Naquela noite eu mal dormi,a felicidade de saber que eu não era totalmente sozinha me animou muito. Passei parte da madrugada na casa de Sean,conversando com ele e meus irmãos. Eles me contaram vários acontecimentos e momentos legais da família. Meu coração ficava aquecido ao pensar que logo logo eu teria momentos inesquecíveis ao lado deles também.
Apesar de ter dormido poucas horas,fui para a lanchonete super disposta de manhã. Nina percebeu minha felicidade de longe e me perturbou o dia inteiro para contar o que era,porém,eu prometi que só contaria quando estivéssemos juntas com nossos amigos para todos ficarem sabendo de uma vez.
À noite,quando saímos do serviço,fomos para a casa de Krist. Lá eu contei a novidade e todos surtaram. Eles não só ficaram doidos com o fato de eu ter irmãos,como também pelo fato do meu irmão ser justamente Mike Starr. Claro que todos disseram que ele era muito safado para ter eu como irmã,mas depois pararam de brincadeiras e mostraram como estavam felizes por mim. Nina adorou jogar na minha cara que já tinha transado com meu irmão e o restante me zoou por terem conhecido ele primeiro que eu. Obviamente levei todas aquelas brincadeiras numa boa.
Depois da explosão de felicidade na casa de Krist,Dave e eu fomos finalmente para a casa deles passar a noite juntos. Enquanto ele tomava banho,eu pensava sobre o que faria em relação ao meu padrasto. Eu tinha muitas opções sobre o que fazer: Podia contar tudo para meus amigos e irmãos,poderia denuncia-lo,poderia arrumar uma desculpa para voltar a morar com Nina ou ir morar com Dave,mas,mesmo tendo todas essas opções,eu corria um grande risco. Ele tinha me ameaçado e ameaçado a vida de Dave e Nina que,até então,eu não fazia a miníma ideia de como meu padrasto sabia da existência deles. Se ele sabia quem era Dave,deveria saber que ele fazia parte do Nirvana,sendo assim,Kurt e Krist poderiam vítimas dele.
Eu estava sentada na ponta da cama,presa em meus pensamentos ouvindo a música que saia do rádio,quando Dave apareceu de pijama secando o cabelo com uma toalha.
- Está pensando no seu irmão? - Ele perguntou,se aproximando.
- Estou pensando neles,nos meus pais... - O fitei.
- Eu ainda não acredito que você conseguiu encontra-los. - Sorriu. - É surreal a forma como o destino fez isso.
- Pois é! - Sorri,animada. - O destino me fez conhecer vocês e meus irmãos numa tacada só.
- Ainda bem. - Ele jogou a toalha longe e se jogou na cama. - Chega pra cá,quero ficar agarrado com você a noite toda. - Ele bateu na cama,pedindo para eu me juntar a ele.
Sem perder tempo,fui para o lado dele e me aconcheguei em seu abraço. Era incrível como nosso corpo tinha o encaixe perfeito. Eu podia sentir a respiração quente dele batendo contra minha cabeça,me fazendo sorrir. Seus braços me prendiam fortemente,me dando sensação de segurança em estar ali. Eu sentia que podia e devia contar qualquer coisa para Dave,e foi naquele momento que eu tive uma decisão importante.
- Dave? - Chamei.
- Diga.
- Eu não quero dormir. - Levantei minha cabeça para poder olhar em seus olhos.
- Por que? - Ele franziu o cenho,confuso.
- Eu preciso aproveitar esse momento,nós dois.
- Ainda não estou entendendo. - Ele ergueu uma das sobrancelhas,parecendo confuso.
Bufei e me sentei na cama,o olhando.
- Dave,eu te amo.
- Ai,minha linda! Eu também te amo. - Ele sorriu,levantando para me beijar,mas eu o impedi.
