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História Vontade do fogo X Poder Uchiha - O inocente é a melhor vítima


Escrita por: TamiresVargas

Capítulo 6 - O inocente é a melhor vítima


“Eles tinham um desejo assustador pelo genocídio.

Eles não iriam parar até o que restava da minha família morrer.

Determinados a tomar o mundo.

Você não poderia se esconder no manto da conformidade. ”

 

O cheiro de umidade penetrou nas narinas do menino antes de seus olhos se abrirem e revelarem uma imagem escura e embaçada. Piscou algumas vezes para retomar o foco e constatou o negrume que engolia o ambiente de tal forma que parecia englobar também seu corpo. Tateou o chão gelado procurando sua bolsa, encontrando uma pequena poça de um líquido que não conseguiu identificar. Instintivamente, retraiu a mão e forçou sua visão a captar algo que pudesse lhe dar uma pista de onde estava.

Ele se assustou com o barulho agudo que rasgou o silêncio e se repetiu gradualmente mais próximo. Arrastou-se para trás, molhando suas palmas e sujando-as de terra conforme as utilizava para escapar do senhor daquele ruído, até bater as costas numa parede de pedra.

— Sai daqui! — vociferou buscando nos bolsos alguma arma ninja. — Se você não sair, eu vou... — Perdeu a voz quando sentiu em suas pernas o pelo encharcado de um rato imundo e gritou após o choque passar. — Papai!... Mamãe!... Nii-san!... — A garganta começou a doer devido à força para segurar o choro. Chamou os três nomes novamente, percebendo sua voz ecoar pelo local. — Tem alguém aí?!... Alguém?!... — berrou forçando os pulmões ao máximo.

Sasuke ainda insistiu por minutos, mas logo perdeu a esperança e passou a se dividir entre enxugar as lágrimas e evitar que o roedor chegasse perto outra vez.
 

Os raios de sol driblaram a cortina branca e alcançaram o assoalho desenhando nele a geometria da natureza, o ar corria ainda úmido das gotas da noite e quebrava o calor do feixe de luz que timidamente iluminava o quarto de Itachi.

Ele despertou subitamente como se o mundo dos sonhos o tivesse cuspido para fora. O coração batia acelerado pelo susto sem fundamento e seus pensamentos flutuavam confusos. Olhou para fora constatando os primeiros traços do amanhecer e inspirou fundo com o intuito de controlar a desagradável sensação que o acordara. Deixou a paisagem ao retomar a tranquilidade e se levantou sem saber que ela se esvairia no momento seguinte.

O gênio Uchiha perdeu o ar ao terminar de vasculhar a casa e não encontrar seu irmão. As gotas de suor escorriam de seu rosto pálido e estarrecido enquanto sua mente varria as possibilidades. Tentou não pensar no óbvio, no entanto foi inútil e com o último fio de equilíbrio adentrou ao quarto dos pais.

Uma dor aguda atingiu seu peito ao constatar a ausência de Sasuke e por um momento ficou surdo. Encarava o cômodo com os olhos arregalados, sacudindo de um lado a outro, incrédulos pela certeza que assaltara a sua mente. A boca secou e as mãos tremeram, a adrenalina percorreu seu corpo nublando sua perspectiva e uma forte taquicardia prometia levar seu coração ao colapso.

Fugaku se assustou ao ver a reação de seu primogênito, levantou devagar como se estivesse diante de um animal prestes a atacar, lançando um rápido olhar para Mikoto que por instinto espelhou o gesto, chamou-o em vão e se aproximou preocupado, tocando seu ombro suavemente.

— Itachi... O que aconteceu, filho? — pronunciou em tom firme e acolhedor.

A criança prodígio despertou subitamente, cravando os olhos no rosto do pai. A raiva nítida em sua expressão se expandiu com o dilatar das pupilas que respiravam em consonância com os pulmões, hipnóticas e aterrorizantes, prontas para tragar a um profundo abismo, a alma de quem fraquejasse diante delas.  

— É sua culpa... — Cerrou as mãos com força, tornando o tremor visível, a saliva inundou a boca feito o destilar de um veneno mortal. — Por causa da sua maldita ganância, Sasuke está em perigo... Se algo acontecer a ele... — pronunciou lentamente, mantendo o resquício de controle sobre suas emoções.

