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História Roundtrip - No matter what


Escrita por: azzurebliss

Notas do Autor


Oioi~ então essa história é bem diferente de tudo que já escrevi alguma vez -vulgo comédia, ou pelo menos uma tentativa de uma, but enfim eu gostei de fazer esse experimento. Muito obrigado novamente Lil por esse plot uwu
Aconteceram vários fatos inusitados enquanto escrevia, até achei várias músicas lindas que viraram trilha sonora pra alguns momentos da história, e uma delas *No Matter What da collab de BoA e Beenzino virou a song oficial e nome desse capítulo, cara nem acredito o quanto essa música se encaixou com a fic aaaa enfim, vou colocar o link da playlist da fic nas nf. Espero que vocês gostem!

Capítulo 1 - No matter what


Fanfic / Fanfiction Roundtrip - No matter what





 

— Você deve tá zoando com a minha cara, Baek. Você contou sobre nossas vidas pra uma completa desconhecida? Onde você estava com a cabeça? Imagina o que ela pode fazer com essa informação! No melhor dos casos ela só vai acabar com a gente, no pior vai que ela é da máfia e trabalha com tráfico de pessoas, o meu rim pode ir parar no corpo de um velho chinês daqui a umas horas, quem sabe.

— Ah, agora você tá sendo um baita de um dramático.

— Meu deus, por quê que eu fui ouvir você?!

— Se acalma! Sentaí, vamos conversar direito.

 

O mais novo ficou ainda mais possesso com aquela tranquilidade toda. Odiava ser feito de idiota, e Baekhyun tinha extrapolando todos os limites impostos pela sua pouca paciência e o que restara de sua amizade, se é que restava alguma coisa depois daquilo.

 

Sehun ficou dando voltas sobre si mesmo e ao redor do quarto de hotel que nem um leão enjaulado, gastara bons 28 minutos naquilo, ouvindo a ladainha insistente de Baekhyun, puras sandices ao seu ver, tentando explicar e se desvencilhar do tema central.

 

Havia sido descoberto por Sehun, da pior forma, e ainda, no pior momento possível.

 

Baekhyun escondia o namoro do melhor amigo, mas não pelos motivos que Oh poderia vir a questionar, mas ficava difícil se explicar porque, bom, mesmo Baekhyun tendo o dom da eloquência, lidar com alguém mais dramático que si em momentos como aquele era um páreo bem difícil pra falar a verdade.

 

Oh amaldiçoava a sorte, o destino, ou o que fosse de mais sádico no universo que fizera ele, de forma totalmente espontânea, descobrir ter sido enganado todos aqueles meses. Pelo seu ainda melhor amigo, nada mais e nada menos, e aquela que continuava sendo a personagem misteriosa entre eles, a sua cúmplice, a namorada do Byun. Ou a Kim gatinha.

 

A reação do menor foi quase cômica, Sehun com certeza teria rido da sua cara, claro, se não estivesse tão puto com toda aquela situação.  

Antes de ir tomar banho Baek tinha deixado o celular em mãos do próprio Oh, para que ele respondesse a ligação de sua mãe, a Sra. Byun amava aquele garoto, nem fazia questão de esconder a sua preferência por ele antes do filho. Mas quando saiu do banheiro, contando uma fofoca que envolvia alguém do trabalho, e recebeu o olhar frio cheio de ódio e mágoa do mais novo, percebera a cagada que fez. Maldito ele pela sua falta de discrição.

 

 

— Não! Cansei de conversa. Pra quê? Pra que você fique arrumando desculpas e escondendo mais coisas de mim? Bonito seu Byun, um ótimo melhor amigo que eu fui arrumar. Não tá sempre pagando de sensato? O quê que deu em você pra nos arrastar nessa enrascada, hein.

— Sehun, ela é minha namorada, é claro que eu vou compartilhar minha vida com ela-

— Exato, sua vida. O quê que eu tenho a ver nessa história toda? Não acredito que saiu contando sobre mim pra sua namoradinha que eu nunca vi na vida. Você é a porra do meu melhor amigo, quase um irmão pra mim, você... ‘Tava com tanta vergonha assim de mim? É isso?

— Hunnie, não…

— Não, não vem com essa de Hunnie pra cima de mim! Você não só esconde o namoro de meses com essa garota, agora também que toda essa viagem e os convites foi ela que ofereceu? O quê vai vir depois? Que vocês planejaram isso tudo pra casar e me fazer de padrinho? Eu não vou fazer parte dessa palhaçada, já vou avisando.

— Okay, um minuto atrás ela era uma traficante de órgãos e possível assassina e agora ela virou minha noiva e futura esposa? Hunnie, tem certeza que não trocou as pílulas pra dormir com uma das de glaucoma do vovô Oh?

— É sua culpa eu ter virado esse paranoico! Você sabe que eu odeio quando esconde as coisas de mim. Agh! Não preciso dizer que nunca vou perdoar essa traição, né.

— Agora tá pegando pesado comigo. Hunnie...

— Ah claro. Eu que sou o vilão dessa porra toda. Vocês vão ver só...

— Sehun, pelo amor de deus, o que você vai-

Mesmo que Baekhyun fosse rápido, Sehun foi ainda mais, e escapando habilmente dos dedos do mais velho caminhou até a porta e saiu no corredor. Baek bufou levemente irritado, estava preocupado, mas ele conhecia Sehun a tempo demais, sabia que ele não faria nada imprudente. Mas seguiu em seu encalço, buscando convencê-lo a parar com toda aquela cena. Mas o outro parecia surdo, ignorando-o na cara dura. Bem, talvez ele merecesse o tratamento de gelo, mas nada se resolveria agindo daquela forma.

 

Sehun era mais novo que si por dois anos, também era o mais novo na família Oh, mas ele raramente se comportava de forma infantil ou cruel. Ele era gentil, divertido e carinhoso do seu jeito.

 

Ele deve ‘tá muito magoado, pensou Baekhyun subitamente assustado. Um Sehun magoado era pior que encarnado no capeta.

 

Depois de toda aquela discussão Sehun tinha ainda mais dúvidas do que respostas, e tudo o que ele queria, naquele exato momento, era tirar satisfação com a safada que tinha levado ele sob enganos para aquela conferência. Nem ele mesmo conseguia acreditar no nível absurdo de ingenuidade que tomou conta de si para acreditar naquele convite. Tinha que ter desconfiado dos sinais suspeitos que recebera de Byun no mesmo momento que ele abriu aquele sorriso sorrateiro, que tinha histórico de nunca trazer nada bom. Mas lá estava ele, dias depois, num daqueles hotéis absurdamente chiques e extravagantes no circuito turístico de Busan. Já era tarde demais para se arrepender. Se aquela mulher tinha mesmo um plano para acabar com eles, pelo menos teria que ter a decência de assumir olhando pra ele.

 

 

Sehun fechou a cara ainda mais e caminhou rapidamente ao longo do corredor, teria pegado o elevador, mas escutou os passos precipitados do amigo o seguindo de perto, ainda argumentando, então decidiu ir pelas escadas.

 

 

— Por favor, Sehun. Pare com isso, o que você pensa que vai fazer, hm.

Ofegante Baekhyun quis compensar as extremidades curtas com velocidade, mas Sehun não só tinha pernas mais longas e era mais rápido, ele tinha a raiva como combustível principal, ele poderia sair voando naquele momento e o Byun não se surpreenderia.

— Não é óbvio? Vou conhecer a sua querida namoradinha misteriosa. Acho que tá mais do que na hora, não acha?

— O quê! Sehun, não faz isso, ela ‘tá...

— Ocupada. É, eu sei, mas ela terá que abrir uma brecha pra mim.

— Oh Sehun, ficou maluco? Você nem conhece ela! Vai fazer um escândalo numa festa que nem fomos convidados por conta de nada, e se você queimar o meu filme com ela eu juro que...

 

O mais novo parou abruptamente só para atravessar Baekhyun com o olhar.

 

— Você o quê? O quê mais você pode fazer pra me magoar, hyung, já fez tudo direitinho.

— Hun...

— Baek, deixando de lado os nossos problemas, você sabe que uma hora eu tinha que conhecer ela, e vai por mim, ‘tô fazendo o que é certo. Eu tenho que saber qualé dessa mulher, não quero que você acabe como... Eu.

 

E antes que Baekhyun sequer tivesse a chance de responder, Sehun desapareceu de sua vista. Byun pulou os últimos degraus que os separavam do primeiro andar onde a festa com os inversores mais proeminentes da Coreia estava acontecendo e avistou-o já chegando às portas do salão de festas. Se aquele garoto chegava a fazer o que ele tinha em mente, aquele estardalhaço seria o seu fim em qualquer campo que Sehun quisesse se abrir como empreendedor. Já que não só queimaria seu filme com a namorada do amigo, mas com todos os maiores nomes no ramo de negócios e entretenimentos de toda a nação e arredores. Por mais trágico que isso poderia soar, ele estaria acabado antes mesmo de começar.

 

 

Oh estranhou não ter ninguém guardando um lugar tão chique e cheio de almofadinhas, mas ficou feliz de não ter que enfrentar ninguém, ainda. Precisava poupar as suas forças.

