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História Amnésia Dissociativa - Pesadelos


Escrita por: umaescrit0ra

Notas do Autor


Momento educativo. Por favor, leia para entender o quê aconteceu com a Sakura no capítulo anterior.

A ansiedade é uma emoção caracterizada por um estado desagradável de agitação interior, muitas vezes acompanhada de comportamento nervoso, como o de se embalar de trás para a frente. É o sentimento desagradável de terror por eventos antecipados, tal como a sensação de morte eminente.
Estresse pôs traumático: Acontece quando os sintomas de ansiedade começam a surgir após algum ocorrido na vida da pessoa que a deixou traumatizada ou marcada. Pode ser por uma perda muito grande, algum tipo de violência sofrida, por exemplo. Esses pensamentos dos momentos ruins retornam a qualquer instante, até mesmo em sonhos.
Síndrome do pânico: São períodos de crises intensas de ansiedade, que se desencadeiam por algum tipo de trauma e medo agudo. É muito comum se evitar de ficar em locais com pouco fluxo de pessoas, com medo de não conseguir ajuda durante os ataques.

Sakura suprimiu por muito tempo todas as emoções, pensando em "Agora não", como mecanismo de defesa, pois não queria aceitar a sua realidade.
O fator Adrenalina também entrou em jogo, todas elas, Shizune, Tsunade e Ino, estavam desviando toda a atenção da violência que viveram por causa da guerra. No entanto, vimos que Ino e Shizune em certo momento desabafaram sobre seus medos e inseguranças, certo? Isso significa que elas estão menos ou mais traumatizadas? Não. Que estão sofrendo menos ou mais? Também não.
Cada pessoa é um mundo, cada uma delas lida com seus demônios de forma diferente. Cada uma delas tem seu tempo.
Por isso é comum que algumas vítimas de estupro façam denúncias depois de dias, meses ou inclusive anos! Aceitar o quê aconteceu com elas é a parte mais difícil.
Dizer "Eu fui estuprada" é uma frase forte não acham? Difícil de engolir. Então imaginem o quão difícil é falar isso em voz alta?
Outra coisa frequente em vítimas de abuso sexual e estupro é a culpabilidade. Em muitos casos a vítima se sente envergonhada pelo que aconteceu, tenta procurar uma resposta do ¿Porquê eu? ¿Eu fiz algo errado para merecer isso? ¿Eu merecia isso?. O que desencadeia uma série de conflitos internos, acarretando problemas como a ansiedade, depressão, baixa autoestima.
Pessoas que como Ino, vivenciaram um estupro, mas não foram vítimas diretas, se encaixam no grupo de Abuso sexual. Lembram da nota explicando sobre isso nos primeiros capítulos? Além de ter sido torturada, ela também se sente culpada por ter visto e não poder fazer nada.

Bom, recebi algumas mensagens que realmente me entristeceram, pessoas dizendo que estou romantizando o estupro. Eu tomo muito cuidado com cada palavra escrita, para não ser mal interpretada. Também estão dizendo que a história é muito violenta, isso é uma verdade inegável, mas eu deixei TODOS os avisos correspondentes, tags e inclusive deixo um alerta nas notas iniciais quando as cenas vão ser fortes.

É isto, talvez a fic em breve seja excluída e meu perfil banido eternamente. Caso isso aconteça, vão me encontrar no Wattpad.

Sem mais delongas. Boa leitura meninas e meninos (sim, descobri que tenho leitores homens kkkk).
Beijinhos.

Capítulo 38 - Pesadelos




Pesadelos 



De repente você percebe 

Que precisa acordar 

Mesmo sabendo

Que não está dormindo




O campo ensolarado deu lugar a um vale sombrio, de árvores secas e túmulos desterrados, haviam demônios vagando de um lado para o outro, com máscaras pintadas a sangue fresco.

A noite estava fresca e ela parou ao lado da fosa, o som de sinos ecoava ao longe trazendo consigo o vento suave, aves desoladas soltavam cânticos agonizantes. Um poema a morte.

Um homem estava sentado em um balanço, a cabeça baixa a impediu de identificar o rosto. Ele cantava uma estranha melodia, lhe causando calafrios por todo o corpo.