Fugaku não respondeu. Parte de si temia conhecer o motivo por trás do comportamento de Itachi ao passo que a outra buscava um modo de refreá-lo. A insanidade que brilhava nas íris vermelhas faria qualquer homem recuar, no entanto o líder Uchiha possuía consciência de que era responsável pelas atitudes do filho e pelos desatinos que poderia vir a cometer naquele estado.

— Não fale com seu pai dessa forma... e diga de uma vez o que aconteceu com Sasuke.  — Mikoto exprimiu baixo numa seriedade arrepiante.

— Vai defendê-lo como sempre, não é? Vai apoiá-lo em todas as loucuras, não importando as consequências. — Itachi rebateu elevando a voz. — Dane-se o número de vidas colocadas em perigo! Para vocês esse maldito clã está acima de tudo!... Eu tenho nojo de pertencer a ele!

— Você não faz ideia dos sacrifícios que fizemos para que todos tivessem essa vida confortável... Do quanto nos doamos e da dificuldade que enfrentamos para manter a união e o bem-estar dessas pessoas que você enoja! — Mikoto dobrou os dedos contra sua palma, as unhas ferindo a pele tamanha a intensidade do gesto, evitando que a vontade corrente em seu pensamento se convertesse num ato que lhe traria arrependimento. — Tudo o que você é, e tem hoje, é fruto de algum gesto das mesmas pessoas que despreza!

A surpresa se espalhou pelo semblante de Fugaku. Ver a esposa agir daquela forma era uma raridade preocupante e permitir que ela e Itachi continuassem a discussão, a certeza de um problema sem precedentes.

— E nada disso vale a vida de Sasuke! — Itachi vociferou. — Vocês se cegaram com seus objetivos escusos, esquecendo até mesmo do próprio filho, amparados pelo maldito discurso de que estão fazendo pelo bem do clã, colocando-o acima de tudo e se rebelando contra Konoha, cometendo os mesmos erros do passado, perpetuando a imagem de ódio que carregamos por décadas, e corroborando a ideia de que não passamos de loucos por poder! — vomitou até perder o fôlego, recuperando-o em instantes e continuou. — Vocês deixaram Sasuke de lado para atender seu execrável desejo de soberania! Como puderam?! Como foram incapazes de manter os olhos em uma criança?! A única coisa que precisavam fazer era cuidar dele!  

O mundo girou uma vez, contudo não se permitiu abalar por isso. Seu irmão importava mais do que a integridade de sua saúde e, se fosse necessário, a esgotaria para trazê-lo de volta em segurança.

Fugaku tentou acalmar os ânimos do primogênito enquanto Mikoto se despedaçava em angústia e dor, amaldiçoando-se por entrar em conflito com o filho e perder o foco da mensagem que o mesmo trouxera.

— Mikoto!

A voz do marido não alcançou sua consciência, nela a única frase que ocupava espaço era “encontrar Sasuke”. Nada a pararia até que isto se cumprisse.

— Espere!

— Não há tempo! — gritou de volta a Fugaku.

Ele bloqueou sua passagem, alimentando a aflição que sufocava seu íntimo.

— Perderemos mais tempo se agirmos cegamente! Itachi não nos deu detalhes, precisamos descobrir o que ele sabe para traçar um plano.

A frase provocou um pequeno hiato na agitação dela, no entanto o som de um baque surdo do lado de fora da casa, devolveu-a ao nervosismo.
 

“Parece que tudo que sobra do meu lado humano

Está mudando lentamente... em mim.

Olhando meu próprio reflexo

Quando de repente ele muda,

Violentamente ele muda!

Não há como voltar atrás agora.

Você acordou o demônio... em mim!”
 

O gênio Uchiha se espalhou em dezenas de corvos que sobrevoaram o distrito e a vila com um bater de asas veloz e desesperado, esmiuçando com o sharingan cada canto e pessoa a procura de pistas do pequeno, fomentando a frustração de nada encontrar. Não se demorou na tarefa, executando-a por pouco mais de uma hora apenas para se certificar do que seu subconsciente já sabia: ele não deixaria vestígios. Jamais cometeria um erro tão grotesco. Danzou o tinha em suas mãos, era certo, assim como estava preparado para qualquer reação que viesse dele. Esperava que saísse em busca do irmão, que outras pessoas se envolvessem na questão e o caos se instalasse. “Foda-se!”, pensou. Não ter o elemento surpresa não o deteria. Descobriria o paradeiro de Sasuke ainda que precisasse arrancar a pele do velho desgraçado e, se ele maculasse um fio de cabelo do menino, oferecê-lo-ia a mais dolorosa das mortes.

