Finalmente, Dia dos Namorados.
Kakyoin acordou com seu celular vibrando, faltando poucos minutos para que seu próprio despertador tocasse. Esfregou os olhos, gemendo com o sono ainda bastante presente. Casualmente, observou a criaturinha na qual dividira o leito aquela noite. Diego estava em um sono tranquilo e angelical. Um sorriso satisfeito abriu-se em seu rosto.
Praga, hein? Eu deveria parar de acreditar nas baboseiras daquele metido a vampiro.
Pegou seu celular, checando a mensagem recebida. Era de Caesar, que dizia que estava esperando por Kakyoin na frente do dormitório. Olhou o relógio digital, eram seis e vinte e sete da manhã. Rapidamente, saiu do quarto, esfregando os olhos no processo e procurando a chave da porta.
– A noite foi tão boa que esqueceu de trazer a sua chave? – Kakyoin caçoou, ainda sonolento.
– Para início de conversa, eu nem a levei. – Caesar revirou os olhos, enquanto Noriaki lhe dava passagem. Logo, o italiano deixou a mochila cor ciano em cima de uma das poltronas. – Jesus, eu preciso de um café.
– E de um banho. – Kakyoin cruzou os braços. – Você cheira a Paco Rabanne e suor. – Ele estreitou os olhos. – Você nem tem um Paco Rabanne, para começar. Alguém andou se esfregando no seu corpo. – Kakyoin deixou escapar uma risada maliciosa.
– Como sabe que não tenho um Paco Rabanne? – O italiano revirou os olhos.
– Você não usa perfume francês. – Kakyoin sorriu, convencido. Caesar deu o braço a torcer. – Como eu disse, a noite foi bem boa.
– Você não imagina o quanto... – Caesar deixou-se tombar no sofá, suspirando com as lembranças. – O Joseph é um desgraçado, às vezes, mas sabe compensar isso. E, digo, não é só no sexo. Tem tantas outras coisas que, se eu fosse enumerar, eu iria passar muito tempo aqui.
– Hm, sei. Você está parecendo uma princesa apaixonada. – Kakyoin caminhou até o quarto, preparando sua bolsa para ir tomar um banho. – Erina passou a noite aqui. Ela está no quarto do Dio, e Dio está no seu quarto. – O ruivo anunciou, bocejando, empurrando a porta com a mochila nas costas. – Diego está dormindo no meu.
– E por que o vampirão ficou no meu?
– A irmã dele não podia ficar no quarto de dois adolescentes quaisquer.
– Tá, mas porque você não ficou no meu quarto?
– Meu quarto estava livre. – Kakyoin sorriu, dando de ombros. – Vou tomar um banho.
– A minha sorte é que eu fui pegar uma calça que deixei na casa de Joseph e acabei trazendo algumas roupas. Isso me poupa de entrar naquele covil. – Caesar causticou, indo até sua mochila.
Kakyoin o esperou com a porta aberta.
Alguns minutos depois, ambos voltaram, já limpos e devidamente arrumados.
* * *
Dio acordara meia hora depois que Kakyoin e Caesar voltaram do banho, ao passo que Diego e Erina despertaram logo após.
Eles haviam acabado de voltar da cidade, onde almoçaram – afinal, a cantina do colégio não funcionava em fins de semana e feriados – e Kakyoin sentia-se tão nervoso que era capaz de colocar tudo para fora ali mesmo, no banheiro coletivo. Por um momento, até pensou em não ir mais.
– Não estou me sentindo bem. – Choramingou o ruivo, já no dormitório, enquanto sofria de um lado para o outro.
– Você é o que menos pode desistir agora, cerejinha. Foi logo você quem nos convenceu a isso, e nós iremos até o fim! – Dio vociferou, enquanto vestia sua jaqueta de algodão preta. Ele iria se ater à ideia do “pretinho básico”, sendo esta a cor única de quase todas as suas peças de roupa (tênis, camisa, jaqueta e calça jeans). Com exceção da boxer, que era, por alguma razão não evidente, verde piscina. Dio estava muito bonito naquele conjunto.
Kakyoin resolveu permanecer sentado na poltrona, praticamente já pronto, enquanto sua perna subia e descia rapidamente, como num tique nervoso. Não estava nada malvestido, aliás. Por conta do frio, colocou uma blusa de algodão verde pastel por baixo das demais vestimentas; uma camiseta listrada, branco e cinza, com mangas longas por cima; calças jeans em um verde oliva cinzento e tênis casuais azul-inverno.
Faltava menos de meia hora para o bendito encontro, que foi planejado praticamente por uma semana inteira. Caesar saiu de seu quarto roubando suspiros de quase todos; pois bem, não era para menos. O italiano havia feito uma escolha certeira. Uma camiseta jeans de mangas medianas, calças pretas um pouco justas e sapatos de couro amarronzados. No peito, um pingente semelhante a um rosário. Parecia que um Caesar havia adquirido um desconhecido charme hispânico-italiano em menos de duas horas.
– Vocês estão tão lindos que eu poderia me apaixonar facilmente por qualquer um! – Erina riu, observando bem os três rapazes. O aroma de perfume masculino incensou o dormitório. – Caesar, você está um espetáculo.
– A-Ah, obrigado! – Ele coçou a nuca, levemente envergonhado.
– Por que não põe um casaco, ou uma roupa por baixo, feito os meninos? – Erina indagou, levemente preocupada.
– Para onde eu vou, não irei sentir frio. – Caesar deu uma piscadela.
– Eu gostei da roupa do tio Kakyoin. – Diego evidenciou, enquanto batia seus dinossauros um no outro. – E o tio Dio também está muito bonito.
De repente, os três celulares tocaram em um uníssono audivelmente doloroso. Todos eles sabiam quem deveriam ser. Kakyoin pareceu surpreso, mas Dio enrijeceu o semblante e Caesar entrou em desespero. Erina não estava nada diferente do irmão. Por alguns segundos, eles não se importaram com o berro dos telefones, nem do grunhido de nojo de Diego, porque haviam ficado pasmos demais com o que tinha acabado de acontecer.
Dio suspirou, xingando a si mesmo por ter sido permissivo com aquilo. Quando seu instinto diz que possivelmente algo vai dar errado, a probabilidade de realmente não dar certo é absurdamente alta.
E seu prelúdio certeiro estagnou ali mesmo. Aquele presságio já estava alarmantemente sinaliza.
Naquela poça de vômito.
Que Kakyoin havia acidentalmente despejado bem em cima de seus próprios pés.
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