"Talvez seja a maneira como você diz o meu nome
Talvez seja a maneira que você joga o seu jogo
Mas é tão bom, eu nunca conheci ninguém como você"
AINDA EM 8 DE MARÇO
Sabe aquela cena de Titanic quando as pessoas que estão no mar tentam se salvar mas as águas profundas e gélidas não permitem que isso aconteça? Ou aquelas cena de Pânico em Alto Mar que o grupo de amigos percebem que a escada para voltarem para o barco não foi abaixada e por conta disso eles não conseguem voltar para o aconchego e segurança da embarcação? Gerando um pânico naqueles seres humanos que antes festejavam e vendo que a única coisa abaixo de seus pés é um abismo profundo, precisando fazer de tudo para se manterem na superfície e não se afogarem. Kaori se sentia assim, sem escapatória e tendo que gastar todas as suas forças para sobreviver, se sentia pior ainda pela sensação de solidão extrema, para ela nunca teria alguém para puxar sua delicada mão e a tirar das águas gélidas. Podia ter a amizade de Renji, o namoro com Gaara e mais uns gatos pingados como amigos, mas mesmo assim se sentia completamente sozinha. Ninguém sabia o que acontecia dentro daquelas paredes azul-bebê de sua casa, consequentemente não teria nenhum príncipe para a salvar ou algum bandido metido a marrento como o José Bezerra de Enrolados. Shiomi não possuía nem ao menos uma irmã gêmea rica para trocar de lugar como em Barbie em A Princesa e a Plebeia, realmente não havia luz alguma no final do túnel de sua vida.
Esperava estar em mais um dia como os outros, esconder a dor física que sentia com um sorriso no rosto, ameaçar bater em alguém, discutir com Gaara, receber cafuné de Renji, xingar Akari de alguma coisa, ir trabalhar em dois empregos até 23h da noite, deitar em sua cama desconfortável e desmaiar de sono, isso se seu pai não desejasse a usar como saco de pancadas como na noite anterior. Contudo, seus planos foram mudados abruptamente por conta de um Mizushima Gaara comandando — mais uma vez — parte de sua atual vida. Agora, ao invés de estar correndo para seu serviço na sorveteria perto da pracinha principal da cidade, estava confortavelmente sentada no luxuoso carro do namorado. Gaara estava com um olhar emburrado por conta da briga que tivera mais cedo com Chiziwa Akira, contudo, esboçava ao mesmo tempo um sorrisinho de lado enquanto girava o anel colocado em seu dedo médio. Shiomi sabia que namorado estava aprontando alguma surpresa pela expressão, mas o fazer contar algo era mais difícil do que escalar o Monte Everest.
— Que sorriso é esse aí? Está planejando terminar nosso namoro de fachada e por isso está tão feliz? — Questionou o garoto enquanto o encarava com uma sobrancelha arqueada, ouvindo ele soltar uma risadinha fraca.
— Não sou nem um pouco maluco de terminar com você, é apenas porque estou te imaginando no vestido que encomendei para fazer, além claro dos outros que vou comprar para você hoje. — O garoto sorriu confiante, de fato o que havia pedido ia cair perfeitamente na namorada e ela ficaria mais bonita do que qualquer outra mulher nesse mundo. Contudo, desde que o dia começou, Gaara percebeu que Kaori parecia muito distante, o que o preocupava por mais que negasse tal sentimento. — Você está estranha hoje, Renji me disse que você parecia estar com dor. Aconteceu algo? — A questionou com uma certa preocupação em sua voz, fazendo um breve carinho no rosto de Kaori, a qual fechou os olhos por um momento enquanto negava com a cabeça.
— Só estou cansada, me manter em dois empregos não anda sendo nada fácil. — Suspirou, em partes era verdade, o cansaço a dominava diariamente e não suportava mais ter que se esforçar tanto para ainda ter uma casa. Contudo, Gaara sabia muito bem que não era apenas aquilo que incomodava sua garota, tinha algo a mais e que ele não sabia como a convenceria a falar.
