Eu estava em um beco escuro e sua voz ecoava. O som causava um frio agonizante em minha espinha. Por mais que eu corresse,parecia que ele chegava cada vez mais perto de mim,até que suas mãos alcançaram meus ombros e me viraram em sua direção.
- Eu disse que te buscaria até no inferno,fedelha! - Harper disse com um sorriso no rosto que me fez cuspir em sua cara.
Ele me jogou no chão e me fuzilou com o olhar.
- Agora eu vou terminar o que comecei. - Ele apontou a arma em minha direção e meu desespero falou mais alto,me fazendo chorar compulsivamente.
- Mariah! Mariah! - Uma voz feminina ecoava. - Mariah,acorda! - Nina me sacudiu mais forte e eu abri os olhos dando de cara com seus olhos azuis me encarando.
Eu estava deitada no sofá e senti o suor escorrer em minha testa.
- Tava em uma maratona? Meu Deus,você está muito suada! - Disse levantando da ponta do sofá,onde estava sentada. Eu não respondi,estava tentando normalizar as batidas do meu coração. Eu estava amedrontada. - Hey,está tudo bem?
Apenas balancei a cabeça dizendo que sim. Sentei no sofá e passei as mãos pelos cabelos,respirando fundo.
- Olha,eu preciso de uma ajudinha sua.
- Pode dizer.
- Eu preciso do carro e liguei para o Dave. Ele disse que o Krist vai me acompanhar para ver o conserto,só que hoje é sábado e é dia de lavar roupa. Preciso que vá na lavanderia para mim.
- Ah,eu vou sem problemas. - Respondi,me levantando.
- Ah,obrigada! Eu preciso ir agora. Até mais tarde. - Ela se despediu,animada. Eu sabia que era por causa do Krist.
Quando Nina bateu a porta,me dei conta de que ela não tinha me dito onde ficava a lavanderia. Eu teria que descobrir sozinha.
Tomei um banho e coloquei roupas limpas. Quando estava pronta,peguei minhas roupas e as roupas de Nina e depois peguei o dinheiro que ela tinha posto em cima da mesa de centro da sala. O coloquei no bolso da minha calça jeans e desci as escadas do prédio. Pedi informação para as primeiras pessoas que encontrei na rua e consegui encontrar a lavanderia.
Era manhã de sábado,a lavanderia estava cheia e eu não estava em meu melhor humor. Aquele pesadelo tinha mexido comigo. Eu ainda estava assustada e isso me deixava aérea,sem prestar atenção nas coisas e isso era um problema para mim,já que essa lerdeza me atrapalhava.
Assim que uma das máquinas de lavar ficou livre,levei minha cesta e coloquei em cima da tampa dela. Fui até a máquina de fazer o pagamento e quando voltei para a máquina de lavar,uma senhora de cabeça raspada e delineado estilo Cleópatra tinha tirado a minha cesta e posto a dela.
- Com licença,eu estava nessa máquina! - Falei pegando minha cesta de onde ela tinha posto.
- Agora não está mais.
Arqueei as sobrancelhas. Que mulher mais folgada!
- Mas eu reservei! Coloquei a minha cesta em cima! - Retruquei.
- Não importa. Não vejo sabão dentro da cesta. - Respondeu,mexendo em suas roupas sem olhar para mim.
- O que? - E a bendita lerdeza apareceu para me atrapalhar.
- Sem sabão,sem reservas. Entendeu? - Disse a mulher,me olhando como se eu fosse uma retardada.
Naquele momento me senti uma idiota. Eu não sabia de nada,não pedia informação e tinha acabado de perder a minha máquina de lavar. Fechei a cara e peguei minha cesta virando com tudo e esbarrando em alguém.
- Ai! Cuidado! - Eu conhecia aquela voz. Me virei e vi que era ninguém menos que Dave.
- Desculpa. - Respondi mal-humorada.
- Suas roupas já estão secas? - Ele perguntou num tom curioso.
- Não,na verdade eu nem lavei. - Suspirei.
- Que estranha você,hein? Vem para a lavanderia e não lava a roupa. - Ele deu uma risadinha.
- Não! - O fitei zangada. - Aquela mulher pegou a máquina. - Apontei para a mulher como uma criança aponta para alguém que a chateou.
- Sua cesta estava em cima? - Perguntou,seriamente.
- Sim,mas ela disse "Sem sabão,sem reservas". - Revirei os olhos.
- E daí?
- E dai? - Franzi o cenho.
Dave olhou seriamente para mim e depois para a mulher e andou até ela.
- Ei,essa máquina é da minha amiga. - Disse fechando a tampa da máquina,impedindo que a mulher colocasse suas roupas dentro.
- Não tinha sabão.
- Minha senhora, - deu uma risada debochada - mentir é feio,hein? - mascou seu chiclete. - A regra não é essa. E sabe disso. - Levantou uma das sobrancelhas.
A mulher o olhou com certo desdém,mas acabou cedendo e pegou seu cesto,saindo de forma rude. Dave olhou para mim e sorriu,acenando para eu ir até lá. Mesmo estando em um dia nebuloso,eu sorri. A atitude dele tinha sido muito legal.
