outra vez e o ar não parecia mais entrar no seus pulmões.

- Daddy....

Esticou a mão de carne na direção da lápide do pai e Desmaiou. 

Brulio queria fumar, olhou para o céu e a lua estava na primeira fase da míngua, viu o calor do seu corpo saindo pelo nariz e pela boca, olhou para Arthur sentado no banco e ele também parecia muito pensativo.

- Paizão....

- Oi filhão? 

- Eu acho que eu quero ir ver a mamãe e o Henrique....

Brulio colocou a mão na cabeça do filho fazendo um carinho um pouco bruto.

- Eu também filho... também quero ver o seus avós...

Arthur sorriu para o pai mas então ouviram um barulho bem alto e se viraram em direção aos Cohen vendo Christopher despencar ao chão e desmaiar.

Brulio correu em direção ao namorado com Arthur logo atrás, e quando chegou até ele viu Cesar pegando o pai no colo, ele parecia.... cansado...

- Cesar, pia, deixa que eu levo ele...

Os olhos de Cesar tal qual os do pai e avó era completamente negros, mas no momento tudo que era possível ver naquele pequeno abismo de trevas era possível enxergar tristeza e sofrimento.

- Meu sogro...por favor... não...

Alex Colocou a mão no ombro do sogro e olhou para ele de forma pesarosa e bastante amarga, a tristeza dos irmãos era palpável e dolorosa, mesmo Cesar sendo muito menor em questão de altura e músculos que seu pai ele ainda tinha força e carregar pai no colo daquela forma deixava ainda mais desproporcional, Brulio queria ajudar, porém sentia que não era seu lugar.

Cesar voltou a fezer seu caminho, Arthur percebeu que ele abria a boca e falava/sussurrava algo a cada passo, tentou ouvir, e quando entendeu sentiu um golpe no coração.

- I am strong, I have to be strong for my Daddy, I am strong, I am strong, for daddy, I am strong...

Brulio percebeu também e começou a se questionar...

"Quantas vezes esses pias tiveram que carregar o Christopher? Quantas vezes isso aconteceu? Por que isso está acontecendo?"

Seguiram Cesar e Alex novamente até fora do cemitério, o senhorzinho o fechou o portão e o motorista parecia estar esperando por aquela situação abrindo a porta rapidamente para Cesar deitar seu pai no banco de trás.

Colocaram Chris deitado no banco e os irmãos se sentaram no assoalho do carro, o caminho foi completamente silencioso.

Dessa vez o carro não parou na frente ao prédio e sim em uma entrada lateral, provavelmente para os funcionários.

- Alexander....

- Yes big brother....

- Go with your husband and your father-in-law, I'll go with daddy...

- Yes big brother, as you wish!

- Thank you my sunshine.

O elevador era menor dessa vez então Cesar subiu sozinho primeiro.

Brulio observou em silêncio como os irmãos pareciam tão cabisbaixos, se Mariana estivesse ali sentia que ela estaria com a mesma cara de Alex, a mais profunda tristeza.

Alex sempre foi falante e alegre, porém no momento ele estava quieto e muito melancólico ver seu marido daquele jeito quebrou seu coração, a dor naqueles olhos vermelhos era o golpe mais doloroso que seu coração já tinha sentindo.

Assim que entraram no apartamento Brulio fez mensão de correr em direção ao quarto de Chris, mas novamente sentiu seu genro lhe segurando.

- Seu Brulio, por favor fique com o Arthur essa noite...

- Mas...e o Christopher?

- Nós sabemos cuidar dele meu sogro, por favor fique tranquilo.

O líder da gangue de motoqueiros parou no lugar e encarou seu genro por alguns segundos, pela intensidade daquele olhar sentia que não valia a pena a discussão.

- ok piá, tu venceu.

Alex sorriu triste.

- Se estiverem com fome podem pedir o serviço de quarto, ele é 24 horas.

Brulio agradeceu com um aceno e Alex deu meia volta para ir ver como seu pai estava, porém a manga da sua blusa foi segurada.

- Grandão?

Alex se virou lentamente com outro sorriso triste no rosto o coração de Arthur se despedaçou em mãos pedaços do que gostaria de admitir.

- Sim meu rei?

Engoliu a saliva ansioso, as palavras pareciam entaladas na garganta.

- Tu tá bem?

Sentiu um beijinho na testa e um carinho na bochecha.

- Vou ficar.

Recebeu outro beijinho na testa e assistiu seu marido subir as escadas e desaparecer no corredor superior.

- filhão...

- Sim paizão?