— Você nunca vai falar o que acontece em sua vida, não é mesmo? — Pensou alto, se demonstrando frustrado. Queria apenas a ajudar, mas como isso seria possível se ela recusava tudo o que ele tentava?
— Não tenho o que falar. — Kaori soltou de forma direta, apertando seu próprio punho como forma de ir retirando a tensão. — Ainda bem que me chamou para dormir na sua casa hoje, eu ia pedir de qualquer forma. — Confessou, desviando de assunto, rindo ao notar Gaara a encarando com um feição abismada por ela ter mudado de assunto na cara de pau.
— Querida senhora dos segredos que nunca quer me contar, por mim você dormia em casa sempre, obrigada por ter aceitado ir hoje. — Ambos não queriam ficar sozinhos naquela noite, Gaara estava a salvando e nem imaginava isso. O garoto soltou um sorriso ao notar que haviam finalmente chegado na loja. — Espere aqui, não abra essa porta ainda se não eu vou ficar chateado. — A avisou sério, saindo do carro enquanto corria até o lado da porta de Kaori, logo a abrindo para a garota.
— Mizushima Gaara sendo romântico? Acho que o fim dos tempos está cada dia mais próximo. — O encarou com um olhar desconfiado, saindo do carro enquanto observava o ambiente ao seu redor. Era uma rua apenas com lojas de grife, como Gucci, Chanel, Louis Vuitton, dentre outras marcas conhecidas por serem apenas para a nata da sociedade. Se sentia até um pouco desconfortável, estava vestida com seu jeans surrado, um tênis branco que estava um pouco sujo e para completar um moletom preto com personagens de Scooby Doo estampados, uma relíquia que havia ganhado de sua mãe antes dela falecer.
— Amor, sei que está desconfortável vestida de pobre, me perdoa não ter avisado antes, se quiser eu compro alguma roupa aqui para se trocar. — Gaara tentou aliviar o clima, mas se encolheu ao ver a expressão feroz no rosto da namorada, desviando no último segundo do tapa que ela havia tentado dar em seu braço. — Ei ei ei lobinha, tenha calma, eu não quis ofender. — Choramingou levantando as mãos em sinal de rendição.
— Lobinha é a porra da tua……….da tua…….da tua irmã. — Gaguejou pensando em quem ofender, Kaori não ia com a cara de ninguém da família Mizushima além do garoto, mas achou que ofender a mãe seria demais até pra ela e afinal, quem é que gostava das três bruxas que eram as irmãs Mizushima?
— Que porra de boca suja viu, tsc tsc. — Gaara fez um barulhinho de negação com a boca enquanto balançava a cabeça, também negativamente, o que gerou risadas em Kaori. Ele ficava feliz a vendo sorrir, descobria isso toda vez que conseguia ver tal cena genuinamente. Kaori andava com os olhos tão tristes, que qualquer mísera expressão de felicidade por mais breve que fosse, deixava o coração de Mizushima quentinho. — Seguinte pobre….quer dizer, meu amor, minha princesa, você vai naquela loja ali com o senhor Yamamoto e dizer que eu mandei você pra experimentar o vestido, já que ele é seu. — Disse apontando para a loja Valentino, a qual ficou famosa por fazer roupas customizadas sob medida além de suas próprias criações. — Enquanto isso eu vou na loja da Louboutin comprar um sapato que combine, sei que gostou mais dessa marca. — Sorriu, dando um breve selar na testa de Kaori e seguindo para a loja, enquanto o senhor Yamamoto, motorista de Gaara, acompanhou a garota até a outra loja.
Adentrou a loja maravilhada com tudo, nem percebendo que Yamamoto saiu para atender uma ligação, provavelmente de seus chefes. Olhava tudo com os olhos brilhando e apenas voltou para a realidade ao ver uma menina não muito mais velha que ela a olhando com desgosto.
— Posso ajudar? — Disse em um tom ríspido, fazendo com que Kaori a olhasse confusa, não entendendo o motivo da rispidez e procurando Yamamoto com os olhos.
