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História Victuri!!! On Music - Confessione e la consegna


Escrita por: yonasuki

Notas do Autor


Segue finalmente o capítulo. Está enorme. Temos uma conversa esclarecedora, um Victor melancólico e um Yuri tomado pelas emoções. Filosofei pra cacete, principalmente nas partes musicais. então, gomen se estiver cansativo.
Aproveito para pedir desculpas pela demora em postar, Trabalhar 12 horas por dia me deixa um bagaço para escrever. Tive uns problemas pessoais tb, mas que já estão resolvidos. As postagens serão nos fins de semana a partir de agora por conta de toda essa correria de trabalho. Desculpem qualquer erro.

Capítulo 30 - Confessione e la consegna


Confessione e la consegna

(Yuri)

Ele tem o olhar carregado de vergonha. Me odeia por eu ser o que sou, odeia a si mesmo por estar atraído por mim e principalmente, odeia ter deixado que tamanha fraqueza fosse exposta para o filho. Dentre tudo o que poderia ter acontecido, ele jamais esperou por algo assim. "Prove do próprio veneno agora, idiota. " . Percebi seu desejo no momento em que nos encontramos. Seu olhar de desejo, sua vontade em afastar o Victor de mim, sua cobiça em me dominar por capricho... Ele ultrapassou todos os limites com esse dossiê. Precisei fazer algo, pois me matou ver o Victor com uma expressão tão derrotada, era como se ele tivesse retornado aos dias sombrios. Foi impulsivo da minha parte, nojento e doeu fazer isso na frente dele, mas não tive outra alternativa. Não havia outra forma de derrubar Dimitri Nikiforov a não ser expô-lo a vergonha. Não podia deixar que ele tirasse tudo de nós por motivos tão mesquinhos. Não deixarei que o Victor seja torturado nunca mais, nem que isso exponha toda a sujeira do meu passado. "Seu filho tem alguém que interceda por ele. Agora tem uma família de verdade. Você nunca entenderia seu cuzão."

-Antes de rotular e pisar em cima das pessoas se coloque no lugar delas. Não ache que você é melhor do que eu só por ter fama e status e eu ser gay. Não me subestime, seu bosta! Dói ser exposto né? Dói quando aquilo que você mais quer esconder acaba sendo visto huh?! Agora só te esta analisar o tipo de pessoa de merda que é.  - minhas palavras expõem toda a minha revolta. Jogando em sua cara presunçosa que ele não é o dono do mundo, que não tem o direito de ferrar com a vida de ninguém por um status ilusório. São palavras de luta, por mim, por Victor, por tudo o que prezamos - Desejando aquilo que você repudia... Quem é o nojento agora seu cretino?

Sua expressão se contrai em uma careta de ódio que juntamente com meu sorriso irônico, faz com que Dimitri perca completamente o controle. Antes que eu me prepare para uma possível briga, vejo os cabelos cinzas de Victor em minha frente recebendo todo o impacto do soco, fazendo com que nós dois caiamos ao chão.  Fico completamente atônito pois foi tudo muito rápido. Victor levanta-se e toma uma posição defensiva em minha frente, me protegendo de qualquer outro possível ataque do pai. Está com o nariz sangrando e com uma expressão tão decidida que acaba por ser um tapa na cara dele.

Dimitri está estático, imóvel e nos olha incrédulo. Seu rosto se contorce em uma careta.

-O que você fez Victor? Vai mesmo ficar do lado dele? Vai jogar tudo na lama? A nossa família, sua carreira, tudo o que conquistou? - pergunta sussurrado com os olhos refletidos em uma derrota certa. Refletidos com vergonha e outros sentimentos que não consigo identificar. Levanto a tempo de segurá-lo antes que cometa alguma loucura.