- Tu consegue pedir um whisky pelo serviço de quarto...acho que a gente vai precisar.

Abriu a porta e viu Cesar trocando as roupas do pai deles, ele parecia meio robótico fazendo isso, ainda sim parecia muito acostumado, a tristeza dele também era bem óbvia.

Se aproximou do irmão e começou a ajudá-lo.

Quando terminaram de trocar o pai também se trocaram em silêncio, garantiram que a prótese estivesse bem higienizada e colocaram fluidos para ela não enrijecer no clima gelado, a guardando logo em seguida.

Alex se deitou do lado esquerdo do pai e colocou a cabeça no peitoral ouvindo o coração dele batendo, Cesar se deitou do lado direito o abraçando com muito carinho e cuidado, fecharam os olhos e adormeceram.

Brulio e Arthur se sentaram nas cadeiras da ilha e viram as duas garrafas de whisky e a garrafa de vinho na frente deles juntos com alguns petiscos para não ficarem bêbados por completo, Arthur abriu as garrafas e despejou uma bela quantidade nas taças que tinha encontrado, ele e o pai viraram os copos de maneira simultânea fazendo até a mesma careta.

- Arthur eu tô muito apaixonado pelo Christopher...

Arthur olhou para o pai com uma grande cara de incógnita.

- É a terra e redonda, e com isso comprovamos 2 fatos em 3 segundos.

Brulio deu uma leve risadinha e tomou mais um gole do whisky, o amargo o fazia lembrar que aquilo não era um sonho.

- As coisas são um pouco mais complicadas do que isso filhão.

- Em que sentido exatamente? 

Rodou o whisky no copo vendo que falar sobre seus sentimentos para o filho ainda era algo um pouco complicado pra ele, se perguntava se era assim que Arthur tinha se sentindo quando falou pra ele sobre Alex pela primeira vez.

- O relacionamento que eu tenho com o Christopher e diferente do que tive com sua mãe.

Arthur comeu uma azeitona e olhou para a garrafa de vinho, se perguntava se Alex gostava daquela safra e se deveria deixar um pouco pra ele, olhou para o pai novamente e ele ainda encarava o fundo do copo pensativo.

- O senhor e a mamãe sempre tiveram um relacionamento muito bom e bonito aos meus olhos.

- Sua mãe foi e sempre será o amor da minha vida, ela me fez um homem melhor e me deu dois filhos lindos, não existe um dia que eu não agradeça pelo fato dela ter me amado.

- Eu puxei o ciúmes dela.

- Eu sempre achei o ciúmes da sua mãe levemente cômico, eu nunca consegui olhar pra qualquer outra mulher além dela.

- E difícil explicar nosso ciúmes pai...

- Acredite quando eu digo que tu não é nem um terço do que sua mãe era...

- Que dó do senhor.

Arthur soltou uma risadinha e o pai o acompanhou, ambos comeram um amendoim e tomaram um pouco mais de whisky.

- A sua mãe se apaixonou primeiro, na escola eu tive uma quedinha por ela, mas honestamente a cidade toda era apaixonada por ela, a mulher mais bonita de Carpazinha com o homem mais feio, ninguém nunca entendeu o que ela tinha visto em mim, e eu também nunca entendi, só aceitei o amor dela, meu coração batia tão forte todas as vezes que ela olhava pra mim com aqueles olhos verdes, o sorriso que ela dava quando nós dávamos as mãos valia mais do que minha própria vida, ela me amou com intensidade e fazia questão de demonstrar isso todos os dias, amar ela foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido.

A saudade na voz grossa era bem presente, o gaúcho também tinha um olhar bastante longínquo.

- Mas com o Christopher e diferente.

Arthur deu um gole no whisky com a sobrancelha do olho verde levantada fazendo uma pergunta muda.

- Não precisa fazer essa cara, não estou comparando sua mãe.

- Então me explica melhor...

Brulio respirou fundo e pegou a garrafa enchendo e virando o copo, colocou ainda mais whisky e ficou olhando pro nada por alguns segundos.

- Eu sei que o Christopher me ama... A maneira dele...

- Que?

- Eu sei que ele tem "problemas em entender os sentimentos", ainda sim eu sinto o amor dele por mim e eu sei que deixo bem óbvio o quanto eu estou apaixonado por ele.

Deu outro gole no whisky, não queria deixar seu filho preocupado com o que iria falar a seguir.

