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História War of Hearts - Uma dinastia (in)quebrável


Escrita por: Ssinful

Notas do Autor


Oioi.

Logo aviso: esse capítulo contém cenas de violência. Se é sensível, por favor, peço que se retire.

Pra quem se deu ao trabalho de se importar e ler minha Atividades, soube que deixei avisadinho que não ia conseguir postar lá pras 00:00 como de praxe. Estou postando um pouco mais tarde, mas ainda assim, é sábado.

O capítulo saiu mais pequeno, mas foi proposital. No capítulo 7, será um momento mais importante para nosso casal, por isso que quis deixar separadinho.

Enfim. Boa leitura.

Capítulo 6 - Uma dinastia (in)quebrável



Izuku andava pelas ruas contente. Um enorme sorriso enfeitava seus lábios, as bochechas ficavam coradas sempre que se lembrava dos beijos que trocou com o doutor. Dos carinhos e das palavras de consolo que trocaram mutuamente.

Ele estava mesmo apaixonado. Sentia aquela sensação boa no estômago, e o coração batia forte sempre que era acariciado ou até mesmo trocava olhares com Bakugou. Em todos esses anos, Midoriya havia se esquecido do que era carinho; do que era ser amado tão intensamente, que o peito doía — e, de certa forma, de amar fortemente também. E agora, pensar que estava vivendo aquela felicidade de novo, o deixava muito feliz.

Seu celular vibrou no bolso e ele o pegou. Gostaria que fosse uma mensagem boa e de uma pessoa em específico — muito embora soubesse que ele não tinha seu número, mas sim o contrário —, mas o que viu, o fez arregalar os olhos e a respiração perder-se ao nada:

"Eu sei o que você fez. Vou matar você e aquele médico desgraçado".

Ele correu tão rápido pela rua que quase tropeçou nos próprios pés. Em sua cabeça, só rondavam imagens de Tomura.


Tropeçou na soleira da porta ao entrar. Mal encostou a porta e correu pelas escadas, subindo até o quarto onde ficava com Tomura.

Abriu o guarda-roupas pegando uma mochila. Pegou juntamente mudas de roupas, socando de qualquer jeito no objeto. Seu peito estava dolorido, pois o coração batia intensamente forte contra ele.

Enquanto enchia a bolsa, Izuku olhou o próprio reflexo no espelho, como já tinha feito tantas outras vezes olhando cada uma das marcas que Tomura já tinha feito nele. Como ele pôde aceitar aquilo por tantos anos? Todos os dias, por mais um dia, ele foi incapaz de sair daquilo que sempre tirou sua dignidade e diminuiu seu ser a um nada. 

As lágrimas começaram a tornar sua visão turva. 

Tomura queria matá-lo, e Izuku tinha certeza que o homem tinha força e coragem para tal. Nunca duvidou daquele louco, e não seria agora que o faria. Precisava sair daquela casa rápido e precisava avisar Bakugou ainda mais depressa. Tomura poderia chegar a qualquer momento.

Sem muito tempo, abriu a sua gaveta de cuecas, tirando de lá o pedaço de papel com o número do loiro. Com as mãos trêmulas, não soube de onde tirou forças para digitar e salvar. Bastou aquilo para fechar a mochila e jogá-la nos ombros, ponto para sair. Era pouco o que coube na bolsa, mas era o suficiente.

Desceu as escadas numa pressa tremenda, mas assim que colocou a mão nas nas chaves sobre a mesinha, a porta se abriu. Por ela, Shigaraki entrou lentamente, olhando para frente e consequentemente cruzando com os olhos verdes submersos em medo.

— Aonde pensa que vai? — disse baixo, quase num sussurro. Midoriya sentiu as pernas tremerem e quase desfalecerem ali mesmo.

Ele engoliu a seco. Os olhos não pararam num ponto específico; as pontas de seus dedos doeram em consequência do aperto forte no corrimão da escada.

— Vou sair.

— Não vai. — trancou a porta. A voz parecia retumbar dos portões do inferno. Izuku soube que estava perdido. — Quero conversar um pouquinho com o meu marido. 