Mesmo ele não sabendo o nome da tal Kim “Gatinha malvada” que era como ela estava agendada no telefone do amigo, Sehun tinha visto uma foto dos dois como fundo de tela no aplicativo de conversa que eles usavam, e onde o garoto ficou sabendo que muitas coisas de sua vida foram expostas para aquela estranha de rosto bonito, mas intenções duvidosas.

 

Só que quando Oh entrou no lugar repleto de pessoas para onde ele olhasse, ficou um tanto encolhido, sem saber por onde começar a sua caça. Foi então que ele viu um pequeno palco, e no palanque um microfone. Sorriu, e enquanto deu os primeiros passos para frente sentiu alguém puxá-lo com força.

 

— Sehun, não se atreva! Tô avisando.

— Bancando o valentão, chaveirinho?

 

Até o mais intrépido e valente dos homens teria pensado duas vezes antes de tentar a sorte e chamar Byun Baekhyun daquele apelido. Sehun só queria descontrair um pouco, só não contara com aquele tiro no pé, quando viu já era tarde e ele soube, naquele momento a morte estava à espreita, sorrindo e de braços abertos para recebê-lo.

 

— Chaveirinho o caralho! — Baekhyun ralhou, mas antes que o punho impactasse com seu corpo, Sehun por muita sorte, ou falta dela, oscilou para frente, esbarrando em algumas pessoas e derrubando outras no processo, ele não conseguiu se equilibrar, e nem se afastar o suficiente quando fora puxado e virado para encarar o seu melhor amigo, e todo o que Sehun soube depois foi ter recebido um murro pesado na cara que deixou sua cabeça girando. O golpe o fez cambalear para trás, e tropeçar sobre um garçom que pegava os caquinhos dos cristais quebrados na briga acontecendo. Oh ainda bateu forte a cabeça quando chegou ao chão, que mesmo zonzo com o soco e a caída posterior, ouviu os gritos e vozes chamando-o. Atordoado o suficiente para sequer conseguir levantar, tudo o que a cabeça confusa e os olhos embaçados alcançam a enxergar antes de apagar foi o rosto charmoso, porém surpreso de um estranho, que para cúmulo tinha uma bizarra semelhança com o demônio do seu passado. Alguém que lhe arrancara a alma e a vontade de viver alguns anos atrás, o ser que competia em nível de antipatia com o próprio Ele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado. Seu ex.

 

 

“Os olhos estão quentes em mim, mas eu preciso me afastar e aguentar.”

Crush - 2411


 

 

Meu dia não tinha como piorar, né?

 

 

Bom, antes de começar esse depoimento eu quero aclarar alguns pontos aqui, estou além das minhas faculdades mentais, pelo menos das normais. Qualé, até onde sei ainda tô inconsciente, mas ainda assim podem dar fé a tudo o que vocês vão ler a seguir.

 

Meu nome é Oh Sehun. Tenho 24 anos e um amigo que ainda vai me matar, um filho que alimentar –Vivi que o diga, mas no melhor, e na maioria, pior dos casos; eu sou o que o pessoal definiria de azarento.

 

Tô quebrado, desempregado, fodido até os ossos. E essas são as minhas memórias, ou talvez, o mais perto que você vai achar do diário de um banana.

Tô brincando, ou talvez não, quem sabe. Vocês que vão dizer.

 

Não sei ao certo quando essas incríveis e mirabolantes desgraças começaram a acometer minha vida, muito provável começasse na primavera de 94, ou talvez, muito além no passado, com a extinção dos dinossauros ou com o big bang. Embora, muito provavelmente se devesse a um período traumatizante da minha juventude, o jogo que a Coreia perdeu com a mínima contra a Alemanha na semifinal da copa aqui, em casa.

Cara, eu ainda tenho pesadelos com esse dia. Se bem que, se falarmos de episódios tristes eu tava lotado deles, mas tem uma chance hipotética de 0, 000001% dessa maré de azar se dever a um episódio, 5 anos atrás. O dia que eu levei o maior fora da minha vida.

 

Já sei o que vocês vão dizer, todo mundo leva fora ou toco, o negócio é superar e se reerguer e blablabla, mas acreditem, nada se comparava a frieza e o jeito premeditado que eu fui largado. Foi O fora. Planejado e executado com maestria por até então o cara que eu mais amei nessa minha miserável existência. Hoje em dia, o ser mais abominável pra mim.

 

Eu sei que fica deprimente começar falando de histórias de amor fodidas, mas se for pra incitar um pouco de pena, tá valendo. Às vezes até é bom, pensar no passado, nas boas lembranças, velhas feridas, as fodas gostosas, e por aí vai. Eu fiquei tão traumatizado com o que tinha acontecido que até hoje eu não consigo superar, preso nesse quebra-cabeça sem sentido nenhum. Pode parecer até estranho, mas ainda bato uma relembrando os velhos tempos, os vários momentos calientes que tive com ele. O Ge.

 

Enfim, meus amigos, como eu disse e vale ressaltar, eu tô fodido pra caralho. Vocês provavelmente nem vão acreditar, mas esse que vos fala já fora um cara legal, boa pinta, se bem que isso eu ainda conservo um pouco, até um bom partido, um companheiro de todas as horas, de vida e na cama segundo a maioria dos boys e girls que passaram pela minha vida, mas hoje... Ah, hoje eu já não vivo ao certo, só sobrevivo mesmo.

 

Ou pelo menos, eu tento.



 

— Por que ele não acorda? Tem algo de errado com ele que você não está querendo me dizer, Park?

— Já disse que ele só está desacordado, daqui a pouco ele acorda, Baekhyun. Tenta se acalmar.  

— Não acredito que eu bati nele, onde que eu ‘tava com a cabeça?

— No lugar certo é que não, né meu amor?

— Minnie...

 

O som abafado daquela conversa chamou minha atenção, só então percebi, não estava morto. Em algum ponto da minha mente alguém gritava pontos pela grande descoberta, gênio. Suspirei baixinho, sentindo dor até onde eu não sabia que poderia sentir. Meu coração, entre outros órgãos inúteis. Enquanto abri os olhos a claridade gritante do lugar fez meus olhos arderem. Pisquei lentamente tentando me acostumar quando um par de olhos grandes e castanhos me encararam de perto.

— Olá Sehun, como está se sentindo?

— E-Eu…

— Ele acordou?! Sehun você tá legal? — o grito do meu melhor amigo chegou bem depois do abraço de urso que ele infringiu em minha pessoa.

— Baek, se afasta! Ele deve estar todo quebrado, não piora o quadro dele!

O cara alto e engomadinho de antes separou o carrapato de mim antes que eu morresse por falta de ar. — Eu sinto muito mesmo, Sehun! Eu juro que eu não quis te bater tão forte, mas você sabe que eu não sei controlar a minha força e...

Sorri de lado mesmo sentindo a ardência no pómulo esquerdo, alguém me lembre nunca mais tentar bancar o protetor com esse baixinho, por favor.

— Tá tudo bem, hyung. Tá doendo tudo, mas vou sobreviver. Você bem que poderia melhorar esse gancho da próxima, acho que tá ficando enferrujado hein.  

Baekhyun sorriu enquanto passava a mão pelo rosto, ele tava pálido.  

— É pessoal, falsa alarme. Como eu disse, vaso ruim não quebra.

— Cala boca e me serve um pouco de água tô sentindo que... — e foi nesse momento que eu comecei a suspeitar do porquê Baekhyun insistir em manter o relacionamento no escuro. Ele olhou para trás e abriu um sorriso pequeno mas genuíno. A “gatinha” se aproximando de onde a gente estava.

— Ah, Sehun. Essa é a Kim Minhee. Ela foi quem nos convidou pra essa viagem.

Ergui tanto as sobrancelhas que pode que elas tenham desaparecido da minha cara. Mas mesmo tendo a leve impressão de já ter visto ela antes, algo me dizia que ela não era nada para se preocupar.

 

Woah, mas tenho que concordar, o gosto do Baek melhorou bastante depois daquela baixinha encrenqueira da Soo. Nossa…

 

Meu amigo olhou pra mim, com os olhos esbugalhados, fazendo caretas estranhas. A mulher sorria lindamente enquanto o cara alto saía da sala.

— O quê foi? Por quê ‘tão me olhando assim, não falei isso em voz alta, falei?

— Desculpa ele, Minnie. Às vezes, muitas vezes, ele demora pra pegar no tranco. Você se acostuma.

— Hey. Eu tô bem aqui.

— Era pra ter escutado mesmo, seu pentelho! Devia ter te batido mais forte pra ver se consegue se endireitar. Cara, você ainda vai me matar de um ataque do coração antes dos 30!

A mulher deu uma risadinha fofa enquanto tentava acompanhar o nosso questionável sentido de humor. Ganhou vários pontos e talvez eu tenha deixado a implicância de lado por conta disso. É, acho que se ela não quis sair correndo da sala nos cinco minutos que se seguiram posso aceitar três fatos a seu respeito:

 

1- Minhee é uma santa por aguentar o Baek e eu, juntos,

2- ela é uma gata mesmo, vocês não tem idéia,

E 3- gostei dela.  

É, podem me julgar, me acusar de hipócrita, falso, duas caras, etc., não me importo. Já tenho o bastante com a bendita da tal consciência me infernizando, muito obrigado.