— Pode sim, meu namorado mandou eu experimentar a encomenda que ele fez pra mim, está no nome de Misuzhima Gaara. — A respondeu tentando ser gentil, mas sua expressão se fechou ao notar uma risadinha vinda da garota, a qual tinha adornado em seu terninho preto característico da loja um crachá com seu nome, Nakamura Saotome. — Escuta aqui…Saotome… — Apertou os olhos para ler o nome daquela vendedora, o dizendo de forma ríspida tal como a moça a atendeu. — Não sei qual é a graça aqui, mas eu quero a encomenda logo, não estou com paciência pra aguentar gente mal educada. — A encarou friamente, torcendo os lábios para ao menos tentar controlar sua expressão desgostosa.
— Escuta aqui você garota, acha mesmo que vou cair nesse golpe? Utilizando o nome do senhor Mizushima ainda por cima. — Riu sarcasticamente, balançando a cabeça incrédula. — Vá pra fora daqui ralé, olha só pras suas roupas imundas, você é pobre, pobretona, paupérrima, não tem dinheiro pras roupas daqui não e ainda fica tentando dar golpe.
Pela primeira vez em sua vida, Kaori não conseguiu ter uma reação rápida, apenas olhou para suas roupas e para a cara daquela menina repetidas vezes, não acreditava que aquilo estava acontecendo. Realmente aquela segunda-feira estava sendo um tremendo inferno e como diz o ditado, nada é tão ruim que não possa piorar.
— Senhorita Shiomi, já foi experimentar o vestido que o senhor Mizushima comprou para você? Me desculpe precisei atender uma ligação de… — Se auto interrompeu ao notar o clima que a loja exalava, notando os olhos de Kaori começando a marejar. — Algo aconteceu?
— Que bom que o senhor chegou, essa menina aí quer dar um golpe na loja utilizando o nome do senhor Mizushima, por favor se puder retirá-la daqui, agradeceremos. — Saotome sorriu simpática para o homem, estremecendo ao notar que o olhar confuso de Yamamoto mudou para um de desprezo. — A-algo d-de e-errado, s-senhor? — Continuou sorrindo, mas agora estremecendo, Saotome olhava de soslaio para os lados, como se pedisse por ajuda.
— Sim, temos algo muito errado aqui. A senhora Shiomi é namorada do senhor Mizushima Gaara, ela veio buscar o vestido que foi feito especialmente para ela. Pode me explicar porque ela está quase chorando e toda encolhida? Ela não está aplicando golpe nenhum e eu não quero ser a senhorita quando essa situação chegar nos ouvidos do menino Gaara. — Disse concentrado em seu celular, pedindo para que Gaara viesse até a loja rapidamente. Notou Kaori caminhando cabisbaixa em direção a saída, envergonhada pelo que tinha passado e puxando seu moletom cada vez mais para baixo como se tentasse esconder sua calça surrupiada.
— Não senhor, me desculpe senhor, por favor me desculpe, e-eu realmente me equivoquei. Menina volte aqui, p-por favor….meu deus eu vou perder o meu emprego. — Saotome choramingava, Shiomi escolheu ignorar, se sentia tão envergonhada que apenas queria correr dali então fez seu caminho até a porta de saída olhando para o chão. Foi nesse momento que percebeu, ou dançava o ritmo da música ou caía fora do bonde, deveria começar a andar de forma mais elegante, vestir tudo o que o namorado compra de presente. Namorava um garoto que esbanjava dinheiro, tinha que começar a fazer jus a isso ou terminaria com ele. Foi dispersa de seus pensamentos ao sentir braços a rodeando, reconhecendo que era seu namorado pelo perfume.
— O que aconteceu? O senhor Yamamoto me chamou aqui, disse que era algo urgente. Por que está assim? Kaori, você está chorando? — A enxurrada de perguntas vieram salpicadas por preocupação, Gaara levantou delicadamente o rosto de Shiomi com a ponta de seus dedos, notando os olhos marejados.