Após frisar tais palavras, Tomura andou a passadas rápidas até Izuku, segurando seu braço com força.

— Me solta! 

Aquilo só fez o aperto de Tomura se intensificar.

— Qual parte do papo de "você é meu", você não entendeu? Qual é o teu problema? 

Izuku sacolejou, mas respirou fundo, tomando coragem o suficiente para empurrar o peito de Shigaraki. Os olhos nublados pelas lágrimas de raiva. Era só isso que ele sentia no momento: rancor. 

Embora, quando olhava naqueles olhos cruéis, ele não sentisse nada exceto medo. Um pavor intrínseco.

Deveria ter dado um fim naquilo há muito tempo. Não tinha coragem antes, mas agora, encontrava uma força da qual não sabia de onde vinha. Na verdade, talvez fosse proveniente da ideia de que ele tinha por quem lutar ainda mais. Se antes era pela sua mãe, agora era por ele e por Katsuki. Tinha um propósito, e não poderia continuar naquela vida, definhando a cada dia até que não estivesse mais ali.

— Já disse para não tocar em mim! — berrou, estapeando as mãos de Tomura que tentavam lhe tocar novamente. — Eu não sou um objeto para te pertencer, caralho!

— Que porra você está fazendo?! — indagou irritado ao ver Midoriya andar em direção a porta, segurando a maçaneta.

— Eu vou embora! — gritou novamente, sua garganta raspou. Retirou com fúria a aliança brilhante da mão esquerda, jogando para o chão. Ambos ouviram o baque que a mesma fez. — Acabou, Shigaraki. Quero a porra do divórcio e quero que suma da minha vida. Nunca mais quero olhar para a sua cara nojenta de novo.

Aquela foi a deixa de Midoriya, que estava pronto para sair com o peito livre de quaisquer sentimentos negativos. Mas tudo escureceu quando foi empurrado com força contra a porta. Bateu as costas e cabeça, ficando grogue e vendo tudo turvo.

O que você disse, filho de uma puta larga? — suas bochechas foram comprimidas entre os dedos gélidos do homem. Novamente, Tomura bateu sua cabeça contra a porta, e Midoriya antes de sentir totalmente a dor, jurou ouvi-la crepitar. — Seu merda do caralho. Eu te ajudei quando você precisou. Te ajudei quando a puta da sua mãe enchia o rabo de cachaça e não tinha nem onde cair morta. Eu te sustentei, desgraçado. 

— Não fale assim dela... 

Midoriya engoliu a seco. Embora estivesse com medo, ele não podia simplesmente ouvir sua mãe ser difamada daquela forma e ficar calado. Doía ouvir aquelas palavras cruéis tanto quanto a dor insuportável de sua cabeça.

— Eu fui uma boa pessoa pra você, e é assim que me paga? — as mãos grandes seguraram o pescoço branco de Izuku. Apertaram, e logo Midoriya sentiu o ar faltar, entrando em desespero. — Você não pode terminar comigo. Você é meu, ouviu? Meu.

Vá se foder. — murmurou, entredentes. 

Seus pulmões já não recebiam ar corretamente, e seu rosto passou e ficar vermelho. Naquela hora, ele pensou em Bakugou. Reunindo a pouca coragem que ainda havia em si, ele cuspiu no rosto de Tomura.

O homem abriu os olhos que até então tinha fechado. Afrouxou o aperto no pescoço de Izuku, que tossiu incessantemente. O semblante de Shigaraki beirou a raiva e a humilhação. Quando viu que Midoriya não mais se sujeitava a seus caprichos, ele soube o real motivo. Soube porque o viu beijar aquele doutorzinho, e soube o que se passava na cabeça de ambos.

E imaginar aquilo, foi a gasolina jogada sobre uma ferida, inflamando o fogo da ira de Shigaraki. Foi o suficiente para que ele limpasse o rosto e descesse o punho sobre a face de Midoriya com força o suficiente para desnorteá-lo e quebrar um nariz.