"Garota, deixe a janela aberta, não tranque a porta para que eu possa entrar, se por acaso acordar, não esqueça desse sonho, deixe as janelas sempre abertas e não tranque a porta. Eu sou seu dono"


A luz ascendeu e se viu parada em um pequeno quarto, o som da água caindo gota a gota chamou sua atenção para o canto do cômodo.

Pendurado de cabeça para baixo e de costas para ela, o mesmo homem continuava cantando.


"O pior pesadelo é sonhar com a realidade, prolongar a tortura de viver mais um dia. Meu juízo se desvanece, pois o fogo me consume lentamente"


As luzes piscaram duas vezes e, em meio ao breu o homem havia desaparecido. 


ㅡ Culpada.


A voz feminina expressou  julgadora, olhou para trás encontrando Sakura, seu aroma era a ferrugem e o punho tingido em escarlate, o ódio brilhava em puro carmesim através dos olhos originalmente verdes. 


ㅡ ¿Porquê não me ajudou Ino?


O sorriso deprimido surgiu nos lábios manchados de sangue, a pele branca fora maculada por cicatrizes profundas. O olhar afiado, mais cortante que uma adaga.

O homem novamente apareceu, saindo das sombras mais tenebrosas. Abraçou a Haruno pela cintura e afundou o rosto na curvatura do pescoço, contornando-o até o rosto com o nariz e então sussurrou algo que Ino não conseguiu ouvir.


ㅡ Deixe a janela aberta e não tranque a porta para que eu possa entrar.

Sorrindo minimamente ele revelou o rosto, era Torune, torturando-a como naquele dia.

E ela tentou gritar para que Sakura se afastasse dele, mas de sua garganta nenhum som saiu. 

Um cachorro negro, seco e faminto atacou a Haruno, devorando sua carne com ferocidade, mas ela nade fazia para se defender.

Ino tentou avançar para ajuda-la, mas sentiu os pés pesados e os pulsos presos. Lá estavam as malditas correntes, prendendo-a novamente. 

Lágrimas brotaram das orbes azuis, banhando seu rosto e causando irritação a sua pele. 

O cão continuava devorando Sakura, destroçando-a com os dentes afiados.

Uma sombra surgiu a sua frente portando consigo um grande espelho. 

Seu reflexo se distorceu, mostrando a ela sua imagem.

Seu rosto estava irreconhecível, sua carne se desprendia dos ossos e os longos fios dourados começaram a cair.


ㅡ Essa é você.. podre e suja! 

Torune sussurrou em seu ouvido.




ㅡ Ino!


Ela queria poder acordar, sabia que estava sonhando, no sonho ela se arrastava até a porta, sentindo- seus ossos queimarem.

Suplicava que alguém por favor conseguisse faze-la abrir os olhos. Era horrível a sensação de não poder acordar.


ㅡ Ino! 


As vozes continuavam a gritar, mas eram asfixiados pelos lamentos  que em seu pesadelo a perturbavam. Seus tornozelos foram agarrados e ela foi arrastada para longe da porta novamente.


Ino você está machucando as pessoas!


Olhou para trás encontrando o sorriso macabro, os dentes amarelos se alargavam de orelha a orelha e então soltou uma gargalhada sinistra.

ㅡ Está vendo, você é um monstro!



Abriu os olhos alarmada, tentando controlar a respiração. Imediatamente procurou pelas feridas em seu corpo. Não havia nada.

ㅡ Ino! O quê aconteceu?

Era sua mãe encarando-a assustada. Itachi estava ao lado dela, com o cenho franzido e os braços cruzados.

ㅡ O quê aconteceu?

Questionou achando estranho a presença do Uchiha ali, Sai estava amparando a senhora Yamanaka com o semblante entristecido, ele realmente gostaria de poder falar. Itachi soltou um suspiro cansado buscando as palavras certas para não alarmar a kunoichi.

ㅡ Em algum momento, provavelmente de forma inconsciente, você usou seu Shindenshin no Jutsu transmitindo a todo o vilarejo seu pesadelo.

Ino arregalou os olhos sentindo-se constrangida e também culpada, como isso foi acontecer?

ㅡ Ino, o quê esses homens fizeram com você?

