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História Vale do Cristal - O arco de pedras


Escrita por: Gregoria_Light

Capítulo 5 - O arco de pedras


~*~

Mais do que um hobby, aprender sobre cristais se tornou uma obsessão. Como seu digníssimo marido não mostrava muito entusiasmo com o assunto, Rin precisou convocar uma aliada. Sobrou para Kagome, a dama de companhia. E o que a jovem criada poderia fazer, fora acatar as ordens de sua senhora? 

- Encontrei! - gritou Kagome, que a quase três horas procurava o antigo microscópio da falecida duquesa, mãe de Sesshoumaru. Fora Jeremy quem falará sobre o equipamento, ao notar o súbito interesse da nova duquesa pelas pedras. 

E assim Rin passou toda a tarde, envolta num mundo totalmente novo e cheio de coisas a se descobrir. Além dos livros, encontrou uma espécie de caderno-diário que pertencera a Satori, a antiga duquesa. O caderno contava com anotações detalhadas, desenhos precisos e protocolos totalmente esmiuçados sobre como descobrir com precisão sobre a origem de um cristal. Falava ainda sobre suas propriedades, como melhoramento da força, velocidade, aumento do poder espiritual - para sacerdotisas - e aumento da energia vital, para bruxas. Muito era fantasia, Rin queria acreditar. Mas, ao lembrar-se da criatura que a amaldiçoou, ela tendia muito a dar crédito ao que estava escrito ali. 

- Milady, já vai dar 21h - Kagome alertou e Rin deu um grito eufórico, saindo correndo feito doida até o quarto. O duque a mataria, com certeza. Pensaria que ela estava se escondendo dele, descumprindo seu papel naquele matrimônio.

Desceu as escadas correndo com a saia do vestido nas mãos, tão acelerada que trombou com força na porta do quarto. Entrou, e para sua surpresa ele já estava lá.

- Está atrasada para nosso compromisso - ele falou, a voz grave ressoando por todo o quarto. 

- Me perdoe, milorde, eu perdi a noção do tempo.

- Notei mesmo - o quarto já estava um breu completo e Rin teve dificuldade para se guiar até a cama. 

- Não tive tempo de me aprontar - confessou, envergonhada. - Estou cheirando poeira e livros velhos.

- Notei isso desde que estava no corredor - falou ele. 

- Não precisa ser exagerado - ela murmurou de volta, apesar da insegurança. Não acreditava que o marido era do tipo punitivo, mas também não queria arriscar confiar nele. Poderia estar errada. 

Com dificuldades ela subiu na cama, incerta do que fazer em seguida. Estava usando um vestido elaborado, com vários laços nas costas e um espartilho terrivelmente tirano que a apertava por toda parte. 

- Vou precisar de ajuda para… me despir.

- Pensa que sou sua criada pessoal? 

- Jamais pensaria isso, milorde. Mas, lamento dizer que não consigo soltar os laços do vestido sozinha. É muito simples, basta puxar. - O lorde se levantou e segundos depois estava fora do quarto. Rin praguejou, enquanto tentava ir até a porta. Não foi fácil, estava sozinha na escuridão, tendo que seguir apenas a pouca luminosidade que vinha debaixo da porta. Depois de bater o tornozelo várias vezes nos móveis e quase chorar de dor ao bater o mindinho na penteadeira, ela finalmente alcançou a porta.

- Posso chamar Kagome para me preparar para dormir? Ou pretende voltar para meu quarto ainda esta noite? - gritou ela, enquanto batia diversas vezes na porta do quarto do marido.

- Chame logo a criada e me deixe em paz. 

- Desse jeito eu nunca vou engravidar! 

- Deveria estar aliviada de ser poupada de se deitar comigo por mais uma noite.

- Pois saiba que não estou! - ela saiu pisando duro pelos corredores, fazendo questão de emitir o máximo de ruído possível em sua caminhada nada delicada.

***

Havia alguma coisa pressionando seu peito. 

Rin não sabia se estava sonhando, alucinando ou mesmo vivendo um pesadelo, mas a coisa pressionava com força seu peito. Era maligna como o próprio diabo e parecia querer tomar seu coração. Tentou gritar por socorro, mas a voz não saia, nem mesmo um fiozinho. Tentou abrir os olhos, mas não conseguiu ver nada fora escuridão.