Reagrupou-se, rumando para o sudoeste. O esconderijo da raiz havia mudado de localização há pouco tempo devido à crescente probabilidade de ser descoberto por Minato, deixando de existir dentro da vila para ocupar o subterrâneo de um bosque cercado por altas montanhas.

Próximo a cruzar a fronteira de Konoha, notou uma presença em seu encalço. Armou-se de cinco shurikens, separando-se em corvos e criando um bunshin que as atirou contra o adversário. Elas rasgaram o ar velozmente, carregadas de chakra que se converteu em chamas, incendiando as árvores vitimadas pelo desviar do ninja e atingindo uma lebre quando este mudou a direção de uma delas com a ajuda de sua kunai.

Kakashi não se deixou enganar pela ilusão, parte de sua atenção se dedicava ao grupo de aves que seguia a frente. Observou o semblante do garoto, percebendo que a serenidade comum nele havia desaparecido, sendo substituída por uma expressão colérica, e não pode impedir o pensamento de que aquilo acabaria mal.

— Espero que sua intenção não seja sair da vila — articulou calmo, atento a reação do outro.

— Não fique em meu caminho!

— O que pretende, Itachi?... Trair Konoha como o resto do seu clã?

A resposta se deu pelo silêncio junto ao desembainhar da espada do prodígio. A luta objetivava prender a concentração de Kakashi enquanto seu verdadeiro corpo continuava o trajeto, no entanto a surpresa veio ao acertar o primeiro soco e ver o bunshin se desfazer em fumaça.

Itachi fez o seu desaparecer, logo sua formação de corvos se tornou alvo da perseguição do pupilo de Minato, prosseguindo por alguns metros além dos limites da aldeia e parando numa campina. Pisou na grama curta, atentando para a tarja explosiva camuflada nela e a ativou espalhando terra e destroços, esquivou-se de uma kunai saltando diagonalmente, repeliu outra com a espada e, aproveitando-se de um pequeno hiato nos ataques, acordou o Mangekyou.  

Kakashi ficou petrificado ao ver a hélice negra desenhada nas íris do Uchiha, porém não teve tempo de concluir a reflexão que iniciara. O golpe veio numa velocidade impressionante sendo detido por sua kunai, entretanto no segundo seguinte, constatou que Itachi atacava pelo lado oposto.

A lâmina raspou a pele de Kakashi abrindo um vale capaz de abrigar um dedo. Por instinto, levou a mão à ferida, perdendo o adversário de vista. Tentou raciocinar o motivo de não ter discernido qual investida era a verdadeira e lembrou-se da figura que vira. Os poucos boatos sobre aquela rara condição lhe vieram à mente e enquanto juntava as peças do quebra-cabeça, reforçava a postura defensiva.

Itachi controlava o tempo. Três minutos eram suficientes para testar o Tsukiyomi e garantir sua eficácia. Não havia planejado usar cobaias, entretanto não poderia desperdiçar a oportunidade que surgira. Seu poder era novo e como tal precisava ser ajustado a fim de atingir o potencial máximo. O gênio Uchiha deu início ao jutsu assim que pôs o Mangekyou em Kakashi, deixando-o crer que conseguia se movimentar na luta quando na verdade permanecia paralisado, afogado em ilusões.

Dentro do genjutsu, a demora de um novo golpe preocupava o ninja copiador, podia sentir algo errado e esperava pelos piores cenários. Usando seu sharingan, tentou premeditar a intenção de Itachi e se preparou para receber o katon que vinha de cima, revidando com um canhão de água que igualou as forças por um instante antes de se anularem. Rapidamente, concentrou chakra nas mãos, formando o raikiri e desferiu o ataque, acertando o Uchiha que se contraiu com a dor e desapareceu em corvos.