-Eu não consigo acreditar que você ainda fale depois de tudo o que acaba de acontecer!!! O que você quer? Me enlouquecer? Me fazer dizer com todas as letras que não quero ver nunca mais a sua cara???? Some daqui! Deixe-nos em paz! Viva sua vida mesquinha e de aparências por você mesmo! Mas principalmente, nunca mais se atreva a lançar o olhar que deu para o Yuri, nunca mais encoste essas mãos nojentas nele. Asqueroso!  - Victor grita e lança-se para cima do próprio pai, fazendo com que eu use toda minha força para segurá-lo. Seu ciúmes por mim ruge e percebo que está saindo totalmente do controle. Não quero que ele se machuque ainda mais, toda essa situação já fez estragos o suficiente nele.

-Não, Victor... Não faça isso.  - digo tentando trazê-lo a razão.

-Ele correspondeu Yuri! Ele te deseja! Usou de todo aquele teatro mas no fundo queria você para ele! Esse hipócrita nojento não merece nenhuma compaixão! Eu não vou deixar ele te tirar de mim! Nunca mais você me manipula! Vá para o inferno! -explode e cospe no rosto do próprio pai.

Luto para manter Victor longe dele. Ele está como uma fera descontrolada. Olho para Dimitri e vejo o quanto está perdido com as palavras do próprio filho, mais do que eu falar ou fazer algo, ser atacado pelo filho, a quem sempre teve controle é algo que bate fundo em seu peito. Não se trata de derrota ou vergonha, trata-se de dor. Não sei o que pensar...

-V-Victor, eu não... - começa a dizer quando é interrompido.

-Some daqui... Não se preocupe mais com a 'vergonha' que posso trazer aos Nikiforov pois não sou mais seu filho. Eu te odeio. - diz Victor calmo novamente e com um tom tão frio que me arrepia. Não há duvidas, essa é sua sentença final. Dimitri tem uma expressão repleta de dor, como se observasse algo extremamente valioso sendo roubado dele. Ele não tem mais argumentos, não tem mais energia para ficar na nossa frente. Ele abaixa a cabeça e vira-se em direção a porta. Escutar 'eu te odeio' tirou qualquer vontade que ainda tivesse.O dossiê esquecido em cima da mesa não importa, colocar o Victor na cabeça da família não importa. Nada mais importa. Antes de sair porta afora ele vira a cabeça, olha para o filho por um instante e me encara, me analisa, como se conferisse minha capacidade em saber lidar com situações futuras ou com a bagunça que é a vida do Victor. Recebo somente resignação.

-Então que assim seja... - diz simplesmente antes de desaparecer.

Victor ao se dar conta de tudo o que acabou de acontecer, cai de joelhos ao chão com os olhos cheios de lágrimas. Seus ombros relaxam e chora copiosamente, intensamente, botando para fora toda a sua libertação. Dou-lhe um abraço sem dizer nada, mesmo porque não tenho nada a dizer e não sei o que poderia falar em um momento como esse. Meu histórico familiar não me preparou para situações assim. Só quero que ele sinta que tem a mim, que estarei aqui até nos momentos desconhecidos. Ele abriu mão de uma vida inteira, mesmo cheia de sofrimento por mim. Me pergunto se no meio de todas as aparências e status não tinha alguém no meio de sua família que ele prezasse. Não consigo deixar de me sentir um pouco culpado. Ele me conhecendo tão bem a essa altura, capta meu estado de espírito.

-Não se culpe, Yuri. Essa foi a minha escolha. Não trocaria por nada. - diz em meio as lágrimas - Choro porque pela primeira vez sinto-me livre. Sinto que posso iniciar minha vida da forma que quero de uma vez por todas. Eu quero você. Quero estar com você. Quero tudo de você, Ai!... - contrai no momento em que levanta a mão para me acariciar, sentindo pela primeira vez os efeitos de seus ferimentos.  - Acho que realmente preciso de um médico.

-S-sim! V-vamos para um hospital agora. - digo ajudando-o a levantar. Tento controlar minha emoção com o que acabei de ouvir, agora tudo o que ele precisa é de cuidados. "Pode deixar, meu amor. Darei o meu melhor para estar lado a lado com você. Sua confiança em nós não será desperdiçada."

