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História Anfitriões da noite - Action de Grâce


Escrita por: plutoniana

Notas do Autor


Boa leitura!

Capítulo 21 - Action de Grâce


Capítulo 21 - "Dia de Ação de Graças"

Depois da festa de Halloween, Sasuke aprendeu algo muito importante sobre Sakura: apesar de todos os pesares, ela ainda conseguia ser uma pessoa manhosa.

Ele ficou um pouco surpreso em constatar isso, mas era um fato.

Mesmo que ela costumasse sempre ir à frente de tudo o que queria, e fazer tudo o que queria, ela ainda era manhosa às vezes. Principalmente quando estava nos braços dele, implorando para que a fizesse gozar de novo.

Mas por ele tudo bem. Tudo ótimo, na verdade.

Porque ao mesmo tempo que isso era muito excitante, ele também percebeu que era uma imensa responsabilidade sendo colocada sobre seus ombros. 

Porque quando ela ficava daquele jeito, principalmente quando estavam fazendo sexo, significava que já confiava totalmente nele para ser o mais aberta e sincera possível sobre o que sentia e queria.

Até porque, antes de realmente conhecê-la, ele jamais imaginou que um dia a veria lhe pedir coisas assim. Ela era mais do tipo que mandava, e todo mundo obedecia sem dar uma palavra a mais no assunto. 

Mas com Sasuke não. Ela pedia as coisas. E não parecia ligar para o que ele iria pensar ou não. 

Ele achou isso interessante. E fofo.

Passou várias noites pensando nisso, na verdade. Toda vez que ia dormir, depois de mandar mensagem pra ela com um “boa noite”, ele sempre ia dormir pensando nisso. 

Que agora tinha uma namorada que era totalmente aberta consigo. 

Ele gostou dessa sensação. 

Mais algumas semanas tinham se passado disso, e agora sim, ele podia dizer que seu relacionamento estava perfeito, já que o sexo incrível tinha sido acrescentado à equação de maneira gloriosa.

Naquela semana, no entanto, ele e Sakura estavam de folga das festas.

Porque era semana de Ação de Graças. Ou seja, férias pra todo mundo, inclusive do colégio. A maioria do pessoal estava em casa provavelmente, jantando com suas famílias, mesmo que de forma obrigada, afinal, era um feriado sagrado. Então os dois decidiram que, pelo menos naquela semana, também iriam folgar e não dar festa nenhuma.

Então depois de conversarem a respeito, eles decidiram que iriam passar o feriado juntos, afinal, ninguém merece ficar sozinho em dias assim. E como Sakura também não iria para a casa dos pais de jeito nenhum, ela ficou muito feliz quando Sasuke sugeriu de passarem o dia juntos no trailer dele.

De manhã, ela chegou trazendo várias compras para prepararem alguma comida típica da data. 

Os dois ficaram na cozinha, se divertindo enquanto pesquisavam receitas na internet para preparar o peru e os acompanhamentos dele.

Foi meio desastroso, porque Sasuke deixou o arroz queimar, e Sakura colocou vinagre demais no alface que iria na salada. Tiveram de jogar a folha inteira e refazer tudo. 

Fora que Meio Quilo estava o tempo na espreita, tentando roubar o pequeno peru descongelando em cima da mesa. Sasuke foi jogá-lo no quarto umas cinco vezes, mas ele sempre voltava da surdina e tentava derrubar o peru de cima da mesa.

Sakura morria de rir do estresse de Sasuke com o gato.

— Você tá parecendo aqueles idosos que passam o dia inteiro falando com seus gatos. — ela comentou quando ele foi colocar Meio Quilo no quarto uma sexta vez.

— Meu Deus, nem uma criança seria tão teimosa. — ele resmungou enquanto voltava a refazer o arroz. — Por que os gatos são assim?

— Por que simplesmente não coloca ele lá fora?

— Ficou maluca? — ele arregalou os olhos. — Tá fazendo 15 graus lá fora. Não vou jogar o coitado lá. 

— Ah. — Sakura só sorriu de lado, percebendo que apesar de puto com o gato, Sasuke continuava cuidando dele como se fosse uma criancinha.

E de fato, lá fora estava ventando muito, já que era final de outono. Provavelmente nevaria um pouco para meados de dezembro, mas nada muito significativo, já que não costumava nevar na cidade deles. 