Quando sua mãe lhe perguntou aquilo, ela apenas quis chorar, gostaria de ter um dom de criar novas realidades, onde tudo aquilo que viveu não passasse de um sonho amargo. Abrir os olhos e fingir que nada aconteceu, que ela era forte e tudo ficaria bem, era um papel que ela já não mais poderia interpretar.

Se sentia culpada por coisas que ela sequer sabia explicar.

Contar os seus pesares a aquela que lhe deu a vida parecia ser tão doloroso e ao mesmo tempo deveria ser libertador.

E a angústia continuava saindo en forma de gotas através dos olhos azuis, porque quando abriu a boca nada saiu, suas palavras matariam sua mãe e ela não queria que outra pessoa carregasse com as lembranças que a atormentavam.

Suas mãos estavam manchadas, não de sangue e sim de culpabilidade. Uma culpa que não era sua e mesmo assim ela atribui para si.


"Se eu fosse mais forte eu poderia ter salvado Sakura"


As mãos trêmulas da senhora Yamanaka se entrelaçaram com as suas, e os olhos castanhos lhe fitaram com ternura e compreensão.

ㅡ Eu quero te ajudar filha. 





[…]





Quando eles passaram as mãos da nuca ao coxis, doeu. Quando passaram as mãos da coxa a vulva, também doeu. Quando a tocaram depois do não, doeu ainda mais.

Violentaram seu ser, profanaram seu corpo e acabaram com tudo aquilo que havia dentro dela.

Sentimentos de amor, esperança e felicidade, já não mais habitavam nela.

O sabor da bebida amarga tratava inutilmente de faze-la esquecer do toques sujos, nojentos e repulsivos, que a usaram apenas para saciar incestuosos desejos desgarrando sua alma.

Transformando os sentimentos mais puros em escuros e sombrios.

Bebia demais, era ciente disso, destinada ao fracasso por tentar afogar a amargura em uma garrafa de saquê. Mas, naquele momento o álcool era seu único amigo.

O penhasco onde seus pés dançavam já nem parecia tão alto. Sequer lembrava como havia ido parar ali, quem sabe depois da sexta garrafa quando os fantasmas começaram a atormenta-la.

E ela não parava de chorar, sua mente estava turva e as memórias embaralhadas. Sempre foi conhecida por ter azar no jogo e também no amor. A verdade é que sentia que estava fadada ao sofrimento eterno, então, quê mal havia e tentar esquecer seus males com aquele líquido amargo descendo da boca a garganta, fazendo-a obliterar por um momento seus tormentos?

Embriagada naquela noite cruel, onde os demônios a observavam através da densa floresta, perguntou a lua se algum dia el poderia voltar a sorrir.

Balançou a garrafa constatando que a água da perdição estava chegando ao fim. Teria que conseguir mais para poder sepultar seus medos embaixo de toneladas de falsa superação.

Com dificuldade se pôs em pé, cambaleante tentou se afastar da borda daquele precipício estranhamente atraente.

ㅡ Por hoje já basta.

Sorriu minimamente ouvindo a voz seria de Jiraya, sempre tão preocupado com ela.

O havia rejeitado por tantos anos mesmo que fosse difícil negar a atração latente que existia entre eles. Mas ela não podia se entregar a homem algum, seu coração pertencia a Dan e nunca o esqueceu.

¿De quê serviu isso? Se no final foi tomada por homens selvagens que sequer sabia o nome.

ㅡ Jiraya!

A voz arrastada denunciou seu estado de embriaguez, caminhou lentamente e repousou os olhos amendoados sobre o homem que lhe dedicara anos se veneração.

ㅡ Sabe… eu estive pensando. ¿ O quê acha de tomar aquilo que a tantos anos deseja?

O Sannin a encarou confuso, sem entender o que a Senju tentava dizer.

O sorriso triste desenhava os lábios manchados de baton rosa, em seus olhos se refletiam todos os pesares que atormentavam seu coração.

Tsunade se aproximou e deslizou os dedos finos pelo braço direito do homem, até explanar a mão no rosto marcado pela idade.

ㅡ O quê está fazendo?

Questionou afastando-se rapidamente ao notar as intenções da mulher, ela ficou parada encarando seu pulso preso no ar pelas mãos de Jiraya.