- o amor que eu sinto pelo Christopher... E como se eu tivesse andando em um mundo sem nenhuma vida, sempre escuro e frio... Mas então...do nada tu vê uma pessoa no meio daquela solidão absoluta e sufocante, e o contato com essa pessoa te faz lembrar que ainda existe vida...toda vez que ele me beija, me abraça, sorri na minha direção, eu sinto que ainda existe vida dentro de mim, ele é meu conforto, minha paz, fazia tantos anos que eu não tinha esse sentimento, esse desejo de cuidar dos sentimentos de alguém.... Amar o Christopher é como beber um copo de água gelada quando se estar com sede, não importa o quão caótico ele pareça... Ele me faz feliz e completo, e essa sensação eu não tinha a muitos anos... E eu amo amar ele, acordar do lado dele, ver como ele fica vermelho quando damos as mãos, o sotaque dele e música pros meus ouvidos, a risada dele aquece meu coração, se isso não é amor... Eu nem sei o que mais poderia ser...

- Pai... Isso é muito bonito...

Brulio pegou um pouco de seu cabelo e brincou um pouco tímido e com um sorriso sincero e inocente.

- O meu gringão é muito mais simples e tímido do que parece, tudo que ele quer é que alguém o ame abertamente, e eu estou disposto a ser essa pessoa, não importa as consequências, eu quero que ele entenda atravéz das minhas ações e palavras que eu NUNCA vou deixar-lo... Ele não sabe, mas ele me salvou da solidão que eu sentia, amar ele com cada célula do meu corpo e o mínimo... Ver ele frágil daquele jeito hoje, só me fez querer o abraçar e proteger ainda mais, eu não quero que ele assimile emoções negativas nunca mais...

- Isso é mais fácil falar do que fazer.

- Eu sei... mas... Eu quero tentar....

Pegou uma fatia de maçã entre as frutas que estavam no meio dos petiscos, e olhou por alguns segundos antes de comer.

"Querido, quando tu acordar eu estarei aqui"

Arthur olhou novamente a garrafa de vinho pensando em Alex, o jeito que ele tinha agido fez seu coração quebrar.

"Meu grandão...eu sei que tu é forte e já passou por isso várias vezes...mas por favor se lembre que eu estou aqui para ti" 

O amor de um Cevero é um tesouro muito grande.

Os Cohen dormiam no quarto, os irmãos protegiam a maneira deles o pai de qualquer coisa ruim, mesmo que fossem apenas lembranças.

 

����⚫✡️❄️ O Milagre ����⚫✡️❄️

 

(Todas as falas dessa parte estariam em inglês, mas como eu sei que nem todo mundo fala estão em português, sendo assim usem a imaginação)

 

A primeira lembrança de Christopher era uma voz masculina doce, um colo confortável, óculos fundo de garrafa, sardas e cabelos cacheados ruivos, tudo isso com o cheiro de tinta, argila, flores e torta de maçã.

- Como algo tão perfeito saiu de mim?

- Daddy?

- My Miracle! Você deveria estar dormindo...

Os dedos sujos de tinta passaram pela sua bochecha e então o apertaram fazendo ele fazer biquinho.

- *risadinha boba e satisfeita* você é tão fofo e é meu!!!

- O que está fazendo com nosso filho Youssef?

- AAAAAAAAAAAAA

Saída das sombras lá estava Apple em sua beleza e magnitude, mesmo em casa ela estava elegante.

- Apple já pedi pra não fazer isso! Não dá pra te ver nas sombras quando você está de preto.

- Mommy!

Youssef se virou pro berço/caminha e pegou seu filho, mesmo ele tendo só 4 anos era uma criança muito grande e fofinha.

- Você é a cara da sua mãe mesmo...o que custava você ter nascido só um pouco parecido comigo.

- Ele tem seu nariz... E eu acho ele parecido com você...

- Talvez quando ele for mais velho realmente fique um pouquinho.

Apple pegou Christopher do colo do pai vendo que as roupas dele estavam cheias de tinta, olhou para o marido e ele estava com o avental todo sujo.

- Me explica o por que você saiu do ateliê para acordar nosso menino?

- Precisava de inspiração para algumas estátuas de argila que estou fazendo.

- o que isso tem haver com nossa "Morningstar"?

Youssef se aproximou e fez um carinho no filho vendo o sorriso aparecendo nos lábios vermelhos.

- Não existe inspiração maior que o meu amor por vocês.

Apple podia sentir suas bochechas quentes e vermelhas, o coração saltava dentro do peito, o único ser humano capaz de fazer ela ficar corada, o amor de sua vida, Youssef.

- Mommy você tá vermelha.

