História Stupid Love - Daughters

" A vida é uma grande, uma gigantesca confusão. Mas essa também é a beleza dela."

Brasileiros são estranhos.

Conclui isso depois de meia hora caminhando pelo shopping.

Eles são todos cheios de alegria, autenticidade e criatividade. Estão sorrindo toda hora, sempre conversando e rindo. As lojas sempre tem alguma coisa engraçada na frente, cores chamativas, enfeites que chamam a atenção e te atraem.

Mas a coisa que mais me chamou a atenção era a sua língua. Eu não entendia uma palavra do que eles falavam. As vezes passando em frente a algum local, um vendedor falava alguma coisa e eu não conseguia responder outra coisa além de "Sorry, I don't understand."* fazendo a pessoa me olhar estranha. Isso me deixava constrangida, Justin parecia nem ligar, afinal ele só dava bola para Dylan em seu colo.

Eu não estava me importando com isso, mal me importava com as Amy e Kim correndo de um lado para outro em nossa frente brincando de alguma brincadeira estúpida de criança. A única coisa que eu conseguia pensar era em minha pequena conversa com Luke a quinze minutos atrás.

Havíamos passado por uma loja de brinquedos e eu senti que alguém nos observava, olhando para trás rapidamente vi uma mulher com uma roupa completamente diferente de qualquer pessoa ali, ela vestia calças pretas com uma regata preta e uma jaqueta da mesma cor, os pés cobertos por uma bota de cano longo e saltos altos, os cabelos presos com todos os fios em seus devidos lugares, a maquiagem escura e os lábios vermelhos que se movimentaram em um simples nome sem emitir nenhum som. Luke.

Abri a boca ainda olhando para ela que virou a cabeça indicando o banheiro a nossa esquerda alguns metros atrás, logo ela deu a volta e entrou no banheiro sumindo de vista.

– O que foi Mellany? – a voz de Justin falara me fazendo virar para frente rapidamente.

– Nada. – respondi e então pensei em Luke. Deveria estar tentando comunicar-se comigo. – Preciso ir ao banheiro. – comuniquei e separei rapidamente nossas mãos andando em direção ao banheiro em passos largos e firmes.

Assim que empurrei a porta para dentro vi o banheiro totalmente fazia, franzi o cenho e olhei para porta vendo uma placa vermelha com algumas escritas em Português e logo abaixo com uma letra menor as palavras "Interditado" foram gravadas em Inglês e em Espanhol. Quando a porta fechou eu virei a direita vendo a mesma mulher apoiada na parede girando um celular em mãos.

– Luke quer falar com você. – foi tudo que disse antes de jogar o celular para mim.

Se não tivesse sido pelo meu treinamento depois que sai do hospital eu com toda a certeza teria deixado o celular cair no chão. Mas ao contrario disso eu o coloquei na orelha.

– Luke? – perguntei assim que a voz me veio.

– Mellany. – ele respondeu como a mesma entonação de sempre. – Bom que esteja bem. – podia sentir algum tipo de sarcasmo vindo dele, ou talvez fosse plena imaginação.

– Como sabe onde estou? – perguntei encarando a mulher em minha frente, a mesma encarava a mim com certa arrogância.

– Eu tenho meus meios secretos querida. – foi o que me respondeu antes de começar um falatório sobre coisas que eu deveria fazer e não fazer, falei tudo que sabia até agora para ele e quando não tinha mais o que falar o mesmo desligou com um breve "Mantenha tudo em ordem até voltarem."

Encarei o celular em minhas mãos e depois a morena em minha frente, ela ergueu a sobrancelha esperando eu falar alguma coisa mas apenas joguei o celular para ela que o pegou com apenas uma mão dando um sorriso falso. Dei as costas saindo do banheiro e ouvindo um "Nos vemos por ai, Jordan." .

Depois da conversa com Plemour eu não consegui mais relaxar, ficava tensa e olhava para todos os lados todo o tempo, Justin não ligou, nem deve ter percebido e se percebeu fingiu que não. Continuamos nossa caminhada pelo Shopping comprando algumas besteiras para as crianças quando pediam.