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Victor foi tratado e medicado no hospital, onde foi diagnosticado somente uma distensão do nervo da mão, que foi imobilizado com tala e receitado tratamento com antibióticos, o nariz também não teve nenhum trauma. Durante todo o caminho de volta observei o quanto ele está calado, no momento ele me parece... Melancólico. Observo-o colocar os pijamas e reparo no quanto está frágil. Não falo nada, só me aconchego ao seu lado para tentarmos dormir o máximo que pudermos depois de tudo o que aconteceu.

Nos dias que seguem vejo o quanto tudo o que aconteceu o deixa pensativo. Me pergunto em como deve estar a sua cabeça, mas não falo nada, não sei o que posso dizer para consolá-lo mesmo porque não sei se seria de grande ajuda, só fico ao seu lado na espera do momento em que decidir conversar sobre o assunto . Nos momentos em que ele nota minha preocupação, lança sorrisos ou busca por sexo. E no conservatório seu ritmo volta ao normal, apesar da mão em recuperação, assim como minha rotinha de aula e estudo de piano.

Após deixar Victor em sua sala de aulas, decido ir para a sala em que sempre pego para estudar no conservatório. Tocar piano é algo que tem o dom de fazer com que minha mente fique clara, sempre me ajuda a analisar melhor as situações. Conforme entro dentro da sala, noto algo que faz meu estômago gelar... Meu celular desaparecido há um mês está milagrosamente em cima do banco do piano. "Achei que já estaria perdido a essa altura." O que mais me intriga é o fato de ter sido deixado nessa sala, afinal, quando sumiu foi no dia em que Sergei me atacou na sala do Victor. Como se quem tivesse achado soubesse exatamente que eu uso esse espaço. A paranóia me domina. É tudo muito estranho. "Argh, Yuri. É estranho sim, mas esse não é o momento para ficar matutando isso, sua prioridade agora é o Victor que precisa de você." Guardo o celular na bolsa e coloco as neuroses em segundo plano. Sento em frente ao piano e respiro fundo. "Preciso tocar..."

Sou transportado para outro lugar ao som de Moonlight Serenade de Beethoven(link nas notas finais) com sua melodia inicial melancólica. Por meio dessa música tento entender toda a melancolia que sinto dentro de Victor. Quero saber como agir, o que falar e a melhor direção a tomar com meus atos. Sinto mágoa, uma dose de tristeza, saudades, forças para continuar, determinação, luta... Meus olhos fechados em meio ao turbilhão que me domina enchem-se de lágrimas. "Não, não fique assim, Victor. Estou ao seu lado nessa caminhada..." No meio da música sinto que estou sendo observado. Abro os olhos e levo o maior susto da minha vida... Dimitri Nikiforov está na porta me olhando. Antes que eu interrompa a música ele diz...

-Pode terminar, gostaria de vê-lo tocar, Yuri Katsuki. - diz indo sentar no canto da sala. Estou completamente chocado, achei que depois do que aconteceu não veria nunca mais a sua cara. Pior de tudo, estou boquiaberto por ter usado meu nome e não gay ou nojento. Continuo tocando tentando entender o que o fez aparecer de novo. "Será uma nova chantagem? Não... Seus olhos estão diferentes de antes."  Sim... seus olhos não transmitem a mesma hostilidade de antes, estão apenas... quietos e tristes. Tento analisar suas feições para ver se encontro a resposta de sua visita e acabo por deixá-lo sem graça e errar uma nota da música, fazendo com que ele faça uma careta. "Tck! Merda... Preciso me concentrar. Tenho que mostrar a ele." Fecho os olhos novamente e busco os sentimentos de antes. Esqueci que Dimitri também é pianista e não um leigo qualquer. Se ele souber captar uma mensagem musical, vai entender até onde estou disposto a ir pelo seu filho. Os sentimentos transbordam... Cada nota tocada tem um significado diferente. Mostro que apesar dos meus defeitos e traumas, sou capaz de tudo por Victor. Sentimentos de liberdade, paixão, amor incondicional, família, luta, cuidados, incentivo, confiança... Tudo transborda... Ao final do último acorde da peça solto a respiração, sinto-me mais leve. Abro os olhos e vejo pela primeira vez um sorriso sincero em seu rosto. Levanto e o encaro.

