Pensei que minha mãe enlouqueceria. Estava pronto para levantar da cama e interromper os gritos que viriam. Ela apenas suspirou profundamente e disse:
– Levantem logo. Hoje é dia de entrega. – como pude esquecer. – E você vai ajudar – disse a última parte um pouco irritada na direção de Chan.
Ela e meu pai saíram. Simplesmente saíram. Poderia ter sido muito pior.
– Qual é o seu problema? – perguntei para Chan.
– Pensei que fosse amenizar a situação.
– Melhor nos apressarmos. – levantei indo ao guarda-roupa. – Lembra que te contei que meus pais têm uma confeitaria? Toda sexta-feira é feita a entrega de alguns produtos. Por isso eles vieram me acordar, tinha esquecido disso. – no final das contas, quem cometeu o deslize fui eu.
– A confeitaria deve vender muito bem.
– Sim, fora que recentemente minha tia construiu uma confeitaria também. Nem tudo fica aqui.
– Uma família de confeiteiros… Quando você vai me presentear com doces? Já consigo imaginar eu e você nos aniversários de namoro saboreando bolinhos de morango.
Eu olhei para trás envergonhado. Chan estava deitado fitando o teto, um sorriso sonhador tomava seus lábios. Ele não tinha vergonha nenhuma de tocar no assunto sobre namoro.
– Ainda são cinco horas… – disse aborrecido após pegar no celular. – Não conseguimos dormir praticamente nada.
– Tudo culpa sua. Poderia pelo menos ter vindo meia noite ou até antes mas três horas da manhã?
O frio estava mais intenso do que no dia anterior. Como já usava uma calça de moletom, apenas vesti um casaco e coloquei meus tênis. Chan disse que não mudaria de roupa, estava confortável com elas.
Meus pais esperavam do lado de fora enquanto tomávamos café. Fui alvo de piada após terminar de comer os pãezinhos feitos pelo meu pai, deixei vestidos de farelos nos cantos da minha boca. Chan me tratou como uma criança e se certificou de limpar os farelos. Fiquei bobo com a ação mas mantive minha expressão neutra para ele não se gabar.
O porta malas do carro não era muito espaçoso então algumas caixas ficaram no banco traseiro. Eu e Chan ficamos amarrotados um no outro, ele se acomodou de modo que sua cabeça ficasse deitada em meu ombro. Nossos braços estavam entrelaçados e seus dedos eram minha fonte de distração, Chan aproveitava para deixar beijos na minha bochecha e pescoço – isso quando não o pegava no flagra me observando. Eu olhava em seus olhos e o beijava em seguida. Na primeira vez ele ficou surpreso pois quem estava tomando atitude até agora era apenas ele. Estava começando a me sentir confortável para demonstrar um pouco de afeto por ele. A minha teoria, era que Chan havia lançado um feitiço em mim para cair em seus encantos.
Verifiquei as horas pelo relógio embaixo do rádio, haviam se passado apenas quinze minutos e depois de um acréscimo de cinco, chegamos na confeitaria.
Eu e Chan ficamos no nosso Mundinho Colorido por vinte minutos. Pareceu uma eternidade. Dizem que o tempo passa mais rápido quando estamos com aqueles que gostamos, o que aconteceu agora foi totalmente o oposto. Talvez o tempo esteja ao meu favor.
"Espera. Eu dei um nome para o momento fofo que tivemos e depois confessei indiretamente que gosto do Chan? Bem, de certo modo eu gosto, se não recusaria essa ideia de ficar com ele, certo? Mas quando Hyunjin me perguntou sobre gostar de alguém, eu disse que não."
Apenas queria que existisse um curso de como aprender a lidar com os próprios sentimentos sem entrar em colapso.
As caixas começaram a ser descarregadas e uma van chegou, minha mãe pediu para Chan ajudar ela. Eu e meu pai estávamos descarregando utensílios novos para a cozinha e os outros dois levavam ingredientes que ficariam nas despensas. Passariam alguns minutos juntos e isso me deixava receoso, espero que Chan não diga nenhuma bobagem.