— Eu quero ir embora Ga… — Disse em um tom baixo, em uma voz fininha e carregada de mágoa. Gaara sabia que ela só o chamava assim em raros momentos: quando estava com medo, quando queria dengo ou quando estava desarmada, vulnerável, sem toda a casca grossa que utiliza diariamente. Kaori esfregou a mão violentamente em seus olhos, sendo impedida de o fazer novamente assim que o namorado abaixou suas mãos e a abraçou apertado. Poderia ser escroto, cruel, desumilde, arrogante e várias outras coisas, mas com Shiomi era diferente, completamente diferente. Não parecia a mesma pessoa. A questão é que a loira despertou um lado seu que ele nem ao menos sabia que conhecia e por isso, em seu íntimo, queria a proteger das grosserias do mundo. Nunca havia visto sua namorada chorar, Kaori não chorava. Para ela estar daquela forma, algo que realmente a afetou aconteceu e Mizushima ia fazer de tudo para que o culpado fosse penalizado.
— Vamos comigo, sim? Eu prometo ser rápido e prometo que ninguém vai fazer você chorar novamente. Minha surpresa é tão linda, eu juro que eu mando exilar do país quem fez isso com você. — Enxugava as lágrimas de Kaori enquanto olhava furiosamente para dentro das vitrines da loja, vendo Yamamoto conversando com uma mulher elegante que aparentava estar descontente. Shiomi aceitou voltar, andando a passos pequenos atrás de Gaara, o qual segurava firmemente sua mão.
Assim que adentraram a loja, a mulher com quem Yamamoto falava se aproximou dos dois, pedindo mil desculpas pelo acontecido e que sua funcionária havia extrapolado os limites, e que levaria a punição necessária. Porém, ao saber de tudo que Saotome havia falado para Kaori e o jeito que olhou para a loira, Gaara olhou com desprezo para a menina vestida com o terninho que agora estava de cabeça baixa.
— Escuta aqui sua pobre imunda, sua porca do caralho, quem te deu o direito de tratar minha namorada assim, hm? Você pode até trabalhar numa loja de grife, mas você continua sendo um nada, uma zé ninguém. Se tem uma pessoa aqui que pode ser esnobe, sou eu, eu tenho dinheiro e você continua sendo uma pobre horrenda. E fique sabendo que a Kaori até vestida com roupas de segunda mão fica muito mais bonita que você nesse terninho ridículo. Eu deveria deixar minha namorada acabar com a sua raça, te fazer sair daqui numa maca, mas é pra ser um dia bom que infelizmente você, sua acéfala do caralho, estragou. Não quero mais nem olhar para a sua cara, eu só quero que minha namorada experimente o vestido que eu comprei de presente pra ela e nunca mais voltarei aqui.
O tom ríspido e expressão fria assustou todos daquela loja, até mesmo seu motorista. Já havia ouvido Gaara ser tão cruel quanto, mas nunca havia sentido tanta raiva na voz do garoto. Kaori sorriu brevemente ao vê-lo a defender e confessa que não sentiu dó alguma da garota que chorava copiosamente. A gerente da loja, a mulher bem vestida que falava com Yamamoto, disse que Mizushima estava com a razão e subiu posteriormente com Saotome para sua sala, mas não sem antes entregar a caixa com o vestido. Gaara não queria mais nenhuma das vendedoras por perto, ele mesmo ajudaria Kaori a colocar junto dos sapatos no tom dourado com cristais colados que havia comprado. Caminhando a passos leves até o provador, Kaori voltou a admirar o ambiente, soltando um suspiro ao se ver no grande espelho do provador. Não estava feia, mas também não estava em seu melhor momento.
Gaara a abraçou por trás, ajeitando ao mirar o espelho uma mechinha insistente do cabelo de Kaori que ficava caindo em seu olho. Ela poderia estar descabelada, com olheiras ou com qualquer outra coisa que consideram algo feio, ainda sim ele a achava a mulher mais linda do mundo. Não admitiria isso em voz alta nunca, mas é nítido em suas ações.