Minha mão entrelaçada na de Justin foi puxada com força para o lado e só então percebi que ele tentava alcançar o vestido de Amy com uma jogada de corpo para frente já que as duas pequenas meninas começaram a correr quando viram uma mulher fantasiada de Mamãe Noel.

– Amy. – Falei soltando minha mão da de Justin e caminhando mais rápido na direção das duas. – Kimberly. – As duas nem deram bola para os chamados. Logo desapareceram no meio de todas as crianças e pais que tinham se amontoado ao redor de uma pequena casa construída para as crianças tirarem fotos com o Papai Noel e os duendes.

– Cadê elas? – Ouvi a voz de Justin atrás de mim e logo senti sua grande mão em meu ombro caminhando comigo entre as pessoas. A maioria olhou para nós quando Justin falou.

– Eu não sei. – falei esticando meu corpo para tentar olhar por cima das cabeças e ombros em minha frente. Via um monte de crianças por todos os lados mas não conseguia achar as minhas crianças. – Como elas sumiram tão rápido? E se alguém pegou elas? – só em pensar na possibilidade meu estômago embrulhou. A mão de Justin apertou meu ombro com mais força também odiando a possibilidade.

– Elas estão por aqui, vamos chamar talvez elas ouçam. – ele falou enquanto eu pedia licença para algumas pessoas em minha frente tentando passar, mas as mesma me olhavam e nem se mexiam.

Cadê toda a educação que eles tinham a cinco minutos atrás?

Parece que nunca viram alguém de outro país.

– Amy. – Falei alto olhando para todos os lados. – Kimberly. – ouvi a voz de Justin logo depois da minha chamando pelas duas, dei uma olhada para trás encarando um Justin totalmente preocupado e nervoso olhando para os lados e chamando as filhas e um Dylan que nos encarava confuso com a cabeça escorada no ombro de Justin, o topetinho raspando contra a pele nua do pescoço do pai, os tênis grandes iguais os de Justin batiam freneticamente contra o abdômen de Bieber, deveria estar impaciente de tanto ficar no colo.

– Vamos nos afastar das pessoas talvez elas tenham voltado para onde estávamos tentando nos procurar. – Justin disse depois de alguns minutos procurando. Assenti com a cabeça, minhas mãos tremiam e eu sentia meu peito arder, estava ofegante e nervosa, poderia simplesmente ter uma crise a qualquer momento. Justin percebeu meu estado e abraçou-me de lado me guiando entre as pessoas falando alguma coisa em Português quando alguém estava na frente.

Assim que chegamos aonde estávamos olhamos ao redor e não vimos as duas, apenas algumas pessoas caminhando com suas famílias.

– Vou falar com os seguranças caso eles avistem elas para nos chamarem. – Justin informou me dando Dylan no colo e se afastando em direção aos seguranças.

– Vou te colocar no chão mas não tire a mão da minha perna, entendeu? – falei para Dylan que assentiu enquanto o colocava no chão, logo senti sua mão em minha perna enquanto ele brincava com o celular de Justin com a outra mão, deixando o mesmo cair algumas vezes no chão, mas o recuperando rapidamente.

– Está procurando por alguma coisa moça? – Uma mulher loira chegou falando alguma coisa que eu não entendi, me fazendo franzir o cenho pensando nas palavras confusas.

– Sorry, what did you say? (Desculpe, o que você perguntou?) – perguntei confusa a mesma arregalou os olhos e as bochechas ruborizaram.

– Oh! – exclamou. – I don't speak your language. (Eu não falo sua língua) – entortei a boca querendo me matar por vir para um lugar que eu não sabia falar nada.

– Right, Right. (Certo, Certo.) – murmurei e encarei ela. – Well, maybe you can help. – falei e a mesma vez uma careta.

– Help you? (Ajudar você?) – perguntou incerta tentando entender minha pergunta. Sorri assentindo.

