A semana que antecedia o Dia dos Namorados havia chegado, e, com ela, a animação no coração de um certo ruivo, que parecia disparar picos de adrenalina por todos os vasos capilares. Até mesmo suas células deveriam estar em clima de romance. Com o romantismo em mente, ele se dirigiu, animado, ao dormitório compartilhado, onde iria planejar com calma seu dia no Dia dos Namorados.
Os dormitórios da faculdade, a grande Araki University, eram espaçosos, muito confortáveis e comportavam três alunos na ala masculina e quatro na ala feminina. Noriaki morava com os dois colegas que, coincidentemente, poderia chama-los de cunhados. Viviam, todos os três, no quarto 4311, e era uma convivência até mesmo pacífica. Os quartos eram separados entre si por duas paredes, uma pequena sala, com dois sofás, uma poltrona e uma televisão (que servia apenas para assistirem a filmes bestas e jogar videogame), e uma mesa. Ainda havia regras que ajudava na harmonia das personalidades distintas. Mesmo havendo relutância no começo, tudo andava muito bem entre os três.
Kakyoin abriu a porta do dormitório tão suavemente que Caesar até se assustou com a sua presença, apesar de estar sentado de frente para a porta, estudando.
– Você não pode matar os outros assim, Kakyoin. – Caesar balbuciou, folheando a página do livro de Geometria, vendo todos aquele círculos cortados e planos cartesianos; acabou se arrependendo um pouquinho do futuro que escolheu.
– Não quero matar ninguém, Ceasarino. Pode ficar tranquilo. – Kakyoin riu, vendo o loiro empertigar-se irritado ao ouvir o apelido que Joseph o chamava através de sua voz. Um apelido no qual, infelizmente, Noriaki teve o (des)prazer de ouvir.
– Não me chame por esse nome, Kakyoin, não tem graça. – Caesar fechou o livro, desistindo de estudar pelo resto do dia.
– Só para você que não tem. Eu me acabo com essa sua cara. – O ruivo ria entre as palavras.
– O que as bichinhas estão fofocando a esta hora? – Um novo loiro surgiu na sala de estar, fazendo o favor de estar de pijamas. Uma calça preta de moletom e uma camiseta cinza de algodão. Estava descalço e parecia ter acabado de acordar.
– Bichinha? Olha só quem fala. – Caesar bufou, voltando-se para uma ala que poderia ser chamada de cozinha, apesar de não ser exatamente uma.
– Pelo amor de Deus, hoje é feriado e ainda são oito horas da manhã, me poupem. – Dio revirou os olhos, indo até uma pequena mesinha de canto, tirando seu celular do carregador e checando as novas notificações. – Aliás, as bichinhas fofoqueiras sabem me dizer se já saiu o resultado dos exames gerais?
– Nada foi dito ainda, mas parece que o resultado sairá no dia 14 deste mês. – Kakyoin se pronunciou, ignorando o apelido. – Estou um pouco nervoso.
– Por quê? – Caesar ressurgiu, com um pacote de cookies em mãos. Dio sorriu sugestivamente para o loiro, esticando a mão para pedir um. Zeppeli encarou-o com tédio escancarado.
– Os exames gerais são para garantir que o aluno continue no mesmo nível técnico que entrou. Basicamente, aqui não importa se você é de humanas, exatas ou letras. Tem que ter o mesmo nível em todas as matérias básicas para continuar cursando na AU. – Kakyoin respondeu com um timbre preocupado. Caesar lhe ofereceu um cookie depois de ser extorquido por Dio.
– Ah, eu imaginei que fosse um exame importante, mas não tanto assim. – Caesar comentou, sentindo o chocolate amargar na boca. Dio estava com os olhos voltados para um calendário.
– Decepção com a nota da prova... Melhor jeito de comemorar o Dia dos Namorados, não? – Ele caçoou, coçando a nuca. Foi então que Kakyoin se lembrou.
– Ah, eu vim perguntar a vocês sobre os planos de vocês!
– Planos de quê? – Quase uníssono, ambos os loiros responderam.
– Como assim “de quê”? Para o Dia dos Namorados, claro! – Kakyoin replicou, numa mistura de animação com frustração.
– Acho que não tenho nada em mente, Kakyoin. – Caesar confessou, sacudindo o pacote de cookies. – Não sei do que o Joseph poderia gostar.
– Apesar de também não saber bem o que fazer, eu posso ajudar vocês! – A alma boa que era Noriaki Kakyoin radiou, sorridente e animada. – Eu estava pensando em cada um levar eles para algum lugar especial, sabe? Tipo um cinema, ou um restaurante chique. Dar e receber presentes está ficando chato, então-
– Eu não vou fazer nada. – Dio afirmou convicto, quase tão dignamente como um decreto sagrado. Kakyoin bufou ao ser interrompido. – O Dia dos Namorados é só um dia qualquer inventado pelo capitalismo para fazer com que as pessoas gastem seu dinheiro em coisas desnecessárias e sem real significado sentimental. Totalmente inútil.
– Como você é pessimista... – Kakyoin revirou os olhos.
– Me pergunto como raios uma alma tão amarga dessas conquistou um docinho feito o Jonathan. – Caesar suspirou, curioso. – Ou foi o contrário...? – O loiro causticou, terminando seus cookies e se escondendo atrás da mesa em defesa de um possível ataque de Dio. E, realmente, até tentou correr atrás dele, se não fosse seu dedo mindinho do pé batendo na base da poltrona. Brando gemeu alto de dor.
– Você está morto, Zeppeli. – Dio apontou para o loiro falsamente ameaçador. – Pode anotar: não vai ser hoje, nem amanhã, mas um dia eu te pego e te parto no meio.
Apesar das palavras de fúria evidente, os três riram da situação. Era uma amizade estranha e extremamente bela, a que nutriam. Ainda que houvessem ameaças sangrentas de Dio de um lado, drama e gritaria de Ceasarino de outro e a loucura tangível de Kakyoin no meio, eles se confiavam e se cuidavam como melhor conseguiam... Parando para olhar direitinho, até que eles não tinham do que reclamar.
Excepcionalmente um do outro.
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