— Eu sei que normalmente faço isso em um outro momento, mas hoje você merece ser mimada e pode deixar que sua roupa eu tiro. — Soltou um sorriso malicioso de canto, depositando um selar no ombro já desnudo de Kaori. Mizushima a ajudou a tirar todas as peças de roupa que pudessem interferir na prova do vestido, não disfarçando o olhar desejoso ao ver o corpo da namorada, mas logo focando em seu objetivo principal. — Tudo bem lobinha, feche os olhos, só abra quando eu mandar.
E assim Kaori fez, sentindo o tecido fino e delicado passeando por seu corpo conforme Gaara ia ajustando. As alças finas, caindo quase que perfeito em seu corpo. Pelo visto, o japonês havia decorado todo o seu corpo para conseguir fazer um vestido que caísse tão bem nela. Ele também a ajudou a colocar os saltos, eram altos, um tanto desconfortáveis de início, mas ela já sabia que os saltos da Louboutin eram assim. Mizushima novamente a abraçou por trás, encostando seu queixo no ombro da namorada, sussurrando para que abrisse os olhos. Kaori não acreditou no que viu assim que mirou o espelho, vestia um vestido dourado com cristais cravejados, o reconhecia de longe, não havia como reconhecer. Se tratava da réplica perfeita do vestido que Marilyn Monroe usou no aniversário do presidente. Seus olhos marejaram novamente, não por estar triste como antes, mas sim por estar linda, nunca havia se visto de tal forma.
— Isso é….é tão lindo Gaara, tão, tão lindo. — Disse surpresa, não parando de se admirar e mexer no tecido. O namorado sorriu feliz com o fato de ela realmente ter gostado.
— Minha gata borralheira virou a Cinderela de vez agora, você está linda. — Orgulhoso, a virou para que ficassem de frente um para o outro, a beijando após limpar as lágrimas que caiam novamente no rosto da garota. — Agora pode parar de chorar por favor, eu nunca te vi chorar, eu estou começando a estranhar. — Fez uma careta, rindo junto com a garota.
— Se sinta privilegiado por isso, você sabe que nunca chorei na frente de ninguém. Inclusive estou odiando estar emotiva agora, que droga Gaara, porque que teve que me fazer chorar em? — Resmungou, se escondendo no abraço do garoto.
— Coisas da vida, eu sabia que ia conseguir te fazer várias coisas pela primeira vez meu amor.
Ambos riam diante a fala dele, até que pararam ao prestar atenção na música que tocava no ambiente. Se tratava de Dandelions, a música que Shiomi mais ouvia rotineiramente. Era romântica e sempre a emocionava. Por a garota sempre ouvir, Gaara pegou gosto também e se sentia um tantinho definido pela música. Em um gesto silencioso, se afastou da namorada e a estendeu a mão, em um convite para uma dança. Por mais bobo que seja, Kaori sorriu genuinamente com aquilo e aceitou, por mais que se sentisse estranha dançando do nada em um local que nunca havia ido antes.
Talvez ali tenha sido o momento de maior conexão entre o casal, dançaram com os olhos fixos um no outro até que a música acabasse. Quem via de fora nunca imaginaria todo o inferno que já passaram, os momentos ruins e as brigas. Pareciam o casal perfeito, pena que histórias de contos de fadas não são verdadeiras e nada as coisas duram para sempre, mas em um pedido silencioso em seus corações, os dois jovens pediam para que durassem eternamente, por mais que negassem veementemente que se sentiam assim.
Passaram mais alguns momentos tirando fotos no provador e Kaori insistiu para que o namorado lhe comprasse uma roupa nova e não saísse dali com a mesma cara de pobre com a qual entrou. Foram em um restaurante italiano caríssimo onde Shiomi pediu para que Gaara a ensinasse a comer como uma pessoa rica e em seguida foram embora para a mansão de Mizushima. Estariam finalmente a sós, de última hora a família havia decidido fazer uma viagem para a Suíça por conta de negócios e deixaram Gaara aos cuidados dos empregados e claro que ele aproveitaria isso para levar sua namorada.