Youssef soltou uma risadinha maldosa cruzando os braços, tinha achado sua inspiração afinal de contas.

- Você é tão linda My Apple pie, minha musa absoluta.

Os olhos dos dois se encontraram e o coração de Apple queria sair pela boca, ela era loucamente apaixonada/obcecada por Youssef.

- Está vendo Christopher? Quando se ama alguém deve demonstrar todos os dias, um elogio é apenas o mínimo.

- V-você é tão exagerado Darling.

A única pessoa que era capaz de fazer Apple gaguejar era Youssef, e ele sabia muito bem disso.

- Vamos pra cozinha? Eu fiz torta de maçã!

Apple saiu com Christopher no colo, Youssef foi os seguindo logo atrás.

Com 10 anos Christopher já era muito maior e mais alto que seu pai, isso gerava situações inusitadas.

- Daddy? Está ocupado.

- My miracle, o que está fazendo aqui? Deveria estar com sua mãe nas gravações.

Sentado no último degrau de uma escada pintando uma tela de cinco metros, o suor dele se misturava ao balde de tinta, Christopher admirava muito isso em seu pai.

- E muito chato não poder me mexer no Set de filmagem.

- E só um comercial de perfumes, com o talento de sua mãe teria terminado rápido.

- Não, prefiro ficar aqui e ver a pintura acontecendo.

- Você é um doce, mas sabemos que você será um ator e cantor muito melhor do que um artista plástico, sua beleza não deve ser ocultada do mundo.

- Eu prefiro ficar atrás das câmeras.

- Se sua mãe escutar isso ela tem um troço.

Youssef começou a se balançar fazendo a escada se balançar também até cair, Christopher só deu um passinho pra trás! Aquilo era rotineiro.

- YES PAIN!

- Daddy...tudo isso pra não descer da escada normalmente?

- Sim e não, deita aqui no chão com seu pai.

Christopher respirou fundo e se deitou ao lado do pai olhando para cima, o teto todo era machado de tinta e haviam esculturas descartadas penduradas lá também.

- A Arte é espontaneidade e sentimentos, até a dor pode ser linda my miracle.

- eu preferiria que o senhor não se machucasse.

Youssef deu uma risadinha inocente e se virou para o Filho fazendo carinho no rosto perfeito e segurando sua mão logo em seguida.

- A dor vem para todos filho, mas a dor física não e nada comparada com a dor emocional.

Aquilo deixou o jovem Christopher tão absolutamente confuso que seu pai acabou soltando mais uma risadinha.

- Sentimentos dõe?

-.... Alguns... Mas isso é bom...

- Como isso pode ser bom Daddy?

- Quando você precisar sentir um dos sentimentos que dõe você vai entender.

- Eu não sei se quero sentir algo assim....

- Não se preocupe my miracle... Eu vou estar aqui pra te ajudar a entender esses sentimentos, afinal...eu sou seu pai....

Christopher sorriu e se aconchegou no peito do pai enquanto olhava o teto do ateliê, aquelas estátuas penduradas e manchas de tinta em sua visão eram mais bonitas do que a noite estrelada de Van Gogh.

- My miracle... My perfect Sweet boy...the most Beautiful and kind, my dream come true, you are my greatest work of art.

Chris sentiu um beijinho na sua testa e seu cabelo sendo arrumado de forma carinhosa.

- i love you Daddy...

- I love you too My miracle...

Youssef puxou Christopher para dentro de seu abraço e lhe deu um beijinho no topo da cabeça, o calor do corpo de seu pai era aconchegante.

- Quando eu crescer eu quero ser gentil igual ao senhor.

- Eu não quero que você seja parecido comigo pequenino.

- Mas o senhor é a melhor pessoa que eu conheço.

- Que isso, ainda temos a sua mãe.

Encarou seu pai por alguns segundos e questionou seriamente se seu pai estaria brincando.

- Christopher... engula as palavras que querem sair da sua boca.

- A mommy não é boazinha igual ao senhor Daddy...

- A vida não é fácil pra quem é bonzinho meu Filho, eu sou uma exceção.

"Será que é por isso que a Mommy me explica as coisas daquele jeito?"

Christopher NUNCA duvidou do amor do seus pais, principalmente de Apple, porém os métodos pedagógicos de sua mãe eram muito... Excêntricos... No mínimo....

- Eu sei que você vai crescer e se tornar lindo e gentil... Eu sei que vai.

- Não vou te decepcionar Daddy!