O dia estava começando a clarear, abri a janela da cozinha para tomar um pouco de ar, descarregar as caixas e colocar as coisas no devido lugar fizeram meu corpo aquecer além da conta. Minha mãe e Chan entraram no cômodo entre conversas e risadas, pensei que não os veria nessa atmosfera amigável tão cedo. Aposto que Chan lançou um feitiço nela também.
– Dessa vez veio um bocado de coisas a mais, porém vocês precisam ir embora. Eu e seu pai damos conta daqui para frente.
– Tudo bem. – estávamos quase saindo quando minha mãe disse que precisava falar comigo. Chan disse que esperaria lá fora.
– Sua vida adulta está próxima e não significa que não pode contar as coisas para mim ou para o seu pai. Você pode começar a esconder pequenas coisas e depois outras mais graves. Eu fiquei extremamente brava com o assunto sobre a boate e o namoro mas é porque me preocupo com você.
– Eu odiei mentir para vocês, fiquei com um peso na consciência. Prometo deixar vocês a parte de certas coisas sobre minha vida, você sabe, também preciso da minha privacidade…
– Eu sei, eu sei. – ela me puxou para um abraço caloroso. – Sobre o Changkyun, está chateado pelo que eu fiz? – perguntou desfazendo o abraço.
– Não. De certa forma ele mereceu e eu sei que depois de ficar um tempo naquele colégio ele vai amar estar rodeado de garotos. – ela riu com o meu comentário.
– Ande logo pois tem um garoto super carinhoso lhe esperando lá forá. – acabei rindo de nervoso. – Pensou que eu não notei o jeito que estavam no carro?
– Tchau mãe, nos vemos mais tarde. – saí correndo, como se suas palavras não fossem me perseguir.
Meu pai insistiu em nos levar para casa e não o impedi. Quando chegamos fui direto tomar banho e Chan foi logo em seguida. Colocou a roupa que usava quando chegou e pediu para que colocasse a outra em uma gaveta separada, pois, segundo ele, mais roupas seriam deixadas ali futuramente.
– O que você fez para minha mãe baixar a guarda com você? – perguntei enquanto descíamos as escadas.
– Tivemos uma conversa séria de primeira. Ela se preocupa muito com você. Meu objetivo era mostrar que podia ser um bom namorado para você.
"Se ela soubesse."
Sentamos no sofá à espera do motorista de Chan, o mesmo iria para a casa se arrumar e depois me deixariam no colégio. Eu concordei com a ideia, ainda estava um pouco cedo.
– E você contou a ela que tenho um carro e me proibiu de te levar a qualquer lugar com ele.
– Ela viu seu carro quando veio me trazer para a casa. Pensou que fosse um cara mais velho, tive que contar a verdade. Aguarde apenas um ano e tire a carteira de motorista, não é o fim do mundo.
– Discordo. O motorista não gosta de me levar na maioria dos lugares que quero ir.
– Devo perguntar o motivo? – sorri debochado. Não disse sequer uma palavra.
…
Me tornei o assunto do momento por causa do Bang Chan fazer questão de mandar o carro parar em frente ao colégio – seria normal se o automóvel fosse simples – e como se não bastasse a pequena atenção, ele me deu um beijo demorado. Exibição desnecessária.
Hyunjin e Kihyun haviam faltado (horas depois Hyunjin me mandou mensagem dizendo que perdeu o horário). As aulas foram tranquilas e passei o intervalo na biblioteca, sendo meu lugar favorito do colégio. Era ótimo sentir a sensação de escolher um livro que te chamou atenção, se acomodar e mergulhar num mundo fictício.
Após as aulas, fui para casa de Changkyun. Não sei se ele iria me receber mas nenhuma briga ia tirar ele do posto de melhor amigo. Eu queria que estivéssemos bem antes dele partir.