 

 

Depois de ser dado de alta pelo médico que me socorreu, que depois descobri se chamar Park Chanyeol e ser amigo de infância da Minhee, a gente concordou em ter um almoço civilizado, pelo bem de todos os utensílios de vidro presentes e meu reposto bom humor. Todos os créditos a enorme pílula pra dor de cabeça que eu fui forçado a engolir.

 

— Então noona, me conta. O que você faz da vida e o que fez de tão errado pra carregar um karma tão pesado como o Baek nas costas?

Não achei que tivesse falado mais do que a verdade, mas a Minhee achou aquilo a maior piada que já tivesse ouvido. Talvez a pobrezinha também achava e só procurava desviar a atenção, vai saber.

— Eu sou psicóloga, hoje em dia promovo terapias alternativas para casais com problemas no relacionamento. Pode se dizer que sou uma romântica incurável, o que me faz tão boa no que eu faço e acho que foi isso o que me aproximou do Baekhyun. Nos conhecemos em meio aos livros de uma pequena cafeteria perto do campus da faculdade.

— Bom saber que o Baek achou alguém tão humilde e brega quanto ele.

— Hey! Baixa a bola aí, garoto. Essa é a mulher mais humilde que você vai conhecer.

— Além da pessoa mais workaholic que deveria até ganhar um prêmio de estudante mais dedicada do campus. Ah, esqueci. Você já ganhou um, não é senhorita Kim?

Apesar do aparente deboche na voz, Chanyeol parecia mais orgulhoso em expor os feitos dela.

— Alguém ainda não superou a falta de atenção, ele adora fazer isso — a mulher sorriu pro amigo. O grandão deu de ombros sem perder a pose.  

— Minhee é uma lenda na faculdade de psicologia e medicina. Ainda no seu terceiro ano ela criou um sistema de apoio e ajuda aos estudantes para reduzir o estresse que a própria faculdade exercesse sobre nós — comentou o Byun empolgado. Percebi que o fato dele estar a ponto de se formar em psicologia trazia não só orgulho em si próprio, mas era muito por conta das pessoas que ele conheceu no caminho. Eu conhecia o Baek o suficiente pra afirmar que ele também era um grande profissional na sua área. Mas como ele é humilde nunca vai fazer esse tipo de menção. Ele se considerava um simples orientador educacional, como se isso não fosse o suficiente pra se orgulhar. Pelo amor de deus, ele ainda fazia trabalhos em ONGs e campanhas de conscientização sobre vários problemas atuais. Ele sempre foi o meu herói, alguém que eu me espelhei e quis, na medida das minhas possibilidades, emular.

— Chanyeol esteve bem perto de um feito histórico por si mesmo, mas preferiu o anonimato, o que me faz sentir mais orgulho ainda dele — Chanyeol aquiesceu, corando levemente perante os elogios da Kim. — Ele foi um dos poucos estudantes de medicina da nossa faculdade a ser convidado pro congresso da ONU alguma coisa sobre a negligência das autoridades com equipes de resgate e da cruz vermelha em países em conflitos armados.

Assenti admirado e intimidado na mesma proporção enquanto continuavam a conversa. Como eles podiam ser tão incríveis? E eu aqui ainda tentando me enturmar com eles. Só que não dava pra negar a diferença gritante entre essas pessoas incríveis e eu. Que nunca consegui manter um emprego sequer por mais mais de três meses. Me senti pequeno, encolhido, diminuto demais diante das figuras confiantes ao meu redor. Porque sejamos sinceros, eu era uma piada perto deles, sem graça e ainda perdido, sem saber direito como lidar com a vida adulta.  


 

“Já, já está em frente aos seus olhos, mas você hesita, por que?”

Taeyeon - Why

 

 

Enquanto eu mergulhava no mar da auto depreciação eu vi que as coisas não tinham como melhorar daquele momento em diante. Não quando eu finalmente lembrei de onde eu conhecia a Minhee.

— Peraí. Minhee, você... Você era ela, não é? A melhor amiga, a sem tempo pra baladas e saídas com amigos, a que vivia plantando a mim e ao...

— Kris. Ou Yifan. Sim, a mesma. E sinto muito por aquilo. Mas achei que demoraria mais em lembrar de mim, fico feliz que me poupou da longa introdução. Prazer, finalmente nos conhecemos hein mocinho.

— Wow, você é mesmo amiga dele. Nesse ponto posso dizer que esse mundo é bem pequeno mesmo — ela ainda sorriu, no entanto o sorriso morreu aos poucos quando me viu fazer caretas com a menção daquele homem.

— Sim, Sehun. Você não faz ideia quanto.

— Mas não estou entendendo. Você não parece surpresa, pelo contrário parece que veio preparada pra me… encontrar.  

Peguei a troca de olhares fortuito entre os três. Comecei a ficar nervoso novamente. ‘Tava acontecendo algo muito terrorífico por baixo dos panos, nem tinha certeza se queria descobrir o que eles estavam escondendo. Mas pelo simples fato de honrar meu título de banana oficial, eu exigi uma explicação.  

— Baekhyun, me diz de uma vez o que tá acontecendo nessa porra.    

Eu olhei ao redor e todos pareceram ter travado no lugar, só a Minhee mantinha os olhos preocupados em mim.

— Sehun, quero que saiba que tudo o que a gente fez foi pelo seu bem.

 

E foi como se alguém tivesse me dado um soco no estômago. Do quê que ela estava falando? O que eles fizeram?

 

E quando eu não poderia estar mais confuso e a situação mais bizarra, eu o vi. Tão impossivelmente bonito, se aproximando lentamente como se estivesse na porra de um desfile. Então não tinha sido um sonho ver ele naquela festa. Um riso incrédulo forçou minha garganta e rasgou meus lábios, tão subitamente como a compreensão cruzou minha mente.

É claro, esses filhos da mãe tinham planejado tudo aquilo.

Os convites, o Baek esconder a namorada, a Minhee ser a melhor amiga do Yifan. Um complô orquestrado e bem executado, devia admitir.

Sehun, você é muito idiota.

 

— Puta que pariu, Baek. Considere-se morto — disse entre dentes, evitando olhar na direção do meu ex. Não era justo ele aparecer daquele jeito! Eu 'tava prestes a explodir de raiva, com um sentimento estranho borbulhando no meu peito, claramente não conseguindo lidar com aquela situação limite.

Caralho, eu ia ter um treco a qualquer segundo!  



 

Baek deixou um suspiro longo e pesado escapar, a presença do Fan se fez ainda mais intimidante quando ele parou rente a nós, com os olhos atentos e aquele pequeno sorriso contido ainda tão encantador como lembrara. Tentei me concentrar na explicação -desculpa, a grandes rasgos do meu melhor amigo do plano que tinham posto em prática, mas tudo que consegui captar foi que eles armaram aquilo somente pra que o Fan e eu resolvéssemos os nossos “problemas”. Como se fossemos duas crianças birrentas. Eu ‘tava a segundos de matar alguém. Que direito eles tinham de fazer uma coisa dessas? De remoer no meu passado e trazer ele à tona, junto dele.

 

— Você fez o quê...?

— Olha aqui Sehun, podemos entender a sua indignação, a sua raiva e revolta pelo que fizemos, mas a gente teve que apelar pra medidas drásticas pensando no seu bem estar. E sim, só pra que fique claro, essa é uma intervenção. Agora se você tem que realmente culpar alguém aqui de entrometido e enxerido eu peço que culpe a mim. Eu fui quem sugeriu que esse encontro acontecesse em primeiro lugar, porque se tem alguém aqui por quem eu faria tudo nessa vida é o Fan, e tenho certeza que isso vale pro Baek também em relação a você, então em prol de nossa amizade eu peço a vocês dois que falem o que tem pra falar, só assim ambos vão superar esse drama todo.       

 

Eu olhei pasmo pra Minhee enquanto ela deixava o olhar vagar entre meu ex e eu, um olhar pesado e até com certo ar autoritário que não abria brechas pra reclamações ou oposição de ninguém.

 

— Agora vamos deixar vocês conversando a sós.

— Mas noona, justo agora que eu acabei de montar o meu prato.

— Eu já disse que estamos indo, moleque. Deixa o prato aí.  

— Fecha o bico Park, deixa de ser bunda mole ou ela vai tacar na sua cabeça.

Enquanto eles saíram, Kris pediu pra sentar, mas o fez mesmo sem eu ter dado permissão. Ainda sem lhe direcionar um olhar sequer. Se passou um longo minuto de silêncio em que acabei quebrando anunciando que não ficaria ali para ser alvo de mais chacotas e atenção alheia, e mesmo fazendo menção de abandonar o lugar o mais velho permaneceu sentado. Na verdade pareceu todo murcho sobre a mesa até ouvir o meu 'o que tá esperando?' Tentei ignorar a expressão entre surpreso e levemente emocionado dele, até parecia um cachorrinho feliz ganhando atenção do dono. Mas resolvi focar no que devia ser feito. ‘Tava cansado demais das pessoas brincarem com meus sentimentos. Decepcionado demais pra continuar me importando pelo ranço que carregava por cinco anos.

 

Kris seguiu em meu encalço se aproximando da piscina até que sem que ele percebesse eu dei uma rasteira, acabando por derrubar ele na água. Claro que eu não deixaria a chance passar, ainda tinha muito pelo que me vingar.