Youssef sorriu e deu mais um beijo no topo da cabeça de Christopher, o carinho dele fazia seu filho ficar levemente sonolento, a presença de seu pai lhe era calmante.

Youssef viu que seu menino iria cair no sono ali em seus braços e sorriu o aconchegando melhor, sua voz não era tão bonita quanto a de sua esposa mas ainda sim servia para embalar o sono de seu filho

- "You are my special angel

Sent from up above

The Lord smiled down on me

And sent an angel to love (to love)

You are my special angel

Right from paradise

I know that you're an angel

Heaven is in your eyes

The smile from your lips brings the summer sunshine

Tears from your eyes bring the rain

I feel your touch, your warm embrace

And I'm in heaven again

You are my special angel

Through eternity

I'll have my special angel

Here to watch over me"

 

My Special Angel - The Vogues

 

Christopher fechou os olhos sentindo o sono chegar, mesmo no chão duro e cheio de sujeira, os braços de seu pai eram o local mais confortável do mundo.

"You are an angel daddy"

E adormeceu.

Um vestido colorido e cheio de babados, um palco lotado, cabelo preso em um rabo de cavalo, maquiagem impecável e um sorriso no rosto enquanto segurava um microfone na mão.

Ver seu pai montado era uma sensação incrível, ele era tão bonito em todas as suas formas.

O leque abriu fazendo uma chuva de purpurina voar pelo ar, ele parecia muito feliz no meio das pessoas, Youssef era todas as formas de artes encarnada.

- Apple já pedimos para não trazer o Christopher pra cá!

- Ele queria ver o pai, eu nunca vou negar um pedido desses pro meu filho.

"Blá blá blá blá como pode ser tão chato! Ninguém nem vai me ver aqui atrás do palco!"

Os olhinhos negros brilhavam vendo como seu pai cativava cada uma das pessoas na plateia, o sorriso dele era tão contagiante, se sentia muito especial quando diziam que ele e o pai tinham um sorriso parecido.

Christopher era tanto o filhinho do papai como o filhinho da mamãe.

- Christopher? O que você tá fazendo aqui? Seu pai sabe que você tá aqui? Cadê sua mãe?

Uma drag magérrima fumando um cigarro e com a maquiagem meio borrada, as calças vermelhas de couro e um top colorido lembrando alguma roupa hippie, a peruca estava meio torta na cabeça, mas nada muito ultrajante.

- Hi Uncle Dylan!

- Garoto já falei pra não falar meu nome ou de qualquer outra drag aqui, sabe que é perigoso.

- Desculpa tio.

- Aí...vamos, eu te levo pra sua mãe!

Deu a mão para o amigo de seu pai, conhecia muitos como Dylan.

- Daddy! 

- Christopher! Onde estava?

- Fui ver o senhor atrás do palco.

Youssef parecia uma bonequinha vestido daquele jeito, haviam outras drags se arrumando no camarim, todas eram POC.

(Nota: POC é um termo em inglês para dizer minorias, a abreviação de "People of color" em português: "pessoas de cor")

- Eu sei que gosta de participar das coisas mas ainda é muito novinho para estar em lugar como esse.

- Eu não sou tão novinho assim! Meu bar mitzvah e ano que vem.

- Exatamente você ainda tem só 12 anos, pra entrar aqui tem que ter 21.

- É a minha idade só que invertida.

- Engraçadinho, vem vou te deixar com sua mãe.

Apple estava em um canto afastado limpando o rosto de uma das drags, o cheiro chamou a atenção de Christopher que se aproximou vendo sangue escorrendo do nariz dela e um olho roxo.

- Christopher isso não é algo que voce deveria ver.

Os olhos do menino se encontraram com os da mãe e eles diziam pra ele que falariam sobre aquilo depois.

Youssef parou encarando a amiga e olhou para Apple e ela parecia extremamente brava e frustrada com algo.

Dentro do carro voltando para a sinagoga da família Apple parecia bem brava olhando para as ruas de NY.

- Foram os policiais ou só idiotas.

- Ela não quis falar.

Youssef olhou pela janela cansado.

- Eu abri aquele bar para elas estarem seguras, ninguém vai mexer em algo nosso...a gente tem muito dinheiro para tentarem algo.

- Youssef....

- Daddy o que aconteceu?

Os pais se olharam e desviaram o olhar realmente preocupados e frustrados, o estresse fazia ambos quererem fumar.

- Pessoas ruins My miracle... só isso.

- Por isso o tio Blake estava sangrando?

Youssef não sabia se respondia honestamente ou não, tinha medo de jogar muita informação em seu filho não entender.