Quando eles finalmente acertaram na salada e no arroz, temperaram o peru de acordo com o que várias receitas na internet mandavam — com cerveja e tudo mais —, e depois cortaram os pedaços para colocar para esquentar no microondas de Sasuke, já que o forno dele não funcionava. Depois de meia hora lá, eles tiraram e finalmente se sentaram para comer.

— Ah, nem ficou tão ruim. — Sakura comentou com uma risada. — Achei que fosse ficar com gosto de frango normal. Até que a gente acertou um pouco.

— Eu gostei bastante. — Sasuke disse enquanto comia. — Quer dizer, não chega nem perto dos perus que minha mãe faz no Natal, mas já é muito mais do que qualquer outra Ação de Graças que eu tive por aqui.

Sakura parou de mastigar ao assimilar o que ele tinha acabado de dizer. 

— Espera, você nunca comemorou Ação de Graças? — ela indagou. 

— Não aqui nos Estados Unidos. — ele deu de ombros enquanto dava um gole de sua taça de vinho e a encarava. — Só quando eu ainda morava com a minha mãe no Canadá. Mas lá é diferente. Costuma ser no começo de outubro, não no final de novembro. 

— Mas você… O seu pai nunca comemorou com você aqui? — Sakura perguntou com cautela.

— Só se você considerar que ele comprava salgadinhos e refrigerante pra mim e pro meu irmão no dia de Ação de Graças e nos deixava sozinhos o dia inteiro enquanto ia pra algum bar da cidade beber. — Sasuke respondeu num resmungo. 

Sakura permaneceu o encarando, agora de maneira mais penosa, tentando imaginar como foi ter crescido sem ter alguém decente pra comemorar datas assim com ele.

Ela decidiu mudar de assunto, pra não fazer o ambiente pesar quando eles voltavam a comer. Continuaram conversando sobre outros assuntos. Sakura tentou focar mais na infância dele, quando morou com a mãe no Canadá até os 10 anos de idade. Ela gostava de ouvir as histórias de família dele e do irmão mais velho.

Quando eles terminaram de comer, Sasuke guardou as sobras na geladeira e eles foram pro quarto, se deitar. 

Ele a puxou para que ficassem de conchinha. Meio Quilo acabou pulando no colchão — como sempre —, e foi pro lado de onde Sakura estava virada, sabendo que conseguiria um cafuné dela.

Sasuke afundou seu nariz na nuca dela, sentindo o cheiro do shampoo doce que ela usava, e que ele gostava de sentir, principalmente quando estavam naquela posição.

— Sasuke? — Sakura o chamou baixinho. 

— Hm? — ele murmurou, sonolento, já que estava quase pegando no sono.

— Por que você saiu do Canadá? — ela perguntou quase cochichando. 

Ele deixou passar longos segundos antes de falar alguma coisa.

— Podemos falar disso depois? — disse da maneira mais gentil que conseguiu. — Estou meio cansado agora. 

— Tudo bem. — Sakura concordou. Mas ela percebeu que, de maneira involuntária, Sasuke apertou um pouco mais seus braços ao redor dela, como se tivesse medo de que ela fosse embora quando ele estivesse dormindo.

Ela tentou esquecer o assunto, pelo menos por enquanto, se concentrando em relaxar e tentar cochilar um pouco. 

Sasuke, por outro lado, não poderia mais fugir disso por muito tempo. Porque em breve viria bater em sua porta. 

Literalmente. 

#

Ele acordou com as batidas na porta. Demorou uns dois segundos para raciocinar e perceber que tinha alguém batendo na porta. 

Provavelmente era a Vovó, vindo lhe desejar um “Feliz Ação de Graças”, e perguntar se ele não queria um pedaço de bolo. Ela fazia isso todo ano. 

Ele saiu da cama devagar, não querendo acordar nem Sakura e Meio Quilo, que também dormiam de conchinha tranquilamente ali.

Ao passar pela cortina do quarto, ele a fechou, para que o espaço continuasse escuro, mesmo enquanto ele acendia as luzes da cozinha, para pegar seu bolinho de dinheiro de emergência dentro do armário. 

Aproveitando que a Vovó já estaria ali, ele decidiu já pagar adiantado o aluguel pra ela. Depois de guardar o resto e ajeitar melhor sua calça no corpo, Sasuke finalmente foi até a porta para abri-la. 