-Espero que você tenha entendido até onde sou capaz de ir pelo Victor. Que você entenda que ele não está sozinho. - digo seriamente. Dimitri pensa por alguns instantes antes de quebrar o silêncio.

-Eu entendi, Yuri. E espero que entenda que eu só precisava confirmar. Perdi o meu filho e precisava saber o quanto ele é importante para você. Não farei mais nada. Não confrontarei mais vocês.  - diz com resignação.

-Dimitri, posso perguntar uma coisa? - falo olhando em seus olhos. Isso é algo que sempre esteve em minha cabeça. Ele acena afirmativo. - O que o seu filho significa para você? Porque um pai que teve relações cortadas pelo filho há alguns anos não se converteria a um stalker apenas pelo status. Eu me recuso a acreditar nisso. - Dimitri suspira e me lança um sorriso débil.

-Você é bem observador apesar da personalidade impulsiva huh?! Bem, você está certo. Acima de qualquer coisa para mim está o Victor. Eu sempre tentei fazer aquilo que achei ser o melhor para ele. Sempre me preocupei. Na verdade, minha preocupação era tão grande que me tornei absurdamente possessivo em relação a ele ao ponto de controlar até com quem ele conversava. Minha insegurança era tamanha em perder a única felicidade que tive na vida, que acabei o afastando por conta própria dentro da minha filosofia que hoje compreendo que era totalmente distorcida. Meu filho sempre foi a única razão de um sorriso em minha cara. Sempre acompanhei das sombras todas as suas conquistas e torci muito por ele. Posso parecer fútil em alguns aspectos, ditador e extremista, mas nunca, nunca pensei em nada além do melhor para o meu filho. Vivi muita história nos meus 56 anos de vida que me fizeram temer o que o Victor poderia enfrentar. O Privei de muitas coisas, não valorizei seu esforço da maneira e no momento certo, por orgulho e principalmente por medo de que visse o quanto sou fraco. Sempre me preocupei com a imagem que ele poderia passar porque sei o quanto as pessoas podem ser cruéis. Acabou que eu me tornei como essas mesmas pessoas e fiz com que ele me odiasse. - diz com uma expressão repleta de culpa e tristeza.

-Não acho que o Victor te odeie, Dimitri. - digo fazendo com que seus olhos brilhem - Laços de sangue não são quebrados assim. Goste ou não, o Victor nunca deixará de ser seu filho, mesmo que ele lute contra isso. Olhe, não sou o tipo de pessoa que inventaria algo só para fazer com que você se sentisse melhor, não é do meu perfil. Você foi muito cruel sim, foi baixo, jogou muito sujo e trouxe muita dor para o seu filho. No que diz respeito a mim, passei por muitas coisas das quais tive vergonha por muito tempo, tenho traumas assim como qualquer pessoa, mas hoje graças ao Victor entendo que tudo o que passei me tornou a pessoa certa para estar ao lado dele. Por isso joguei tudo para o alto quando vi o dossiê. Eu realmente não me importo com exposição, Dimitri. Não depois que me apaixonei pelo seu filho. Eu morreria por ele... Com tudo o que aconteceu, acho que no fim das contas tudo serviu para que todos revissem conceitos e tivessem coragem de agir. Da parte do Victor, lidar com os fantasmas do passado, ter forças para dizer não para você, ter determinação sobre aquilo o que ele quer. Sobre mim, como saber lidar em situações onde preciso ser racional, principalmente quando a pessoa mais importante para mim está envolvida, aprendi a nunca duvidar ou me sentir amedrontado em perdê-lo  e para você... bem, acredito que tenha servido para não rotular ninguém, não pré-julgar algo só porque não concorda, bater de frente com ideais diferentes podem trazer consequências. Te ensinou também que admiração é uma coisa que se conquista e não se impõe, que respeito é algo que deve ser recíproco e que amor verdadeiro não é algo que abrimos mão tão facilmente só porque aparece alguma dificuldade. No final, acredito piamente que o tempo é o melhor remédio para vocês dois. Da minha parte posso te garantir que estarei sempre ao lado dele. - ele está sem palavras com a minha sinceridade.