- Christopher, pessoas são diferentes umas das outras, mas algumas vezes ser diferente faz as outras pessoas serem más com os outros.

- Daddy.... Eu sei o que é preconceito e segregação...

Apple automaticamente desviou o olhar e Youssef juntou as sobrancelhas muito preocupado.

- Como você sabe disso?

- A mamãe me explicou.

Isso era verdade, mas Apple não tinha explicado do jeito que deveria ser.

"Preconceito é algo irrelevante, se você cortar a garganta de alguém não importa a cor da pele a pessoa vai morrer de todo jeito, sem contar que nesse mundo imundo ninguém além do seu pai merece piedade sem precisar se provar"

Para Apple a humanidade inteira era uma grande perda de tempo, so tolos odeiam seus semelhantes por ter uma fé diferente, ser de outra etnia ou orientação sexual, trataria todo e qualquer ser humano exatamente do mesmo jeito, esperava que Christopher seguisse seus passos.

Youssef respirou fundo e olhou para a janela vendo os prédios passando pela Broadway, era seu lugar favorito no seu estado natal, soltou um suspiro cansado e olhou meio bravo para a esposa, Apple não se abalou no entanto.

- Eu espero meu filho, que você nunca tenha que passar por coisas assim, eu quero que você possa usar seu keppa sem problemas, eu quero que você possa amar quem você quiser sem temer um ataque...eu quero que você possa usar as roupas que quiser sem ser espancado em um beco... Eu quero dar um mundo melhor pra você meu filho, mas não só pra você.

O olhar de Youssef carregava tanta força e intensidade, como não admirar seu pai, tão pequeno e ao mesmo tempo tão grande...

- Arte trás força, Arte e movimento e política, arte muda o mundo atravéz de mensagem e criação de senso crítico em quem a experiência, não se esqueça My miracle, o mundo muda com arte, pela arte e para a arte.

Christopher viu o olhar determinado e forte de seu pai e sua mãe sorrindo apaixonada, não entendeu muito bem, mas naquele mesmo ano Youssef fez uma exposição de desenhos e fotografias que mais parecia um grande manifesto, pelo seu milagre Youssef era capaz de mudar quantas pessoas fosse necessário para dar a ele um mundo melhor.

"Chopin valsa 69 n°2" ecoava pelo salão da sinagoga, pele tão branca e olhos negros como as teclas brancas do piano.

- Christopher?

Parou de tocar e viu seu pai se aproximando com um sorriso lindo no rosto.

- Daddy!

- Parou por que? Estava tão lindo, sua mãe iria adorar ouvir.

- Precisava me distrair um pouco, não devia ter vindo mexer no piano sem permissão.

- Você só toca quando está muito ansioso.

Christopher desviou o olhar de seu pai, era tão fácil entender seu filho as vezes.

- Vem, vamos dar uma volta no Brooklin.

A neve caia linda na rua, o chão coberto de neve e as decorações natalinas deixavam o clima mágico, mas Christopher parecia entorpecido.

Sentiu uma mão na sua cabeça e viu seu pai se esticando para lhe dar carinho, isso era bem cômico.

- Se você já está desse tamanho com 12 anos tenho medo de como vou ficar do seu lado quando chegar aos 20, mas pela sua carinha tem algo te incomodando...

Chris não respondeu.

- Filho você pode até tentar... Mas não esconde nada de mim.

O pré soltou um suspiro cansado e olhou para o pai levemente frustrado.

- Se é pra ser meu bar mitzvah por que tá todo mundo se metendo? 

- Seu aniversário é só em agosto, falta muito ainda.

- Fala isso pra todo mundo, eu só quero ler a tora e me divertir com meus primos, mas eu também não quero desapontar os tios e as tias.

- É... Essa sua permissividade é uma coisa que eu gostaria que você não tivesse puxado de mim... Tenho medo que alguém machuque seus sentimentos por você ser bonzinho e perdoar fácil as pessoas, eu preferiria que você fosse rancoroso igual sua mãe.

Ele estava crescendo tão rápido e tão lindo, mal podia esperar para ver que tipo de homem ele estava se tornando, como queria ver a estreia dele no cinema ou nas passarelas, aquele menininho lindo era seu amado filho, podia morrer feliz.

- Christopher você é muito especial, você é meu milagre, então acho que as pessoas estão se empolgado um pouco, mas tá tudo bem colocar limites entendeu?

Chris fez sim com a cabeça, sentiu seu pai segurando sua mão e mesmo ele sendo tão menor que ele achava seu pai grande.