Eles voaram formando um círculo ao redor de Kakashi. As aves grasnavam alto provocando um barulho atordoante e ensurdecedor, limitando o espaço para o ninja se mover, aproximando-se e se chocando contra seu corpo, abrindo-lhe feridas com bicos e garras. Alguns caíam ao chão com os revides, mas logo outros surgiam para ocupar o lugar daqueles, atormentando, sufocando e se alimentando de nacos da carne de sua vítima.

Kakashi não conseguia ignorar a agonia sentida tampouco enxergar a saída, somente o negrume das penas que preenchiam sua visão. O ar se tornou escasso e a ardência dos ferimentos intensificada quando os corvos se fixaram em seus músculos. Um deles invadiu sua boca enquanto um segundo lhe arrancou o sharingan, fazendo-o engasgar com o grito de desespero. Em seguida, dispersaram-se num átimo, posicionando-se nos galhos de árvores, o encarando sinistramente com suas íris vermelhas de hélices negras, inclusive o que lhe tomara o olho, segurando-o com uma delicadeza escarnecedora.

Inundou o chão com sangue e jurou ter visto em meio a ele, parte de suas entranhas. Fitou suas mãos de tecido destruído e tendões evidentes, vislumbrando uma parte dos ossos e encarou seu rosto desfigurado na poça que se tornara cristalina. Dedos surgiram dela em sua direção, fazendo-o recuar assustado até ser engolido pelo assombro ao ver o líquido dar forma a Itachi.

— Eu avisei... — A voz ecoou nos ouvidos de Kakashi como uma sentença de morte.

Tentou se pôr de pé ignorando a fraqueza nas pernas, sentindo-as falhar, ameaçando desmoronar a qualquer momento. Encarou o adversário reunindo algum chakra e apostou sua vida na ínfima oportunidade de escapar. Percebeu o solo rachar conforme o caminhar de Itachi e seu equilíbrio ser prejudicado pelo tremor de terra. Saltou para trás quando o pedaço de terra embaixo de si foi tragado para baixo, parando numa grande rocha que não percebera antes. Olhou em volta, desconfiado, ao mesmo tempo em que procurava um lugar seguro para pisar, de súbito, viu-se sobre um lago congelado de rostos esculpidos em desespero. As faces incrustadas sobressaíam no gelo, tornando impossível não pisoteá-las e transmitiam a certeza de que aquelas pessoas tiveram mortes excruciantes.

— Este é o último cenário de sua vida. — Itachi exprimiu, esmagando uma cabeça com os pés.

— Tudo não passou de um genjutsu... Esses olhos... — articulou devagar, alinhando os pensamentos.

— Sim, e você, minha primeira vítima. 

Sangue se alastrou pelo abdômen de Kakashi, que fora perfurado pela lâmina voraz do gênio Uchiha, e a escuridão o envolveu no instante seguinte.
 

Danzou se manteve de costas, ignorando a aura ameaçadora que emanava daquela presença. De nenhum modo, ela o atemorizava, pelo contrário, quase podia rir. Esperou o primeiro gesto do garoto que ardia em fúria e ouviu suas palavras entredentes:

— Onde está Sasuke? — O tom indiferente vacilou por um momento.

— Tínhamos um acordo e você o descumpriu — rebateu austero. — Deveria saber que não conseguiria ocultar sua traição.

— Diga!  

— Você pode ser um bom ninja, contudo até mesmo o melhor esbarra em limites — iniciou um discurso calmo. — Não é possível controlar tudo nem listar todas as possibilidades, ainda que a mente mais brilhante tente, fracassará em algum ponto... A perfeição é uma bela utopia a qual os homens insistem em perseguir para alimentar sua vaidade. Por isso, baseei meu plano em falhas, por exemplo: a sua. — Levantou o olhar para o breu da caverna. — Calculei onde poderia falhar e tracei opções para cada falha, deixando meus homens cientes dos passos que precisariam dar. Desde o começo, não acreditei que aniquilaria o clã Uchiha, entretanto era uma tática interessante de se testar. O sucesso dela teria me poupado tempo e esforço. — Virou-se para observar o ódio que consumia o semblante do jovem e apertou os lábios num ensaio de sorriso. — Mas isso não importa, pois o objetivo final será alcançado de qualquer modo.

— O que fez com ele?!

— Nada. Não está em minhas mãos definir o destino dele, e sim nas dos Uchiha. Suas atitudes determinarão se Sasuke viverá ou... — A frase incompleta derrubou o último pilar que sustentava o autocontrole de Itachi.