— Você está apaixonado por aquele bosta, não é? — Izuku nada disse, levantando o rosto lentamente para tentar encará-lo. Segurou o nariz que jorrava sangue. O silêncio do outro disse tudo o que Tomura não queria ouvir.  Em sua cabeça, fantasiou inúmeras coisas. — Eu sabia. Não poderia esperar menos de um verme como você. — cuspiu no chão. — Vocês me enojam.

— Ah, sério? — em meio ao desespero e raiva, Midoriya gargalhou. Um riso carregado de escárnio. — Como pode ter nojo dos outros, mas não de você? E não perca seu tempo esperando gratidão da minha parte. Não mais.

Shigaraki arregalou os olhos, indo para cima de Izuku novamente. Izuku tentou correr na direção oposta, mas teve seu braço segurado pelo outro. Em tantos puxões, ele tentava se soltar. Quando não viu escapatória, agarrou com a mão direita o vaso que ficava na entrada da porta, desferindo sobre a cabeça de Tomura.

Tomura colocou as mão sobre a cabeça, notando que tinha cortado a testa. Olhou irritado para Midoriya, que correu rápido, subindo pelas escadas e quase tropeçando nos degraus. Mas antes, pegou um caco grande do vaso no chão.

"Ele vai me matar. Ele vai me matar". Izuku repetia para si mesmo como um mantra. O semblante de desespero enquanto ia abrindo as inúmeras portas daquela casa no intuito de se esconder em uma. Repetia aquelas palavras não porque queria ser morto por ele, óbvio, mas sim porque queria viver. Ia sair daquela situação.

Tinha que ser forte.

Abriu a porta de correr do guarda-roupas, escondendo-se entre as roupas velhas e empoeiradas. Deixou uma pequena fresta para respirar melhor e enxergar, mesmo que pouco, o quarto.

Naquele silêncio quase fleumático, ele ouviu os passos pesados de Tomura. Passos que se igualavam a um arrastar pelos corredores. Como um verdadeiro cenário de filme de terror, Izuku sentiu o nariz latejar. Ouviu baixinho as outras portas dos quartos serem abertas lentamente, fazendo ruídos externos e finos.

Quando a porta do lugar onde estava foi aberta, ele segurou a respiração. O sangue escorrendo e manchando sua blusa cinza, a dor se tornando quase insuportável. Os passos de Shigaraki amassaram as tábuas quase podres do assoalho daquele quarto tão abandonado pelos anos. Um lapso de memória o atingiu quando notou o terrível erro que havia cometido.

— Não serve nem para tentar tampar o nariz, não é, seu merda? Tem do seu sangue imundo pela casa toda. 

Um barulho alto. Algo caiu ao chão.

Um martelo. Um martelo que tinha sido jogado por Tomura. Os olhos de Midoriya lacrimejaram pela dor do nariz e pelo medo. Estava tudo dando errado, ainda mais quando a porta do guarda-roupas foi aberta e, de soslaio, Izuku pôde ver a figura mórbida e pesada de Tomura.

Empurrou-o com força, na intenção de derrubá-lo ou ao menos sair dali. Sem muito sucesso, seu couro cabeludo ardeu ao ser segurado e o ombro também sentiu o baque quando sentiu o gélido chão abaixo de si.

— Você é louco — a voz trêmula disse. Tomura pegou o martelo, ajoelhando-se sobre Midoriya. Era um peso gigantesco.

— Só agora que descobriu? — disse, sorrindo. As lágrimas novamente embaçaram a visão de Izuku. A cabeça doeu. — Eu confiei em você. Eu estava te dando todo o meu amor e carinho e você me faz algo assim.

— Mentiroso... — sentiu o ar cortar, e o martelo bater ao lado de sua cabeça. Conseguiu desviar a tempo.

— Eu te amei. Eu te ajudei. — a cada palavra desferida de forma lenta, o chão sentia o impacto do martelo, mais precisamente ao lado da cabeça de Midoriya, que não soube da onde tirou mais forças para desviar de todos aqueles golpes. Não sabia se era o medo ou a vontade de sobreviver que falou mais alto.