Apple esperava na frente da sinagoga com os braços cruzados e muito séria, a neve tão linda caia, os cabelos negros e cumpridos voavam com o vento gelado, Christopher correu em direção a mãe e a abraçou, eles eram lindos juntos, olhou eles por mais alguns segundos e seu coração se encheu de alegria, ele era tão feliz que poderia chorar, uma lágrima escorreu espontânea se misturando na neve, se abaixou e pegou um pouco fazendo uma bolinha e atirando nos dois, sua felicidade era passar esses momentos com eles.

- Youssef como assim você não vai poder ir com a gente?

- Apple pie, eu preciso terminar alguns trabalhos, vocês vão ficar só um dia e meio sem mim.

Apple não estava gostando nada disso, ainda sim sabia que Youssef queria mais tempo com aquelas obras.

- promete que vai pra NY no dia certo então?

- Nem um a mais! E a primeira vez que a gente vai ver minha família desde o bar mitzvah do Christopher.

Apple se sentia bem dentro da família de Youssef agora, gostava de passar tempo com as mulheres da família e não se importava com a correria das crianças, se sentia realmente parte.

- Tia Apple o Tio Bob não deixa a gente chegar perto do Chris.

Apple se levantou e foi até a parte de trás onde Bob segurava Christopher com delicadeza, ele ainda era muito chocante de se olhar, ainda bem que Apple não sentia nojo de nada.

A baba escorria pela boca e os ferimentos ainda eram bem "frescos" se Bob não tivesse força ele teria morrido com a explosão da granada, porém não sabia se isso era bom.

Christopher tinha força assim como ela, porém faria de tudo para ele não entrar no exército igual a Bob.

- Yo...sssseeeffff

- Não tio Bob e o Chris!

- You...se...se feee...

- Bob?

O gigante olhou lentamente para Apple e deu o que ela acreditou ser um sorriso, ele se lembrava dela, e isso era muito especial para Apple, afinal Bob foi o primeiro membro da família a aceitar o relacionamento dela com seu marido.

- Ap...pple... Lin...linda amiga...

- Vamos Bob, você precisa descansar...

Youssef tinha terminado o que queria, chegaria antes do que tinha combinado com Apple em NY, estava muito feliz.

Se virou para sair do ateliê quando sentiu uma forte dor de cabeça e uma tontura que o fez segurar na cadeira.

- O que?

Colocou a mão no nariz vendo o sangue escorrendo, a visão ficou turva e foi ao chão, se esforçou para virar de barriga pra cima e vendo suas obras de arte, sorriu, mas não soube explicar o porquê.

"Eu devia ter ido com vocês..."

Piscou uma vez e a imagem que veio a sua mente foi Christopher bebê no seu colo a primeira vez.

"Sorry my miracle, I won't be able to see you grow up"

Ele foi pai, ele realizou seu maior sonho, ele teve um um milagre concedido, piscou mais uma vez e viu Christopher lendo a tora em seu Bar mitzvah, que orgulho...

Fechou os olhos sentindo o ar não entrando mais nos pulmões, queria ver seu filho, queria ver sua esposa.... Apple, o amor da sua vida, como foi feliz ao lado dela, fechou os olhos e usou o último oxigênio disponível em seus pulmões para dizer suas últimas palavras.

- Apple...

O que é a morte? Apenas o fim das atividades fisiológicas de um corpo? Christopher não fazia ideia.

Segurando a mão de sua mão que estava simplesmente linda na última peça de roupa que seu pai tinha feito para ela, um vestido lindíssimo colorido com uma calda linda, era uma obra de arte em todos os sentidos, seu pai sempre pedia para ela usar roupas coloridas.

Os dias que se seguram passaram por Christopher como um vento gelado, quando acordava esperava ver seu pai na cozinha com sua mãe, quando estava no jardim esperava ouvir os sons dele no ateliê, quando comia um doce esperava ele surgir pedindo um pedaço, quando ia dormir esperava ele aparecer para ler para ele e lhe desejar boa noite, mas seu Daddy não estava mais lá, e foi em uma dessas noites.que Christopher assimilou e entendeu 4 sentimentos que dõe.

Andou em silêncio pela casa e jardim fazendo o mínimo de batulho, o ateliê estava exatamente igual ao dia que tinham organizado, sem seu pai ele perdia a mágica aos olhos de Christopher.

Foi até o local que seu pai gostava de se deitar e como se ele ainda estivesse ali se deitou.

Luto: sentimento de tristeza profunda pela morte de alguém, amargura, desgosto.