Ainda gritei aquilo pra ele, por 'ter me enganado e pelos 5 anos que ele sumiu sem dar notícias ou sinal de vida'.

'Eu mereci' foi tudo o que ele disse. Aquele dissimulado. Quis bater nele ainda mais depois de ouvir aquilo, mas Kris conseguiu frear as minhas investidas segurando meus pulsos. A aproximação repentina e o contato fizeram me sentir confuso e mais revoltado ainda, vendo que não conseguiria me acalmar Kris se afastou novamente.

 

Dando tempo pros sentimentos voltarem aos seus eixos, me acomodei numa daquelas espreguiçadeiras debaixo do guarda sol, enquanto Kris ocupava a outra do meu lado, sem desprender os olhos de mim um segundo sequer. E aquilo só fazia o meu coração se agitar mais no meu interior. Ali, enquanto tentava a todo custo o ignorar, Kris finalmente abriu a boca pra falar.

— Eu sei que você me odeia, e pelos motivos justos, eu nunca vou discutir isso. Eu agi como um garoto imbecil e covarde, só que agora, nesse momento, eu não trago outra coisa, nem justificativas ou desculpas, só a verdade. Eu prometo. Depois disso se você não quiser ouvir ou saber mais nada de mim, eu vou entender, você está em todo o seu direito, mas agora o único que peço é que me ouça até o final.

Como não fiz menção de me afastar ele continuou. — Talvez você não tenha noção disso, mas cinco anos atrás eu planejava uma vida com você, Sehun. Tínhamos dois anos de namoro, no entanto eu sempre soube que seria você com quem eu queria esse tipo relação, desde que eu coloquei o primeiro sorriso no seus lábios. Pode parecer surpreendente eu estar falando essas coisas, porém pra mim você não era e nunca foi qualquer um como você reclamou na nossa primeira briga. Contudo, achava injusto te pressionar com um compromisso tão sério e duradouro quando você mal tinha começado a faculdade. Só que daí a gente foi morar junto e eu não esperava que meu paraíso junto a você fosse ser destruído da forma que foi, tão repentina e devastadora.

 

Não conseguia olhar em sua direção, mas ainda conseguia sentir a dor na voz falha que ele insistia em passar por cima enquanto continuava a revelar a sua versão de nossa história.

 

— Eu nunca trouxe a minha vida familiar nas nossas conversas porque eu tinha a leve esperança de que se eu ignorasse o meu passado nunca voltaria pra me assombrar, no entanto, o meu pai fez questão de acabar com todos os meus sonhos ao aparecer naquela manhã. Eu não tinha idéia que ele iria me visitar, eu e ele não nos falávamos tinha anos. Só que ele planejava se aposentar e precisava do herdeiro — um vento passou sacudindo os seus cabelos, eles estavam mais escuros do que eu lembrava. Seus olhos refletiam uma angústia palpável.

— Você acabava de deixar o apartamento quando ele te viu e não demorou nada em montar o quebra-cabeça. Ele deixou claro que eu sempre fora sua maior decepção, só que ele não aceitaria tal desonra, ele me ameaçou, jogou o seu maldito dinheiro na minha cara, embora fiquei mais assustado quando ele ameaçou tocar em você e na minha mãe. Ele poderia estar senil, mas suas palavras nunca foram da boca pra fora, naquele último dia não tive nem chance de me despedir e por isso, Sehun eu... eu sinto muito. Eu poderia ter contado, claro. Mas o que você teria feito ao saber, preferi me afastar e deixar você alheio desse mundo fodido que eu nasci.

 

Outro suspiro, o Kris estava cheio deles desde que começara a falar.

— Eu fui covarde, eu fui mas nunca deixaria que alguém atentasse contra a vida e bem estar dos meus seres queridos, Sehun. Eu tinha que te poupar dessa loucura toda. Só que quando voltei pra China o meu pai acabou expulsando a mim e minha mãe de casa, tive que começar do zero, continuei cursando a faculdade lá com todo o esforço e sacrifício que isso representou, até usei as economias que eu tava poupando pra comprar o nosso primeiro apartamento pra pagar as mensalidades. Foi difícil, mas depois de tudo o que tinha acontecido com a gente eu fiquei ainda mais determinado em me reerguer por conta própria e demonstrar a todos que eu poderia ser melhor do que ninguém nesse ramo. Melhor ainda que meu pai. Batalhei por escrever o meu próprio nome nesse negócio e hoje posso dizer que não tem nada que eu deva provar, além de ninguém que possa me dizer quem ser ou não, hoje sou dono do meu destino e livre por cima de todas as coisas. Só falta uma pequena peça nessa equação pra fazer essa história mais feliz, mas ela já não depende de mim.

Recebi um olhar quente, que ficou ainda mais penetrante, a minha pele formigava de pura ansiedade.

— Ainda assim, eu quero que saiba que independente da sua decisão, se preferir continuar me odiando e se afastar... Você foi e sempre será alguém muito importante na minha vida. Eu sempre te amei, Sehun. E acho que esse sentimento só tende a aumentar com os anos. Com isso quero dizer que não me arrependo de ter me apaixonado por você. Alguém com a capacidade de me ensinar mil e uma formas de ver o mundo enquanto deixava seu caráter arredio de lado pra me abraçar por inteiro, alguém com o coração tão doce e frágil que confiou a mim sua segurança, você não sabe o quanto me arrependo de não ter cuidado dele melhor. Sehun, é muito provável que eu não consiga compensar tudo o que eu fiz você passar mas pelo menos, me deixa tentar. Não importa quanto isso demore, uma vida inteira eu não me importo só… Só queria que soubesse isso e talvez, algum dia no futuro, obter seu perdão.

Fiquei sem palavras, o coração batendo tão forte que mal conseguiu ouvir os meus pensamentos.

— Agradeço pela sua sinceridade, só que eu... eu não sei, preciso de um tempo sabe, pra digerir toda essa história.

— Claro, eu entendo, não se preocupe com isso.

— Bom, então eu... acho que já vou indo.

— Mas Sehun, você ainda não almoçou. Fica e come alguma coisa antes.

— Não, eu estou bem. Realmente preciso ficar sozinho nesse momento, hyung. Desculpa pelo banho.  

E Kris cedeu. Não soube dizer se foi por ter apelado ao honorífico, mas pelo menos estava agradecido dele não ter insistido, aquilo tudo era muita coisa pra digerir. Pensar que eu o odiei por todo esse tempo pelos motivos errados, fazia me sentir ainda mais culpável. Eu não fiz nada além de reclamar e nos momentos mais ruins, tentar afastar a dor com sexo quando o Fan comia o pão que o diabo amassou pelo único motivo de ter… me amado. Nem sei quando tinha começado a chorar só sei que não conseguia parar.


 

“Meu coração está bagunçado

Então não sou capaz de tomar nenhuma decisão

Eu não deveria estar assim

Só porquê você não está aqui

Mas, eu continuo retrocedendo o tempo.”

Dean - Half Moon

 

Depois daquela conversa e o chororô que se seguiu, devo admitir que passei horas a fio no quarto de hotel vivendo de serviço de quarto e comédias românticas ruins só pra levar a fossa com tudo que tinha direito. Como o bom drama king que se preze. Se fosse por mim passaria todo o resto da noite, ou dos dias seguintes em Busan daquele jeito mesmo, mas o meu cavaleiro de brilhante armadura edição de bolso que vivia me metendo em furadas veio ao seu resgate, ou só pra me infernizar mais um pouco, no finalzinho daquela tarde ensolarada.

— O que você pensa que tá fazendo embaixo dessas cobertas, Oh Sehun? Faz mais de 40 graus lá fora.

Não desviei os olhos da tela. Então o Baek fez questão de olhar ao redor reclamando de alguma aleatoriedade até finalmente pousar o olhar na tv.

— Não vai me dizer que isso é "Diário de uma Paixão", Sehun! Pelo amor da minha gatinha o que eu fiz para merecer isso.

— Ninguém mandou você vir.

— Mas se eu não viesse o que seria de ti meu nobre e fodido amigo? — ele pulou na cama se ajeitando sobre as almofadas—. Você não conseguiria sobreviver a tanto açúcar e melação no seu sistema, passa isso pra cá — ele pegou o pote de sorvete de morango e chocolate das minhas mãos, sequer protestei, ‘tava exausto ao perceber a solidão de encher a cara naquilo sem o meu melhor amigo.

— Você sabe que eu ainda tô puto contigo, não sabe?

— Sei sim, mas você sabe que isso não vai durar muito né. Mais ainda porque eu te fiz um favor. De nada.

— É, que seja. Só cala boca que o Gosling gostoso vai aparecer daqui a pouco com aquele outfit de época e isso merece o devido respeito e apreciação.

Baek ainda rolou os olhos e sorriu se ajeitando do meu lado, fingi não ter notado o quão aliviado ele pareceu segundos depois. Assim como ele fingiu não notar minha cara inchada.

 

— Então, como foi a conversa?

— Boa, eu acho. Ou tudo o bom que um quase monólogo pode ser, né.

