História Só Termina Quando Acaba - Meu Porto Mais Seguro

A proposta era quase igual a do Dia dos Namorados, com a peculiaridade ilustre de que eles teriam apenas poucas semanas de diferença e, desta vez, não se veriam até a data marcada. Joseph estava bastante sério quanto àquilo, tendo em vista que nem mesmo ele riu das caras de surpresa que seus irmãos fizeram.

Pelo contrário, ele ficou chateado.

– O que é? Vocês têm alguma ideia melhor? – O Joestar do meio estava verdadeiramente emburrado. – Se tiverem, por favor, poderiam apenas...

– Não, é perfeita. – Para a surpresa geral, fora Caesar quem concordou. Ele quem menos falou o dia inteiro. – Ter um mês para pensar, acho que deveria ser algo que todos nós devamos levar em conta, certo? – E deu um sorriso amigável, o melhor que conseguiu. Ele estava começando a sentir o peso daquela armadura que se obrigou a vestir, o intrépido amante que não se abala com absolutamente nada.

Verdade seja dita, Caesar estava se corroendo por dentro, mas de modo nenhum permitiria que Joseph soubesse assim, tão entregue, quase de bandeja.

Ninguém tinha aptidão para continuar aquela conversa que por si só já havia sido bastante forçada e desconfortável, portanto logo se retiraram assim que entraram no veredicto que apenas se veriam novamente no dia 14 de março. Joseph e Caesar se despediram com um aceno de cabeças; Jotaro e Kakyoin sequer olharam nos olhos um do outro e Jonathan, assim como fizera o dia quase todo, ignorou totalmente a presença de Dio.

Aquele dia foi nada além de altamente exaustivo.

* * *

– E aí ele me olhou como se eu não fosse nem digno do esforço de virar a cabeça na minha direção. Eu juro, se ele tivesse algum tipo de poder sobre-humano, teria me matado naquela hora. – Dio resmungava indignado, enquanto recortava corações de EVA dourados, espalhando os recortes pelo chão da casa de sua (possivelmente ex) sogra. Erina estava sentada em uma mesa de escritório, terminando as colagens.

Era um passatempo interessante, fazer recortes para ornar as lembrancinhas de seus queridos alunos. Às vezes ela esquecia dos problemas da vida e se atinha àquilo e corpo e alma, mas agora se tornava muito difícil com seu irmão praticamente choramingando aos seus pés.

– Não acho que o Jonathan o odeia a ponto de querer lhe matar. – Erina o advertiu, passando mais cola quente em uma extremidade solta. – Acho que ele apenas está magoado. Quem diria que o grande Jonathan Joestar, depois de mais de dez anos, ainda teria medo dessas coisas?

– Também não imaginei essa possibilidade. – O Brando mais novo lhe entregou mais três corações recortados. – Você realmente castigou Diego? – Dio preguntou mais por curiosidade, e não por alguma vontade soterrada de vingança.

– Umas palmadinhas não matam ninguém, se é isso o que quer saber. – Erina revirou os olhos.

– E cadê o mártir Jr.?

– Na casa do pai.

Erina deu um sorriso triste. Dio franziu o cenho.

– Algo errado? – O irmão mais novo parou os recortes, e sobre os joelhos, foi se arrastando até a irmã, para então, deitar-se em seu colo. Erina usava uma calça de algodão verde e uma camisa preta com os kanjis de “youkai” estampados. Dio sentiu uma grande vontade de comentar aquelas roupas.

Ela aposentou os vestidos anti-inverno?

– Hoje eu fui deixar Diego com William, antes de vir para cá. – Erina começou, com o tom de voz baixo. – Eu fui até o condomínio que ele está morando, fiz tudo o que me mandaram, pedi para o Diego se comportar, mas aí... Eu percebi que eu ainda não me acostumei com isso. – Dio sentiu um par solitário de gostas mornas cair sobre suas bochechas, que rapidamente foram afagadas pela sua irmã. – E eu sei que meu filho sente essa lacuna, porque é normal que os pais falem uns dos outros, certo? Mas como eu posso falar de algo que me machuca tanto para meu filho? Ele iria começar a achar que Willian é ruim para mim, e eu não quero isso.

Erina fungou fortemente, passando as mãos pelo rosto antes de tentar recompor-se.

– Que ridículo, uma mulher de quase trinta anos chorando por causa de um casamento que não deu certo.

Aquela foi mais uma das poucas vezes em que Dio viu sua irmã tão fragilizada daquela forma. Erina sempre foi como uma super heroína na mente de seu irmão, mas até mesmos os heróis querem, ou precisam, ser salvos às vezes, e o único alicerce que Erina tinha era seu irmão. Dio muitas vezes não reconheceu sua própria importância para com sua irmã. Era praxe dela tentar enfiar em si tudo o que sentia a respeito do mundo e de todos, tentando apenas se ater a Diego e ao trabalho, mas possuía vezes e momentos em que não havia mais para onde enfiar, de tão cheia que ela já estava.

E era de conhecimento geral que, às vezes, é necessário esvaziar esse compartimento.

Então, já que não sabia bem o que dizer para confortar sua irmã, Dio permaneceu ali, quieto, apenas ouvindo tudo o que ela tinha para dizer, absorver suas lágrimas, e sempre que necessário, apenas apertar sua mão em um lembrete mudo de que ele ainda estava ali, por ela.

Dio nunca foi a pessoa mais dócil e amável do mundo, mas, talvez, se para não mais ferir aquele cujo seu coração agora se contrai em arrependimento, apenas uma mudança bastaria? Seria Jonathan tão leniente a esse ponto, a se permitir crer que Dio apenas mudaria porque o conveio, e não queria abrir mão do Joestar?

Estaria ele sendo egoísta novamente? Dio não sabia responder isso. Mas, se ele estivesse, que fosse. Dio se sentia culpado por não estar com a mente integralmente voltada para sua irmã. No entanto, sentia que era o certo.

Dio amava Jonathan Joestar, apesar de seu orgulho o ter cegado por muito tempo. Portanto, ele queria mudar isso.

– Dio... – Erina riu, afagando os cabelos loiros de seu irmão mais novo. Ele apenas sorriu e murmurou “hm?”. – Você está chorando no meu colo.