– Yes! (Sim!) – mordi o lábio procurando um modo se nós entendermos.  – You (você) – apontei meu dedo para ela que assentiu. – Saw (viu) – apontei dois dedos para meus olhos e depois para os lados a mesma assentiu confusa. – Two (duas) – fiz o número dois com os dedos. – Little girls (garotinhas). – fiz um gesto de pequenas com as mãos e a mesma assentiu para mim continuar. – They're blondes. (elas são loiras.) – ela fez uma careta negando. Merda, ela não entendeu. – Blondes. (loiras.)  – tentei falar mais devagar ela negou, mordi o lábio pensando, sorri vendo o cabelo loiro dela. – Blonde. (loira) – mexi no cabelo dela, a mesma sorriu entendendo. – Did you see? (você viu?) – mordi o lábio nervosa enquanto ela olhava ao redor, logo fez um sinal para umas garotas que estavam por perto olhando e as mesma caminharam até nós.

– Essa mulher está procurando por duas menininhas pequenas e loiras, vocês viram? – a mulher loira falou isso com as amigas, mas eu não entendi completamente nada. Logo as amigas responderam a mesma coisa para ela. – Ela não é daqui, fala em inglês, não consigo entender muito o que ela fala. – Estava nervosa encarando elas tentando descobrir o que falavam. Olhei para baixo ainda vendo Dylan brincar com o celular de Justin, agora o colocando na boca.

– Tire da boca, querido. – falei para Dylan que tirou o celular babado da boca e o deixou cair no chão pedindo por colo.  Me abaixei pegando o ele no colo e depois o celular o limpando no vestido. – Look, you have seen or not? (Olha, vocês viram ou não?) – Perguntei já me irritando com elas conversando.

– We have not seen, but we can help you find. (Nós não vimos, mas podemos ajudar a achar.) – uma das garotas falou e eu sorri por ela falar na minha língua.

– Thanks. (obrigada.) – suspirei relaxando. – Let's split up to look for them, can be? (Vamos nos separar para procurar por elas, pode ser?) – perguntei, ela traduziu para as amigas que concordaram.

– Do you have any pictures of them? (Você tem alguma foto delas?) – Perguntou-me e eu neguei. Olhei para trás procurando por Justin e me lembrei do celular.

– Oh yes, I have! (Sim, eu tenho!) – peguei o celular mostrando a tela de bloqueio que tinha uma foto da Kim e da Amy dando um beijinho no rosto de Dylan enquanto Justin estava segurando o celular com uma mão e sorrindo no canto. Os quatro dentro do carro, Justin provavelmente dirigindo e as crianças em suas cadeirinhas.

– Great! (Ótimo!) – exclamou a menina. – Let's stick with the first two floors and the last two with you, okay?(Vamos ficar com os dois primeiros andares e vocês com os dois últimos, tá?) – assenti e ela falou com as amigas. –See you in an hour at the food court on the third floor. (Vejo você em uma hora na praça de alimentação do terceiro andar.)

– Okay. – sorri e elas deram as costas saindo a procura das meninas.

– O que tava acontecendo? – pulei de susto quando ouvi a voz de Justin atrás de mim.

– Merda Justin! Que porra! – exclamei e dei um fraco soco em seu peito.

– Outch. – ele esfregou o peito fingido doer. – Quem eram? – voltou a ficar serio olhando para onde as meninas haviam ido.

– Falaram que iam ajudar a achar as meninas. – respondi e entreguei o celular para ele. – Vamos para o terceiro andar procurar elas. – falei e eles assentiu se inclinando para beijar minha testa.

– Vamos achar elas. – falou antes de pegar minha mão e começar a caminhar.

– Vamos achar elas. – Justin falou se jogando em uma cadeira da praça de alimentação tomando um gole de água.

– Você falou isso a uma hora atrás! – me controlei para não gritar. – Como perdemos nossas filhas? – minha voz falhou por alguns segundos.