E a canção mais antiga que a própria Terra começou a ser entoada. Uma canção sagrada de um mundo distante, paralelo ao dela. Sentiu o peso se desfazer e uma brisa suave balançar seus cabelos. 

- Você precisa se apressar - era a voz da criatura que a amaldiçoou. - Precisa se apressar. Ande logo, rainha

***

- Rin? - ela virou-se para o lado, agarrando com força seja lá quem for que estivesse ao seu lado. - O que deu em você?

- Tentaram em matar.

- Ah, meu deus. Você é realmente perturbada. Maravilha, eu devia mesmo ter imaginado que as coisas dariam errado para mim - tentou ignorar as palavras de seu marido, mas a mágoa a atingiu profundamente. - Foi só um pesadelo.

- Não foi.

- Foi.

- Não foi.

- Chega dessa discussão idiota - ele a soltou, e só então Rin notou que estavam abraçados, os braços dele ao redor dela de maneira protetora. Um avanço.

- Ninguém nunca acredita em mim - as palavras saíram sem permissão. - Eu fui amaldiçoada, quando era adolescente. “não devia estar aqui, não devia brincar de feiticeira se não possui magia e não sabe os feitiços certos para te proteger. Agora já é tarde, declaro que será você a responsável por abrir o portal que levará de volta o verdadeiro rei. Mas escute bem, não se atreva a atravessar os mundos, pois caso o faça você será responsável pela queda de uma nação, a loucura de todo um povo e a morte de um bebê, cortado e ferido ainda no ventre da mãe.”  

- Quando foi isso? - ele perguntou, em um sussurro.

- A muitos anos atrás e desde então a minha vida foi destruída.

- Foi a mulher bonita da pena?

- Sim - o duque lhe estendeu um lenço, que ela aceitou sem cerimônias. Enxugou a tez molhada com ele. - Uma mulher mais bela que a noite, mas fria e fatal como um vendaval transformado em furacão. Tem olhos vermelhos e orelhas de elfo.

O duque suspirou alto o bastante para que Rin ouvisse. Ou ele estava acreditando nela ou lamentando-se por ter sido enganado. Queria uma mulher saudável e sã para ser a mãe de seus filhos e ganhará uma louca com tendência a alucinações.

Mas não eram alucinações, Rin sabia muito bem que tudo era real. Lembrou-se dos cristais, recordando as palavras escritas pela antiga duquesa que morrera antes de poder pegar o filho no colo. Talvez fosse a influência e o poder dos cristais que a houvessem feito o pobre bebê ser transformado em um monstro. Pelas anotações, os cristais tinham muitos poderes ocultos que as pessoas nem imaginavam. E um deles poderia livrar Rin da maldição. 

- Preciso ir - ela disse, levantando-se. Sem timidez, jogou para o lado a camisola fina que escondia sua nudez, pegando um vestido qualquer no guarda-roupa. Trocou-se na frente do duque sem se importar com o pudor, porque havia algo mais importante do que isso tomando-lhe a atenção.

- Onde vai?

- Preciso falar com Kagome - ela disse. - Temos alguns assuntos a resolver.

- Rin. - Ela virou-se para ele, sem saber o que fazer. Aproximou-se, tomou sua mão e colocou em seu peito.

- Eu juro, milorde, que não sou louca. Sei que pareço desequilibrada, mas garanto que estou em perfeitas faculdades mentais. - O lorde riu, e isso foi o suficiente para aquecer o coração dela. 

- Não pretendo te internar, se essa é sua preocupação - ele tocou seu rosto, acariciando suavemente suas bochechas. - Você é bonita o suficiente para que eu queria te manter ao meu lado.

- Oh! - ela corou. Ela não sabia se ficava lisonjeada ou ofendida com o comentário do marido, mas decidiu que a felicidade compensa mais que a tristeza. 

- Agora vá - ordenou ele, enquanto se levantava da cama. - Já me ocupou por tempo demais, milady.

- Obrigada, milorde, por ter vindo ao meu auxílio. 

***

Naquela manhã, Rin decidiu que iria dar um tempo. Ainda temerosa, devido a tudo que aconteceu, chamou Kagome para lhe fazer companhia em uma caminhada matutina. Enquanto colhiam flores, as duas conversavam. Kagome é uma jovem de temperamento leve e moderado, é instruída e esperta, o que cativou o coração de Rin. Nunca tivera uma amiga na vida, ou mesmo uma colega a quem pudesse compartilhar seus segredos. Havia, sim, Abigail, mas a garota era tão inocente que chegava a irritar. Kagome é vivida, conhece o mundo como Rin.