Havia começado a chover, a luz fraca do abajur disposto no luxuoso quarto de Gaara deixava o ambiente mais acolhedor, os dois caíram no sono após uma maratona de comédias românticas ruins e dormiam agarrados, Kaori não suportava o barulho dos trovões. Estava em um sono profundo, tal estado de sono, em um cérebro saudável, gera sonhos, às vezes pesadelos, daqueles sufocantes que te fazem acordar gritando. Kaori havia acordado, mas não estava mais na cama espaçosa do namorado.
O dia estava lindo, o céu azul com o sol escaldante, gaivotas voando pelo céu límpido e o cheiro de maresia salgada invadia seus pulmões. O sentimento de felicidade aflorava em seu peito, com os olhos fechados Kaori jurava que estava segura em terra firme, até que sua mão escorregou pela borda do colchão de ar que havia levado para a praia e seus finos dedos não tocaram a areia, mas sim a fria água que corria calmamente. Em um pulo, a garota se sentou, vendo que estava em alto mar, completamente isolada. Sua visão era apenas água, água e mais água, logo o pânico a inundou tal qual o cheiro da maresia. De forma rápida, deitou novamente sob o colchão segurando suas beiradas a fim de evitar o proeminente ataque de pânico. Kaori odiava o mar tanto quanto odiava tempestades, palhaços e seu pai. O céu rapidamente foi ficando cinza, monocromático e devastador, os trovões ressoavam cada vez mais fortes, fazendo com que o pequeno corpo da japonesa tremesse a cada estrondo. Achou que não poderia piorar, mas de repente sua perna foi puxada inesperadamente com força, a fazendo se desequilibrar da única coisa que a mantinha longe daquelas escuras e assustadoras águas. Agora sim o desespero havia a tomado por completo, sentiu a água entrando em seus pulmões cada vez mais e num ato de temor, olhou para o que tanto a puxava para o fundo e num clarão do relâmpago que iluminava o céu viu a feição horrenda de uma criança de sua etnia, era nítido o olhar de ódio dela conforme puxava a mais velha. Os trovões continuaram ressoando, parecendo que estavam dentro da cabeça de Kaori. Cedendo a água que entrava em suas narinas e boca sem controle, se deixou levar pela escuridão enquanto sentia seus pulmões ardendo em brasa.
Kaori acordou em um pulo, buscando freneticamente por ar enquanto afundava suas unhas no colchão macio da cama. Olhou desesperada para os lados, notando que Gaara não estava ao seu lado. A chuva caia torrencialmente do lado de fora da mansão, parte do quarto estava inundado pela água, haviam esquecido a porta da sacada aberta e a ventania fazia as cortinas balançarem fortemente.
— Gaara…..Gaara, cadê você? — Chorando copiosamente enquanto chamava pelo namorado, procurando ele pelo quarto enquanto andava por ele, sentindo seus pelos arrepiarem de frio com o vento e a água gelada em seus pés. Notou uma pessoa na sacada, olhando para o temporal, ficando curiosa e seguindo até ali. — Gaara? Você está na chuva? Qual a porra do seu problema, garoto? — Foi resmungando conforme foi se aproximando, o reconheceu pelo pijama em que vestia, contudo, emudeceu ao ouvir uma risadinha um tanto quanto maquiavélica. — Gaara…….
Shiomi se assustou com algo passando atrás dela, se virando rapidamente e segurando o grito ao ver uma garotinha de mais ou menos cinco anos a encarando no fundo do quarto. Seus pelos arrepiaram ao ouvir ela falar para Kaori olhar para frente. Então o garoto se virou para ela, e não, ali não era Mizushima Gaara, definitivamente não era seu namorado. O rosto estava distorcido, os olhos em um branco sem fim e a pele aparentava ter um tom esverdeado, como se fosse lodo. Ao mesmo tempo que um trovão soou alto no céu, Kaori gritou, gritou em horror, gritou de desespero, mas ninguém a ouviu.
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