ㅡ Dar o quê você sempre quis…

Respondeu como se fosse o óbvio. Jiraya sentiu cada palavra lhe atingirem como kunais envenenadas.

ㅡ O quê foi? Não me quer porquê outros homens me tomaram primeiro?

Ela questionou, mesmo que seu tom fosse pura calmaria, ele era capaz de sentir toda a raiva que a acompanhava.

ㅡ Eu sinto muito pelo que aqueles homens fizeram com você. Eu não posso mudar nada, não posso te dizer que tudo vai ficar bem e muito menos garantir que essa dor vai desaparecer. Eu só posso te prometer que nunca a tomaria a força ou me aproveitaria de você. Eu te amo como nunca pude amar outra mulher, mesmo que você nunca pudesse ser capaz de retribuir, eu continuei te amando cada dia da minha vida e, nunca pretendi força-la a me aceitar, por isso te peço por favor, não me compare a eles. Não pense que eu lhe faria algum mal. Eu não desejo seu corpo, meu maior almejo sempre foi alcançar seu coração e nada mais que isso.

Jiraya proferiu as palavras certeiras para trazer a lucidez da Senju de volta.

ㅡ Eu…

ㅡ Você está sofrendo Tsunade, eu não tenho a menor ideia do quanto. Tudo bem gritar. Tudo bem chorar. Tudo bem querer esquecer. E se você quiser me usar como saco de pancadas, faça! Mas por favor, não manche o meu amor por você, ele é a única coisa pura e boa que me resta.

Então Tsunade parou, encarando os profundos olhos negros, lembrou do olhar que os homens malvados lhe direcionaran, em nada se pareciam a Jiraya.

Aquele homem a amava mais que a si mesmo. ¿O quê ela estava fazendo?

Deixou-se levar pela amargura e decepção, o álcool lhe subiu a cabeça fazendo-a dizer coisas sem sentido algum.

A dor lhe cegou os sentidos e o sofrimento nublou seu juízo.

Ela apenas queria esquecer todos aqueles homens, mesmo que fosse nos braços de outro.

Pensou que se talvez ela se entregasse a Jiraya por conta própria, ele seria capaz de apagar as digitais indesejadas.

Uma falsa solução sussurrada pela bebida.

O grito sôfrego escapou pela boca, expondo suas dores por muito tempo reprimidas. Queria poder abrir a cabeça e limpa-la das lembranças escuras.

Se as lágrimas pudessem falar e se os suspiros pudessem curar, tudo seria mais facil pois ela não queria contar.

Contar que ainda sentia a ardência em sua intimidade e que não conseguia fazer suas necessidades porque tudo doia. Contar que nem mesmo o Byakugou foi capaz de cicatrizar a ferida aberta em sua alma, que cada passo que dava a levava a uma escuridão sem fim, em um caminho chuvoso e gélido.

Foi tanta a melancolia que os céus também começaram a chorar, caindo sobre aquelas duas almas desoladas.

Jiraya sofria por não saber lidar com tanto amargor, então fez o que sempre fazia quando se tratava de Tsunade.

A abraçou tentando aplacar toda aquela dor, a amando em silêncio, ajudando-a a recolher seus pedaços.




[…]





Abriu os olhos assustada, apalpando o ventre encontrando ali a leve protuberância, soltou o ar aliviada, seu filho ainda estava ali.

Sentiu a maciez embaixo de si, não lembrava de muito depois do que fez com Danzou. Fitou o teto da tenda, o local estava fracamente iluminado com um pequena lâmpada portátil.

Ouviu um ronco baixo ao seu lado e pulou da cama tentando controlar a respiração, Kakashi acordou com a movimentação e coçou os olhos para mantê -los abertos.

ㅡ Shizune? Não deveria sair da cama, o médico disse que deve manter repouso...

ㅡ Porquê você estava aí?

A mulher o interrompeu afoita. Kakashi sentou na cama encarando-a confuso, porquê ela parecia estar tão irritada com ele?

ㅡ Meu amor o quê...

ㅡ Saia daqui! Agora!

Shizune esbravejou, por um momento o Hatake pensou que era algum tipo de brincadeira, mas quando ela começou a chorar entendeu que ela estava falando serio.