A propriedade ao redor da mansão ducal é enorme, exuberante e digna de um rei. Rin colheu algumas flores, fez coroas e chegou até mesmo a esquecer o problema que enfrentava. Ainda assim, aquela estranha sensação de estar sendo observada continuava tirando seu sossego.

- Como tem sido sua… convivência com o duque?-  Kagome perguntou, de maneira cautelosa enquanto caminhavam pelo jardim. Rin já estava em sua terceira coroa de flores, enquanto Kagome comia algumas frutinhas silvestres que pegou de um arbusto.  

- Tem sido… - Com agilidade, Rin pegou uma pedrinha no chão e jogou contra o lago, vendo-a quicar várias vezes. - Intensa não é a palavra. Tem sido… cordial.

- Cordial?

- Cordial. - Concordou ela. - O duque não é o homem que imaginei, depois do massacre que aconteceu no festival. É bem amável, na verdade.

- Amável?

- Sim.

- Amável?

- Eu gosto dele - e havia total honestidade nisso. Poucos dias após o casamento e Rin nutria uma compaixão imensa pelo marido. E certo carinho, cada vez que o conhecia melhor. Não havia vislumbrado ainda seus defeitos, mas algumas qualidades lhe foram apresentadas. 

- Fico feliz por você - Kagome sorriu ao dizer as palavras, a boca e os dentes azul devido ao corante. Rin gargalhou alto do aspecto da dama de companhia, enquanto Kagome a xingava pela zombaria. 

A manhã estava quente e agradável, o céu aberto de um azul vibrante. O vento soprou forte, levando embora o chapéu preferido de Rin. Ela correu atrás dele, ainda segurando as coroas de flores. Quanto mais corria, mais o vento levava para longe seu chapéu. Kagome a gritou, correndo atrás dela.

Magicamente, o chapéu se esgueirou entre arbustos altos, que eram o início de uma mata densa. Rin se esgueirou junto, ignorando os leves arranhões no braço e a barra do vestido que ficaria suja. Kagome foi correndo atrás dela, gritando que deixasse o acessório para lá. Mas Rin insistiu, perseguindo a porcaria do chapéu com ainda mais afinco. E de repente ele parou, diante de um arco de pedras quebrado, tão antigo que estava quase completamente coberto de musgo verde. Diante do arco, uma pedra enorme e lapidada, com os mesmos símbolos que encontrou dentro da casa.

- Veja, Kah - falou, apontando para os símbolos.

- Meu deus - Kagome fez o sinal da cruz, diante daquele que julgou ser imagens pagãs. 

- Dentro da mansão está lotado desses símbolos - os olhos da dama de companhia se arregalaram, quase amedrontados e Rin não resistiu, caiu na gargalhada. - Não seja medrosa, Kah.

- Não estou gostando nada disso.

- Há três pequenos altares - notou Rin. - O do meio é no formato de uma lágrima.

- Estranho, muito estranho.

- Ou mágico! - Rin girou, admirada, e depois foi até o arco de pedras. Pegou um graveto no chão, o utilizando em seguida para raspar parte do musgo. Não havia nenhum símbolo, apenas pedra lisa. - O que será que faziam aqui?

- Não sei, Rin, mas este lugar me dá arrepios.

- Pare de ser medrosa.

- Não estou sendo medrosa! Estou sendo sensata! - Kagome se aproximou de sua senhora, a puxando pelo punho. - É tudo muito estranho, não acha? Os símbolos pagãos, os inúmeros cristais que fazem referência aos poderes de sacerdotisas, feiticeiras e bruxas. Será que a antiga duquesa era adoradora do diabo?

- Não vi nada satânico em suas anotações.

- Talvez porque ela fosse esperta demais para deixar anotações desse tipo no sótão - falou Kagome, esfregando os próprios braços como se tivesse frio. - Mas e em seu quarto particular?

- Vocês ainda mantêm o quarto da mãe de Sesshoumaru?

- Sim. Está trancado desde sua morte, somente Joice vai lá de vez em quando para tirar a poeira. Está íntegro, intocado. - Os olhos de Rin brilharam. Se houvesse mesmo menções à seitas e satanismo, Rin daria um jeito de se livrar de todos os cristais e anotações. Mas se tivesse algo naquele quarto que desse esperança a ela de romper com a maldição de sua vida, ela agarraria com unhas e dentes essa oportunidade. Gostasse Kagome, ou não.