- Não! Fica aí! - O empurrei para deitar novamente. - Eu te amo e não tenho palavras para dizer o quanto esse amor é grande. Você é sem duvidas uma das pessoas mais importantes para mim e eu quero sempre te proteger de tudo e de todos.
- Amor...
- Ainda não terminei. - Suspirei. - Eu sei como é perder pessoas importantes e isso só me fez querer aproveitar intensamente as pessoas e os momentos. Eu fico doida de pensar que um dia posso acordar sem ter você comigo.
- Ei, - Dave se sentou,colocando as mãos em meu rosto - você nunca vai acordar sem mim. Eu sempre vou estar contigo,pode ter certeza! Eu até arrisco dizer que... Você é o amor da minha vida,mulher! - Ele sorriu. - Pode ter certeza que eu vou sempre fazer seu dia valer a pena. E sempre vou te proteger. - Ressaltou,olhando em meus olhos. - Só não fale como se um dia nós fossemos nos separar!
Sorri sinceramente ao ouvir todas aquelas palavras. Era confortante saber como Dave era sincero comigo sobre seus sentimentos,mas doía saber que ele poderia estar em perigo por um assunto que não tinha nada a ver com ele. Num impulso,me sentei no colo dele,o deixando no meio de minhas pernas e o abracei muito forte. Respirei fundo para sentir o cheiro gostoso do shampoo que ele usava e tentei memorizar como era bom sentir seus braços circundando meu corpo.
- Promete que nunca vai deixar de me amar? Não importa o que aconteça? - Perguntei. Dave colocou as mãos em minha cintura e se afastou até poder me olhar nos olhos,mostrando sua leve confusão.
- Claro que nunca vou te esquecer,minha esquentadinha. Mas... Por que está dizendo isso?
- Então... Quer saber como foi a minha vinda para Seattle?
- Você vai mesmo falar sobre o assunto que eu estou pensando ser? - Ele perguntou,claramente surpreso.
- Sim. - Assenti. - Então...
- Não! Calma aí! Preciso me preparar para isso. - Disse,começando a alongar o corpo,suspirando e expirando. - Pode falar agora.
Respirei fundo,já sentindo meu corpo dar sinais de nervosismo.
- Bom,eu estava em casa com a minha mãe. Estávamos vendo TV e meu padrasto estava no bar da vizinhança,como sempre. Até então,estava tudo bem,até que ele chegou em casa. Ele ordenou que minha mãe fosse fazer sua comida e se jogou no sofá,me pedindo o controle remoto de uma forma bem petulante.
- Continua! - Pediu,concentrado no assunto.
- Minha mãe fez e como costume ele provou. Se ele gostasse,estava tudo bem,mas se não gostasse,ele batia em minha mãe. E para variar,naquele dia ele não gostou e quando começou a gritar com ela,minha mãe levou o olhar até a escada,me mandando subir para não vê-la apanhando.
- Caramba... Que nojento esse cara. - Disse Dave,cheio de repulsa.
- Então eu subi e a porrada começou. Do meu quarto era possível ouvir os xingamentos,o barulho das coisas quebrando... - Suspirei,sentindo todo o meu corpo se arrepiar ao lembrar do fatídico momento e também por saber que eu finalmente contaria a verdade a alguém. - Foi infernal. - Respirei fundo. Percebendo minha aflição,Dave segurou minhas mãos,me ajudando a continuar. - Minha mãe o xingou e foi aí que tudo desandou.
Olhei para Dave,que me olhava com expectativa. Ele esperava que eu falasse,mas algo em mim tinha medo das consequências de meu ato.
- E o que houve? - Questionou,apertando minhas mãos.
Respirei fundo,mas aquilo estava entalado em minha garganta. Eu não imaginava que fosse tão difícil contar aquilo,falar sobre aquilo...
- Dave... - Um nó se formou em minha garganta,mostrando que logo eu seria envolvida pelo choro compulsivo.
- O que aconteceu,fala para mim. - Ele me olhou atenciosamente. - Você sabe que precisa colocar isso para fora de uma vez,Mariah.