-E quanto ao beijo ou o que você sente em relação a mim... - começo a dizer quando ele me interrompe.

-Não se preocupe com isso, Yuri. O desejo que senti por você não passou de um reflexo de um sentimento que tive  por uma pessoa no passado e que resultou em uma decepção e vergonha que quase me destruiu. - diz me deixando confuso. Ele engole em seco e continua - Nunca disse isso a ninguém, pois passei muitos anos odiando a mim mesmo pelo que senti. E quando te vi, com o mesmo jeito impulsivo que ele tinha, o mesmo olhar desafiador e cheio de vida, fez com que trouxesse a tona coisas que tinha guardado a sete chaves dentro de mim. Senti vontade de te dominar, te fazer chorar, descontar em você toda a raiva reprimida que queria descontar nele.  Eu fui jovem, Yuri. Fui um idealista, acreditava na sinceridade das pessoas, na honestidade, lutava contra uma educação ferrenha do meu pai por isso, acreditei  no amor independente de gêneros... A primeira pessoa que amei foi um homem.  - fala baixo me deixando completamente chocado - Nikolai era como vocês dizem aqui no Japão, meu 'senpai' na faculdade. Era uma pessoa cheia de vida, briguento, impulsivo, mas brilhante em tudo o que fazia. Nos tornamos amigos logo que nos conhecemos. Fui me encantando pelo seu jeito de ser, que era tão diferente do meu. Ele era tudo aquilo que eu gostaria de ser, mas que minha condição de vida não permitia. E em vez de sentir inveja, me apaixonei completamente por ele. E quando estava no segundo ano, tomei coragem e me confessei. Esse foi o maior erro da minha vida. Dizer que fui humilhado foi pouco, ele desdenhou dos meus sentimentos, fui chamado de anormal, pervertido e fui tratado como doença contagiosa por todos. Entenda que meu país tem conceitos bem arcaicos referentes ao relacionamento homo afetivo, e quando eu era jovem as coisas eram bem piores. Meu pai foi chamado e tomou conhecimento da situação. Apanhei até desmaiar por ter envergonhado a família. Até me formar, fui alvo de piadas com as quais tive que lidar de cabeça baixa sem dizer uma palavra. Nikolai passou a me olhar com repulsa. Comecei a detestar tudo o que senti por ele. Ver algum gay me lembrava tudo o que passei, me lembrava de toda a vergonha e insultos que ouvi. Passei a odiar gays por isso e jurei para mim mesmo que nunca mais seria humilhado novamente, que todos teriam que lavar a boca para falar qualquer coisa a meu respeito. Depois de formado fui apresentado a Aleksandra, arranjada como minha futura esposa pelas nossas famílias. Nós não nos amávamos, e mesmo com ela batendo o pé em rejeição a mim, aceitei o arranjo. Por medo do meu pai e principalmente porque queria provar que não era o que me tachavam. Acabei distorcendo tudo e causei muito sofrimento a todos, a Aleksandra, minha mãe, que depois de viúva observou com desgosto que o filho tinha se tornado uma cópia de seu marido e Victor, a única gota de felicidade que tive no meio de tanta merda. Tentei protegê-lo, mas acabei por fazer com que fosse como eu por muito tempo. Tê-lo feito sofrer é o maior arrependimento que tenho. - termina seu relato com a voz carregada de emoção.