E no exato momento em que viu quem estava ali, seu sorriso simpático desapareceu completamente. 

— E aí, garoto? — Fugaku perguntou dele com aquele sorriso torto habitual enquanto já se adiantava para entrar. 

Sasuke estava tão em choque em vê-lo que nem reagiu quando o pai praticamente o empurrou para abrir espaço para entrar. Ele piscou algumas vezes, de forma atônita, antes de fechar a porta de novo, afinal, estava entrando muito vento gelado do lado de fora, e ele não queria que Sakura ficasse com frio no quarto. 

Fugaku parou no meio da cozinha enquanto colocava as mãos nos bolsos e olhava em volta. 

— Até que tá ajeitadinho por aqui, hein? — ele comentou de forma meio zombeteira. — Essa lata velha era um lixo quando a gente veio morar aqui. Mas você ajeitou um monte de coisas desde que eu…

— O que você tá fazendo aqui? — Sasuke perguntou baixinho, porém num tom que claramente não era gentil. 

— Ah, qual é? — Fugaku olhou pra ele. — É Ação de Graças, porra. Eu queria pelo menos ver você. Trouxe até um presente.

Ele enfiou a mão na parte interna do casaco, tirando de lá uma garrafa de vodka barata, e colocando em cima da mesa. 

— Você já tem bebe, né? — Fugaku questionou. — Senão, tá mais que na hora de começar. 

— Não se bebe vodka na Ação de Graças. — Sasuke respondeu com os dentes cerrados, ainda completamente hostil. — Se bebe vinho. 

— Isso é detalhe. — o outro resmungou e encarou o dinheiro na mão de Sasuke. — Que é isso aí?

— É meu dinheiro do aluguel. — Sasuke imediatamente tencionou a própria mão, a fechando com força. Porém antes que ele sequer pudesse dar um passo pra trás, Fugaku já tinha arrancado o dinheiro de sua palma num movimento rápido.

— Você paga tudo isso pra viver assim? — Fugaku debochou ao contar as notas na mão. — A velha aproveitou pra te extorquir depois que eu me mandei, né? Quer que eu dê um “assombro” nela?

— Pai, vai embora. — Sasuke começou a se alterar, porém manteve a voz num tom baixo. — Eu não quero você aqui. Principalmente depois de ter arrombado a minha casa e revirado tudo atrás da minha grana. 

— Grana essa que você já recuperou, hein? — Fugaku mostrou o dinheiro que tinha arrancado dele antes de enfiar tudo no bolso do próprio casaco. — Tá trabalhando com o quê, aliás? Parece estar dando bastante muamba.

— Não estou ganhando grana nenhuma. — Sasuke murmurou, se segurando pra não meter um murro na cara dele. — Sai do meu trailer. 

— Acho que está sim. Isso aqui tá cheirando a peru e salada. Pelo visto você tá com grana pra fazer boas refeições também. — Fugaku resmungou. 

O único cheiro que Sasuke sentia era o de cachaça e suor, que vinha de seu pai. Provavelmente tinha passado os últimos três dias sem tomar banho e enchendo a cara até cair. E quando se levantou, aparentemente, achou que seria uma boa ideia ir encher o saco do filho.

— Sai do meu trailer. — ele repetiu, dessa vez de maneira mais ameaçadora. 

— Que é isso, garoto? — Fugaku começou a falar mais alto. — Não consegue nem ficar feliz em ver o seu pai?

— Cala a boca! — Sasuke rosnou com os dentes cerrados, arregalando os olhos. 

— O quê? Por quê? — Fugaku perguntou antes de olhar pra trás, percebendo que a cortina do quarto estava fechada. Quando ele voltou a olhar para Sasuke, tinha um sorriso debochado na cara. — Ah, tá com uma vadia aí, é? 

Sasuke arregalou os olhos, sentindo os últimos resquícios de educação e respeito se esvaindo aos poucos de seu corpo enquanto ele decidia se devia quebrar a cara de Fugaku ou apenas jogá-lo pela janela, pra que se arrebentasse todo em cima da churrasqueira.

De qualquer forma, nunca antes ele sentiu tanta raiva quanto naquele momento. E por sorte, ainda ficou alguns segundos parado, meio em estado de choque, antes que fizesse alguma burrada que provavelmente mataria o pai. 