ㅡ Porquê está me tratando assim?

Ele tentou se aproximar, mas ela recuoou encarando-o feroz, com o cenho franzido e o rosto vermelho de raiva.

ㅡ Eu… eu não quero que você se aproxime de min!

A voz saía rasgando-lhe a garganta, porque sabia que estava sendo irracional, que não havia motivo para ter medo de Kakashi. Mas ela não conseguia controlar.

Tudo estava no domínio daquele sentimento, cercando-a, deixando-a sem ar.

As roupas pareciam ter encolhido, sentia-se exposta com os olhos bicolores encarando-a daquela maneira. Como se quisessem desvenda-la.

E ela não queria.

ㅡ Saia!

Gritou novamente. Puxando frequentemente o tecido do vestido para baixo, tentando cobrir os tornozelos.

ㅡ Você tem medo de mim?

Kakashi perguntou com o fio de voz, ele não saberia lidar com tudo aquilo caso confirmasse suas suspeitas.

ㅡ Só me deixe sozinha, por favor.

ㅡ Eu não vou machucar você! Por deus Shizune, eu te amo! Não me afaste, não agora…

ㅡ Você não entende...

Ela disse tragando a saliva.

ㅡ Isso não vai funcionar, você tem que ir embora.

Kakashi tentou se aproximar mais uma vez, porém, ela continuava se afastando. Ele sentia que como a água Shizune estava escapando entre seus dedos.

ㅡ Eu não quero mais. Não quero mais ser tocada por você. Não quero mais seus beijos. Não quero fazer amor com você. Entende agora?

Confessou entre soluços, o silêncio pairou entre eles, aumentando sua frustração. Porquê seu corpo rejeitava Kakashi, mas seu coração clamava por ele.

A incerteza e confusão a faziam cair na escuridão, onde seus maiores medos se transformavam por meio das sombras.

A chuva caía do lado de fora quando Kakashi se retirou da tenda, deixando-a sozinha como a havia pedido.

O vento adentrou ao cômodo e a luz da lâmpada apagou.

Em sua cama ela se encolheu, abraçando seu ventre e a si mesma, sentia que não podia escapar daquela horrível sensação de estar sendo observada pelas sombras, sombras que lentamente ganhavam forma e lhe sussurram que levariam seu filho.

Fechou os olhos sufocando o grito que queria escapar de sua garganta.

ㅡ Não tenha medo, não tenha medo.

Repetiu até que foi levada pelo sono mais uma vez.

E ela não queria mais acordar.





Do lado de fora, Kakashi sentiu a chuva se misturar com as lágrimas. A dor da rejeição é grande, um sentimento que carcome os sentidos quando mais se pensa nele.

Porque ele sabia construir uma casa, montar uma estratégia e criar armadilhas.

Ele sabia incontáveis jutsos, com vários elementos da natureza e tinha habilidades de luta invejáveis.

Mas, não estava preparado para aquela batalha.

Ele sabia muitas coisas. Menos como lidar com Shizune pedindo para que ele se afastasse.

No entanto, era ciente de que seu sofrimento não era nada em comparação ao sofrimento dela, por isso respeitaria o espaço dela, o tempo dela e todas as palavras duras.

A cuidaria de longe, porque a amava mais que tudo.

Ficaria ali, embaixo da chuva guardando a entrada como um cão fiel.

Esperando o momento certo. A hora certa.





[…]




Acordou com a claridade alcançado seus olhos. Tentou reconhecer o local encontrando as paredes de lona branca, lembrou vagamente dos últimos acontecimentos e levou a mão até as costelas.

ㅡ Foi por pouco, mais alguns centímetros e seria fatal.

Ouviu a voz de Sasuke ao seu lado, ele tinha profundas olheiras denunciando a falta de sono. Estava sentado ao lado de sua cama, segurando um porta retrato.

ㅡ Az vezes, quando eu ficava tão cansado que não podia mover um músculo depois dos treinos com Orochimaru, Kabuto ía até meu quarto. Ele disse uma vez: Isso é o que crianças grandes fazem para se divertir.

Sakura sentiu seu peito apertado, via o quanto era difícil para Sasuke contar aquilo. Ele deu uma pequena pausa, então continuou.