- Obrigada. - Peguei as roupas e as joguei dentro da máquina.
- Por nada! - Ele olhou para as roupa e depois para mim. - Acho que você precisa de sabão. - Então,pegou sua caixa e me entregou.
Sorri sem graça. Como uma pessoa lava roupa sem sabão,hein,Mariah?
- Acho que alguém não sabe lavar roupa. - Zombou.
- Cala a boca! - Resmunguei e voltei para meu serviço.
As roupas terminaram de bater e eu as coloquei na secadora. Quando estavam totalmente secas,as coloquei de volta na cesta e caminhei até Dave,que estava de frente para a sua secadora,mas houve um problema. O idiota não me viu e quando eu cheguei perto dele,o mesmo abriu a portinha da secadora e por ela ser no alto,bateu com tudo na minha testa,me fazendo cair no chão,zonza,e com uma dor insuportável na testa.
Ele arregalou os olhos e agachou do meu lado.
- Machucou? Me desculpa,eu não te vi mesmo! Estava distraído!
Minha cabeça doia tanto que eu não tinha forças para xingá-lo ou responde-lo. Aos poucos várias pessoas foram se aglomerando ao meu redor. Coloquei a mão na testa,tentando amenizar a dor,mas foi em vão.
- Você esta se sentindo tonta ou qualquer outra coisa? - Perguntou enquanto tirava minha mão de minha testa e a olhava.
Tentei me sentar,mas fui invadida por uma tontura muito forte e tudo começou a ficar preto e só me lembro de ver a cara de preocupação de Dave antes de desmaiar.
...
Abri os olhos e não reconheci onde estava. Levantei levemente a cabeça e vi que estava em um apartamento que era do mesmo "modelo" do de Nina,a diferença era que ali tinha um bagunça generalizada. Forcei minha mente para tentar lembrar onde estava e o que estava fazendo ali,quando vi Dave entrar no cômodo.
- Ah,você acordou! - Ele apertou o passo e sentou ao meu lado no sofá. - Como está se sentindo? - Me analisou,o que me fez ficar um pouco sem graça e colocou um saco de gelo em minha testa.
- Eu tô bem. - Suspirei e aos poucos a memoria foi voltando. - Obrigada pela porrada. - Ironizei e peguei o saco de sua mão.
- Foi sem querer! Desculpa! - Disse sério,o que me fez perceber que ele realmente estava culpado.
- Por que não me levou para o hospital?
- Porque eu teria que colocar seus dados em uma ficha,mas nem seu nome eu sei! Eu simplesmente peguei as roupas e te trouxe para cá.
E naquele momento eu percebi que a única coisa que eu sabia sobre ele era: Dave,do Nirvana,apenas.
- Meu nome é Mariah West,tenho dezoito anos e sou de Tacoma.
- Dave Grohl,de Virgínia e baterista do nirvana.
- Dave Grohl... Tão lerdo que dá uma porrada na testa de meninas indefesas.
- Mariah West,uma menininha de dezoito anos que nem sabe lavar roupas.
Revirei os olhos.
- Quantos anos você tem? - Perguntei.
- Vinte e dois.
- Ah. - Fechei os olhos ainda deixando o saco de gelos na testa.
Senti que Dave estava me olhando e abri os olhos.
- O que é? - Perguntei num tom rude.
- Tem certeza que está bem?
- Eu tenho! Só estou com um pouco de dor de cabeça e um galo enorme... Eu suponho.
Ele tirou minha mão que segurava o saco de gelo de minha teste e a observou.
- Ah... Ele não interfere na sua beleza.
Pera aí... Ele tinha me elogiado? Naquele momento fiquei sem graça e não respondi nada.
- Acho melhor eu ir embora. - Me levantei,sentando no sofá.
- Não vou deixar voce sair sozinha desse jeito.
- Qual é? Nao sou uma criança!
- Mas você bateu a cabeça! Não posso deixar você dormir de novo e tenho certeza que a Nina vai demorar a chegar. Ela e o Krist devem estar ocupados.
- Ah,é mesmo.
Sem opções,deitei novamente. Talvez não fosse tão ruim ficar com ele.
- Você e a Nina são parentes?
- Não.
- São amigas?
- Mais ou menos.
- Por quê?
- Porque eu só a conheço há dois dias.
- E já mora com ela?
- É porque eu cheguei em Seattle há dois dias e não tinha onde morar.
- E por que...?
- Por que está tão interessado? - O interrompi.
- Ué,só quero saber quem esta na minha casa. Vai que você é uma assassina em série. - Falou com uma falsa preocupação.
- Se fosse eu teria te matado ontem mesmo.
- E por quê? Eu fui tão gentil com você!
- Ah,com certeza! - Revirei os olhos e ele levantou do sofá.
- Vou comprar meu almoço,fica aí e eu já volto.
E então ele simplesmente saiu novamente me deixando sozinha. Aproveitei sua saída e peguei as roupas,dando no pé dali.
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