– Eu não sei. – ele praticamente jogou a garrafa de água em cima da mesa, fazendo um barulho alto quando caiu no chão.

– Pegue e se acalme. – falei para ele enquanto segurava Dylan com um braço e com o outro o ajudava a segurar a mamadeira. 

– Hallelujah I found you! (Aleluia achei você!). – a garota que conversou comigo antes chegou na mesa esbaforida. – We found the girls, my friends are with them (Achamos as meninas, minhas amigas estão com elas.) – Justin levantou em questão de segundos e eu levantei um pouco mais devagar já que Dylan quase dormia em meus braços.

– Where are they? (Cadê elas?) – Justin falou começando a seguir a menina, logo fui atrás deles andando um pouco mais devagar.

– Follow me. (Me sigam.) – foi tudo o que ela disse antes de começar a descer as escadas rolantes rapidamente desviando das pessoas.

Eu achei que ia desabar quando vi minhas filhas.

As duas estavam sentadas em um banco com as garotas ao redor delas, estavam no primeiro andar. Seus rostinhos molhados por conta das lagrimas, os olhos vermelhos. Senti minhas pernas tremerem enquanto eu corria até elas segurando Dylan contra meu ombro para ele não cair. Chegando perto delas eu praticamente me joguei no chão de joelhos as puxando para perto de mim e de Justin que se abaixava ao meu lado.

– Oh meu Deus! – os apertei mais ainda deixando as lagrimas molharem meu rosto.

– Mamain. – Kim disse tentando me empurrar para solta-lá. Soltei um riso me afastando do abraço, mas continuando de joelhos na altura delas.

– Vocês quase nos mataram de susto. – falei passando uma mão no rosto secando as lagrimas e conferindo se Dylan não havia acordado. – Eu e o pai de vocês procuramos vocês em todo o lugar, aonde estavam? – perguntei vendo Justin se levantar e passar as mãos nos joelhos limpando-os, esticou os braços para pegar Kim no colo,  a mesma pulou em seu colo e se aninhou em seu pescoço. Justin arrumou ela melhor no braço para poder pegar Amy no outro, ajudei ele a ajeitar ela que me respondeu depois de estar confortável nos braços do pai.

– a xenti tava falando com o Papai Noel, ai vuxês sumiram e a gente foi procurar vuxês, ai elas falaram que iam chamar vuceis. – ela apontou para as meninas.

– Vou falar com elas Justin, já volto. – ele concordou e ficou falando com as meninas enquanto eu ia agradecer as garotas.

– Very, very, thank you! I think that without you we would be looking up now! I really thank you very much for helping us. I did not know what to do if we did not think our daughters. And I'm very happy to know that there are still people like you who help others. And again thank you very, very much. (Muito, muito, muito obrigado! Acho que sem vocês estariamos procurando até agora! Eu realmente agradeço muito por terem nos ajudado. Eu não sei o que faria se não achássemos nossas filhas. E eu fico muito feliz por saber que ainda existam pessoas como vocês que ajudem aos outros. E de novo muito, muito obrigado.) – Agradeci as meninas que esperaram a amiga traduzir e então sorrirem e me abraçarem rapidamente.

Depois de voltar para perto de Justin e das meninas eu sorri.

Eu sorri de verdade, não foi um sorriso falso, foi um completo e verdadeiro sorriso de felicidade.

E eu sorri de felicidade, porque naquele momento, onde Justin sorria para mim enquanto Kimberly e Amy brigavam por um espaço para agarrar o seu pescoço, onde eu sentia a mão de Dylan em um lado do meu pescoço e do outro sua respiração, e contra meu ombro eu sentia seu coração bater, eu pude perceber que não importa como eu seja, onde eu esteja, o que eu faça, eu sempre terei uma família que estará me esperando de braços abertos e com sorrisos no rosto, me amando acima de qualquer outra coisa, independentemente do que eu tenha feito.

E isto nesse momento era o que eu mais precisava, saber que alguém ainda me amava, que alguém sempre estará aqui por mim.