Ele nunca mais veria seu pai, não escutaria mais sua voz, não teria ele do seu lado nos próximos passos de sua vida.

Tristeza: um sentimento e condição típica dos seres humanos, caracterizado pela falta da alegria, ânimo, disposição e outras emoções de insatisfação.

Como ele poderia continuar vivendo sem seu pai? Por que alguém bom como ele morreu? Sua mãe estava sofrendo tanto e ele nem sabia o que fazer.

Solidão: estado de quem se acha ou se sente desacompanhado ou só; isolamento.

Sentia que de todos os seres humanos do mundo seu pai era o único que o entendia, mas agora estava sozinho.

Saudades: sentimento causado pela distância ou ausência de algo ou alguém

Christopher nessa época não sabia que essa palavra existia, afinal ela é exclusiva da língua portuguesa, Saudades não tem tradução, mas era exatamente isso que ele sentia agora.

- Daddy!!!

As lágrimas escorriam sem parar, o peito doia e só conseguia chorar mais.

- Daddy... Daddy...você prometeu... Esses sentimentos dõe... Daddy.... não me deixe... Daddy...o meu coração dói...

Segurou a camiseta do lado do coração e apertou com força enquanto as lágrimas escorriam, não se lembra o quanto chorou aquela noite, mas sabe que desmaiou no processo e acordou em sua cama com sua mãe segurando sua mão.

 

����⚫✡️❄️ O Milagre ����⚫✡️❄️

 

- Daddy...

Christopher abriu os olhos sentindo o coração doendo, o teto parecia irreal, tentou levantar o braço esquerdo, porém estava sem a prótese e com Alex deitado encima dele.

Olhou pro outro lado e Cesar também o segurava como se ele fosse desaparecer a qualquer instante, também sabia que se Mariana estivesse lá ele estaria lascado, não conseguiria nem se mexer, falando nisso tinha que ligar pra ela.

Fez mensão de levantar e isso acordou os dois rapazes que pareceram confusos com seus movimentos bruscos.

- Daddy!

- Father!

Os dois o abraçaram com força, Christopher os abraçou de volta e pareceu muito grato por eles estarem ali.

Arthur e Brulio passaram a noite bebendo e não dormiram sequer um minuto, então além de cansados estavam bêbados.

- Meu rei?

- Grandão!~~~

Arthur se jogou no marido, ainda bem que Alex teve reflexos rápido.

- Minha nossa ele tá cheirando álcool!

Cesar abanou um pouco Arthur no colo de seu irmão, o estado dele era deplorável.

Brulio encarava Christopher com coragem e determinação...assim como também uma quantidade de álcool considerável.

- Meninos, podem cuidar do Arthur para mim um pouco? Eu preciso conversar um pouco com meu namorado.

Aquilo pegou Christopher de surpresa...bem... sabia que ele iria pedir explicações mais cedo ou mais tarde.

- Claro seu Brulio! 

Alex e Cesar foram para o quarto do casula deixando os dois idosos sozinhos na cozinha, Christopher não conseguia manter contato visual.

- Christopher?

- Desculpa por ontem...eu sei que não deve ter sido algo agradav-

Sentiu braços musculosos o abraçarem com carinho, instintivamente abraçou de volta, seu namorado estava cheirando a whisky.

- Tá tudo bem Christopher...pode chorar...

Travou no lugar sem saber o que fazer, começou a sentir as lágrimas escorrendo e apertou Brulio em seu abraço, fazia muito tempo...que ele não se sentia mais tão sozinho.


Notas Finais


O amor do Brulio pelo Chris é muito lindo, o Brulio tem muito amor pra dar ao Christopher, acho o romance deles lindo.
Fico muito feliz escrevendo o Chris criança porque ele era literalmente o Alex e o Cesar misturado, ele só era mais na dele.
Apple é uma boa mãe e esposa, ela ama a família dela.
Agora momento história: na década de 70 muitas minorias eram barradas de entrar em baladas majoritariamente brancas, como resposta lugares clandestinos foram abertos e nesses espaços onde negros, latinos e a comunidade lgbt se encontrava deu início a era do disco!
O Youssef era a arte encarnada! Ele respirava beleza e inteligência! O Chris sente muito orgulho de ser filho dele.
O último pensamento do Youssef foi seu milagre, o filho que ele tanto amou e desejou, e a última palavra dele foi o nome da mulher que ele amou, ele é incrível na moral.
Vocês vão ver mais coisas da família do Chris em breve.
Bjs até o próximo capítulo 😘✌🏽


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...