Ninguém falou nada a princípio.
Estavam constrangidos e pareciam envergonhados um do outro; desviavam olhares, todos os assuntos que tentavam puxar morriam na primeira frase e ninguém tinha coragem o suficiente para fazer a pergunta que parecia assombrar os três:
– Como foi seu encontro?
Estava estampado na cara de todos eles, em neon: um desastre total. Não tinham coragem alguma de indagar e constatar o óbvio, e menos ainda teriam para responder.
Kakyoin se perguntava se ele realmente havia feito certo em ter deixado Jotaro no meio da boate, dançando com aquela moça desconhecida. Afinal de contas, saiu sem dar satisfação alguma, nem um tchau ou sequer um telefonema. Talvez houvesse visto demais? Foi ciumento demais? Enquanto uma parte sua relutava em buscar algum fragmento de culpa, uma outra esmagadora vinha anulando a primeira, reafirmando os sorrisos e a intimidade que os dois pareciam ter um com o outro.
Parecia mentira, mas seria possível uma traição de Jotaro?
Enquanto ele mastigava a ruína que foi seu encontro, Caesar tinha um pilar cravado de certeza que havia terminado com Joseph naquela noite. Não precisava ouvir mais nada, nem ter que se iludir com aquelas palavras tão carismáticas e convincentes, nem com aquele charminho de “adivinhar” as palavras posteriores. Suas mensagens, seu comportamento e sua reação responderam por si só; ele só não conseguia se perdoar por ter sido tão idiota e não ter tomado atitudes mais cedo.
E Dio, bem... Digamos que Dio Brando estava reaprendendo a juntar o seu orgulho, cujo Jonathan estilhaçou e espalhou os caquinhos para bem longe. Talvez até mesmo desistiria da busca. Apesar de ter sido num momento de raiva, não será que Jonathan não estava falando sério quanto a ele ser egoísta? Dio refletiu mais do que gostaria sobre essa problemática, levando em conta alguns fatores que ele usualmente não fazia nem questão de lembrar.
– Hoje foi um saco... – Algum corajoso resolveu se manifestar, sendo prontamente saudado com afirmações da parte dos restantes.
Mais uma vez, eles imergiram naquele silêncio contagioso e reflexivo.
* * *
Não souberam dizer exatamente quem foi que teve a ideia de irem para o bar Passione. Aliás, só perceberam que estavam lá quando Kakyoin virara o último shot de absinto, deixando o copinho de ponta cabeça sobre a mesa de mármore caríssima e soltando um grunhido desgostoso.
– Eu estou vendo turvo. – O ruivo suspirou, esfregando o rosto com a mão direita.
– Sinal de que está dando certo. – Dio murmurou, bebericando o seu shot de vodca. – Pelo menos isso...
Deveriam estar lá há quase, mais ou menos, duas horas, apenas bebendo e olhando para a cara um do outro, murmurando baboseiras sobre o barman da noite e a clientela garbosa que chegava. Caesar estava abraçado ao pescoço de Dio, quase dormindo, depois de tanto beber tequila. O mais velho estava tão bêbado que sequer teve a coragem de tirar o italiano dos braços.
– Bichinhas, sejam honestas comigo. Vocês me acham egoísta? – Dio indagou, subitamente. De alguma forma, o álcool lhe deu coragem de perguntar. Kakyoin franziu o cenho, apoiando o rosto em uma das mãos, enquanto se servia de mais uma dose de absinto.
– Em que sentido?
– E tem mais de um sentido? – Dio revirou os olhos. Caesar deu algum sinal de vida ao murmurar, mas logo voltou a ficar quieto. – Digo, eu realmente tento forçar as pessoas a fazerem o que eu quero só porque eu quero?
– Palavras emboloradas demais, eu não entendi nada. – Kakyoin riu, pegando o copo no qual havia pedido uma marguerita e lambiscava a batata frita que sobrou. Mas antes de levar a bebida aos lábios, o ruivo ponderou. – O Jonathan te chamou de egoísta?
– Sim... E eu estou preocupado. – Dio suspirou, logo sentindo seu ombro vibrando e Caesar sair de cima dele.
– O vampirão preocupado? Teremos um terremoto escala 7 no Japão. – O que deveria ser uma piada da parte de Caesar apenas afogueou ainda mais a insegurança de Brando. Nem ele nem Kakyoin riram (este último, por estar entretido demais bebendo). Zeppeli limpou a garganta. – Eu descobri que Joseph estava me traindo.
Kakyoin quase cuspiu o absinto.
– Como assim...?
– Não tem “como assim”, Noriaki. – Caesar passou as mãos pelos olhos, para despertar. – Eu já andava desconfiado desde o dia em que eu combinei com ele no sábado. E hoje, eu sanei minhas dúvidas. O vi conversando com uma tal de Tomoko, e foi algo altamente esclarecedor. – Caesar estava sério, bastante indiferente, como se aquilo fosse apenas uma memória distante, e não um fato que acontecera horas atrás.
Mas quando a máscara de álcool caísse...
– Meus pêsames por seu relacionamento. – Dio comentou, com uma brasinha de provocação sutil em sua voz. – Mas todos nós sabemos que o Joseph é um idiota.
– Eu não sei se é drama meu... – Kakyoin começou, passando os dedos sobre a borda do copo de drinque, se sentindo levemente envergonhado. – Mas eu acho que o Jotaro perdeu o interesse em mim.
– Está aí, outro idiota. – Dio riu com escárnio. – Jotaro achar Noriaki Kakyoin tedioso? Os Joestar são um bando de fodidos, mesmo.
– E... – Kakyoin passou as costas da mão sobre os lábios, procurando as palavras certas para a próxima notícia. Dio e Caesar o encaravam com expectativa quase nula. – Mês que vem, eu vou sair da faculdade.
O queixo dos dois foi ao chão.
– O quê? Por quê? – Indagaram quase ao mesmo tempo. Como já previra, Kakyoin apenas desbloqueou o celular, mostrando sua nota baixa.
– Eu não atingi a média dessa merda. – Ele riu, desgostoso. Por curiosidade, Dio fora checar a sua e a de Zeppeli, que, felizmente, passaram.
As tragédias se estenderam pela noite, comentários maldosos sobre uns aos outros, sobre os namorados (possivelmente ex, agora), sobre os encontros. Foram envenenando-se com puro desgosto líquido sabor tequila a noite toda, até o bar fechar.
De uma coisa, eles tinham certeza: beber não ajudava em nada a amenizar as tragédias, mas garantia uma adorável sensação de que elas terminam mais cedo do que realmente acabam.
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