O sharingan brilhou em vermelho vivo antes do prodígio cravar a espada no estômago do velho falcão de guerra e girá-la para expandir a ferida. O ódio que preenchia suas veias, escorrendo naquele ato de vingança cega.

— Ingênuo. — Danzou disse num deboche latente. — Por isso é fraco e fácil de manipular. — Desfez-se numa nuvem de poeira.

Itachi apertou a bainha com força provocando um estalo de reprovação da arma. A sentença ouvida corroia seu âmago tanto quanto a desorientação inundava seu cérebro. Falhara com a pessoa mais importante de sua vida, colocando-a em risco devido a sua covardia. “Maldita decisão de falar com o Hokage!” Ela havia minguado sua certeza e lhe presenteado Kakashi como obstáculo. Deveria ter ignorado a voz que lhe soprava: “é o correto”, sobreposto-a com as justificativas que reunira para cumprir o acordo e dado cabo de seu clã. Vasculhou, em vão, o esconderijo da Raiz. Era óbvio que não havia pistas ali, Danzou esperava sua visita, assim como traçara seus passos e conhecia sua fraqueza, utilizando-se dela para proclamar vitória no exato instante em que teatralizou a proposta.

A lâmina retornou ao seu abrigo, mas não sem antes refletir o rosto do prodígio e os olhos de quem nada tinha a perder.
 

“Tudo o que eu deixei por dentro é

Uma alma que está cheia de orgulho.

Eu lhe digo: ‘nunca mais’!

A sociedade depravada deles

Não acabaria por me matar

Nunca mais!”
 

— Volte para casa, aqui não é seguro. — Akane ordenou friamente.

— O que está acontecendo?!  

— Iremos atacar.

Kaoru perdeu a voz diante da declaração, encarando o rosto da amiga num pedido mudo de explicação.

— Sasuke desapareceu — limitou-se, observando o assombro preencher a expressão da outra.

— Tem certeza que... — A tentativa de negação esbarrou no olhar gelado de Akane que foi mantido a fim de esgotar a ingenuidade da menina quanto aos fatos. — Ele é uma criança! Como alguém pôde?... — perdeu a fala temendo seus próprios pensamentos. — Minato jamais faria algo assim! Vocês não podem acreditar que ele usaria o Sasuke para atingir o clã!

— Se não foi o Yondaime, alguém agiu pelas costas dele. Isso prova que não teve capacidade para manter seus subordinados sob controle ou não percebeu quem agia por conta própria. Não podemos ficar nas mãos de um inimigo que não conhecemos... Esperar só tem nos recompensado com baixas.

— Vão começar uma guerra por causa de uma suspeita!

— Já estamos em uma! — levantou o tom. — Shisui está morto, Sasuke foi sequestrado e nem sabemos se está vivo! Estamos morrendo enquanto aguardamos o momento certo para lutar! — Akane se controlou, retomando a voz baixa. — O último movimento de Konoha foi claramente uma declaração de guerra e um golpe baixo, típico deles.

Kaoru tentou encontrar argumentos, contudo falhou. Não havia um capaz de convencer a Uchiha do contrário e, no fundo, não discordava dela. Nenhuma afirmativa era mentirosa ou exacerbava a realidade.

— Se continuar sob nossa proteção, poderá ser acusada de traição, além disso, acho difícil Fugaku continuar aceitando você aqui. Eu me juntarei ao restante do clã no ataque à vila.

— Não! — Kaoru segurou as mãos dela. — Não pode! Por favor, Akane!

— A única coisa que não posso é continuar inerte, desejando que tudo se resolva sozinho. — Desvencilhou-se do toque e a encarou, séria. — É hora de escolher o lado pelo qual lutar.

— Como posso escolher um lado se minha família se divide entre os dois? — rebateu angustiada.

— Então terá que aceitar perder pessoas em ambos — pronunciou numa sinceridade cortante. — Mantenha-se segura e não cometa uma estupidez — despediu-se.

Kaoru permitiu que seus joelhos cedessem e as lágrimas caíssem. Tapou a boca para impedir que o agudo do choro ecoasse no ambiente e apoiou uma das mãos no chão a fim de não desabar nele.