*** 

Foi uma surpresa para Rin, quando Joice não questionou o motivo dela querer entrar no quarto da antiga duquesa. Ela havia preparado uma desculpa, acreditando que seria difícil conseguir a chave do quarto. Kagome riu, lembrando-a de que agora ela era a dona de tudo aquilo. Difícil se acostumar a ser duquesa, quando antes era apenas uma pobre e solteirona filha de camponês. 

O luxo do quarto é impressionante. Rin, só de ver, reconheceu alguns cristais raros e de alto valor. A duquesa não gostava de simplicidade, nota-se. Vasculharam tudo até a hora do almoço, não encontrando nada demais. Apenas mais livros ensinando sobre pedras e cristais, e algumas joias extremamente extravagantes. 

A tarde passou rápida, Rin enfiada no sótão estudando e analisando o máximo que podia de cada pedra. Decidiu separá-las pelo tipo, o que foi cansativo e satisfatório. Antes do pôr-do-sol, porém, pediu a Kagome que a ajudasse a se preparar. Ainda sentia-se constrangida de ser banhada pela dama-de-companhia, mas reconhecia que ao se tratar de ser nobre, Kagome, mesmo sendo uma criada, tinha muito mais experiência.

- Passe esse óleo - ela disse, piscando para Rin. - Ele é afrodisíaco.

- Ah…

Quem sabe assim Rin e o marido finalmente consumassem o casamento. Esperou, arrumada, até 21h e vendo que o duque não pretendia aparecer, revoltou-se profundamente. Calçou uma sapatilha de cetim macia, jogou o robe por cima da camisola e foi até o quarto do homem, batendo várias vezes na porta. Ouviu passos apressados, depois o barulho da capa sendo colocada. Quase bufou. 

- O que você deseja? - perguntou ele, ao abrir a porta, todo encapuzado.

- Por que não foi para meu quarto?

- Decidi te dar um descanso.

- Me dar um descanso? Do quê?

- Acredito que seja o nervosismo de consumar o casamento que esteja te dando pesadelos. Não te culpo, é uma reação compreensível. - Segurou-se para não revirar os olhos, ofendendo o marido. Tentou encará-lo, mas era impossível, só via a sombra do capuz cobrindo seu rosto, deixando a mostra pouco mais que o queixo e o lábio inferior. A vontade que sentia era de puxar aquilo e ver logo o que de tão horrível havia naquele rosto.

- Milorde, está com medo de mim? - Ele riu desdenhoso. - Tem aproveitado cada mínima oportunidade para postergar suas obrigações de marido.

- Tenho tido consideração com você - falou ele, a voz gélida. - Que tem sido uma ingrata, acusando-me injustamente.

- Não há uma palavra injusta sequer em minhas acusações - falou, dando um passo para frente. - Se não me deseja como mulher, anule o casamento.

- Acha que está em posição de fazer exigências?!

- Creio que sem a consumação deste casamento somos inúteis um para o outro! Que motivo teria para me manter aqui senão me engravidar?

- Farei isso na hora certa, se me dá licença, tenho mais o que fazer do que discutir minhas decisões com você - ele tentou fechar a porta, mas Rin foi mais rápida, adentrando seu quarto. Estava iluminado por várias velas, era limpo e organizado. Com curiosidade, ela observou que o duque possuía diversos livros dispostos em uma enorme estante que cobria completamente uma das paredes. Sua cama de dossel era bem maior que o convencional, alta e bastante imponente. 

- Vou te mandar sair somente uma vez - ela ignorou a ameaça, andando pelo quarto. 

- Que bela sacada! - elogiou ela, notando que, diferente da sacada dela, a do duque era bem maior e ornada com belas flores e uma poltrona que parecia bastante confortável.

- Vou te jogar dela se não sair em trinta segundos.

- Que tanto de livros - ela começou a ler os títulos, mas rapidamente foi empurrada para longe dali.

- Isso é invasão de privacidade - disse ele, em um rosnado. - Saia imediatamente, ou não responderei por mim.

- Uau, cabe nós dois - Rin aproximou-se da banheira dele. - Por que seu quarto não é subdividido, como o meu? Ele é bem pequeno, se formos comparar justamente.

- Quer trocar?

- Não foi isso que eu disse.