Estou pasmo com o Dimitri que vejo em minha frente. Estou boquiaberto com tudo o que saiu de sua boca. Ele me deu uma arma que poderia ser usada contra ele mas sua confiança e meu sigilo reflete em seus olhos. Sim... Ele acredita em mim. Agora que perdeu o amor do filho, coisa que eu particularmente não acredito, se encontra seguro em saber que Victor estará bem e feliz ao meu lado. Confesso que jamais esperei esse desfecho quando o vi na porta da sala. Quero saber mais, quero saber o que aconteceu com o cretino do Nikolai, mas não tenho o direito de perguntar nada. A vida e as mágoas são somente dele.

-Dimitri... - digo encarando-o. Olho no fundo de seus olhos para que ele veja toda a sinceridade neles. - Eu cuidarei bem do Victor.  - estendo a mão para ele que me observa por alguns segundos e retribui o cumprimento. Seus olhos refletem confiança. Não sei o que dizer. Nesse momento escutamos um pigarro na porta. Victor não fala nada, só aguarda na porta. Seus olhos estão cheios de sentimentos diversos, mágoa, esclarecimento, tristeza.... "Ah, Victor. Você escutou tudo."  

Dimitri ao ver o filho pede licença com o rosto repleto de emoção e para em frente ao filho.

-Espero que um dia possa me perdoar. - diz antes de ir embora. Victor não responde, apenas fica parado. Abro meus braços para que ele se aproxime. Não digo nada. Não há nada para falar. Ele me abraça apertado, como se quisesse se assegurar que tudo acabou. Ele ainda não está pronto para perdoar nada e eu compreendo isso. Deixar de lado as mágoas requer tempo e mesmo Dimitri sabe disso.

-Vamos para casa, Victor. Vou cuidar de você.

-----------

Acordo sentindo o vazio ao meu lado na cama. Victor levantou, com certeza esperou que eu dormisse para poder pensar. Na volta para sua casa ele não disse nada e eu respeitei seu silêncio, afinal, é muita coisa para assimilar, é muita coisa que ele precisa entender para aí ver se será capaz de atingir o perdão ou não. Escuto uma música baixa soando no quarto de estudos e levanto. Conforme me aproximo da porta fico surpreso com a música escolhida. "Tchaikovsky? Concerto de violino?" É a primeira vez que vejo Victor escutando algo além do repertório pianistico.

Ele se encontra sentado no banco do piano, observando a lua da janela que está aberta. Ele nota que entrei mas continua na mesma posição.

-Te acordei Yuri? Desculpe, não foi minha intenção.  - sua expressão está de uma melancolia que nunca vi ate agora.

-Que concerto é esse? Só percebo que é Tchaikosky pela melodia. E violino? Nunca imaginei você escutando nada além de coisas de piano. - digo curioso. Victor dá um sorriso cansado.

-Acertou o compositor. Esse é o Concerto para violino em Ré menor Op.35(link nas notas finais), mesmo não sendo de piano é minha música preferida. Eu gosto muito de Tchaikovsky, de certa forma, me identifico muito com esse compositor. - fala virando o olhar para mim. Nunca vi o seu rosto com tamanha tristeza. "O que devo fazer? O que posso fazer por ele?" Opto por ir com calma e ver se ele vai dizer o que o aflige.

-Como assim você se identifica com ele, Victor? - ele me encara por alguns instantes e suspira.