- Ele matou minha mãe. - Gritei,soltando minhas mãos da de Dave.
Ele me olhou confuso,parecendo receoso em tirar suas conclusões.
- Ele quem?!
- O desgraçado do meu padrasto! Foi ele que matou minha mãe! Eu escondi isso o tempo todo porque tinha medo! A verdade é que quando eu ouvi o barulho de tiro estava arrumando uma mochila porque eu estava determinada a tirar minha mãe dali,mas corri para o andar de baixo e vi minha mãe caída em meio a muito sangue. Meu padrasto veio atrás de mim ameaçando me matar,mas minha mãe conseguiu subir para despista-lo e aí e aí ela se foi! Só deu tempo de eu pegar minhas coisas e pular da janela. Assim que ele me viu fugindo,gritou que iria me procurar até no inferno! Eu fugi para Seattle e desde então tenho pesadelos com ele! - Gritei. Pela primeira vez desde a morte de minha mãe eu estava me sentindo leve. Leve por ter tirado todo aquele peso de minhas costas.
Me levantei da cama e chorei muito. Chorei tudo o que eu precisava. Eu estava descarregando todo aquele sofrimento. Dave ainda estava sentado na cama,imóvel. Estava em estado de choque. Fui para a cozinha e apoiei minhas mãos na pia,deixando as lágrimas rolarem. Ouvi passos e senti as mãos de Dave em meus ombros,me puxando para um abraço. Coloquei toda a minha tristeza para fora. Eu chorava não só por tristeza,mas de alivio por estar finalmente deixando de sofrer sozinha. Eu não estava sendo justa comigo mesma.
Depois de finalmente parar de chorar,me sentei na mesa da cozinha e Dave preparou um chá. Enquanto eu bebia ele estava quieto,provavelmente pensando.
- Mariah. - Suspirou. - Eu vou na polícia.
- O que? - Arregalei os olhos.
- Esse cara merece ser punido! Não posso saber que o homem desgraçou sua vida e vai sair impune.
- Mas Dave...
- Não! Eu vou,já decidi!
- Dave,não é assim!
- Como não é assim?! Quer defender ele?
- Não! Claro que não!
- Agora eu entendo que você nunca procurou saber do que houve com sua mãe,se alguém soube do assassinato... Tudo por medo! Mas agora você não esta sozinha mais! Eu vou denunciar esse cara! - Falou,decidido.
- Dave,você não pode fazer isso! - Aumentei o tom de voz. - Nos não sabemos do que ele é capaz de fazer!
- Olha,Mariah,me desculpe,mas eu vou...
- Ele está em Seattle! - Gritei. - Ele está em Seattle e apareceu lá em casa outro dia. - Contei,colocando o copo em cima da mesa.
- Por que você não me contou isso?! - Ele se levantou,parecendo transtornado. - O cara que matou sua mãe e te ameaçou de morte aparece na sua casa e você não fala para ninguém! Está maluca? - Gritou
- Dave,ele me ameaçou de novo! - Gritei de volta.
- E dai?! Eu vou agora denunciar esse cara! - Começou a andar de um lado para o outro. - Cara,eu vou acabar com a raça desse maldito! - Passou as mãos pelo rosto,nervoso. - Eu não acredito que ele foi capaz de te achar!
- Dave,ele me ameaçou... Mas ele também ameaçou você e a Nina. - Nesse instante ele me olhou mais pilhado ainda.
- Mas... Como ele sabe de nós? - Questionou.
- Eu não sei! Eu não faço ideia,Dave. É por isso que eu não quero que você se meta nisso. Eu não quero que aconteça algo com os meus amigos.
- Aconteça o que acontecer,eu não vou desistir de colocar esse cara na cadeia! Me desculpe,mas eu vou tomar uma atitude. - E então,ele saiu,me deixando sozinha na cozinha.
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