- Se já terminou de bisbilhotar, por favor se retire. - Rin foi até a cama do duque, e audaciosamente subiu nela, se jogando de costas em seguida. Quicou algumas vezes, depois ficou parada, deitada de costas e os braços abertos. O duque surgiu a sua frente, os braços cruzados e a respiração ofegante de raiva. 

- Bem confortável sua cama. - Rin aconchegou-se de um lado, como se pretendesse dormir ali.

- O que você quer com tudo isso?

- Nada. Estou apenas fazendo valer nosso acordo, lembra-se? Até as 20h posso fazer o que quiser, mas depois disso sou inteiramente sua. 

- Inacreditável.

- Não é, milorde? - Incentivada por um único e solitário elogio, Rin decidiu provocá-lo. Seu marido havia dito mais cedo que a achava bonita, então ele não devia ser imune a ela. Ao menos Rin torcia para isso. - Eu poderia pensar que o problema sou eu.

- Você com certeza é um problema.

- Mas você me disse que me acha bonita. Então, provavelmente deve me desejar.

- Falei da boca para fora, porque fiquei com pena de você.

- Mentiroso! - rebateu ela, enquanto descia a alça da camisola.

- Não vai funcionar.

- O que não vai funcionar?

- Esse joguinho idiota que está fazendo - ele respondeu, a voz dura como mármore. - Pode ficar nua diante de mim, Rin, que não farei nada com você. Não sou um… 

Monstro, concluiu ela. Realmente, apesar de tudo que diziam por aí, as atitudes do marido não refletiam a enorme crueldade que fez dele um mito vivo na aldeia.

- Você tem medo de não conseguir?

- Não é isso que me impede de tocá-la.

- Então diga o que é! - Era uma súplica, não uma ordem.

- Você é a única pessoa no mundo inteiro que consegue olhar diretamente para mim - respondeu ele, para a surpresa dela. - É a única que não inventa motivos para se afastar quando chego. A única que age com naturalidade, que me trata como… como uma pessoa e não uma criatura prestes a te assassinar. Você não tem medo de mim. Não ainda.

- Sesshoumaru....

- Então, talvez você esteja certa quanto a eu estar te evitando - admitiu, virando-se de costas para ela e indo até a sacada. - Por favor, vá embora.

- Não me afaste assim - ela subiu as alças da camisola novamente, indo até a sacada dele. A noite estava fresca e agradável. - Quando eu era criança gostava de fugir de casa no meio da noite. Ficava até o dia raiar sentada em uma rocha próxima a um precipício. Mesmo quando ventava eu estava lá, lutando contra a intempérie.

- Você é terrível. - Ela riu baixinho, enquanto observava a paisagem impecável do jardim.

- Voltava exausta todo dia de madrugada, após passar toda a noite olhando as estrelas. Eu queria descobrir quantas delas havia no céu, mas acabava mesmo era me distraindo com a lua - ela parou, receosa de o estar magoando com suas boas lembranças. Diferente dela, Sesshoumaru passou toda a vida trancafiado em um quarto em condições inumanas. 

- Ninguém nunca descobriu o que você fazia?

- Meus pais tinham uma vida boa naquela época, com criados e poucas preocupações. Eu voltava antes da governanta da casa levantar. - Ela se aproximou dele. O mais próximo possível sem incomodá-lo, acreditou. Uma coruja cantou ao longe e ela sentiu os pelos eriçarem. - Está frio, vamos voltar para a cama?

Ele a encarou, por sob o capuz, por longos segundos. Mandíbula tensa, corpo rígido. Suspirou, virando-se novamente para o céu noturno, carregado de estrelas.

- Se você faz tanta questão. 

O duque caminhou lentamente até onde estava cada uma das velas, apagando-as sem pressa. Voltou para a frente da sacada, fechando a porta de vidro e puxando as cortinas. Rin já estava à sua espera na cama, ansiosa com o que iria acontecer. 

O quarto estava silencioso o bastante para que a respiração pesada dos dois fosse ouvida. Rin sentiu o peito se apertar de medo e expectativa, quando os sons familiares de seu marido se despindo ocuparam o ambiente. Devagar, ele se aproximou.

- Precisamos estipular algumas regras - disse ele, sério. - Não gosto de te obrigar a fazer algo que não queira. 