— Sehun…

— O quê! Eu ainda tô confuso, que saco. Não conseguia nem olhar pra cara dele sem ficar irritado ou nervoso, o que você esperava que aconteceria? Que a gente reataria o namoro? Continuar onde ficámos? Acorda, Baek. Ele tinha a chance de me explicar tudo quando a poeira baixou, mas ele não fez questão então eu sinceramente não entendo esse showzinho todo, agora.

— Você é inacreditável. Não parou pra pensar que ele pudesse estar com medo de você o rejeitar? Ele contou que fez terapia com a Minhee por anos até tomar coragem e vir falar contigo? Não né, se mal lembro Yifan nunca foi desses caras de arredar, ele disse que queria olhar pra você enquanto contava tudo pelo que passou. Mas fazer um moleque mais teimoso que uma mula como você entender era uma missão suicida. Ele sempre soube, e o admiro que mesmo assim tenha tentado, pelo menos.

— Quando ele contou tudo isso pra você?

— No meu terceiro encontro com a Minhee, ela fez um jantar e convidou todos os amigos pra que eu pudesse conhecê-los. Tendo em conta que eu não fazia ideia que o Fan dela e o seu Ge eram a mesma pessoa eu fui na completa ignorância. A festa foi um espetáculo e tanto, devo dizer. Quase matei o Yifan com um facão de cozinha quando eu o vi. Mais de dez pessoas tiveram que me conter, foi engraçado.

— Não brinca! Diz que alguém tem um vídeo disso, por favor!

Comecei a rir mais ainda tentando imaginar as pessoas lidando com o Byun no seu modo selvagem.

— Cala boca, eu quase fiquei em abstinência de sexo por conta disso.

— Mas então ele…

— Ele falou comigo, depois de nos trancar na pequena adega da Minhee. Depois de eu ter tentado matar ele, olha você pode dizer o que for dele, mas esse cara tem coragem.

Dei de ombros, eu sempre soube que o Fan era mais cachorro louco que eu e o Baek juntos, só que a pinta de bom moço disfarçava muita coisa. Pelo menos isso não mudou, pela primeira vez no dia sorri pensando nele.  

— Ele falou que tinha intenção de falar contigo, mas eu pedi que esperasse. Era muito repentino, eu tinha que preservar você e te preparar. Ficamos todos esses meses pensando em alguma forma pra fazer esse plano funcionar até que essa conferência veio no momento justo.

 

A gente continuou falando em murmúrios contidos. Baekhyun continuou me confrontando mesmo eu já tendo deixado claro a minha confusão. No entanto, não no que o Byun pudesse vir a imaginar, mas em algo além disso. Não estava confuso enquanto aos meus sentimentos. Por mais estranho que isso possa parecer, e mesmo que desejasse odiar e repudiar o Kris, eu nunca fui capaz disso. Não possuía essa capacidade, embora fosse a lembrança aquela a me perseguir com mais afinco, muito por conta disso e pela imprudência e o impulso do desejo contido para com o maior que tive uma fase pesada de uma sucessão constante e diária de parceiros em meus lençóis. Ainda assim nada ofuscou, nem por um instante, o desejo que nutrira por tanto tempo por esse chinês idiota.    

Agora o que pesava no meu âmago era a minha falta de talentos e qualidades, me sentia alheio ao mundo dos adultos em que todos meus amigos faziam parte. Eles todos lutaram pra se erguer com suas escolhas só que percebi, meio que tarde demais, ter ficado para trás, remoendo as lembranças de uma relação e um sentimento que tinha provado não ter morrido só pra me esconder da realidade, ficando naquela tortura, apegado ao passado.

 

— Olha Baek, eu sinceramente não sei o quê ele está fazendo aqui, não posso nem imaginar o porquê dele querer algo comigo ainda. Não tenho nada a oferecer.

— Você sabe que ele não está atrás de dinheiro, não sabe?  

— Eu sei, eu tô falando de mim. Comparado a ele e todos vocês eu sinto que fiquei parado no tempo. Eu quero ser muito mais do que essa pessoa que me tornei, quero ter orgulho de mim e triunfar no que eu gosto e só então vou entender que esse sentimento não é dependência demais. Que é amor, ou carinho ou que seja que tenha sobrado da nossa relação. Quero me provar, Baek. Ser alguém melhor por mim e pra mim, depois eu penso no Kris, em relacionamentos, em tudo isso. Entende?

Com tudo isso, acabei percebendo que sim gostava do que fazia, a música é minha paixão e sempre achei incrível viver do que eu mais gosto, só que não sabia por onde começar. Não queria me sujeitar a pedir ajuda pra ninguém, mesmo pro Kris intervir em meu favor. Ainda sou muito teimoso e orgulhoso pra isso. Precisava fazer do meu jeito.   

Tudo aquilo me mostrou o quão dependente e conformista eu ‘tava sendo em relação ao meu passado. Eu tinha que mudar esse jogo, pra ontem.

 

Ao atirar toda aquela convicção pra cima do Baek, ele me falou da sua idéia, que nós não tínhamos vindo pra Busan somente e exclusivamente por conta daquele plano mirabolante, mas também pelo real interesse de todos eles em me ajudar a me reerguer.

É, eu tenho amigos incríveis. Sintam-se livres pra ficar com inveja.  

 

— Vem comigo nessa conferência, lá vão ter palestrantes falando de empresas e negócios e quem sabe você não obtenha algum tipo de inspiração e contatos lá hm~

— Você acha? Eu não sei...

— Deixa essa insegurança escrota de lado e confia no seu hyung aquí, hm. Quando eu já te deixei na mão... E não ouse responder essa pergunta, pirralho.

Acabei aceitando o convite e acompanhando ele na conferência, o quê poderia fazer? Tinha certeza absoluta que ele encheria o meu saco até explodir. Quando chegamos no local, percebi que metade do pessoal já conhecia nós dois, viramos atração naquele dia não tinha como ignorar. O engraçado foi quando perguntaram o motivo da nossa briga épica, ao que respondemos sorrindo e fingindo ter sido parte de um show particular nosso no intuito de chamar a atenção. Percebi nesse momento que éramos horríveis inventando desculpas.

 

No final, fiquei feliz e empolgado com tudo que tinha visto e ouvido, até o Kris aparecer e acabar por fuder os últimos fios de resistência que eu possuía. Ele também se apresentou como um dos palestrantes e velho, juro que nunca tinha visto ele mais sexy todo confiante e sorridente, quebrando aquele ar todo aristocrático que agora parecia fazer parte de si.

Admito que senti os joelhos fraquejarem em vários momentos, ainda mais quando o mais velho fez questão de aparecer para me cumprimentar e se despedir. Acho que não faz mal algum admitir também que morria de saudades por um beijo e recebe um afago daquelas mãos grandes, em certo momento eu me vi fortemente tentado em me enfiar no primeiro foguete e fugir pra Marte. Duas contrapartes que lutavam por supremacia no meu interior.

 

— Eu... Bom, gostei muito da sua palestra, hyung — admiti sem nenhuma ironia na voz. Milagres acontecem não é mesmo.

— Que bom, Sehun. Fico feliz que tenha gostado.

O olhar do Kris me deslumbrou com a doçura que nela residia, àquilo sempre conseguia me amolecer.

— Enquanto a nossa conversa, eu sinto que te devo uma resposta.

— Não precisa, eu entendi da primeira vez...

Aguardei em silêncio, tentando colocar minhas idéias no lugar. Ficava difícil com o coração batendo daquela forma. Mas resolvi ser sincero apesar de tudo, e esperar ser agraciado com a mesma honestidade.

— Pra falar à verdade, nem eu sei o que sinto.

— Eu sei, você ainda tá confuso. É totalmente compreensível, foi injusto com seus sentimentos, por isso eu sinto muito, Sehun.

Suas palavras me aqueceram, de alguma forma ele ainda se importava, ou pelo menos fingia muito bem fazê-lo.

— Bem, então eu vou indo. Foi bom te ver de novo, hyung. Espero que não fique nenhum ressentimento entre nós.

— Da minha parte não ficará nada além das boas lembranças.

E não sei o porquê o sorriso que ele deu me quebrou por dentro, evocava uma tristeza tal que não soube como lidar com aquele sentimento. Era culpa o que eu sentia? Eu não soube na hora, só tive tempo de apertar a mão que ele estendeu em minha direção e sair como se não estivesse deixando o homem que dividiu tanto meus sonhos como meus pesadelos para trás.  


 

“O tempo está passando rápido (eu quero correr)

E eu mal passo por cada dia.”

Junggigo - 24/7 ft Zion T, Crush, Dean


 

Acho que eu não tô tão fodido quanto eu pensava, sabem.  

Vocês já se sentiram como um hamster na rodinha, correndo e correndo sem sair do lugar? Pois é, eu me senti desse jeito por todos esses meses, tive que apertar tanto o cinto que cheguei ao ponto de quase me partir ao meio e arruinar meu espetacular quadril de dançarino. Teria sido uma perda e tanto.

De qualquer modo, eu sobrevivi. E tô lentamente colhendo os frutos de tanto esforço.  

Bom, recapitulando, já tinham se passado duas semanas da conferência em Busan, e mesmo ainda tendo as lembranças muito recentes de um certo alguém resolvi focar no trabalho. Ou na procura de um, e o resultado chegou hoje na forma de uma entrevista num clube novo no bairro de Hongdae. Uma direção estratégica e conhecida entre os jovens da cidade. Eu tinha feito meus contatos na conferência, o dono desse clube foi um deles. Um cara chinês muito gente boa e engajado num estilo mais internacional e alternativo. O que era bom, só tinha que mudar 'o disco' pra me adaptar às suas exigências.