Aquele era um mundo cruel! Mais do que imaginava e podia aceitar. Um lugar onde pessoas eram capazes de fazer mal a uma criança para satisfazer suas ambições, onde a vida se equilibrava na palma dos poderosos, e aos inocentes e fracos sobrava rezar por suas insignificâncias.

Fitou as gotas escurecendo a madeira com sua umidade, tentando reunir alguma força enquanto sua mente se debatia em tristeza, desesperança e indignação. Não era naquele mundo que desejava viver, nunca concordaria com ele nem toleraria que o fruto de seu aprendizado perpetuasse a maldade que assistia.

De súbito, o desenho no assoalho tomou a forma de um propósito que catapultou a menina para fora do abismo.
 

Um feixe de luz atingiu as pupilas do pequeno, obrigando-as a se contrair. Ele se inquietou com a novidade e concentrou sua atenção nela, sentindo temor ao ouvir ruídos estranhos ao que se acostumara naquele lugar. Percebeu a movimentação do roedor através do barulho de suas patas e tentou descobrir o motivo de sua corrida. Escutou o choque de uma pedra contra o chão, depois outra e outra como se o lugar estivesse desabando. Assustado, gritou por ajuda enquanto buscava um modo de se proteger do que desconhecia.

— Cale a boca, moleque histérico! — O homem bradou.

Sasuke não conseguiu vê-lo direito por causa da luminosidade que o cegou momentaneamente, apenas distinguiu que era alto e corpulento, e exalava um forte cheiro de cigarro que lhe queimou as narinas, impulsionando-o a tossir.

— Nem parece um Uchiha...

— Pare de fazer comentários desnecessários. — Um segundo, de voz calma e baixa, pontuou. Ele era magro e perdia pelo menos dez centímetros em altura para o companheiro. — Sua comida por hoje. — Depositou-a no chão. — Está a sua direita, é só esticar a mão.

O outro revirou os olhos e arremessou um cantil contra a parede, por pouco não acertando o rosto de Sasuke.

— É assim que se trata traidores! — cuspiu, encarando o parceiro. — Aproveite a estadia, Uchiha!

A escuridão retornou com a saída deles, e o silêncio encheu os ouvidos do menino até se tornar um zumbido. Ele arregalou os olhos inutilmente, tateando em direção à refeição, trouxe-a para seu colo, desfazendo o nó do pano e abrindo a vasilha. Sentiu o calor do alimento, retirou a tampa e procurou pelo hashi que não estava ali, em seguida, esfregou a mão na roupa antes de comer. A fome o impediu de sentir o sabor e se lembrar do aviso recebido. Terminou em minutos, entregando-se àquela sensação fisiológica de saciedade que se perdeu aos poucos conforme raciocinava sobre a visita.

Não entendia por que fora chamado de traidor, entretanto o plural da palavra o intrigou. A quem mais se referia? O que fizeram? E ele, o que fez para merecer aquilo? Todas as perguntas se debatiam na mente de Sasuke, chocando-se com o medo de suas escassas certezas, dentre elas a que estremecera seu frágil ser: os ninjas pertenciam a ANBU.
 

Namikaze Minato observava a vila do alto. O monumento em homenagem aos Hokage servia de palco para sua preocupação. Pela manhã recebera a notícia de uma movimentação incomum no distrito Uchiha, horas depois, que seu pupilo estava hospitalizado e, para completar, o responsável por seu estado era Itachi. Sentiu remorso por tê-lo encarregado de vigiar o prodígio, contudo não podia prever que a incumbência teria um desfecho como aquele e, graças à prudência de Kakashi, não fora pior. O ninja enviara uma mensagem através de Pakkun. Em seu conteúdo original, apenas o informe do deslocamento de seu objeto de vigilância, no entanto o cão acrescentou a ela suas próprias impressões, despertando a intuição de Yondaime. Esta que lhe auxiliava a encontrar o quanto antes a conclusão do que acontecia.

— Eles irão atacar. — Jiraya anunciou sua chegada.

— É o que parece, mas por que repentinamente?

— Não há nada de repentino. Os Uchiha planejam isso há tempos.

— Eu sei, porém quando conversei com Fugaku, tive a impressão de que minhas palavras o atingiram de alguma forma. Pensei que ele havia refletido sobre elas.

— Entendo sua esperança de evitar o confronto, mas chegamos a um ponto em que é impossível — sentenciou, observando a distração que tomara o outro.