— Ela é gostosa, pelo menos? Ou você tá com ela só por causa da grana dela? — Fugaku questionou com um riso de escárnio. — Se ela for da marca da sua mãe, então…

Ele não terminou, porque Sasuke o agarrou pela camisa e o empurrou contra a geladeira, fazendo um barulho alto de baque. Fugaku arregalou os olhos, assustado, enquanto era pressionado pelo filho contra o móvel, visivelmente surpreso, já que nunca antes Sasuke ou Itachi tinham feito isso. 

Bom, de qualquer forma, antes, nenhum dos dois teria força nem tamanho para fazer isso. Mas agora, Sasuke estava uns dez centímetros mais alto que ele, e com certeza não estava bêbado e nem sedentário ao ponto de não ter, no mínimo, o dobro da força dele. 

Os dois se encararam. Sasuke com tanta fúria que estava a ponto de cometer um assassinato. E Fugaku visivelmente com medo. 

— Se falar uma palavra a mais da minha mãe ou da minha namorada, eu vou trucidar você, tá entendendo? — Sasuke falou cada palavra carregada do mais puro ódio possível. — Sai do meu trailer agora!

— Tudo bem, tudo bem. — Fugaku disse pra ele, visivelmente amedrontado. — Calma, garoto. 

Sasuke o arrastou até a porta de novo, praticamente o jogando no gramado frio lá fora. 

— Se você voltar aqui, eu não respondo por mim, entendeu? — Sasuke berrou a plenos pulmões enquanto observava o pai se levantar de maneira quase patética. — Eu acabo com você. Não tô nem aí se temos o mesmo sangue ou não.

Fugaku ainda ia falar mais alguma coisa, mas Sasuke bateu a porta antes que ele sequer pronunciasse a primeira sílaba. 

O Uchiha menor levou as mãos para os cabelos enquanto fechava os olhos e ofegava, tentando controlar melhor a respiração, já que estava se tremendo da cabeça aos pés de raiva. 

Que ódio. Que homenzinho nojento. Que vontade de matar…

— Sasuke? — a voz de Sakura soou baixinha ali perto. 

Sasuke olhou pro lado, surpreso ao ver que Sakura estava parada no batente da porta do quarto, com Meio Quilo nos braços, enquanto os dois olhavam para ele de maneira meio alarmada. Ela parecia mais preocupada, e Meio Quilo parecia só assustado com a gritaria toda.

Sasuke fechou os olhos, suspirando num misto de desgosto e vergonha.

— Você ouviu, não ouviu? — ele perguntou baixinho enquanto olhava pro chão. 

O silêncio dela foi a resposta que ele precisava. E a que mais doeu também. 

— Desculpe. — ele balbuciou baixinho. — Eu não queria… Olha, ele é um babaca idiota. Eu não…

— Sasuke. — Sakura o interrompeu, ainda o olhando com preocupação, afinal, estava vendo ele tremer daquele jeito, ainda meio transtornado com tudo. — Senta. Tenta relaxar um pouco. 

Ele a olhou, vendo cautela nos olhos verdes dela. 

Depois de suspirar de novo, ele acabou cedendo e se sentando mesmo. Passou por ela e voltou para o quarto, se sentando na beira da cama. 

Sakura o seguiu, colocando Meio Quilo em cima do colchão. O gato andou até os travesseiros, onde começou a se ajeitar para voltar a dormir enquanto a garota se sentava ao lado de Sasuke. Ela puxou a mão de Sasuke para seu colo, envolvendo-a ali com as próprias mãos e segurando firme, vendo se ele parava de tremer. 

Ele estava gelado, ela percebeu. Provavelmente por causa de toda a emoção de minutos antes. 

— Está tudo bem, calma. — ela sussurrou em tom tranquilizante. 

— Não, não está. — ele respondeu no mesmo tom baixo, ainda olhando pro chão, sentindo-se muito pequeno e envergonhado de repente. — Por isso que eu odeio quando a gente vem pra cá. Porque sabia que tinha chances de um dia ele aparecer e você conhecer esse imbecil que eu chamo de pai. 

— Mas você não…

— Sakura. — ele a chamou pelo nome, completamente sério. — Você viu como ele é um imbecil? Eu não queria que você soubesse que é uma pessoa dessas que eu chamo de pai. É humilhante. 

— Humilhante? — Sakura riu sem o menor humor. — Você está com vergonha do seu pai? Não lembra dos meus? Xenofóbicos, elitistas e egocêntricos?

