Dio não estava nem um pouco surpreso com aquele desastre, mas com toda a certeza do mundo estava puto. E preocupado. Jonathan Joestar olhava-o tão assustado quanto um porquinho olha para um açougueiro, prestes a ir para o abate.
– Dio...? – Jonathan o chamou, como se ele estivesse indo para outro plano astral. – Por que me trouxe aqui?
Claro que Brando tinha consciência do medo crônico do namorado com o mundo subaquático, e certamente havia sido ele quem tinha pegado o pior destino possível.
– Eu não vou entrar aí. – Jonathan cruzou os braços, dando as costas. Parecia uma criança fazendo birra.
– Jojo... – Dio aproximou-se dele, fazendo um rude afago em seus ombros. – Eu pensei que seria legal para você se viesse comigo.
– Convencido, Dio. – Jonathan revirou os olhos. Pela ausência de sorriso em seu rosto, Brando percebeu que o caso era extremamente sério. Ele estava realmente zangado.
Mas Dio não podia simplesmente abrir a boca e dizer “Olha, meu sobrinho endiabrado trocou meu convite pelo do Kakyoin, e agora estamos presos aqui porque não tem mais nenhum lugar para ir.” Seria o mesmo que dar munição para Jonathan caçoar dele o resto da vida.
– E se formos a um cinema? – Joestar sugeriu.
– Você já assistiu todos os filmes em cartaz. – Dio revirou os olhos. – E já deve ter esgotado todos os ingressos a esta hora.
– E que tal irmos em um restaurante?
– Para olharmos para a cara um do outro enquanto esperamos numa fila gigante? Podemos fazer isso aqui.
– E aquela peça que estava para acontecer no...
– Já esgotaram, Jonathan. – Dio elevou um pouco a voz. – É dia dos namorados, tudo já está esgotado ou lotado. Use sua cabeça um pouco. – Jonathan se levantou, levemente ofendido, enquanto estendia a mão para pegar o seu convite. Dio lhe entregou a contragosto, enquanto os dois trocavam olhares quase faiscantes.
Após terminar a checagem dos ingressos, os dois resolveram sentar num dos banquinhos com tema de golfinho.
– Vamos fazer assim. – Dio começou, utilizando sua voz mais pacífica. – Nós só iremos ver a sessão dos peixes e animais menores. Não precisamos ficar até o fim. – Jonathan o encarava com tédio, com as mãos apoiando o rosto. Parecia que nada o agradaria, não imposta o que Dio fizesse. E, honestamente, ele nunca viu o namorado daquele jeito.
– Tudo bem, vamos. – Como se fosse por falta de opção, e realmente era por isso, Jonathan se levantou.
Os dois passaram um tempo na sessão dos poríferos e moluscos, logo passando para os cnidários e equinodermos, nesta sequência. Jonathan riu algumas vezes, ao ver uma lula abrindo e fechando os tentáculos de forma lerda e despreocupada. Até fez uma comparação com um colega de turma dele. Secretamente, Dio gostou de vê-lo feliz com aquilo.
Apesar da tranquilidade, para passarem para a próxima sessão, eles precisavam passar sobre uma ponte de ferro de corrimão baixo, cuja era bem em cima de um aquário de tubarões adestrados. Enquanto Dio comprava sorvetes, Jonathan foi se apressando para a outra sessão. Não percebeu de imediato, passando tão despreocupadamente, até estava com um sorriso no rosto. Dio ficou tenso, mas feliz por ele.
No entanto, duas crianças passavam na direção oposta enquanto brigavam entre quem iria ficar com a lembrancinha do aquário. Dio não acompanhou tudo, mas viu o restante da cena. Acabou que uma das meninas atirou a outra para as pernas de Jonathan, quem só percebeu que estava caindo tarde demais para se proteger. Ainda tentou mover os braços para “desacelerar” a queda, mas fora vão.
Dio riu alto do baque de Jonathan, esperando que ele fosse emergir da água, com sua carranca destruída, quase risonha também. E o loiro não parava de rir, enquanto o namorado ainda batia os braços na água, desesperado.
– Vamos, pare com isso, Jojo... Suba logo, ou irei comer o seu sorvete.
Contudo, Jonathan, subitamente, parou de se mover e começou a afundar. Dio ficou sem reação, enquanto via alguns bombeiros contratados mergulharem, trazendo Jonathan de volta à superfície. Foi um pouco complicado, tendo em vista seu tamanho, mas foi apenas questão de minutos para que ele cuspisse quase meio litro de água e recobrasse a consciência.
E a primeira coisa que Dio Brando ouviu de seu namorado, assim que este despertara, foi um grande e audível:
– Eu te odeio! – Sentiu o ar em falta nos pulmões. – Você foi um tremendo egoísta por me trazer aqui. Ainda ficou rindo de mim enquanto eu me afogava, cretino!
– Mas eu não sabia que...
– Como não sabia? Por mais vezes que eu já lhe contei essas coisas? Joseph estava certo. – Jonathan cuspia as palavras com uma mistura de ódio e decepção. – Como você pôde ser tão egoísta?
Joseph?
O queixo de Jonathan ainda pingava e ele até havia contraído uma hemorragia nasal. Enquanto o namorado – ainda poderia chama-lo assim? – era cuidado pelo pronto-socorro do lugar, Dio resolveu se retirar. E se retirar de vez do aquário. Era uma vez os dois sorvetes, que foram parar em algum lugar da sessão anterior. Dio sentia-se horrível, assim como Jonathan falara. Como iria adivinhar que, mesmo depois de tantos anos, ele nunca mais teve interesse em nadar?
Acontece que, se fosse qualquer outra pessoa dizendo aquelas coisas para ele, rebateria com muito prazer todas elas. Falaria todas as “verdades” que ele julgava ter e acreditar. Mas Dio Brando tinha uma fraqueza em Jonathan, e tudo que o envolvesse magicamente o deixava desarmado. Ele não conseguiria discutir com Jonathan sabendo que o errado daquilo tudo era ele.
Ele quem os levou ali, acidentalmente ou não. Ele quem o convenceu a olhar tudo. Ele quem riu enquanto Jonathan se afogava.
Tudo estava alarmantemente dando errado; sentia que acabou de perder Jonathan tal qual se joga um punhado de areia ao vento e tenta rejuntar os grãos.
Era raro acontecer, mas Dio Brando sentiu raiva de si, e vontade de chorar.
Então, ao chegar ao local já reservado e encontrar aquelas duas bichinhas desoladas, ele sequer teve acidez em provoca-los.
– Cabe mais um nesse banco?
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