Quanto, saudavelmente, de orgulho uma pessoa deveria se permitir possuir? Caesar ainda não sabia responder aquilo, por mais que isso o assombrasse.
Mas por que tanto receio sobre algo que ele, há pouquíssimos dias, estava tão certo da verdade? Fatos sejam evidenciados: Caesar pode até ter saído para beber com os caras, enchido a cara, passado mal e ficado severamente cabisbaixo pelos dias conseguintes, mas diferentemente de Kakyoin e até Dio, ele não derramou uma lágrima sequer após o episódio no Cineteatro.
De alguma maneira, sua mente havia bloqueado as lágrimas para que, quando ele eventualmente se lembrasse de Joseph, ele não se sentisse devidamente impactado. Não choraria as lágrimas que ele não merecia, mas Caesar estava descobrindo da pior forma possível que doía. Doía muito reprimir tudo aquilo, mas chorar não seria demonstrar fraqueza...? Então por que ser forte machucava tanto?
Ele estava confuso.
Faltavam cinco dias para o White Day, e tal lembrança já era suficiente para que ele sumisse com as palavras e se trancafiasse com seus pensamentos mais soturnos, o que não era do feitio de Zeppeli. Quando Dio ficou sabendo da novidade da lista, conseguiu convencer o ruivo que ele apenas deveria beber comemorando depois que a lista fosse oficialmente publicada – vai que era um trote?
Dois dias se passaram dolorosamente lentos e chatos. Naquela tarde, Kakyoin havia saído com um colega, Polnareff, até uma loja de departamentos que ficava no centro da cidade. Dio permaneceu no dormitório, estudando, enquanto Caesar estava confortavelmente deitado no pequeno sofá e lia uma peça shakespeariana, com os fones no último volume. Dio estava quieto na mesinha de estudos quando reconheceu o barulho dos fones de Caesar.
Aproximou-se sorrateiramente do colega, dando-lhe um tapa nos pés nus, para chamar sua atenção. Caesar removeu os fones impacientemente, franzindo as sobrancelhas loiras, enquanto largava “A Tempestade” ao lado do corpo.
– O que você quer? – Resmungou, sem humor algum.
– Esclarecer a você que estourar os tímpanos com essas músicas tristes não ajuda em absolutamente nada. – Brando apontou com desdém para o celular. Caesar abriu um sorriso falso, pausando as canções e se sentando. – Qual o problema?
– É problema ouvir música boa agora?
– Mas você não ouve Joji, Caesar.
O famigerado vampiro sentou-se no canto vazio do sofá, sabendo que algo estava fora dos eixos pelo modo que o italiano suspirou, desistente, segundos após ele se sentar. Caesar massageou as têmporas, impaciente. Dio não tinha muita experiência no que diz respeito consolar pessoas, apenas tendo feito aquilo com Jonathan algumas vezes. Portanto, apenas se limitou a afagar maquinalmente os cabelos do outro.
– O que há de errado comigo? – Caesar murmurou, como se fosse um pequeno palavrão.
– Como? – Dio semicerrou os olhos.
– Por que eu sou tão fraco? – O italiano perguntou, exasperado. – Por que eu quero chorar tanto assim? E por que eu não consigo chorar? Por que isso queima no peito tão forte? Não fui eu quem errou, então por que tenho que sofrer desse jeito? – O rosto de Caesar estava vermelho. Àquela altura, Dio se perguntava se realmente afagar os cabelos era suficientemente consolador. Vendo que não, ele recolheu sua mão.
Então, tudo o que Brando conseguiu pensar de melhor foi em abraça-lo. Caesar demorou um pouco para retribuir o afeto, mas o fez mesmo assim.
– Você não é fraco, Caesar. – A voz de Dio soou suave, calma, como geralmente não era.
– Eu sou, sim. – O italiano reiterou.
– Não, não é. Não é o fato de você querer chorar que te fará fraco. Pode ser que não consiga agora, mas definitivamente irá. Você não é de pedra, seu idiota. E quando conseguir, chore bastante, grite a plenos pulmões. Nada disso vai machucar tanto quanto isso que dói e arde em seu peito.
– Por que falar é tão fácil...? – Caesar balbuciou, com o rosto abafado nos ombros de Dio. Mas foi apenas resmungar que ele já sentiu os olhos ardendo com força. Não adiantaria segurar agora. Por que ele ainda estava tão hesitante? Era o que queria perguntar, mas não conseguia articular as palavras apropriadas.
Caesar finalmente chorou.
E, então, Dio novamente afagou os cabelos de seu amigo, percebendo que aquele era o momento correto para o ato. Eles ficaram assim por um tempo considerável, até que os soluços de Caesar fossem se acalmando lentamente e apenas restar lágrimas quentes e bochechas vermelhas. Mesmo que o ombro de Dio tenha ficado dormente, ele não disse nada.
– Não acredito que eu estou sendo consolado por um vampiro. – Caesar reclamou, sentindo seu humor retornar aos poucos.
– Você parece melhor, agora desgruda. – Dio resmungou, empurrando-o pelos ombros com falso nojo. Caesar deu um sorriso fraco enquanto revirava os olhos.
– Pareço...? – Reiterou, desacreditado com as próprias palavras, o fitando. Dio sustentou o olhar por um longo tempo, esperando que Caesar complementasse sua própria frase. Seus olhos verdes estavam mais brilhantes, enquanto os dourados de Dio permaneciam afiados como sempre. Depois de muito silêncio, aquilo irritou Brando.
– O que foi? Quer me beijar?
– Nunca experimentei beijar um vampiro narcisista antes. Eu posso? – A resposta de Caesar deixou Dio pasmo. O mais velho abriu a boca várias vezes, procurando o que responder, mas enfim, apenas conseguiu rir daquilo.
– Se você quiser...
Seus rostos ficaram a milímetros de distância, quando, de supetão, uma cabeleira ruiva entrou como um estrondo no dormitório, com algumas sacolas muito brilhantes. Ambos se sobressaltaram no sofá, assustados com o flagrante.
– Adivinhem o que eu...! – Kakyoin estreitou os olhos ao vê-los tão próximos daquela forma. Caesar cobriu o rosto por conta da risada que lhe assaltou, enquanto Dio fingia ler A Tempestade. – Vocês estavam se pegando?
– O quê? – Os dois ofegaram, uníssono. – Não!
– Vocês definitivamente iam se pegar. – Kakyoin sentiu-se extremamente confuso. – Seus rostos estavam muito próximos.
– Caesar estava achando que ficou com mau hálito. – Dio desconversou, com sua costumeira voz entediada. – Eu só fui checar se realmente estava.
– É, só isso. – Caesar confirmou, recolocando os fones.
Kakyoin nunca, em toda sua vida, sentiu uma pulga pesando tanto atrás da orelha.
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