rayssanaide

- Eu não sei o que você quer de mim.
A mão esquerda de Theodor passando por cima do meu corpo e se espalmando na parede, me obrigando a olhar em seus olhos, me fazia estremecer.
Aquele lugar estava todo sujo de bolor e as plantas cresciam desordenadamente por dentro da construção do pátio. O céu estava pálido, caíam gotas finas que molhavam a jaqueta dele e pingavam sobre meu ombro direito, fazendo uma poça em meu suéter azul.
- Você vai descobrir.

Madrugada, melancolia. Aqui colocarei minha alma em palavras, com os melhores ou piores sentimentos. A verdade é que faço porque preciso, não porque acho bonito. Faço porque enlouqueço com a quantidade de pensamentos e idéias e saudades e dúvidas que guardo, além da apatia constante. Faço porque escrever me torna livre.

A neve caía em pequenos floquinhos brancos e gelados. Meu caminho até a escola é o típico: uma rua, longa e estreita, cheia de neve nas bordas e muitas árvores, mais gelado que de costume.
Meus tênis escorregam no asfalto úmido e fico pensando em como o dia vai ser. Escola nova, de novo. É difícil não se encaixar, mas ainda assim é melhor do que estar completamente dentro do molde.
Meu nome é Bruce Westermann, 19 anos, 1,83 de altura. Olhos cor de chumbo, cabelo escuro e levemente cacheado, nada de diferente. Passo despercebido tranquilamente. Felizmente, talvez, meus gostos são peculiares.
Avisto meu novo purgatório. Uma caixa de cimento cinza escura, com três andares e janelas, muitas janelas.
Por dentro não parece ser menos cinza. Os armários são num tom verde escuro e sujo, o chão com manchas encardidas, as paredes, que talvez há uns vinte anos antes eram brancas, hoje são num tom de cinza estanho de tanto pó grudado nelas.
O sinal bateu. Um som estridente e agudo, quase ensurdecedor. Eu definitivamente não queria entrar naquela sala. Primeira aula de biologia, logo cedo. Não é possível.
Caminhei em passos calmos, largos e lentos pra não chegar cedo demais. A sala estava parcialmente vazia, então escolhi meu lugar: última carteira, fileira da parede. Perfeito. Coloquei os fones, me ajeitei confortavelmente e enterrei o rosto na mochila. Ainda tô de ressaca, uma soneca é mais que merecida.
Ah, inculisve, nota número 1 sobre a escola: No Worries National School, o colégio que eu estudo, é praticamente um reformatório.
Entraram, do nada, cinco seres humanos inteiros de preto, mau encarados, rindo alto, bem alto. Se sentaram dois na minha frente, e três na fileira do lado. Preferi ignorar e curtir meu cochilo.

Com um passado triste e um presente duvidoso, Morgana vive uma vida adolescente normal, até que novas pessoas entram em sua vida e outras tornam a aparecer.