 

Ao chegar ao clube EXODUS fiquei estagnado e com falta de ar no meio da entrada. O ambiente tinha uma mistura estranha entre modernidade e visual punk, com uma elegância quase selvagem. O local parecia ter tirado inspiração de um desses animes futuristas que gritavam anarquia e ordem ao mesmo tempo. Eu sei, muita loucura né. Pode parecer incrível, mas me senti como em casa.

Por favor, universo colabora aí cara, adoraría trabalhar aqui.

— Oi, você deve ser um dos djs com entrevista hoje, né.

Girei o corpo e minha atenção caiu sobre um rapaz de olhar doce e sorriso gentil.

— Sim, me diz que eu cheguei na hora e não contrataram ninguém ainda.

Ele sorriu de leve e negou.

— Acho que não. Sou Yixing, o barman — ele esticou a mão em minha direção.

— Sou Sehun, futuro DJ daqui, muito prazer.

— Então Sr. Futuro DJ porque não senta e vira minha cobaia por alguns minutos enquanto ainda não o chamam — ele indicou as cadeiras frente ao bar. Eu já fui negando e ele se aproximou novamente dizendo alguma coisa sobre eu estar nervoso e que precisava relaxar, o sotaque dele era engraçadinho. Acho que depois de três shots de uma bebida azul e doce a gente virou amigo.

Não demorou mais de 20 minutos quando eu ouvi meu nome ser chamado pelo que eu acho ser o assistente do chefe. Me despedi do Xing e segui o moreno elegante com o nome de Kai no crachá por um longo corredor repleto de luzes néon incrustados no piso escuro. Senti a ansiedade voltar, mas já não mais ameaçadora como outrora. Na verdade ‘tava animado pra demonstrar o que era capaz.

Minutos depois saí da sala do tal de Lu com um sorriso maior que a boca e um contrato assinado nas mãos. Eu tinha o emprego. EU FINALMENTE TINHA UM EMPREGO.    

— Eu sei que você se sairá bem, Sehun. Bem que tinham me falado do seu talento, espero comprovar isso ao vivo amanhã na prova de som e luzes.  

Fiquei encucado com aquele negócio. Alguém tinha me indicado?  

— Não vou decepcioná-lo, Senhor — meu chefe ergueu uma sobrancelha, sorri acanhado. — Luhan.

— Sei que não o fará, garoto. Te vejo amanhã.

Eu admirei ele se afastando voltando pra sua oficina.   

Luhan tinha chamado minha atenção por possuir um charme casual e ao mesmo tempo enigmático. Ele era bem atraente se vocês curtem uma pegada aconchegante e mais sutil. O mais velho era bem diferente dos caras com quem tinha falado naquele lugar e não por isso tinha sido ruim. Ele era lindo e despretensioso. Com os pés no chão e determinado. Se eu não estivesse ainda confuso com a volta de... Vocês sabem, eu acho que teria investido. Só que agora, com ele virando meu chefe desisti da idéia, detesto sair com chefes.

 

— Baek... — murmurei mal segurando o celular direito.

— Então como foi a entrevista? — a voz dele soava mais ansiosa do que a minha.

— EU CONSEGUI, BAEK! ELES ME DERAM O EMPREGO! — Escutei o grito e a algazarra do outro lado, ri empolgado. — Eu sabia! Sabia que daria tudo certo, Hunnie.

— Obrigado por ter acreditado em mim, hyung. Mesmo quando eu... cê sabe, não faço isso nem por mim mesmo.

— Não por isso, moleque. Você é incrível, precisa se dar mais crédito.

Sorri com o coração mais tranquilo.

— Então quando a gente vai comemorar? Hoje ou no fim de semana? Tô doido pra visitar esse clube tem um tempão.

— Hyung!

— Nada de hyung pra cima de mim, precisamos comemorar sim que o bebê vai sair de debaixo da minha asa e nada mais justo que me conseguir entradas vips, né seu mão de vaca!

Eu ri, em plena rua, com o sol batendo na minha cara e o som do Baek se fazendo de coitadinho no ouvido.

— Tá bom, vou pensar no seu caso. Hoje tenho dia livre. Amanhã eu volto por lá pra checar o som e luzes e depois vejo o que faço pelo senhor, meu caro Byun.

— Tá bom, acho ótimo. Vai almoçar em casa? Vou passar com uma surpresa.

— Que surpresa? Baek ‘cê sabe que eu odeio suas 'surpresas'.

— Odeia mas fica fissurado nelas que eu sei.

Já sabia pra onde aquela conversa ia parar, tinha fugido o quanto pude dele.

— Eu tô meio cansado, a gente pode adiar a conversa vulgo briga pra depois?

— Tá bom, só vou deixar escapar porque já tô atrasado pra pegar a surpresa na escola. Pode preparar aquele sanduíche vegetariano caprichado pra gente?  

— Hm.

Por um lado fiquei aliviado da surpresa não ser quem eu esperava, mas pelo outro fiquei levemente chateado. Yifan tinha desaparecido tão logo ele tinha voltado pra minha vida, novamente. Nem deveria me surpreender mas aqui entre nós, eu esperava que ele insistisse mais em... Não sei, me conquistar? Eu sei o que vão dizer! Eu disse que precisava de um tempo e sim, ainda tô confuso pra caralho, mas eu fiquei tão feliz dele estar bem, e ter conseguido tudo o que ele tinha sonhado pra vida dele. Eu queria ter acompanhado ele em cada momento disso, no entanto não tivemos essa chance. Poxa, eu só queria ser mais do que uma lembrança na vida dele.

 

*

 

— Sehun! Acorda aí desgraça!

— O quê, o quê! Já tô acordado!

Acordei daquele jeito mesmo, de supetão e com um sapato sendo atirado em minha direção. Ouvi ao longe o Vivi e o Mong latirem ao redor da sala, até eles pareceram se assustar pelos gritos já logo pela manhã. Quando ainda ‘tava tentando botar os neurônios pra funcionar, senti um aperto quentinho de uns braços pequenos ao meu redor.

— Oi tío Hunnie!

— Princessa, o quê...

— Olha só essa bagunça, Sehun. Já aviso que vai ter que limpar tudo, moleque. E… Não me diga que você dormiu sobre o computador de novo!

— Não, claro que não.

Olhei pro lado, a Soohyun apontava pra minha cara e depois a própria bochecha, rindo baixinho. Ri com ela fazendo sinal de silêncio, já imaginando as marcas do teclado no meu rosto. Tinha virado a noite mixando algumas músicas da minha Playlist especial. Eu tinha que impressionar todo mundo no meu primeiro dia. Suspirei sentindo as costas estalarem, peguei na mãozinha da Soohyun e saímos do quarto procurando o tio mal humorado dela.

— Cadê aquela pasta? — Baek pegou uma na pequena montanha sobre a mesinha da sala, girou nos calcanhares e olhando culpado pra nós dois resolveu apelar pros olhos de cachorrinho.

— Sehun, me desculpa cara, mas você pode cuidar da Soohyun enquanto volto pro instituto? Acabaram de me ligar da direção pedindo pra eu voltar, aparentemente tenho uma turma que tomar conta num teste de última hora.

— Mas hyung hoje eu tenho a prova de som e-

— Eu juro que vou compensar! Por favorzinho!

— Por favorzinho tío Hunnie!

E ele tinha que incluir a Soohyun no pedido. Era o fim da linha.

— Tá bom, o que eu não faço por vocês.

— Eba! Prometo trazer muito sorvete pra minhas duas pessoas favoritas desse mundo — Baek se abaixou pra dar um abraço desajeitado na sobrinha e outro ainda mais desengonçado em mim ao sair.

— Cuide do seu tio, Soohyun, e sucesso Sehunnie! Vai dar tudo certo.

Ele ainda deixou uma piscadela marota antes de desaparecer pela porta. Sorri descrente no que aquele dia tinha se tornado sem eu perceber. Eu amo a Soohyun mas deus e o mundo sabem que eu não sou muito bom fazendo várias tarefas ao mesmo tempo. E hoje, dentre todos os dias teria que ser babá enquanto tento bancar o profissional e evitar ser demitido antes mesmo do meu primeiro dia no clube.

A frase em inglês de Life is a bitch brilhava em luzes néon enquanto avaliava a minha situação. Tinha duas horas pra me arrumar, almoçar com a Soohyun e correr pro outro lado da cidade antes que alguém perceba que eu tô arrastando uma criança pra um clube LGBT+.

É, só mais um dia normal na vida de Oh Sehun.


 

“Eu só quero estar com você, só consigo pensar em você essa noite

Onde você está, eu quero ir pra aí.”

Ripley - Fool to love

 

Faltavam 40 minutos antes que desse o meu horário. Peguei minha carteira e chaves, Soohyun correu pra porta e enquanto ela abriu demos de cara com nada mas e nada menos que Wu Yifan.  

Mais uma provação? Vocês devem tá de brincadeira.