ㅡ Eu sabia que era errado. Ele não devia estar ali. Eu não conseguia me mover, ou falar, meu corpo estava dormente e eu só conseguia pensar nas mãos dele subindo e subindo, ele passou a mão em mim… e su só conseguia pensar em: não chore, não chore, ele vai pensar que você tem medo.

ㅡ Sasuke..

ㅡ Esse dia ele não conseguiu fazer nada, Orochimaru apareceu e o impediu de continuar.

Ele apertava o porta retrato entre seus dedos, lutando contra os fantasmas que o atormentavam.

ㅡ Então eu comecei a treinar para me defender dele. Quando eu estava muito cansado me escondia na cela de Miko, ela me contou que Kabuto fazia coisas horríveis com ela. Ela só queria me proteger, mas ele descobriu.

Um nó se formou na garganta de Sakura, pois aquilo era como um gatilho para tudo o que ela desejava esquecer.

ㅡ Então, ele puniu Miko. E a mim também. Me drogou enquanto dormiamos, me amarrou em uma cadeira e me obrigou a ver Miko sendo violentada. Isso é culpa sua, se não tivesse se escondido embaixo de um rabo de saia ela estaria bem.

Contou relembrando aquele dia.

ㅡ Eu realmente pensei que fosse culpa minha, pensei que se eu conversasse com alguém essa pessoa também sofreria. Porque era só isso o que eu sabia fazer com os que se aproximavam de mim. Aconteceu com você, com Naruto e com Kakashi ao tentar me ajudar, terminaram sofrendo. Então eu me isolei, treinava dia e noite com um único objetivo. Ficar forte para matar os dois, Orochimaru e Kabuto, depois eu iria atrás de Itachi.

Sorriu minimamente, era um sorriso amargo e carregado de dor.

ㅡ Mas, uma vez ele conseguiu me drogar de novo, acho que com a comida. Esse dia Orochimaru não estava.

Tomou coragem para encarar os olhos verdes, procurando ali um incentivo para continuar.

ㅡ Ele me tocou, eu sabia que era errado, mas… meu corpo reagiu, ele estava me masturbando.

Fechou os olhos deixando a primeira lagrima cair, era tão difícil reviver aquilo.

ㅡ Eu senti nojo de mim. E ele disse: Eu sabia que você ia gostar. Eu me olhava no espelho e sentia raiva, tanta raiva. Me sentia culpado, porque se eu gozei, então significativa que eu gostei. Então eu não era uma vítima.

ㅡ Claro que você é uma vítima! Sasuke você era uma criança...

ㅡ Eu pensava todos os dias nessa foto, no time sete. Pensava em como seria se eu nunca tivesse ido embora. Sabe, eu repeti tantas vezes que aquele dia nunca existiu, fingi que nada daquilo aconteceu. Era doloroso lembrar, então eu me forcei a esquecer dessa sensação.

As palavras nunca antes ditas por serem muito dolorosas para externar, agora estavam finalmente sendo libertadas. Porque antes ninguém foi capaz de reconhecer as lágrimas secas e sua alma roubada, mas ele reconheceu tudo isso em Sakura.

Não queria que ela sucumbisse como ele, não queria que ela tivesse os sonhos destroçados, sua inocência havia sido ultrajada e sabia como era difícil seguir em frente, porque ele entendia como era estar morto em vida e desejar ver a luz e não poder alcança-la.

ㅡ Agora eu não penso mais em esquecer. Eu penso em superar, seguir em frente. Eu quero ficar ao seu lado, quero poder te tocar sem pensar que isso é algo sujo ou errado. Quero poder te beijar sem que você pense que estou tentando te machucar. Eu estou disposto a esperar por você, eu quero esperar por você. Porque eu tenho certeza que meu destino está ligado ao seu e se não for nessa vida, então eu vou te esperar na próxima.





 


Notas Finais


Vamos de mais um capítulo com muito choro. Confesso que é libertador escrever a fase de recuperação.
Como muitos sabem, eu pretendia fazer esse processo em uma segunda temporada, mas decidi continuar na mesma história. Então é provável que os capítulo alcancem os 50 ou mais.
Beijos!


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