O olhar de Minato seguia uma borboleta vermelha que cambaleava em seu voo como se pudesse ser derrubada por qualquer brisa. Ela parecia feita de vidro, suas asas transparentes filtravam a luz do sol, marcando o chão com uma sombra que se contraia e expandia mostrando outra mais escura no centro, formando um desenho que se tornou compreensível quando o inseto pousou na mão que lhe foi estendida.

Sasuke.
 

No santuário Naka, a reunião de emergência contava com um número reduzido de pessoas, somente as que encabeçariam as lideranças dos grupos. Eram ninjas escolhidos a dedo por Fugaku e Yashiro, bem antes do caos se instalar em seus planos quando ainda podiam contar com Shisui e Inabi, e dois que não carregavam a experiência desejada, porém possuíam habilidade suficiente para substituir as baixas sofridas pelo clã.

Mikoto estava ao lado do marido aguardando a chegada do último convocado. Sua tranquilidade se traduzia numa parede de frieza e hipocrisia, os olhos fitavam o horizonte sem vê-lo e a atenção se perdia no que acontecia fora dali.

— Obrigado. — Fugaku sussurrou.

— Eu não o deixaria sozinho numa hora como essa. Mas sou mãe, não posso arrancar essa parte de mim.

— Por isso, sou duplamente agradecido — exprimiu com pesar.

— Vou trazê-lo de volta para casa. Não se preocupe — afirmou encarando-o, percebendo a dor em sua expressão. — Sei o quanto gostaria de fazer o mesmo, mas precisa estar aqui por inteiro. Confie em mim.

— Eu confio, mas o temor é inevitável... — A frase terminou num sopro. Novamente, as obrigações recaíam em seus ombros, e desta, impediam que se colocasse na busca de seu menino. Sentiu-se um péssimo pai, deixando o filho de lado por causa de uma guerra. — Quando encontrá-lo...

— Direi que você procurou por ele. — Mikoto o interrompeu. Não podia permitir que o líder Uchiha desmoronasse naquele momento.

Ela ocupou seu lugar, concentrando-se em manter aquela parte ali, enquanto a outra estava a quilômetros de distância, cruzando velozmente a floresta com o olhar carregado de fúria. Não transparecia a aflição crescente no peito. Sua face refletia determinação e a promessa de sofrimento a quem ousou tocar em seu filho.


Notas Finais


Disturbed - Never again (1º e 3º trechos) https://www.youtube.com/watch?v=nWNrz6IKP4g
Disturbed - Down with the sickness (2º trecho) https://www.youtube.com/watch?v=qSkgw0Z0R_Y

Vamos lá...
Eu peguei pesado nesse capítulo com o Kakashi e o Sasuke. O Kakashi foi algo que saiu conforme escrevi, o Sasu foi planejado.
Parte de mim pensou: que isso? A outra apenas olhou e percebeu que estamos nos encaminhando para o desfecho da história e as coisas têm que ficar tensas, sim! Mesmo que no começo, houve aquelas cenas entre o Ita e a Ka, aquilo não foi querer colocar romance, mas mostrar como a situação afeta em todos os planos. Resumindo: eu pensei em VFxPU como uma história impactante, a base dela é o sofrimento e angústia. A tortura veio depois, mas eu gostei. ^^

Outro ponto: eu gosto de quebrar a imagem de "personagem perfeito" que deram ao Itachi. Nas minhas fics, ele erra, se descontrola... é humano! Pensei bem em como fazer o descontrole dele na história e usei o Sasu para isso. Enfim, aqui em VFxPU, eu quebro a personalidade dele para que ela seja moldada um pouco diferente. Busco acrescentar a ele a humanidade que nunca achei que tivesse.

A Kaoru é uma garota que conheceu o mundo ninja ao morar em Konoha. Ela possuía dez anos. É uma personagem que veio com uma bagagem enorme antes de pisar nessa terra. Foi educada pelos pais, teve uma vida de nômade, adquiriu valores opostos ao código shinobi. Por isso, a dificuldade em aceitar o que está acontecendo. Gosto de trabalhar essa fragilidade dela, acho que agrega muito valor à história.
Creio que já falei demais.
Caso encontrem algum erro, avisem.
Bjs e até o próximo!♥♥♥


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