- Milorde, eu te procurei para isso, então…

- Não me interrompa - falou, a voz grave e irritada. - Não me passou despercebido que você tem um enorme coração, Rin. Incapaz de magoar uma pessoa, independente do que ela tenha lhe feito ou vá fazer. Conforma-se com tanta facilidade às atribulações que surgem ao seu caminho, recebendo com doçura e submissão qualquer castigo e desafeto que a vida lhe traga.

Eram palavras pesadas demais para serem ditas antes do ato matrimonial, mas Rin as tomou, como se fosse o vinho mais doce da face da Terra. O tão temível duque, o homem misterioso e imponente que ocupou sua mente mais de uma vez, devido a todos os boatos. O que os aldeões diriam se vissem que o monstro imponente e impiedoso que eles tanto temiam é na verdade um homem inseguro e amargurado? Conhecido por seus poderes demoníacos, suas unhas de ferro, sua força capaz de derrubar mil castelos. Não é isso que Rin vê diante de si.

- Diga às regras, milorde.

- Você vai ser honesta e me dizer quando parar. Vou tentar fazer as coisas do seu jeito. - Ele parou, suspirando profundamente. - De um jeito menos impessoal. Mas se não der certo, arranjamos outra forma. Uma forma rápida e que proporcione o mínimo de tempo possível entre nós. - Ela aquiesceu, mas depois se lembrou que estavam no escuro.

- Sim, milorde.

- Não é necessário eu dizer que nunca cheguei perto de uma mulher. - Perto de nenhuma pessoa, Rin se lembrou. 

- Deixe que eu guie - ele pareceu considerar, mas muitos segundos se passaram e nenhum dos dois quebrava o silêncio. 

Rin se aproximou dele, engatinhando na cama. Parou, sentada, de frente a ele, um pouco incerta do que deveria fazer. Esperou por uma resposta que não veio, então tomou a frente da situação. 

Com uma calma calculada, ela levou as mãos até os ombros dele, apoiando-se para o beijar. Não foi retribuída de início, mas depois de beijá-lo por diversas vezes, seu marido finalmente reagiu, imitando-a. Foi desajeitado no começo, mas os dois encontraram um ritmo que permitiu um encaixe mais adequado. Rin pegou as mãos dele, colocando-as em seu próprio corpo, o incentivando a conhecê-la. 

Toques sutis, cuidadosos. Não. Temerosos. Como se seu marido estivesse aguardando o momento em que ela fosse explodir e sair correndo do quarto. Como se ele pensasse que a cada carícia ela se desesperasse mais de estar ali. Ela o tocou até onde ele permitiu. O abraçou, para, então, beijar-lhe o pescoço, o queixo, toda a linha da mandíbula. Então ele se afastou, mas não fugiu dela.

Voltaram a se beijar, agora ele já não tinha tanto medo de percorrer o corpo dela. Com cuidado, ela uniu ainda mais seus corpos, o montando. A sensação foi melhor do que ela imaginou que seria. Um misto de prazer e preocupação, uma falta de liberdade por não saber como agir em um momento de tanta intimidade. Teve medo de fazer algum barulho que o confundisse, fazendo-o acreditar que a estava machucando.

Mas isso não aconteceu. Independente dos ruídos de Rin, o duque continuou com o que estava fazendo, trocando de posição um pouco antes do final, ficando por cima dela. O mundo pareceu parar naquele momento e por um ínfimo instante, Rin teve esperança de que talvez um uma família feliz estivesse prestes a se formar. Um futuro bom.

***

Um rugido como  o de uma fera escapou de seus lábios ao terminar. Saiu de cima dela, pegou sua capa no chão e foi embora, sem dizer nenhuma palavra. Rin virou-se para o lado, fechou os e tentou dormir, mas as lembranças do que havia acontecido ainda estavam em sua mente.  

Acordou com os primeiros raios de sol adentrando o quarto, pela cortina semi-aberta. Estava ainda no quarto de Sesshoumaru, mas ele não estava mais lá. Ao que parece ele não voltou depois que consumaram o casamento, e Rin dormiu profundamente a ponto de só despertar naquela manhã. 

Foi atrás de seu pijama e seu robe, indo pé por pé para seu quarto. Era ridículo, mas sentia-se uma adolescente rebelde voltando para casa depois de uma noite proibida. Poucas horas depois, Kagome bateu em sua porta, entrando devagarinho, como se tivesse medo de ser repreendida. Permitiu que ela lhe preparasse um banho e se arrumou para descer. Tomou seu desjejum com a solidão como companhia. Um passo para frente, dois para trás. 

 



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