— É diferente. — Sasuke murmurou. — Meu pai é um merda completo.

— Os meus também são. Sasuke, isso não é uma competição. Nós dois temos pais ruins. Não precisa ficar se martirizando por isso. — ela disse com muita seriedade também. — Você já tinha me dito que ele não é uma pessoa legal. 

— É, mas eu não… — ele a encarou, parecendo angustiado. — Não queria que você visse. Ou ouvisse. Eu queria que você nunca o conhecesse. — ele confessou, e parecia estar querendo chorar. 

Sakura o olhou de maneira surpresa antes de pensar um pouco e largar sua mão. Ao invés disso, ela envolveu seus braços ao redor dele. 

— Sério, não precisa se preocupar. Não estou chateada por nada do que eu escutei. — ela disse baixinho perto do ouvido dele. — Eu sei muito bem que você não puxou em nada pra ele.

Sasuke se sentiu um pouquinho melhor com o que ela disse, porém ainda se sentia muito mal com isso. Seu pai sempre o deixava mal toda vez que aparecia, mas agora eles tiveram uma plateia. E ele queria muito que Sakura não ficasse pensando coisas ruins a seu respeito agora que sabia como era o pai dele.

— Foi por causa dele que você veio pra cá, não foi? — Sakura questionou baixinho, com muita cautela. 

Sasuke pensou um pouco antes de responder. Ele assentiu com a cabeça. 

— Quer falar sobre isso? — ela perguntou de maneira cuidadosa, apoiando o queixo no ombro dele.

— Nunca falei disso pra ninguém. — ele respondeu. — Pelo menos, não tudo.

— Quer falar pra mim?

Ele observou o rosto dela. Sempre tão bonito. Agora cheio de preocupação e cuidado enquanto o encarava. 

De novo, ele assentiu com a cabeça. 

#

O aquecedor estava ligado no máximo. Sasuke tinha fechado tudo, apagado todas as luzes de novo e voltado para o quarto. 

Meio Quilo dormia em cima dos travesseiros, e ele e Sakura estavam deitados no meio da cama, com as pernas meio pra fora do colchão enquanto se encaravam no escuro, deitados de lado, um de frente pro outro. 

— Ele costumava ser professor de francês na faculdade comunitária daqui da cidade. — ele ia explicando baixinho. — Foi onde conheceu a minha mãe. Ela estava fazendo um intercâmbio de alguns anos aqui, dando aulas de francês também. 

— Então ela é a canadense, né? — Sakura perguntou. 

— É. — Sasuke confirmou e suspirou. — Os dois começaram a sair. Aí ela engravidou do meu irmão. Ele nasceu aqui. Um tempo depois, ela engravidou de mim, mas eles já estavam com muitos problemas, porque foi nessa época que o miserável começou a beber.

Sasuke estava com os braços ao redor de Sakura. Ele começou a fazer carinho nas costas dela enquanto pensava e falava a respeito de tudo aquilo. 

— Ela voltou pro Canadá, e levou o Itachi junto. Eu nasci lá. — ele continuou. — Um tempo depois, meu pai descobriu que se ele tivesse a nossa guarda, conseguiria ganhar um bom auxílio do governo usando a gente. E como na época ele já tava desempregado e viciado em bebida, ele entrou na justiça internacional pra brigar pela nossa guarda. 

— Como ele conseguiu?

— A minha mãe estava sem emprego na época. Minha avó tinha ficado doente e ela precisou largar tudo para ficar cuidando dela. E o desgraçado usou isso a favor dele, dizendo que nós teríamos uma vida muito melhor aqui do que em Toronto. — Sasuke respirou fundo, controlando a própria raiva. — Depois de um tempo de briga na justiça, ele ganhou. E nós dois tivemos que vir pra cá. 

— Isso aconteceu quando você já estava com dez anos de idade. — Sakura concluiu. 

— É. — ele concordou. — Foi quando fui estudar naquele colégio. E conheci você. E todo mundo.

Sakura levou as mãos até o rosto dele, encontrando suas bochechas geladas e as afagando devagar enquanto continuava o observando e escutando tudo com atenção. 

Sasuke suspirou com o carinho, e ela sentiu ele relaxar um pouco mais. 

— Foi um verdadeiro inferno por muito tempo. A gente nunca comia nada decente. Ele não comprava nem miojo de vinte centavos pra jantarmos. Sempre comprava uns biscoitos, salgadinhos, suco em pó… essas merdas, só pra gente parar de reclamar que estava com fome.