— Cale a boca! — com um grunhido alto, Izuku jogou o joelho nas costas de Shigaraki com força. O homem pareceu desnorteado, mas não saiu de cima de si. Lembrou do caco de vidro que pegara, levando a mão até o bolso. Agora, era uma verdadeira questão de sobreviver. Sobreviver mais uma vez àqueles intensos ataques que perduraram por anos. — Você não me amava. Não se destrói a pessoa que se ama dessa forma todos os dias.

Tomura arregalou os olhos ao sentir a dor latejante em sua perna esquerda. Midoriya havia enfincado com força o caco no local, arrastando-o e cortando a pele da coxa. Shigaraki urrou, caindo de lado, tentando estancar o sangue que saía em tanto excesso.

Midoriya se viu livre de todo aquele peso e levantou-se na mesma hora. Olhou atordoado e com a cabeça latejando para o homem se contorcendo no chão. Sentiu mais uma gota de suor se mesclar ao seu sangue, tornando tudo aquilo uma nuance extremamente desagradável.

— Desgraçado! — gritou Tomura, rolando de dor no chão. — Filho da puta! Eu definitivamente vou te matar!

— Vá para o inferno!

O grito estridente pareceu deixar Shigaraki ainda mais irritado. Ele tentou se levantar e agarrá-lo, mas apenas pegou o ar e caiu de novo. Era questão de tempo até que Tomura fosse atrás dele.

Mas não pagou para ver aquilo. Saiu correndo do quarto, descendo as escadas em um desespero gigantesco. Tudo tremia, inclusive suas pernas. Sua cabeça e nariz latejavam, e ele só pensava em sair dali. Passara muito anos naquela casa que mais parecia o inferno, e agora, era simplesmente a hora de tudo acabar.

Então quando abriu com rapidez a porta, correu para fora com mais desespero ainda. O ar cheirava a chuva, e os pés descalços puderam sentir a frieza da calçada.

Embora sentisse dor em todos os pontos do corpo, principalmente em sua alma, o seu coração batia quase que aliviado ao perceber que se distanciava ainda mais daquela casa horrenda, cujas paredes foram palco de inúmeros anos de abuso, agressões e dor. Não sabia aonde iria aquele horário, mas quando a chuva caiu sobre sua cabeça, molhando seus cabelos e lavando o sangue, Midoriya soube exatamente onde precisava estar.

Tirou o celular do bolso e discou aquele número tão desconhecido, mas que ao mesmo tempo, sabia bem quem era. Quando a voz grave soou, ele deixou-se cair de joelhos no chão, com as lágrimas se misturando com a água.

— Kacchan? — soluçou. Um trovão cortou o céu. — Eu preciso de você.

Olhando para cima e recebendo diretamente as gotas no rosto, Izuku gritou alto, mas os trovões camuflaram seus gritos de alívio.

Katsuki estava vindo. Sentia que estava livre. 

Então, naquele temporal, Midoriya Izuku chorou e gritou como nunca antes, como se a chuva pudesse lavar dele todas aquelas lembranças dolorosas que um dia fizeram parte de seu ser. Chorava por perceber que estava vivo mais um dia.


Notas Finais


É isso aí.

Espero que tenham gostado. Vou estar respondendo os comentários do capítulo anterior enquanto vcs leem esse.

Gente, quero que me digam se estou abordando bem esse assunto. Eu realmente quero tratar ele com cuidado, e não de qualquer forma, então espero que sim. Esse capítulo foi uma verdade, pois no mundo inteiro, mulheres são vítimas de feminicídio. Infelizmente, nem todas conseguem sair dessa como o Midoriya nesse capítulo. Eu odeio pensar nisso, mas é um medo que nós, mulheres — principalmente — compartilhamos diariamente.
É nós por nós, e força! Você não está sozinha, lembre-se.

Qualquer coisa, gritem. Tô sempre por aqui.

Bejão~


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