— Ah, desculpem eu ‘tava por bater, não vi você chegando linda — ele sorriu doce pra Soohyun que já se derreteu toda. Os olhos enigmáticos do mais velho percorreram minha face fazendo eu me arrepiar todo. É, a pequena não foi a única a tremer na base.

— E... O que traz você aqui? Se tá procurando pelo Baek ele ainda tá na escola e a gente aqui, de saída...

— Ah, desculpe. E sim, vim procurando o Baekhyun. A gente tinha marcado um almoço hoje só que ele não avisou da mudança de planos.

— Ah, é que foi muito em cima da hora. Foi por conta disso que eu acabei com a Soohyun — ela sorriu pra mim ainda atrás das minhas pernas. Sorri de volta e olhei pro Wu, que parecia incerto sobre as suas seguintes palavras.

— Okay, então acho que eu já vou indo...

— Titio, ele tem uma carinha triste. Você lembra do que a gente faz com pessoas tristes? A gente convida pra tomar sorvete.

— Soohyun...

— Não precisa, linda. Eu já vou.  

— Sabe, se você quiser pode vir com a gente — comprimi os lábios, já tinha falado não podia me retratar. — De qualquer forma, acho que você pode me ajudar.

Sorri com aquela idéia brilhando na minha mente. Até que o Wu poderia ser bem útil e mais se for pra salvar o meu dia.

 

Nós três caminhamos sem pressa, cada um com um sorvete de casquinha na mão, até chegarmos sob a placa colorida do local com os dizeres Exodus na entrada. Tínhamos chegado a tempo, obrigado. Soohyun tinha me largado de vez, nem beijo de boa sorte recebi quando me afastei deles. Ela ficou toda animada com o novo tio desde que a gente tinha saído do edifício, conseguiu arranjar até um lugar no colo do Wu. Pra falar a verdade nem sei quando eles ficaram tão íntimos, não sei se foi na corrida pro ônibus, na viagem de metrô, ou na caminhada até o clube, mas tinha que admitir que ‘tava levemente enciumado, de quem dos dois? Não saberia responder.  

 

Assim que vi o Xing do outro lado do balcão de bebidas, ele bateu palmas pra mim, imagino que era porque tinha cumprido o objetivo de virar o DJ do clube. Ri e abaixei a cabeça dando uma saudação toda atrapalhada pela pressa.

Encontrei o L.J (Light Jockey, pessoa encarregada das luzes de um clube) e o V.J (video jockey, encarregado dos vídeos), ou melhor Jongdae e Tao como eles se apresentaram, assim que coloquei o notebook sobre a plataforma. Eles pareciam caras legais, esperaram eu me arrumar e colocar a primeira mistura pra tocar. A gente analisou as músicas com calma, até encaixar as luzes e os vídeos com os bits de cada mix. A Playlist era bem longa porque quando eu percebi já tinha se passado quatro horas nisso. Mas muito bem gastas.

 

Aproveitei o break pra correr atrás desses dois sumidos. Achei eles bem acomodados no setor vip, Soohyun com um suco e uma tortinha que ela fazia questão de compartilhar com o tio novo, enquanto o mesmo estava engajado numa conversa animada com Luhan, meu chefe.

Eles pareciam amigos de longa data, o que me deixou preocupado. Será que todos os chineses na Coreia se conhecem? Mas então, a ficha começou a cair. Qual era a possibilidade da minha contratação também ter sido armada? De não ter sido pelo meu talento próprio, mas como um favor?

Não, o Wu não teria caído tão baixo, teria?

 

Era até engraçado como eu conseguia suspeitar do Kris com relação a qualquer mínima coisa e não fazer o mesmo com os outros. Mesmo quando ele tinha aberto uma página dolorosa para si, algo de certo necessário pra eu entender o seu ponto também, mas não conseguia evitar ficar com um pé atrás. Quando eu tinha virado esse ser tão desconfiado e arisco? Além do mais, se ele tivesse alguma culpa no cartório não estaria todo sorrisos com meu chefe tendo eu por perto, não é? Foi quando ele olhou pra mim que eu percebi, eu ‘tava com ciúmes desse idiota.

É, e com a constatação veio uma intensa vontade de me bater.

Qual é, Sehun. Sai dessa cara. Ele é somente seu ex, um cara sexy e charmoso que poderia ter quem quisesse na mão, você é passado e não tem direito algum. E foi só ele sorrir pra mim que eu soube também que ele sabia o que que eu ‘tava pensando. E eu quis bater nele. Pelos velhos tempos.

Eu sei que sempre fui um livro aberto pra ele, e cara, eu sempre admirei a percepção dele pra o que eu pensava e desejava mas hoje, nesse exato momento, eu odeio tudo nele. Não era justo ele vir e me bagunçar desse jeito. De novo.  

Foi com esse pensamento que eu invadi a bolha em que eles estavam.

 

— Ah, Sehun. A gente ‘tava justamente falando de você — Luhan abriu um sorriso que eu não soube interpretar. Ele ‘tava tirando uma com a minha cara ou sendo sincero?

— Espero que só coisas boas.

— Sempre são boas quando é sobre você — aquilo me deixou no chão. Kris não veio pra brincar hoje, pelo visto. Engoli seco e desviei o olhar.

— Bom, ainda faltam alguns detalhes, mas eu tenho mesmo que levar essa princesa pra casa, Luhan.

— Claro — antes que eu soubesse o que acontecia Kris falou de novo.

— Mas eu posso levar ela, se você não se importar. Ainda tenho um encontro marcado com o Baekhyun eu posso aproveitar e levar essa mocinha comigo.

— Sério? Nossa, vou ficar te devendo uma, Fan.

Ele sorriu. Um sorriso safado ainda por cima. — Olha que eu vou cobrar mesmo.  

Se tinha como eu ficar mais vermelho, nesse momento eu entrei em combustão instantânea. Dei um pequeno beijo na Soohyun e nem fiquei pra olhar duas vezes na direção daquele cafajeste, a promessa do que viria já fora o suficiente.

 

Que droga, Wu.

Essa noite foi um verdadeiro pesadelo lidar com o turbilhão de pensamentos enquanto tentava me contagiar da animação do povo dançando empolgado ao meu redor. Nas primeiras horas tinha começado com uma sucessão de mixes mais ao estilo trance e chill internacional, agora tinha ido pro pop e hip-hop que sempre colocava no auge da noite. Junto do dance porque eu sou viciado nesse estilo. Aquilo do 'quadril de dançarino' tinha nascido por causa dessas misturas.

 

Quando percebi já ‘tava dançando e rebolando com as batidas dos djs mais famosos como Avicii, Alesso, Martin Garrix, Alan Walker, Afrojack e David Guetta. Meu coração batendo forte e meu corpo acompanhando as letras dos remixes. Me senti livre e solto, como a muito tempo não me sentia. Tinha algo diferente em mim, em tudo ao meu redor. E nada mais importava do que ser feliz fazendo aquilo que mais amo.

Porém, teve um instante que eu me senti observado. Um olhar quente e familiar só que não soube de quem era ou de onde vinha. Encarei o público, meus colegas numa distância afastada e nada. A sensação tinha desaparecido. Vi o Xing erguer os braços e me saudar de longe, sorri. Ele tinha me prometido batizar uma bebida em meu nome.

 

“Quanto mais eu te conheço você parece mais irresistível, como você pode ser tão sedutor? Posso dizer que você é a própria representação do amor.”  

LambC - Love Like That

 

Quando já davam quase 5 da matina e as últimas pessoas já estavam deixando o clube, deixei a playlist de músicas lentas tocando enquanto me juntava a galera numa pequena celebração em meu nome. Luhan deixou a sua sala em companhia do Xing, sorrindo e trocando afagos com o mais novo. Todos pareciam se conhecer de anos, e acabei confirmando aquilo quando Jongdae relatou algumas das mais infames histórias dos tempos deles de calouros da faculdade. Pode soar cedo demais, mas eu realmente gostei deles, eram pessoas que como eu trocavam o dia pela noite e que não tinham receio algum em se orgulhar do que faziam, trabalhavam dignamente e acho que pelo próprio caráter honorável do Lu mantinham a ficha limpa e longe de tudo que poderia acarretar problemas. E não vou negar que eu fiquei feliz de fazer parte dessa pequena família.

 

— Houve um momento que eu realmente achei que você desceria pra pista, Sehun — Tao riu.

— Ué, eu gosto de dançar. E hoje eu ‘tava inspirado, quem nunca.

— Hm, e tem um nome pra gente agradecer por toda essa inspiração.  

— Não tem nome, toda e qualquer coisa que aconteceu hoje atribuam inteiramente a mim. Eu fiquei muito empolgado por obter o emprego — é, eu corei ao admitir aquilo e se encheram meu saco por conta disso? Claro. Mas o Lu fez questão de afastar os idiotas e rodear meus ombros num contato singelo.

— Eu fico feliz de ter feito uma boa contratação. Você é talentoso, Sehun. Deveria confiar mais no seu taco, assim como outros parecem confiar.

— Outros? Que outros?

O chefe sorriu e ergueu as sobrancelhas olhando nos meus olhos.

— Vai mesmo me dizer que não sabe de quem estamos falando?

— Mas... por quê? Ele não tinha-

— Olha, não fica zangado, okay. Em todo caso você deveria agradecer ele, não acha?

— Eu sei disso, mas assim parece que...