— O que ele fazia com o dinheiro que ganhava do governo da guarda de vocês? — ela questionou. 

— Gastava tudo em bebida. Não pagava aluguel. Não comprava comida. Não pagava nem a conta de energia ou gás. A gente sempre ficava doente quando chegava essa época do ano, porque ficava congelando, sem aquecedor em casa. Eu me lembro de sempre ficar dormindo com quinze camadas de roupa todas as noites.

Sakura estava fazendo uma expressão dolorida no rosto, e por sorte, estava escuro. Ela imaginou que Sasuke não estivesse lhe vendo, e agradeceu mentalmente por isso. 

— Foi aí que ele começou a ficar cada vez mais longe de casa. Acho que devia ter arrumado outro buraco pra morar. E eu e o Itachi passamos a ficar sozinhos por aqui. — Sasuke murmurou. — O Itachi tinha arrumado um emprego numa lanchonete de fast-food de noite, e era com isso que a gente vivia. 

— Aí ele também foi embora? — Sakura perguntou com cautela. 

— Na verdade, ele fez 18 anos. O que significava que podia voltar pra casa, porque nosso pai não poderia fazer para impedi-lo. E de qualquer forma, acho que não faria nada mesmo, já que ele parou de receber a parte do auxílio do Itachi. — Sasuke resmungou de mau humor. — Então eu fiquei meio que só. 

— Então agora que você tem 18 anos também.

— É, o meu pai não recebe mais nada do governo. Por isso que tá desesperado atrás de grana desse jeito. — Sasuke confirmou. — Só estou esperando para finalmente me formar este ano, e aí posso voltar pra casa. 

— Pra Toronto. Com a sua mãe. — Sakura abriu um pequeno sorriso, e Sasuke fez o mesmo. 

— É. E nunca mais vou voltar pra esse lugar.

Ela continuava afagando o rosto dele. Os dois permaneceram em silêncio por um tempo, antes de Sasuke falar de novo. 

— Desculpe por estragar sua Ação de Graças.

— Você não estragou. — ela sussurrou, ainda sorrindo. — Na verdade, estou feliz que finalmente tenha me contado como veio parar aqui. 

Ele continuava fazendo carinho nas costas dela, principalmente nas partes que o sutiã não cobria. 

— Espero que a Universidade de Toronto realmente te aceite. — ele confessou mordendo o lábio inferior. — Porque quero muito que você venha comigo quando eu for embora daqui.

— Quer me apresentar formalmente à sua mãe e ao seu irmão? — Sakura perguntou em tom de brincadeira. — Acha que ela vai gostar de mim?

— Ela vai dizer que você é areia demais pra mim, certeza. — Sasuke riu um pouco. Sakura o imitou. — Mas sério, quero muito que você vá comigo pra lá.

— Isso é o quê? Sua forma de me pedir em casamento? — Sakura continuou brincando. — Olha, não faz piada disso, Sasuke. Porque eu vou acabar aceitando mesmo, se isso significar que vou ganhar nacionalidade canadense fixa caso me case com você. 

— Até que não seria tão mal. — ele admitiu rindo também antes de puxá-la para mais perto, encostando seus lábios nos dela. 

Sakura correspondeu ao beijo dele. As mãos subiram para o cabelo escuro, segurando e se firmando ali.

— No fim das contas… — disse Sakura quando eles se separaram e se encararam de novo. — Acho que nós dois crescemos muito solitários. 

Ele assentiu com a cabeça. 

Sakura estava prestes a beijá-lo de novo quando uma ideia veio para sua cabeça. Ela parou, e Sasuke percebeu que ela tinha acabado de pensar algo brilhante. 

— Ei, quer saber? — ela perguntou com um sorriso. — Acho que já sei o que podemos fazer no Natal. 


Notas Finais


Vejo vocês de novo dia 25. Espero que tenham gostado <3

Playlist da fic: https://open.spotify.com/playlist/2pRf8AyYOLY4GZUdFcasdR?si=f23139dab2c24aba

Instagram: writer.plutoniana

Cronograma de atualizações: https://docs.google.com/spreadsheets/d/1t5DKJYcCh_KA6E9p385Eqy_cw1MLKYhjYMR1-lrFvi0/edit#gid=0


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