– Você vai mesmo leva-lo a uma boate? – Kakyoin se abismou, abraçando-se ao travesseiro que segurava contra o peito. Dio, que estava comendo um potinho médio de iogurte de leite especial, também ficou surpreso com a atitude mencionada, sabendo da peça ciumenta que era Caesar e contemplando sua ousadia. Era como se estivesse presenciando alguém experimentando diferentes tipos de veneno por livre e espontânea vontade.
Estavam, os três, sentados em uma rodinha ao redor da sala de estar, conversando baboseiras corriqueiras e sobre os destinos que iriam ter nos dias comemorativos. Deveria ser nove horas da noite, mas, como a conversa estava rendendo, não queriam parar.
– Sim, e ele aceitou. – Caesar retrucou, estendendo as pernas em seu pijama ciano desbotado favorito.
– Claro que aceitou, seu idiota. Estamos falando de Joseph Joestar. Acha que ele vai perder a primeira chance que tiver para caçar? – Dio Brando deu um sorriso travesso, lambendo a colher de iogurte. Caesar deu de ombros, mas no fundo sentia um tiquinho de veracidade nas palavras dele. Lembrou-se, então, do contato feminino que viu no celular de Joseph. Em sua mente, ele sentiu a necessidade de pedir conselhos aos amigos, mas a voz rústica de Dio o interrompeu. – Kakyoin, qual o destino do Jotaro?
– Eu soube que abriu um aquário aqui na cidade no início do mês, e nem eu nem Jojo fomos visita-lo ainda. Achei que seria uma boa ideia. – Disse o ruivo, enrolando o cacho mais longo de seu cabelo na ponta dos dedos.
– Clichê. – Brando sussurrou, baixo o suficiente para Kakyoin não ouvir.
– E você, Dio?
– O CH Evergarden irá apresentar peças shakespearianas, em sequência, no dia 14. E, como eu sei que o Jonathan gosta desse tipo de coisas de velha, achei válido comprar os ingressos. – Brando retrucou, quase orgulhoso de sua proposta, raspando o fundinho do pote com a ponta da colher.
– Como se você mesmo não gostasse dessas coisas de velha. – O italiano resmungou, sendo ouvido (com sucesso) por Dio.
– Você está cavando sua cova comigo, Ceasarino. – O homem arrastou o timbre de voz, deixando-o propositalmente ameaçador.
– Vocês dois, se acalmem. – Kakyoin se manifestou, preocupado com a alta possibilidade de ambos começarem uma briga.
– Mas que seja... O Joseph dormiria nessas peças, eu tenho certeza. – Caesar comentou, casualmente.
– Vocês dois já compraram os ingressos? – Kakyoin indagou, recebendo apenas uma resposta positiva.
– Ao contrário de certas pessoas, não passei minha tarde toda fazendo coisas indevidas no dormitório alheio, então fui logo comprar as minhas. – Dio suspirou, vitorioso, pondo o pote vazio sobre a mesinha da sala.
– Recalcado. – Caesar revirou os olhos para Dio.
– Aliás, essas merdas acabam muito rápido! – Evidenciou Brando lambendo os dedos de iogurte e ignorando a resposta de Zeppeli. – Eu fui comer em uma lanchonete do outro lado da rua assim que saí da bilheteria perto da estação de metrô, e, quando voltei, já estavam todos esgotados.
– Uau, impressionante! Não sabia que esse tipo de atração tinha público aqui. – Kakyoin arfou, incrédulo. – Acho que deve ser porque é estreia, ainda. Por falar em acabar, não tive tempo algum de sair hoje. Precisei terminar minha pesquisa sobre poemas da Antiguidade greco-romana. E o pessoal da outra turma não calava a boca sobre aqueles malditos testes.
– Acho que você está preocupado demais, Kakyoin. Vai dar tudo certo. – O italiano suspirou, compreensivo. – Então, amanhã, eu e o Noriaki sairemos, depois da aula, para ir na cidade e comprar tudo o que precisamos, certo? – Caesar ofereceu, recebendo uma calorosa anuência da parte do ruivo. – Você quer ir conosco, lorde Dio Brando? Ou seu ar maligno vampiresco recalcado o deixa vulnerável ao sol?
– Está mesmo me pedindo para me misturar com reles mortais feito vocês? Me poupe, Ceasarino. Prefiro mil vezes me enclausurar num caixão no fundo do mar por cem anos do que passar por isso. – Brando retrucou, entrando na brincadeira. Aquele tipo de tratamento, apesar de às vezes violento, era muito usual entre Dio Brando e Caesar Zeppeli, o que deixava alguém como Kakyoin aliviado (às vezes), mas certamente alguém de fora ficaria assustado. – Mas, realmente, eu não posso sair amanhã.
– Por quê? – Perguntaram Noriaki e Caesar.
– No período da tarde, o Prof. Stroheim vai querer fazer um júri sobre um caso de homicídio doloso, e eu sou a acusação. – Dio esfregou as têmporas, como se aquilo conseguisse tranquiliza-lo. – Apesar de ter estudado o caso o dia todo, estou um pouco nervoso.
– Fique tranquilo, você se sairá bem. – Zeppeli se levantou, esticando as costas. – Assim que voltarmos, eu e o Kakyoin iremos correndo para ver o que pudermos do júri, e, claro, torceremos por você. Ou o que estiver ganhando. – Dio deu um sorriso forçado e cínico para Caesar, sibilando um “ridículo” com os lábios, mas no fundo estava grato pela consideração.
– Ih, olha só a hora, gente! Eu vou acordar acabado amanhã. – Kakyoin olhou para o relógio da sala de estar, e ele indicava ser quase dez e meia.
– Que chato... Estava tão boa a conversa. – Caesar revirou os olhos, arrumando a sala com a ajuda deles. Tão logo, os três arrumaram rapidamente os tapetes e a mesinha, escovaram os dentes em sequência e, por fim, se recolheram. Kakyoin sonhou com A Pequena Sereia; Dio, com alguma coisa a ver com o Egito e caixões, e Caesar sonhara com uma mulher desconhecida de cabelos pretos.
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