— Eu tô fazendo um favor pra ele? Longe disso, garoto. Eu já tinha você na mira ainda quando a gente ‘tava conversando na Conferência. Tudo o que ele fez foi reforçar minha escolha. Nesse ramo a gente vê de tudo ultimamente, pessoas que só querem se aproveitar e ficar famosas, muitos deixam de lado o trabalho duro, a dedicação que só uma pessoa apaixonada pelo que faz tem. Então quando o Fan disse que eu deveria te ouvir falando de música pra perceber a jóia rara que você é, eu simplesmente segui o conselho. Ele disse, e cito "que eu seria um viado desgraçado e muito do idiota se eu não desse a porra de uma chance pra um menino trabalhador e gostoso que nem você."

 

Eu acabei rindo, isso soava muito ao que o Fan alto pela bebida falaria. Nunca que ele deixaria o seu lado certinho de lado não fossem as circunstâncias extremas. Foi então que eu me questionei o que tinha levado o hyung à beber quando ele mal tocava na bebida nem socialmente. Luhan pareceu perceber minha inquietação.

 

— É, eu sei o que você deve tá pensando. Ele não costuma beber, mas naquela noite ele ‘tava muito pra baixo, sabe — o mais velho me deu um olhar significativo que eu não soube retribuir. Podia deduzir de qual noite ele ‘tava falando, daquela em que eu e o Yifan nos despedimos, lá em Busan. — Olha, pode parecer muita indiscrição da minha parte, no entanto já que estou nesse papel eu sugiro que ligue pra ele pelo menos. Eu soube que ele vai voltar pra China amanhã.

 

Levantei e pedi licença pra me retirar. Tinha que me afastar pra pensar direito nos seguintes passos que tomaria. Mesmo tendo bebido alguns shots nunca estive mais lúcido na minha vida.


 

“Caminhando por essa rua pela primeira vez em meses, as lembranças vêm como ondas. Como o dia que você se foi, eu tô aqui parado, sozinho nessa rua, novamente.”

G.Soul - Can’t

 

— Hyung, sou eu.

— Sehun? São as 4 da manhã, aconteceu alguma coisa?

Sorri, ele não tinha perdido esse jeito meio mal humorado meio preocupado.

— Na verdade, aconteceu. A gente pode se encontrar pro café da manhã daqui à pouco? Eu... Bom, eu já não tô confuso, Fan.

Não consegui ouvir nada além da respiração abafada do outro lado.

— Você tem certeza disso?

— Tenho sim, da outra vez você presumiu a minha resposta quando eu ainda ‘tava decidindo sobre tudo... isso. Então eu quero deixar um par de coisas claras, se você me permitir.

— Tudo bem, no café de sempre?

— Ótimo. A gente se vê.

— Sehun?

— Sim?

— Senti saudade de você me acordar nessa hora.

Sorri com o coração leve como nunca.

Ele desligou a chamada e voltei pro silêncio da noite. Com o céu ainda escuro e as poucas estrelas de testemunhas do que acontecia comigo. Era incrível, mas se possível eu ‘tava me apaixonando novamente pelo meu ex.

 

Cheguei perto das seis da manhã no apartamento com uma leve chuva caindo sobre Seul. O Baek ainda não tinha acordado, pelo visto. Resolvi me arrumar pro meu encontro com o Fan. Isso pode soar estranho, mas muito familiar pra me importar.

 

O 'café de sempre' ficava perto da estação de ônibus, perto de onde costumava ficar o nosso loft. Comprimi um sorriso pelas lembranças que esse lugar ainda evocava em mim. A gente viveu tanta coisa e se ele deixar, tem tanta ainda por vir.

 

“Se você me perguntar por um desejo há apenas uma coisa que eu desejaria manter,

se for permitido, eu quero mantê-lo para sempre comigo.”  

BoA & Beenzino - No Matter What

 

Vi o pequeno café que tão bem conhecia do outro lado da rua e avancei apressado, já ‘tava 15 minutos atrasado não queria fazer o Fan esperar ainda mais. Mas mesmo com o sinal verde eu ouvi o rugido de um motor não muito longe apenas dei meus primeiros passos na faixa de pedestres. Só deu tempo de eu girar a cabeça e ver a moto chegando e fechei os olhos. Aquilo não podia estar acontecendo. Escutei um grito abafado pelo som da chuva, depois senti o forte puxão e braços prensando meu corpo. Abri os olhos, eu... eu ‘tava vivo. Por um milagre divino continuava respirando mesmo que com dificuldade por conta do meu salvador ainda não me largar. Tinha um zumbido insistente em meus ouvidos, talvez pelo choque, talvez pelo grito que ainda ecoava na minha mente, no entanto ainda conseguia sentir cheiros. A da pessoa sendo bem familiar. Olhei para cima e o primeiro que vi foram os lábios de uma boca ofegante, uma nariz afiada e bonita e um par de olhos preocupados dirigindo toda sua atenção a mim.

— Hyung...

Eu vi a boca de Yifan se mexer, mas não conseguia o ouvir. Ele voltou a repetir, vi a apreensão tomar seu rosto.

Ainda estávamos em baixo de chuva e pessoas nos rodeavam, estava começando a ficar enjoado. Kris pegou o seu guarda chuva e nos levou sob o teto de alguma loja. Me encolhi no seu abraço ainda tentando aceitar o fato de quase ter morrido hoje.

Nem percebi ele voltando a falar comigo até ele segurar meu rosto com as mãos. Ele estava quentinho. Fechei os olhos tentando fazer a tontura passar e olhei pra ele de novo.

— Sehun, fala comigo por favor. Você está bem? Está ferido? Tá sentindo dor em algum lugar? — ele me soltou e checou meu corpo rapidamente. Não consegui desviar a atenção do seu rosto preocupado e levemente corado. Ele deve ter corrido pra me pegar a tempo. Percebi que continuamente eu colocava ele nesse papel, o preocupava sem oferecer sequer algum indício de reciprocidade, mesmo que eu ainda...

E então ele olhou nos meus olhos novamente, havia exatamente aquilo no seu olhar. Carinho, preocupação, amor.

Eu avancei e o beijei, pegando-o de surpresa. Os lábios que eu amava, dos quais não queria voltar a me separar. Só demorou um segundo até ele retribuir o carinho e aprofundar o beijo. Sorri sem poder evitar ao nos separar e o abracei com força.  

 

— Eu ‘tava com tanto medo. Acho que me caguei nas calças.  

Murmurei em seu ouvido como se fosse a coisa mais sexy a se dizer naquele momento. Yifan riu e o som da sua risada foi ouvida por cima do barulho da chuva forte caindo.

— O quê? Eu tô falando sério, não é pra rir — dei as costas pra ele—. Vê se não tem alguma mancha aí.

Ele continuou a rir mas bateu na minha bunda.

— Cala essa boca moleque, e me beija de novo.

Sorri com malícia. — A suas ordens, ge. Ou prefere que eu te chame de chefe? — enrosquei os braços no seu pescoço enquanto distribuía selinhos pelo seu rosto. Por um segundo a surpresa tomou conta da sua expressão, para então lançar um olhar avaliador em minha direção. Sorriu aliviado ao perceber que não havia pelo que se preocupar, eu não me importava dele ser o sócio majoritário do clube EXODUS, fato que Luhan deixou escapar ao se despedir de mim hoje mais cedo. Pelo contrário, só enxergava vantagens e mesmo orgulhoso, ainda tenho certeza que o Fan não teve influência alguma na minha contratação. E mesmo se tivesse, ainda estaria muito agradecido pela confiança.

— Achei que ficaria chateado, mas tinha que fazer pelo menos aquilo pra te ajudar.

— Você sempre faz mais do que deveria, Fan. Então a partir de agora, pára com isso, tá bom?  

Ele abriu um sorriso lindo. — Tá bom. Mas eu preciso de um bom incentivo pra parar de me preocupar, você tem algo em mente?

Sorri. — Talvez, acho que deveríamos provar todas todas as possibilidades, o que acha? Pra ficar 100% seguro.

— Acho ótimo. Que tal começar com o meu doce favorito? Já tô sentindo falta do gostinho gelado e do açúcar.

— Fan! Não acredito que que vai falar de sorvete nesse momento.

— E existe momento pra falar de sorvete, Sehun?

— No início achei que ‘tava falando de outro dos seus doces favoritos, mas acho que vai ficar sem ele por mais uma temporada, só pra aprender a dar valor.

— Sehun, como você faz isso com um moribundo? Eu tô morrendo sem você.  

— Tarde demais, devia ter pensando nisso antes.  

— Você tem certeza que não precisamos passar no hospital, né. Eu conheço... — dei um selinho contido em seus lábios.

— Eu tô bem, mas tenho a impressão que vou ficar melhor ainda. O que você acha, Ge?

—Tenho certeza disso, baby.


 

 

 

 


Notas Finais


playlist Roundtrip https://www.youtube.com/playlist?list=PL-pKcZVWBjkF97IBz85STxdaAum7_aHEl

special thanks to Jonini da capas club. Você fez um trabalho incrível, dearie *cries extremamente grata por essa maravilha!
Qualquer coisa, críticas ou elogios me procurem no tw @xo_lost_star
É isso. Sigam o @flopinhos galereee


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