-Você conhece a história de Tchaikosky, Yuri? - aceno negativamente. Nunca parei para pensar em história de compositor, sempre fui focado nas execuções das peças musicais e no que sairia de minha interpretação. - Bem, Piotr Ilitch Tchaikosky foi uma pessoa reprimida a ser aquilo o que não era a vida inteira. Teve sérios problemas em se aceitar e sofreu muito dentro do seio familiar. A morte de sua mãe o fez entrar em depressão e seu relacionamento com seu pai não era o dos melhores, não no sentido de cobranças, mas simplesmente porque seu pai fechava os olhos ou fingia entender uma dor que não fazia ideia do que era em seu filho. Eles não tinham uma boa relação. Tchaikovsky era claramente gay, teve muitos casos com homens, o que possibilitou muitas conexões profissionais mas era visto com maus olhos na Rússia de meados do século XVIII. Buscava se encontrar com ele mesmo, mas não tinha respaldo algum em ser direcionado. Quase abandonou a música em vários momentos e por uma pressão ilusória da sociedade da época desistiu de ser quem era e se casou por se sentir incomodado com sua sexualidade e para seguir os costumes, diferente do seu irmão que também era gay, mas bem resolvido em seguir sua vida como queria. Não preciso nem dizer que seu casamento com  Antonina Milyukova, que era sua aluna no conservatório foi um fiasco. Foi um relacionamento baseado em conveniência que após dificuldades financeiras levou o compositor ao desespero, já acentuado a depressão. Ele morreu aos 53 anos sem nunca ter sido ele mesmo. Sua música, ao meu ver,  reflete todo o amor que sempre quis, expõe todo o desespero em ser amado pelo que era, diz tudo aquilo que sua boca por covardia era incapaz de dizer. Por isso me identifico, sua história em certos aspectos lembra a minha própria vida. Só que diferente de Tchaikovsky, eu não quero passar minha vida sendo algo que não sou. Não quero ser amordaçado, não vou mais me calar, Yuri. Ainda mais agora que encontrei você. Eu escutei toda sua conversa com meu pai e de certa forma estou aliviado em saber que não teremos mais sua interferência, mas não estou preparado para perdoá-lo ainda e ele sabe disso. Odeio meu pai? Você respondeu certo por mim na conversa com ele, mas foram muitos anos de dor, muitos anos de repressão. Preciso de tempo para finalmente compreendê-lo e ser capaz de perdoar. Sinto que pela primeira vez na vida consigo respirar sem preocupações. Posso te amar por completo, podemos viver nossa vida de forma tranquila. Não estou depressivo, não estou com tristeza por sentir falta do que perdi. Eu só ganhei depois que você entrou na minha vida e não tenho arrependimento algum. Minha melancolia  se resume ao fato de estranhar a forma como tudo se resolveu, estou como alguém que foi torturado da mesma forma por anos e que quando se liberta custa a acreditar que isso foi possível... Sempre fui acostumado aos ataques, tanto da minha família quanto da mídia, só estou tentando me adaptar a essa felicidade sem interrupções. Quero que saiba que assim como disse ao meu pai, eu também daria minha vida por você. Nunca fui tão completo e agradeço todos os dias por poder te ter ao meu lado. Eu te amo, Yuri.

Estou completamente emocionado e sem palavras com o tanto de amor que emana dele. Seu olhar é doce. Engulo em seco com tamanha confiança depositada em mim. Seu pai confiou seu filho a mim e seu filho me deu tudo o que tem. Agora mais do que nunca percebo a dimensão do que tenho em mãos. É um tesouro inestimável. E ao som do violino de Tchaikovsky tomo a única decisão que faltava para tudo ficar completo. Me entregar por completo para ele. Ceder o controle, confiar em Victor. Não existe mais sombras, não existe mais medo. Victor ofega ao perceber minha decisão silenciosa, pois sabe o quanto isso é um passo importante vindo de mim. Seus olhos são tomados pela emoção quando eu digo...

-Me faça seu,Victor...

(Continua...)


Notas Finais


Seja uke, Yuri. <3
Link de Moolight Serenade de Beethoven
https://www.youtube.com/watch?v=4Tr0otuiQuU
Link do Concerto para violino em D minor Op.35 de Tchaikovsky (eu amo esse concerto <3)
https://www.youtube.com/watch?v=ovFPKu00cCc


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