– Ainda bem que você apareceu. Escutar ele aprendendo insultos em polonês está me deixando maluco. – não deveria ser surpresa Kihyun estar aqui.
Quando entrei, Changkyun revirou os olhos e foi em direção ao seu quarto, batendo a porta antes que eu conseguisse entrar.
– Pare de agir como um idiota precisamos conversar. – disse contra a porta.
– Não precisamos!
Eu conhecia Changkyun. Era rara as vezes que deixava o orgulho de lado, infelizmente isso não vai acontecer dessa vez.
– Olha, você procurou tudo isso. Se ao menos não fosse um adolescente rebelde que se vangloria por fazer coisas erradas estaria tudo bem!
Por que ele insistia em colocar a culpa em mim? Eu tentei, fiz minha parte. Espero que um dia ele reconheça seus erros e veja que o culpado é ele mesmo.
…
Tudo foi feito à base de irritação: destrancar a porta de casa, ir para o meu quarto e jogar minha bolsa no chão. Apenas saí daquele estado quando escutei alguém gritar meu nome.
Minha mãe juntamente de Chan estavam na porta do quarto. Bang Chan me abraçou e começou a percorrer com delicadeza suas mãos em minhas costas.
– Você chegou com raiva murmurando coisas, não escutou eu te chamar. – minha mãe comentou.
– Tentei falar com Changkyun mas não ocorreu muito bem. – Chan me olhou confuso.
– Você não contou para ele? – ela perguntou e neguei. – Depois venham para a cozinha.
Chan foi compreensível e me escutou sem interrupções. Conseguiu me acalmar apenas com o carinho que fazia em minhas mãos.
– Ele não entende que a culpa não é minha – completei por fim.
– Ele entende, mas não quer admitir e isso o deixa mais irritado.
– É melhor esquecermos disso. – eu sorri e levantei da cama. – Você veio fazer o que aqui? – me arrependi de fazer a pergunta, seu semblante se tornou triste.
– Fico solitário em casa. Meus pais sequer se lembram da minha existência, passam muito tempo no hospital.
– Não posso dizer que te entendo mas tenho certeza de que, se pudessem, passariam mais tempo com você.
– Enquanto isso não acontece, vou passar mais tempo com você. Começando por esse fim de semana. – seu tom de voz saiu bastante alegre.
– O que vamos fazer?
– Pensei em nós dois, sentados no sofá assistindo a diversos filmes. Com direito a pizza e refrigerante.
– O fim de semana perfeito. – seu sorriso foi largo. As covinhas nos cantos de seu lábio se reveleram. Admito que são fofinhas. – Presumo que vá dormir aqui novamente. – indiquei para a bolsa desconhecida no canto do quarto.
– Dessa vez vim preparado e cedo. – foi inevitável não rir.
Quando fomos para cozinha, perguntei a razão de minha mãe não estar na confeitaria. Respondeu dizendo que estava com muita dor de cabeça e com a insistência do meu pai, veio para casa.
– Está fazendo Kyungdan? – perguntei animado vendo os ingredientes na mesa. Esse doce é divino.
– Coloquei Chan para me ajudar assim que chegou. Minha dor de cabeça não passou totalmente.
– Está vendo? Eu sou um ótimo genro. – Chan me deu um beijo na bochecha e foi lavar e colocar luvas nas mãos para voltar aos preparativos do doce.
– Não venha me pedir socorro quando ela decidir que vai ser o ajudante particular dela – comentei com indiferença. Bem, tentei.
– Changbin, não precisa ficar com ciúmes. – minha mãe comentou se divertindo com a situação.
– Ciúmes? Por que eu teria ciúmes? Vou tomar um banho.
Ainda era possível ouvir as risadas enquanto subia as escadas. Estava feliz por verem que estão se dando bem, não fazia sentido acharem que eu estava com ciúmes. Mas conhecia o jeito da minha mãe e se Bang errar em algo… Vai estar encrencado! Vou estar lá para zombar dele.
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