História Só Termina Quando Acaba - Nem Todas as Estrelas São Perfeitas

Horas antes – Dia Dos Namorados.

– É o seguinte. – Jotaro começou, percebendo que seu irmão mais velho não iria falar daquela forma com Joseph apenas por desconfiança. – Você deve estar se perguntando porque nós estamos fazendo isso, não é?

Joseph contraiu os lábios, estreitando os olhos para o irmão mais novo. De fato, ter seu celular nas mãos de Jonathan, enquanto Jotaro o faz ficar sentado em uma cadeira de plástico para ouvir sermão em plena manhã do Dia dos Namorados não era um hábito casual deles. O Joestar do meio anuiu com obviedade, sorrindo falso.

– Bem, eu e o Jotaro estivemos conversando sobre isso faz um tempo, então... – Jonathan tomou a palavra, não sabendo exatamente como continuar a sentença. – Nós só queremos saber se você... Hm... Se você...

– Joseph, você está traindo o Caesar? – Jotaro perguntou, com uma naturalidade seriamente aterradora. Jonathan se engasgou com a falta de delicadeza, ao passo que Joseph franzia tanto o cenho que sua testa cravara os vincos.

– Vocês comeram alguma coisa estragada, por acaso? – O Joestar ficou em choque. Choque esse que evoluiu para frustração. – Claro que eu nunca trairia o Caesar, Jotaro.

– Sério? Andamos percebendo que você anda mais aéreo, mais... Apaixonado. Responde chamadas quando bem entende e está usando os chats com mais frequência. Parece até evitar as ligações do Caesar.

– Vocês são minha mãe, por acaso? Claro que eu não evito o Ceasarino.

– Então por que você evitou as chamadas dele no dia do ensaio? – Jotaro pôs a senha padrão, mostrando o histórico de chamada.

– Eu nem vi essas chamadas! E como você sabe minha senha? – Joseph ficara abismado.

– Como eu não saberia, é o certo a se questionar. Da próxima vez, pense bem antes de comer coisas gordurosas e colocar a senha padrão só porque o leitor da digital não funciona. – Jotaro se sentia falando com uma criança de sete anos. – Não mude de assunto. Isso é sério, Joseph.

– Eu já falei que não vi essas chamadas!

– Hm, é mesmo? Então porque sua última troca de mensagens foi das oito e meia da manhã até as dez e doze, e o Caesar ligou às dez e um e você não atendeu?

– Você trabalha na CIA ou algo assim? – Joseph desdenhou. – Eu realmente não vi essa chamada, caralho. E, mesmo se eu estivesse traindo o Caesar, isso era um problema só meu e dele. Por que vocês dois têm que se envolver no meu relacionamento?

– Acha que é coisa de homem, isso que você está fazendo? – Desta vez, Jonathan quem tomou a iniciativa antes de Jotaro. – Brincar com os sentimentos do Caesar dessa maneira? Como se ele fosse seu... Capacho?

– Ah, se vamos falar de relacionamentos, deixe-me falar uma coisa. – Joseph se levantou da cadeira, se aproximando o suficiente de Jonathan para quase peitá-lo. – Acho que um capacho reconhece o outro, não é?

– O que você...?

– Acha que não perceberia? O jeito que o Dio te trata como se fosse nada? E não venha me dizer que é a forma que ele tem para demonstrar que “te ama”, Jonathan. Dio é egoísta e pinta e borda com a sua cara, mas você sequer faz alguma coisa para perceber. E, se percebeu, é porque você é um idiota.

– Joseph, quer calar a...?

– Ah, e claro que o grande Jotaro Kujo não iria ficar por baixo, não é? – Joseph logo virou-se para o outro. – Estão dizendo que eu trato Caesar como capacho, eu digo que Jonathan é tratado como capacho, mas e você, Jotaro? Sabe como você trata o Kakyoin? – O rapaz surpreendentemente se viu sem palavras, não entendendo o ponto do irmão. – Isso mesmo. Você nem trata. Tanto faz ou fez se Kakyoin está lá ou não. Caesar até me disse que foi ele quem deu a ideia de combinar que todos nós saíssemos hoje. E você, fez o que? Comprou algum bicho marinho de novo? – Joseph desdenhava as palavras tal qual uma metralhadora. – Na verdade, eu me pergunto por que vocês ainda estão juntos.

O clima no dormitório subitamente havia ficado tenso. Joseph tomou o celular das mãos dos irmãos, olhando decepcionado para ambos.

– Se ainda querem saber... – Ele começou, antes de abrir a porta e se retirar. – Eu não traio o Caesar e estou sério quanto a isso. E o fato de eu nunca ter falado sobre quem é ela para vocês, é porque eu não queria que dissessem nem para o Dio nem para o Kakyoin, porque queria fazer uma surpresa para o idiota do meu namorado.

Jotaro e Jonathan ficaram surpresos – e arrependido, no caso de Jonathan – à sua maneira. O mais velho cobriu a boca, altamente chocado, com a mão esquerda, enquanto Jotaro abaixava o quepe, em seu gesto mais maquinal. Joseph deixou o quarto, batendo a porta com força.

– O que a gente fez...? – Jonathan coçou a nuca, suspirando frustrado. Jotaro segurou seu ombro.

– Não se aflija tão cedo. – O Kujo virou o rosto para o irmão mais velho, que franziu o cenho para si. – Joseph pode ter razão em alguns aspectos, e estar equivocado em outros. Mas não acredite na palavra dele. Joseph é tão confiável quanto um touro irritado numa arena. Pode estar mentindo para tentar nos fazer ficar com peso na consciência. Mas não vai funcionar comigo. – Jotaro ajeitou uma parte amassada invisível em seu sobretudo. – E guarde o que estou dizendo, irmão: esse tiro vai sair pela culatra. E quem vai nos dizer isso, certamente vai ser o Caesar.